Filosofia da Ciência e da Arte: Perspetivas de Kuhn e Teorias

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A Perspetiva de Thomas Kuhn sobre a Evolução da Ciência

Kuhn

  • Rejeita a ideia, defendida por Popper, de que a ciência evolui ou progride em direção à verdade.
  • Na história da ciência, há longos períodos de estabilidade e curtos períodos de instabilidade.

Análise do Problema da Evolução da Ciência

  • Histórica: Valoriza o contributo da história da ciência.
  • Sociológica: Procura compreender o contexto em que a ciência se faz.

A construção das teorias científicas está sempre dependente de um paradigma, isto é, de um modo de perceber, abordar e resolver problemas que se institui no interior da comunidade científica.

Paradigma Científico

Um paradigma científico é uma matriz disciplinar, ou uma visão do mundo que os membros de uma comunidade científica partilham e que fornece princípios teóricos e práticos para se fazer ciência num determinado domínio de investigação durante um certo período.

  • Funciona como um modelo de referência reconhecido por todos os cientistas.
  • Inclui instrumentos, valores, objetivos e pressupostos metafísicos.
  • Fornece as regras, os objetivos, os métodos, os princípios teóricos e práticos, os problemas e as soluções modelares para uma comunidade científica.
  • É constituído pelas teorias fundamentais que a comunidade científica aceita.

Pré-Ciência

Fase pré-paradigmática, em que ainda não há ciência propriamente dita; é uma situação marcada por divergências e por tentativas avulsas de resolução dos problemas.

Ciência Normal

Investigação que ocorre no âmbito de um dado paradigma aceite pela comunidade científica; consiste essencialmente na resolução de enigmas (puzzles) de acordo com a aplicação dos princípios, regras e conceitos do paradigma vigente. Nos períodos de ciência normal, o desenvolvimento ou progresso da ciência é cumulativo, uma vez que a resolução de enigmas permite ampliar a aplicação do paradigma e acrescentar novos conhecimentos ao conhecimento já existente.

Anomalias

  • Por vezes, certos enigmas constituem verdadeiras ameaças à pesquisa científica:
    • Problemas ou enigmas que os cientistas não conseguem resolver a partir dos pressupostos teóricos fundamentais de um paradigma, dentro do qual era suposto serem resolvidos.
    • Os cientistas não abandonam o paradigma ou as teorias vigentes imediatamente após surgir uma anomalia.
    • Num período de ciência normal, a atitude da comunidade científica é de conservadorismo e de resistência à mudança.
    • Fase de questionamento dos pressupostos e fundamentos do paradigma vigente.
    • Gera-se o debate sobre a manutenção do paradigma (velho) ou a escolha de um novo paradigma.
    • A maioria dos cientistas tudo faz para resolver as anomalias inesperadas.

Ciência Extraordinária

A acumulação de anomalias persistentes leva a ciência a entrar em crise, caracterizando a Ciência Extraordinária.

  • Fase de questionamento dos pressupostos e fundamentos do paradigma vigente.
  • Gera-se o debate sobre a manutenção do paradigma (velho) ou a escolha de um novo paradigma.

Revolução Científica

Impõe uma mudança de paradigma; logo que o consenso em torno do novo paradigma se estabelece, tem início um novo período de ciência normal.

Mudança de Paradigma

Não é um processo cumulativo; as revoluções científicas são episódios de desenvolvimento não-cumulativo; é um processo revolucionário.

Incomensurabilidade dos Paradigmas e Desenvolvimento da Ciência

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Kuhn não entende a evolução da ciência como um processo de contínua aproximação à verdade, mas como um processo descontínuo, sem um fim predeterminado.

O paradigma em vigor não está mais próximo da verdade do que o paradigma que ele substituiu.

Críticas a Kuhn

  • Posição relativista sobre a ciência: Kuhn acaba por colocar as explicações que a ciência fornece num plano idêntico ao de outras explicações, como os mitos ou as lendas.
  • Tese da incomensurabilidade desajustada: É pouco plausível, porque muitas teorias científicas são melhores do que outras, resolvendo anomalias e permitindo previsões mais rigorosas.
  • Irracionalidade na atividade científica: A adesão da comunidade científica a um paradigma assemelha-se a uma conversão religiosa, o que contradiz a ideia que temos da ciência.

A Perspetiva de Thomas Kuhn sobre a Objetividade da Ciência

Kuhn acredita que a avaliação e a escolha das teorias científicas obedecem a determinados critérios que são conhecidos e partilhados no seio da comunidade científica.

Critérios Objetivos de Escolha das Teorias

  • Exatidão: Refere-se às previsões que a teoria permite fazer.
  • Alcance: Abrangência da teoria (quantidade e diversidade de fenómenos que ela é capaz de explicar).
  • Simplicidade: Sobriedade e elegância na forma como a teoria explica os fenómenos.
  • Fecundidade: Capacidade da teoria para impulsionar novas descobertas de investigação.
  • Consistência: Coerência interna da teoria e sua compatibilidade com outras.

Na escolha entre teorias rivais, interferem não só fatores objetivos como também fatores subjetivos.

Fatores que Interferem na Escolha de Teorias

  • Objetivos: Critérios partilhados pela comunidade científica; princípios, regras ou características como a simplicidade ou a exatidão das teorias.
  • Subjetivos: Critérios individuais; aspetos idiossincráticos, dependentes de aspetos biográficos e da personalidade dos cientistas.

A avaliação das teorias científicas não é inteiramente determinada por critérios objetivos, isto porque a interpretação e a aplicação desses critérios estão dependentes de fatores subjetivos. Assim, a ciência não é totalmente objetiva.

A Dimensão Estética: Análise e Compreensão da Experiência Estética [Filosofia da Arte]

Estética

Ocupa-se do estudo dos sentimentos, conceitos e juízos que resultam da nossa apreciação das artes ou de objetos considerados tocantes, belos ou sublimes, sejam naturais, sejam artísticos.

Filosofia da Arte

Muitas vezes considerada um subdomínio da estética, ocupa-se de problemas relacionados com a obra de arte e com a criação artística.

Problema da Definição de Arte

O que é Arte?

O termo “arte” refere algo que é socialmente construído; o significado do termo “arte” não é arbitrário; o conceito de arte aplica-se a uma grande diversidade de objetos e práticas sociais.

Boa Definição de Arte

Implica a identificação das condições necessárias e suficientes para que algo seja arte.

Definição Explícita de Arte

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Procura de Contraexemplos na Definição de Arte

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Teorias da Arte: Essencialistas

Defendem que a definição correta de arte é a que descreve a sua essência (ou natureza), revelando as características intrínsecas, necessárias e suficientes, que fazem com que algo seja arte.

  • Teoria da Arte como Representação: Platão/Aristóteles
  • Teoria da Arte como Expressão: Tolstoi/Collingwood
  • Teoria da Arte como Forma: Clive Bell

Teorias da Arte: Não Essencialistas

Defendem que as condições necessárias e suficientes para algo ser arte são relativas ao contexto em que os objetos se encontram inseridos e ao modo como eles adquirem o estatuto de obras de arte.

  • Teoria Institucional da Arte: Dickie
  • Teoria Histórica da Arte: Levinson

Teoria da Arte como Representação

Remete para uma tradição iniciada por Platão e Aristóteles. Ambos os filósofos defendiam que a arte é imitação (mimese); mas Platão e Aristóteles estavam certamente a pensar em algo mais abrangente do que a simples imitação ou representação fiel e exata da natureza.

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A Teoria da Representação defende que algo é uma obra de arte só se representa alguma coisa.

A representação é uma condição necessária para algo ser arte, mas não é uma condição suficiente.

Objeção à Teoria da Representação

  • Muitos dos objetos e das criações humanas que são reconhecidos como sendo arte não são considerados representações.
  • Assim, a representação não é uma condição necessária da arte (ex: peças musicais que só querem provocar sentimentos).

Teoria da Arte como Expressão (Teoria Expressivista)

A arte é essencialmente expressão de emoções ou sentimentos.

Teoria Expressivista (Tolstoi)

Algo é uma obra de arte se e só se foi produzido por alguém com a intenção de exprimir os seus sentimentos individuais, de modo a contagiar as outras pessoas com o mesmo tipo de sentimentos.

O Grau de Contágio da Arte Depende:

  • Da maior ou menor individualidade do sentimento transmitido.
  • Da maior ou menor clareza com que o sentimento é transmitido.
  • Da sinceridade do artista (da maior ou menor força com que este sente o que transmite).

Teoria Expressivista (Collingwood)

Algo é uma obra de arte se e só se foi produzido por alguém com a intenção de exprimir as suas emoções individuais, de modo a clarificá-las.

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Arte (Verdadeira Arte)

  • Expressão imaginativa da emoção; forma adequada de expressão clarificadora de emoções.
  • A emoção original é uma “perturbação psíquica” indeterminada, algo que nos deixa perdidos e desamparados.
  • No processo de criação artística, essa emoção é gradualmente identificada e refinada, até que o artista a reconheça.
  • Pela construção imaginativa, o artista transforma a emoção vaga e incerta numa expressão articulada.
  • O processo de criação artística é um processo de autodescoberta; a finalidade da arte é o autoconhecimento.

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Teoria da Arte como Forma

Teoria da Arte como Forma Significante

Parte do pressuposto de que todas as obras de arte genuínas produzem uma emoção estética no espectador, a qual se diferencia de outros tipos de emoções.

Teoria da Forma Significante (Clive Bell)

Algo é uma obra de arte se e só se tem forma significante.

Forma Significante: Consiste numa certa relação entre as partes de uma obra (combinações de linhas, formas e cores). Embora se aplique, em geral, apenas às artes visuais, esta teoria também se aplica às restantes formas e objetos de arte.

Forma Significante -> Emoção Estética

  • Um objeto pode ser arte sem que represente algo e também sem que transmita sentimentos individuais.
  • A emoção estética é própria da nossa apreciação da arte. As emoções que a beleza natural desperta são de tipo diferente.
  • Qualquer artefacto pode provocar emoção estética, independentemente da finalidade com que foi criado.
  • Para que certos objetos nos emocionem esteticamente, não precisamos de saber quem os criou, com que intenção ou o que sentiu ao criá-los.

A Forma Significante pode ser reconhecida, de modo intuitivo, pelos críticos sensíveis. Isso não será possível se os críticos forem insensíveis; a forma significante encerra o poder de provocar emoção estética em todos aqueles que sejam capazes de a sentir.

Críticas à Teoria da Forma Significante

  • Elitismo: Nem todos têm sensibilidade estética para sentir emoções estéticas e nem todos são capazes de reconhecer ou discernir a forma significante.
  • Circularidade: Parece viciosamente circular: os dois termos centrais (“forma significante” e “emoção estética”) são definidos um em função do outro.
  • Demasiada Abrangência: A definição formalista é acusada de ser demasiado abrangente, por obrigar a incluir, sob o conceito de arte, objetos que não são arte.
  • Falta de Critério Objetivo: Se houver discordância entre dois críticos, aparentemente sensíveis, acerca da forma significante que as obras manifestam ou não, um deles tem de estar errado; mas não há maneira de saber qual.

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