A Filosofia Cartesiana: Substância e Método

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Antropologia

Para Descartes, é necessária uma dúvida universal: rejeitamos como falso tudo aquilo que não tem provas ou cuja validade não é certa. Descartes propôs regras para isso, conhecidas como a "dúvida metódica". Primeiro, ele rejeita todas as informações fornecidas pelos sentidos, porque podem levar ao engano, como já aconteceu várias vezes ao longo da história. Em segundo lugar, ele admite que os seres humanos podem estar sujeitos a erros de raciocínio e, portanto, também duvida de todos os argumentos e demonstrações. Por outro lado, também reconhece a dificuldade de diferenciar entre sonhos e pensamentos, e que não há nada que nos diga exatamente quando estamos sonhando ou acordados. E, finalmente, considera a ideia da existência de um "gênio do mal", que nos faz ver como evidentes coisas que não são. Esta dúvida, embora seja universal e, portanto, rejeite todo o conhecimento e verdade, não é uma dúvida cética. Muito pelo contrário: é uma etapa de um método para alcançar o verdadeiro conhecimento.

Além disso, através dela, o autor conclui a primeira verdade absoluta e inquestionável, que estabelece a base firme da sua nova filosofia: "Penso, logo existo." A partir desta primeira afirmação, fica claro que, embora seu corpo e tudo ao seu redor não fossem mais do que ilusões e ele pudesse fingir que não existiam, nunca poderia fingir que não pensava. Por isso, reivindica uma parte de nós, que ele identifica com a alma, distinta e independente do corpo, cuja missão é o pensamento. Isto é o que ele chama de substância pensante.

Além disso, ele também chega à conclusão de que pode justificar e demonstrar essa primeira verdade porque ela é claramente evidente e, portanto, afirma que somente o que é apresentado de forma clara, evidente e distinta pode ser considerado como o verdadeiro conhecimento. Este é o critério da verdade usado pelos racionalistas para decidir se o conhecimento é verdadeiro ou não: a evidência.

As regras do Método Cartesiano: O primeiro problema que surge é garantir, após toda a dúvida, encontrar inicialmente uma primeira verdade da qual seja impossível duvidar, pela sua clareza e distinção, e que se imponha à mente. Esta é a primeira capacidade humana verdadeira e o ponto de partida do método de aprendizagem. Há quatro regras:

  • Evidência: não aceitar como verdade nada que não apareça na mente de forma tão clara, ou seja, com clareza e distinção.
  • Análise: só podemos ter evidências de naturezas simples; portanto, antes de um problema complexo, é preciso dividi-lo.
  • Síntese: uma vez que o problema é decomposto em naturezas simples, é preciso remontar através da síntese.
  • Enumeração: consiste em rever todo o processo para ter certeza de não perder nada.

Substância pensante. Substância (res cogitans): O próprio pensamento é a primeira verdade ou precisão. A dúvida metódica universal leva o sujeito a conhecer a existência desta realidade. A característica fundamental desta substância é o pensamento ou a consciência.

Substância Infinita (res infinita)

A segunda substância é divina ou Deus infinito. Para Descartes, o eu pensante não é perfeito, mas tem a ideia de perfeição (Deus). É uma substância incriada que pensa e que é a causa de todos os seres criados. Deus é uma substância infinita, eterna e imutável, independente, onisciente, onipotente. Deus é a garantia de veracidade. Tudo em nós vem de Deus.

Prova da existência da substância de Deus

  1. A ideia de perfeição e infinito: Parte da ideia de perfeição e de infinito que o sujeito pode ter, apesar de não ser o sujeito perfeito nem infinito. O eu finito que reconheço em mim é o oposto do infinito que conheço de Deus. Ele é a causa necessária da ideia dele em mim. Descartes considera o atributo da infinitude.
  2. A emergência do self: Este argumento é uma explicação do primeiro teste, mas introduz o princípio da causalidade e contingência, misturando ideias e conservação dos seres criados. Aqui Descartes se aproxima de Deus por causa de sua imperfeição e finitude. Ele alega que, como eu não sou infinito e não tenho todas as perfeições, o ser que tem todas as perfeições é a causa deste fato em si e, portanto, existe.

Substância Extensa (res extensa)

A terceira substância é representada por coisas materiais (res extensa). Esta substância tem como atributo fundamental a extensão, e três dimensões: posição, forma e movimento.

A Metafísica de Descartes leva, sem contratempos, à física. A alma é definida pelo pensamento. O corpo é definido pela extensão. Há duas partes a considerar na física cartesiana: a mecânica e a teoria da matéria.

A física de Descartes é mecanicista. Mecanicismo é a doutrina filosófica que explica a realidade a partir da causalidade eficiente, ou seja, sem referência a qualquer finalidade. Descartes não quer mais elementos para explicar os fenômenos e as relações do que a matéria e o movimento.

A física de Descartes é uma quantidade mecânica pura. O movimento é despojado de qualquer ataque à clareza e à pureza do conceito: é uma mudança de posição, que Descartes rejeita.

A causa do movimento é dupla. A primeira causa é Deus. Depois de introduzir o movimento na matéria, Deus não intervém de novo, a não ser para continuar a manter a questão no seu ser.

A segunda parte da física estuda a teoria da matéria. Matéria nada mais é do que espaço, pura extensão, o objeto da geometria. As qualidades secundárias que percebemos nos objetos sensíveis são intelectualmente inconcebíveis e, portanto, não pertencem à realidade. A questão resume-se à extensão: comprimento, largura e profundidade, com seus modos, que são os limites de uma extensão para outra.

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