Filosofia da Ciência: Objetividade, Popper e Kuhn
Classificado em Filosofia e Ética
Escrito em em
português com um tamanho de 5,01 KB
Distinção entre Verificabilidade e Falsificabilidade
A verificabilidade é o princípio central do neopositivismo, segundo o qual uma proposição só tem sentido se for empiricamente verificável. Apenas a observação empírica pode determinar se uma proposição é verdadeira, falsa ou provável; o significado de uma afirmação é o seu método de verificação. Assim, as frases que não admitem qualquer verificação não são verdadeiras nem falsas, são destituídas de significado.
Por outro lado, a falsificabilidade é proposta para distinguir os enunciados científicos dos não científicos. Uma teoria só é científica se for falsificável, isto é, se implica a negação de, pelo menos, um enunciado relativo a uma opção possível. Assim, a falsificabilidade é a propriedade que uma teoria tem de ser refutada pela experiência.
A falsificabilidade é característica das teorias científicas que são sempre suscetíveis de serem refutadas ou desmentidas pela experimentação, mas que nunca podem ser definitivamente confirmadas. Segundo Popper, defensor desta teoria, o que distingue uma teoria científica não é a sua verificabilidade, mas sim a sua falsificabilidade. Qualquer explicação irrefutável não é científica e não se pode dizer que seja verdadeira.
O Conhecimento Científico é Conjetural
O conhecimento científico é composto por hipóteses sucessivas e possíveis, nunca se atingindo o conhecimento indubitável.
A Objetividade Científica
Para a ciência antiga, a objetividade científica correspondia à realidade e à verdade, pois a ciência, ao definir algo, estava a dizer o que essa coisa é, ou seja, a sua essência.
Na ciência moderna, assiste-se à distinção entre:
- Qualidades subjetivas: Apreensíveis pelos sentidos.
- Qualidades objetivas: Quantificáveis, as únicas que interessam à ciência.
Assim, a objetividade identifica-se com aquilo que não difere de sujeito para sujeito, nem se altera com o passar do tempo, mas, pelo contrário, é válido para todos e identifica-se com um conhecimento de tipo matemático verificado pelos factos. A objetividade científica obtém-se mediante procedimentos de observação e experimentação rigorosos, de modo a constituir um objeto de pensamento que obtenha a concordância de todos os sujeitos. O objeto em si nunca pode ser apreendido pelo sujeito, mas a sua apreensão é sempre função de uma aparelhagem conceptual e técnica.
Objetividade Científica: Positivismo, Popper e Kuhn
A interpretação da objetividade científica varia significativamente entre diferentes correntes filosóficas:
1. Positivismo
- A ciência tem um estatuto de verdade e objetividade.
- Os factos são suscetíveis de descrição exata e explicação rigorosa.
- A objetividade é assegurada pelo rigor da medição e da experimentação.
- Para atingir o conhecimento objetivo, o cientista deve abstrair-se da sua subjetividade e ser um observador neutro.
- O estatuto da ciência traduz-se num conhecimento objetivo.
2. Karl Popper
- O cientista não é um observador neutro e os factos não são "puros"; o cientista está comprometido com princípios, ideias e valores que influenciam o seu trabalho.
- O cientista é um ser criativo e crítico e, ao encontrar falhas ou erros, procura novas respostas.
- A ciência nunca atinge a verdade, apenas se aproxima dela; é conjectural.
- O estatuto da ciência, em Popper, é o de considerar que as teorias científicas são meras conjecturas, que devem ser constantemente submetidas à falsificabilidade.
3. Thomas Kuhn
- Kuhn opõe-se às duas interpretações anteriores, defendendo que a evolução da ciência depende do trabalho dos cientistas.
- O cientista não é um investigador neutro e isolado, e as teorias não são meras construções resultantes da análise de factos em bruto.
- Sujeito e objeto são contextualizados, e a construção de teorias está sempre dependente do paradigma científico adotado.
- Aquilo que é verdadeiro num paradigma pode já não o ser noutro.
- O método científico não se reduz à experimentação, mas está dependente da argumentação.
- A subjetividade está presente no contexto da descoberta de novas teorias, mas também na sua justificação.
- O estatuto da ciência, em Kuhn, mostra que a validade das teorias está dependente do paradigma no qual se inserem.
O Estatuto Atual da Ciência: Intersubjetividade
O estatuto da ciência atual é a intersubjetividade, já que a validade das teorias está dependente do paradigma no qual se inserem. Os cientistas devem convencer a comunidade científica em que se inserem da razoabilidade e da plausibilidade das suas teorias, recorrendo à argumentação. Subjacente a este estatuto está uma racionalidade condicionada.