Filosofia de Marx: Alienação e Materialismo
Classificado em Filosofia e Ética
Escrito em em português com um tamanho de 10,29 KB.
Filosofia de Marx
1. Princípios Filosóficos: Crítica a Hegel e Feuerbach
Marx recebeu de Hegel e Feuerbach o material com o qual desenvolveu sua própria filosofia. Hegel era um idealista, e acreditava que as mudanças materiais são produzidas por fatores ideais. Também argumentou que os processos históricos são produzidos de acordo com as leis da dialética (cada fato é substituído por outro oposto, negando-se mutuamente, e a visão integrada de ambos é a realização progressiva da Liberdade). Feuerbach, por outro lado, era um materialista, e via o homem como um ser alienado pela religião. Assim, a crítica da religião levaria à recuperação da essência humana.
Marx aceita e rejeita a dialética hegeliana e o idealismo de uma perspectiva materialista. Ele reconhece o ser humano como um ser ativo, como Hegel. Congratula-se com a dialética, insistindo na contradição como motor da mudança histórica. Mas censura Hegel por buscar a essência do homem na atividade espiritual e não na prática material, e rejeita a ideia de que "tudo o que é real é racional".
Quanto ao materialismo de Feuerbach, Marx concorda com ele ao definir o homem como um ser material, mas critica a compreensão do material em um sentido mecânico e passivo. Feuerbach não apresentava o homem como um ser ativo, mas contemplativo, enquanto Marx se refere ao material do homem sempre em termos de trabalho prático. Finalmente, o materialismo de Feuerbach parece insuficiente, porque sua crítica se move no plano puramente teórico.
2. Antropologia
A. A Essência Humana
Marx não tem interesse em falar sobre a essência humana em geral. Ele defende que o homem é um ser natural ativo, cuja atividade se baseia na existência de necessidades naturais a serem satisfeitas pela transformação da natureza. Essa atividade é o trabalho, entendido como produção ou prática. Para Marx, o homem só se realiza através da práxis, na relação com a natureza e com outros homens.
B. Alienação
Marx está interessado no indivíduo europeu do século XIX, em especial, pelo trabalhador na sociedade capitalista emergente. O conceito que caracteriza seu estilo de vida é o da alienação. Para Marx, a alienação é um fenômeno fundamentalmente econômico.
a. Alienação Econômica
A alienação econômica está presente na existência dos trabalhadores de diversas maneiras:
- Primeiro, a alienação do homem de sua própria atividade. No trabalho, diz Marx, o homem não pertence a si mesmo.
- Segundo, a alienação do homem do produto do seu trabalho. O produto de uma atividade é a objetivação da atividade e deveria ser uma manifestação da vida e da personalidade do trabalhador. No entanto, o produto se confronta com ele como um estranho, como um poder independente.
- Terceiro, alienação da natureza. O homem está sujeito a exigências que só a natureza pode satisfazer. Na sociedade capitalista, a natureza torna-se um meio para a obtenção de bens de capital, portanto, aparece como algo estranho.
- Por último, a alienação dos homens em relação aos outros. O trabalho humano se baseia na cooperação, mas, na sociedade capitalista, o trabalhador só trabalha para si mesmo, e se confronta até mesmo com os outros trabalhadores por emprego e salários mais elevados. Sob o capitalismo, a forma usual de relacionamento é a competição.
b. Outras Formas de Alienação
- Alienação política: negação ao povo, pela escolha ou pela força, do direito de gerir seus próprios destinos políticos e a soberania.
- Alienação intelectual e moral: sofrimento da população, sujeita à influência exercida por alguns.
- Alienação religiosa: Marx entendia a religião como uma criação psicológica do homem. A chave para a projeção e a clivagem religiosa no mundo é a insatisfação que caracteriza as condições materiais de vida dos homens na sociedade e o trabalho alienado. Marx defende a crítica prática da religião, cuja função social é adormecer a consciência e paralisar a ação crítica e revolucionária ("o ópio do povo").
c. Fetichismo da Mercadoria
Um caso interessante de alienação é o fetichismo da mercadoria. Um produto só se torna mercadoria quando possui valor de troca, além do valor de uso. O valor de troca dá ao produto uma vida social que chega a suplantar a dos indivíduos. A existência social dos homens é, portanto, transferida para a atividade do mercado, e o valor das pessoas é reduzido ao preço. A vida social é dirigida pelos imperativos do comércio, e as relações humanas não são mais diretas, tornando-se elípticas.
d. Causas da Alienação
A propriedade privada e a divisão social do trabalho são, segundo Marx, a raiz última da alienação econômica e de todas as outras formas de alienação. A principal causa é a propriedade privada, que produz alienação porque, no processo de produção capitalista, a mais-valia obtida pelo capitalista é usada para contratar mais trabalhadores. A mais-valia é o valor produzido pelos próprios trabalhadores, de modo que parte do valor gerado pelo trabalhador se opõe a ele como mais capital para comprar de volta sua força de trabalho. Sua própria atividade produtiva se volta contra ele, passando a possuí-lo e dominá-lo.
A divisão do trabalho, ou seja, a distribuição das tarefas entre os membros do grupo, pode ser natural ou socialmente imposta. No capitalismo, a divisão do trabalho atinge seu ápice com a introdução maciça de máquinas, o que exacerba o processo de alienação do trabalhador, que passa a realizar uma ação repetitiva e simples. Para o capitalista, isso é benéfico. Marx reconhece que um certo grau de alienação seria inevitável, mesmo em uma sociedade sem propriedade privada.
e. Crítica Teórica das Ideologias
A crítica teórica das ideologias é o primeiro passo para a remoção efetiva da alienação, que é o verdadeiro motor da antropologia ética marxista. A consciência que o homem tem de si mesmo e de sua realidade social é moldada pela ideologia. Marx usa o termo "ideologia" em dois sentidos: (1) ideias socialmente condicionadas e (2) ideias falsas da realidade social. O primeiro sentido se baseia na suposição de que as ideias não têm uma fonte independente ou evoluem de acordo com suas próprias leis. O segundo sentido se refere à tendência de certos grupos sociais de gerar ideias deformadas para esconder a realidade. Nas sociedades capitalistas, segundo Marx, a principal responsável por essa distorção é a burguesia.
f. Moral e Humanismo de Marx
A filosofia de Marx é uma filosofia humanista. Primeiro, sua justificativa é ética, pois reside na luta contra a alienação do homem. Segundo, é contra o significado religioso e rejeita a existência de um ser superior ao homem. Terceiro, concebe o homem como o verdadeiro sujeito da história.
3. Concepção Materialista da Sociedade e da História
A. Materialismo Dialético
O materialismo dialético é a metafísica e a metodologia do materialismo histórico. Esta é a visão de mundo que pressupõe que a realidade é um todo dinâmico constituído de componentes interligados de acordo com determinadas leis, e que tudo o que existe é de natureza material (interação do homem e da natureza). As investigações de Marx foram realizadas no campo da história.
B. Base e Superestrutura
A base da sociedade civil é o momento de definição de uma dada formação social. É a fundação da empresa. Sobre ela se apoiam o Estado, a religião, o direito, a arte e o pensamento, que formam a superestrutura.
A estrutura econômica de uma sociedade inclui as relações sociais de produção e as forças produtivas. As primeiras são as relações objetivas estabelecidas entre os agentes no processo de produção. As segundas são constituídas por todos os elementos que permitem um nível produtivo materialmente. A forma da estrutura econômica da sociedade é o que Marx chamou de modo de produção. Historicamente, foram registrados diversos modos de produção: primitivo, asiático, antigo, feudal e capitalista. Marx prevê um futuro modo de produção socialista. Cada modo de produção é caracterizado por certas leis econômicas que são válidas apenas dentro desse sistema. Marx rejeita a abordagem da economia política liberal. Para ele, a sociedade burguesa é a forma histórica mais evoluída que conhecemos, e todas as sociedades anteriores levam à sociedade burguesa.
C. Gênese do Capitalismo e Advento do Comunismo
No modo de produção feudal, o trabalhador estava organicamente vinculado às suas condições de vida. A troca era voltada para o consumo direto, diferentemente do modo de produção capitalista. De acordo com Marx, para que a acumulação de capital ocorra, são necessárias duas condições prévias: a existência de um capital inicial e a reestruturação das relações entre o produtor e as condições sociais de produção. Marx atribui maior importância às relações entre o produtor e seus meios de subsistência. A premissa capitalista é a separação dos meios de produção do controle direto dos produtores. Isso começou a acontecer na Inglaterra, estabelecendo as bases do modo de produção capitalista, impulsionado pela obtenção de mais-valia.
Para Marx, a sociedade civil é permeada por uma luta de classes, entre a burguesia e o proletariado, objetivamente enfrentadas: uma tem tudo e a outra não tem nada. O proletariado é a classe universal. Outras classes apenas aspiram a melhorar sua própria condição. O triunfo do proletariado levará à abolição da sociedade de classes. Marx sustenta que a finalidade para a qual a história se dirige é o desaparecimento das classes e o estabelecimento do comunismo. O grande desenvolvimento das forças produtivas entra em conflito com as relações de classe de produção, levando à revolução social, que será gradual.