A Filosofia de Descartes: Ideias, Deus e o Mundo

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1. A Natureza do Pensamento e das Ideias

Temos dois itens para a dedução: o pensamento e a atividade: ideias e pensamentos. Ao pensar, encontro algumas ideias (e isto não significa que essas ideias correspondam à realidade). Descartes conclui que o pensamento está sempre a pensar em ideias.

A noção de ideia em Descartes difere da filosofia precedente: para a filosofia anterior, a ideia não dependia de outras ideias, mas diretamente das coisas. Em Descartes, distinguimos:

  • Realidade objetiva: o conteúdo da ideia.
  • Realidade formal: (em que) são atos mentais.

As ideias são distinguidas pela sua realidade objetiva, pelo conteúdo. Descartes classifica as ideias em:

  • Ideias adventícias: aquelas que parecem vir da nossa experiência externa. Escrevemos "parecem vir" e não "vir", porque não temos conhecimento da existência de uma realidade externa. Não temos certeza de que elas existem.
  • Ideias factícias ou fictícias: ideias que a mente constrói a partir de outras.
  • Ideias inatas: aquelas que o próprio pensamento possui, ou seja, são inatas. Encontramos ideias inatas na própria percepção do "eu penso, logo existo".

2. A Existência de Deus e do Mundo

2.1. A Existência de Deus

Entre as ideias inatas, Descartes descobriu a ideia de infinito, que se identifica com Deus. Descartes mostra que a ideia de Deus não é acidental nem artificial. Contra a visão tradicional de que a ideia do infinito vem da ideia do finito, Descartes argumenta que a noção de finitude pressupõe a ideia de infinitude: esta não deriva daquela, nem é ficcional. Ele diz que pode conceber o finito porque tem a ideia de infinito; portanto, a ideia de finito deriva da ideia de infinito.

Descartes demonstra a existência de Deus através de três provas:

  1. Argumento Ontológico: Já utilizado na Idade Média por Santo Anselmo.
  2. Argumento da Causalidade: Baseado na causalidade aplicada à ideia de Deus. Esta prova parte da realidade objetiva das ideias e pode ser formulada como: "a realidade objetiva das ideias requer uma causa que possua tal realidade em si, não só de forma objetiva, mas de forma formal ou eminente". Ou seja, a ideia de um ser infinito exige uma causa infinita; portanto, um ser infinito a causou em mim, e o infinito existe.
  3. Argumento da Imperfeição: A aplicação do princípio de que um ser imperfeito (realidade do eu: mudança, dúvida...) não pode ter-se dado a si mesmo e, portanto, é causado por Deus.

2.2. A Existência do Mundo

A existência do mundo é demonstrada a partir da existência de Deus, porque Deus, sendo infinitamente bom e verdadeiro, não pode permitir que eu me engane ao acreditar que o mundo existe; logo, o mundo existe.

Deus aparece como garantia de que as minhas ideias correspondem a um mundo, uma realidade extramental. No entanto, Deus não garante que todas as minhas ideias correspondam a uma realidade extramental. Descartes nega que as qualidades secundárias existam; portanto, só Deus garante a existência de um mundo constituído exclusivamente pela extensão e movimento (qualidades primárias). A partir das ideias de movimento e extensão, a física pode ser deduzida.

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