Filosofia Moderna: Conhecimento, Método e Metafísica
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O Problema do Conhecimento e as Regras do Método
As várias ciências são simplesmente diferentes manifestações de um único conhecimento. Este conhecimento, produto da razão, pode explicar a realidade. A filosofia serve como suporte para todas as ciências: "é como uma árvore cujas raízes são a metafísica, o tronco, a Física, e os ramos são todas as outras ciências." O objetivo de Descartes é encontrar o verdadeiro fundamento de todo o conhecimento. Seu objetivo é estabelecer uma filosofia universalmente válida. Existem muitas teorias variadas, mas nenhuma recebeu aceitação universal, evidenciando a necessidade de desenvolver uma nova filosofia. "O fracasso dos filósofos anteriores deveu-se à falta de um método adequado." A ciência matemática é apresentada como um modelo. É uma ciência precisa e rigorosa, com valor universal, em que há um progresso contínuo. O método matemático deveria servir de modelo para a construção de um conhecimento filosófico preciso e universalmente válido.
O método matemático se baseia no desenvolvimento de duas operações mentais: a intuição e a dedução. Começa com uma ou mais proposições, que são percebidas como óbvias, direta e imediatamente, através da intuição (os axiomas). A partir destas primeiras verdades, novas são descobertas: os teoremas, derivados dos axiomas por inferência. A dedução parte de uma ou mais premissas que são consideradas certas para chegar a uma nova proposição que se segue logicamente delas, usando um conjunto de regras até uma conclusão. Desta forma, podemos passar a outras verdades evidentes.
Inspirado pelo "modus operandi" da Matemática, Descartes fornece a metodologia para orientar o pensamento na busca do conhecimento, propondo quatro regras metodológicas:
- Primeiro: Não admitir nada como verdadeiro que não se apresente de forma clara e distinta à mente, sem possibilidade de dúvida (regra da evidência).
- Segundo: Dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quanto possível para melhor resolvê-las (regra da análise).
- Terceiro: Conduzir os pensamentos, começando pelos objetos mais simples e fáceis de conhecer, para ascender gradualmente ao conhecimento dos mais complexos (regra da síntese).
- Finalmente: Fazer em todos os casos enumerações tão completas e revisões tão gerais que se tenha a certeza de nada omitir (regra da enumeração/revisão).
A Dúvida, o Cogito e o Critério de Certeza
Propõe-se encontrar um princípio claro e absolutamente verdadeiro. Esta verdade serviria como a base de todo o conhecimento, o axioma a partir do qual um sistema filosófico rigoroso e preciso poderia ser desenvolvido. O procedimento mais adequado é a dúvida metódica, que consiste na rejeição de todas e cada uma das ideias para as quais haja a menor razão para duvidar. (A dúvida metódica) não afeta a nossa ação, mas busca novos e sólidos alicerces para o conhecimento.
Primeiramente, duvidamos do conhecimento dos sentidos. Os sentidos enganam-nos, e por isso devemos renunciar a eles como uma fonte confiável de conhecimento certo. Embora pareça certo que existe um mundo externo de objetos reais que atingem os nossos sentidos, duvidamos que o mundo exterior exista realmente devido à impossibilidade de distinguir entre a vigília e o sono. Há verdades da matemática que parecem ainda ser verdadeiras. No entanto, Descartes questionou até mesmo as verdades matemáticas, levantando a hipótese de um gênio maligno ou um Deus enganador, que poderia nos iludir e fazer-nos acreditar em falsas certezas.
Todo o nosso conhecimento está sujeito a dúvidas. Descartes descobriu a primeira verdade totalmente evidente, sobre a qual não pode haver dúvida: "Mas se eu estou errado, se eu penso errado, se eu duvido, é porque eu sou: "Cogito, ergo sum" (Penso, logo existo)." Por que a minha existência como um sujeito pensante está além de qualquer dúvida? A prova total aparece em minha mente com clareza e distinção. Uma ideia é clara quando "está presente e manifesta a um espírito atento" e distinta quando não pode ser confundida com nenhuma outra. Este é o critério de certeza: tudo o que se apresenta de forma clara e distinta pode ser aceito como totalmente verdadeiro.
Poderia este critério ser aplicado a outras ideias? A resposta é que não se pode considerar as ideias cartesianas fiéis e verdadeiras que se veem como óbvias, pois Deus poderia nos enganar. Exceto no cogito. Descartes, contido no solipsismo (não pode assegurar a existência de qualquer verdade, exceto a sua própria), dá o primeiro passo a partir do cogito para provar que Deus existe e não nos engana, e assim garantir a validade de outras verdades.
A Metafísica de Leibniz: Mônadas e Harmonia Preestabelecida
Leibniz defende uma concepção pluralista e dinâmica da realidade. A realidade é constituída por uma infinidade de mônadas, que são indivisíveis e unidades elementares não-estendidas. Elas são como átomos de energia ou pontos metafísicos simples, sem partes. O que define a realidade é a energia, uma força interna ou a capacidade de ação que impulsiona cada mônada. Ingeráveis e indestrutíveis, nascem por criação divina e só podem desaparecer por aniquilação divina.
Cada ser real é um agregado de mônadas. Seres inorgânicos são formados por justaposição de mônadas. Os seres orgânicos possuem uma mônada dominante que rege as outras, sendo esta a "alma". As mônadas têm duas características: apetição e percepção. A percepção é a capacidade de representar algo exterior. A apetição é a força interna ou a tendência para a mudança de um estado para outro. Cada mônada é um microcosmo, contendo em si toda a realidade e sendo um reflexo de todo o universo. No homem, a percepção torna-se consciente (o "Entendimento") e a apetição é livre (a "Vontade").
As mônadas são unidades fechadas e isoladas do resto. No entanto, aparentemente, há influências entre si, especialmente na interação entre corpo e alma. Leibniz explica essa interação usando a ideia de harmonia preestabelecida. As atividades da alma e do corpo foram organizadas por Deus de forma perfeitamente sincronizada. Leibniz defende o otimismo cósmico, defendendo que estamos no melhor dos mundos possíveis, dentre os muitos mundos que Deus poderia ter criado. Deus é guiado pelo princípio da perfeição e isso é motivo suficiente para a criação deste mundo. O mal é considerado uma condição necessária para o funcionamento do sistema.
Tipos de Conhecimento em Leibniz e Hume
LEIBNIZ | HUME | |
Verdades de Razão | Verdades de Razão:
| Relações de Ideias: Não há necessidade de recorrer à experiência. São verificadas a priori, são necessárias e analíticas, não fornecendo qualquer informação nova porque o predicado já está implícito no sujeito. Baseiam-se no princípio da não contradição: o oposto é impossível. Este tipo de conhecimento pertence às ciências formais (Lógica, Matemática). |
Verdades de Fato | Verdades de Fato:
| Questões de Fato: Conhecimento característico da ciência experimental. Proposições que descrevem fatos, cuja validade depende da experiência (a posteriori). Originam-se nas impressões. O oposto de uma questão de fato não envolve nenhuma contradição lógica. Qualquer conhecimento dos fatos é baseado no princípio da causalidade (que Hume critica). |