A Filosofia de David Hume: Empirismo e Ceticismo
Classificado em Filosofia e Ética
Escrito em em português com um tamanho de 4,94 KB
Empirismo e a Origem do Conhecimento
David Hume, autor escocês nascido no século XVIII, tentou construir uma ciência da natureza humana à maneira da ciência da natureza de Newton. É a escola mais importante do empirismo. Para Hume, todo o nosso conhecimento vem da experiência. Hume nega a existência de ideias inatas na razão, antes da experiência, porque nossa compreensão é como uma página em branco no nascimento, nada que está escrito (tabula rasa). Como um bom empirista, Hume diz que todo o conteúdo da mente provém do contato dos sentidos com a realidade. Hume distingue dois tipos de conteúdo:
- Impressões: percepção que é intensa, precisa e imediata dos sentidos.
- Ideias: cópias de impressões, menos animadas, mas que são imagens mentais mais duradouras das impressões.
Tanto impressões quanto ideias podem ser simples ou complexas, dependendo se admitem ou não distinção interna. Para Hume, dentro de cada ideia simples corresponde a uma impressão simples, e só são verdadeiras ideias aquelas que vêm de alguma impressão.
Modos de Conhecimento
Hume também distinguiu dois modos de conhecimento racional:
- Relações entre ideias: que são um conhecimento a priori que não é necessário usar a experiência para saber o seu valor de verdade (como matemática e lógica).
- Questões de facto: que é um conhecimento a posteriori, que diz algo novo sobre a realidade e que deve ser baseado na experiência.
De acordo com Hume, todo o conhecimento sobre a realidade fica reduzido às impressões atuais e anteriores (ideias), mas não há maneira de ter conhecimento dos factos futuros.
Crítica da Causalidade
Hume, portanto, rejeita o princípio do nexo de causalidade (em que uma causa sempre produz um certo efeito), pois não temos impressão dessa conexão. No entanto, em nossa vida normal, falamos com certeza de eventos futuros, ou seja, acreditamos na causalidade. Isto é confundir causalidade com este hábito. Com Hume, introduz-se uma dura crítica a Descartes, que confundiu a sequência de tempo com um nexo de causalidade, a relação antes e depois com a relação causa e efeito.
Crítica da Substância
A partir do modo de entender o conhecimento, Hume enfrenta o problema da realidade. Assim como com a causalidade, Hume criticou os três tipos de substâncias, levando ao ceticismo, já que não há impressão que corresponda à ideia de substância e, por isso, é impossível saber a sua existência. Hume nega a existência de:
O Eu (Self)
A consciência da identidade pessoal é um truque da memória: não há um 'eu' que permaneça no tempo, mas um conjunto de impressões descontínuas e mistas da experiência interna.
O Mundo Exterior
Também nega a existência do mundo, pois a única coisa que conhecemos são, em última instância, impressões particulares. A realidade é um fluxo de impressões, sem ser capaz de confirmar a existência da realidade, entendida como um mundo objetivo fora do sujeito que conhece.
Deus
Por fim, Hume criticou a existência de Deus, pois não há nenhuma evidência empírica para essa ideia, e não há nexo de causalidade entre as impressões e Deus (devido à negação do princípio da causalidade).
A Filosofia Moral de Hume
Finalmente, Hume desenvolve o problema da moral. Segundo Hume, a moral não trata de factos, mas do que deveríamos ou não deveríamos fazer. Hume critica a fundação racionalista da moralidade, afirmando que os juízos morais não têm nada a ver com a razão, pois esta não pode determinar a ação, dada a sua limitada esfera de conhecimento (sobre questões de facto e relações entre ideias). Hume diz que as paixões humanas são movidas para a ação. Para o empirista, o sentimento de aceitação ou rejeição é o que leva as pessoas a admitir ou não um comportamento, ou se comportar de uma maneira ou de outra. O comportamento humano e moral têm a sua origem e base nas emoções. Hume também afirma que há um sentimento moral universal.
Emotivismo e Utilitarismo
Embora a razão não tenha nada a ver com a moral, Hume admite que há alguma razão para moralmente aprovar ou rejeitar uma ação, razões que têm a ver com o valor das ações. Nesta forma de ética emotivista, Hume aponta para uma conclusão que se aproxima do utilitarismo.
Conclusão: Fenomenalismo e Ceticismo
O empirismo de Hume conduz necessariamente ao fenomenalismo (sabemos apenas fenómenos, as impressões) e ao ceticismo (é impossível ter conhecimento certo da existência do mundo, do eu e de Deus).