Filosofia Moderna: Racionalismo Cartesiano

Classificado em Filosofia e Ética

Escrito em em português com um tamanho de 17,81 KB.

ITEM 4. Filosofia Moderna: Racionalismo Cartesiano

1. RESUMO: O Racionalismo na Filosofia Moderna

A) Características Gerais do Racionalismo:

  1. Importância do conhecimento do sujeito: O próprio pensamento é a realidade radical; tudo retorna à subjetividade.
  2. Racionalismo cria grandes sistemas de pensamento: dos primeiros princípios, deduzem-se teoremas, formando um sistema global por inferência.
  3. Uso do método lógico-dedutivo.
  4. Trata de questões metafísicas dos escolásticos: Deus, o mundo e a alma.
  5. Autonomia da razão: Primado da razão contra o dogma e a fé (Deísmo).
  6. Racionalistas aplicam o método matemático à metafísica: busca rigorosa de certezas apodícticas e dedução lógica, aplicação da geometria analítica encontrada por Descartes.

B) O Racionalismo em Confronto com o Empirismo:

Racionalismo e empirismo são as duas principais correntes da filosofia moderna, embora a origem do conhecimento seja diferente para ambos:

  • Racionalismo: Nosso conhecimento bom e verdadeiro sobre a realidade vem da razão. Isso levará à admissão das ideias inatas.
  • Empirismo: Todo o nosso conhecimento vem dos sentidos. Nega a ideia inata porque nascemos com a mente como um papel em branco.

Os racionalistas acreditam que os sentidos fornecem informações, mas confusas e incertas.

2. PONTO DE REFLEXÃO FILOSÓFICA CARTESIANA:

  • A decepção filosófica com a divisão de ideias: A importância do conhecimento do sujeito inaugurou a filosofia moderna. A divisão de ideias ainda é grande, mas Descartes tem uma concepção unitária do conhecimento e da razão; a sabedoria humana é única porque a razão é única.
  • O "sonho" de Descartes de reconciliação dos homens de pensamento: Descartes, nas Meditações Metafísicas, teve um sonho: sonhou que a estrutura do mundo era lógica e que era possível construir uma ciência geral, que reunisse e fundamentasse todo o conhecimento. Procurou conciliar os homens de pensamento e acabar com a divisão de ideias. Isso implica a necessidade de um método; assim, escreve o Discurso do Método. O método é inspirado na lógica clássica aristotélica e no modelo matemático.

3. Método Cartesiano (Epistemologia)

3.1. Normas ou Regras Provisórias da Moralidade

No processo de dúvida, Descartes estabelece normas morais provisórias para construir sua moral máxima. Estas regras são:

  1. Atitude de cautela e prudência: Em caso de erro, desviar-se-ia cada vez menos do caminho moral.
  2. Continuar como provável: Como se fosse algo muito real e verdadeiro, para evitar ser indeciso.
  3. Seguir o estoicismo: Modificar os seus desejos antes da ordem do mundo. Isso nos impede de querer o que não pode ser alcançado e nos permite viver felizes e satisfeitos.
  4. Cultivando a razão: Descartes analisa todas as ocupações possíveis para escolher a melhor, que é "usar uma vida inteira para cultivar a razão e o conhecimento prévio da verdade."

Descartes conclui com a relação entre a felicidade e o conhecimento: seu método permite a aquisição segura de todo o conhecimento de que era capaz, e a realização de todos os bens reais que estavam em sua posse.

3.2. A Busca por um Novo Método: As Regras do Método

Fontes de inspiração para o método: Lógica aristotélica clássica e o modelo matemático (álgebra e geometria), com a intenção de introduzir na filosofia o mesmo grau de certeza e acordo entre todos, como ocorre na matemática.

Atitudes básicas para o conhecimento:

  • Intuição: A luz natural é a natureza simples; resulta em compreender conceitos simples da própria razão.
  • Dedução: Entre algumas ideias e conexões, outras aparecem para obter informações e prosseguir para a dedução.

Passos do Método: As Quatro Regras

Regra 1: Evidência

Não aceitar como verdade algo que não seja conhecido com evidência. Aceitar apenas o que é claro e distinto, não admitindo nada duvidoso. A evidência é dada na intuição (a mente "vê" de forma clara e imediata uma ideia) e seu modelo é a evidência matemática. A "ideia" é um conceito mental, não uma "essência" como em Platão. Mais importantes são as ideias das coisas do que as próprias coisas. A evidência é uma propriedade das ideias, não das coisas. A evidência é definida por suas características essenciais: clareza e distinção. Uma ideia é clara quando se difere de outras ideias, e é distinta quando suas partes não são confusas. Deve-se evitar a precipitação (tomar como verdade o que não é) e a prevenção (recusar-se a aceitar a verdade do que é óbvio).

Regra 2: Análise

Dividir as dificuldades em partes, até as partes mais simples. Cada parte é chamada de natureza simples e indivisível. É preciso dividir as ideias compostas em ideias simples para encontrar a evidência. Toda a natureza é capturada por intuição. A intuição de Descartes é simples e é a absorção imediata do espírito, tão fácil e diferente, que não deixa margem para dúvidas.

Regra 3: Síntese

Consiste em conduzir em ordem os pensamentos. Por implicação, unem-se cada uma das partes e resolvem-se as dificuldades.

Regra 4: Enumeração (Revisão)

Revisar todo o processo para ter certeza de não omitir nada. Se a enumeração não estiver completa, a precisão da conclusão está ameaçada. Todo o método é limitado aos elementos de prova: no início, a verdade; nas provas, no processo; e nas provas, no conjunto.

O Resultado do Processo de Provas: Obtêm-se bons resultados quando aplicado à matemática, então Descartes decide aplicá-lo à filosofia para ver se consegue conciliar os homens de pensamento. Para Descartes, não há mistérios; tudo pode ser conhecido com ideias claras e distintas (ser reduzido a uma função matemática). Como agrimensores, deve-se começar a partir de coisas simples e fáceis para alcançar o difícil e complexo.

Pressupostos do Método:

  1. A realidade é composta de naturezas simples.
  2. Conhecer é adivinhar as naturezas simples.
  3. Inatismo (nascemos com ideias na mente).

3.3. Ponto de Partida: A Dúvida, com o Objetivo de Superar o Ceticismo

Significado da Dúvida Cartesiana: Algo de que não se pode duvidar. Descartes duvida para ver se encontra algo indubitável. O objetivo e o sentido da dúvida são garantir a segurança, superando o ceticismo.

Características da Dúvida: É uma dúvida universal (duvida de todo o conhecimento, até mesmo da existência da realidade), metódica (a dúvida é um método para alcançar a certeza, a prova, 1º período) e teórica (não duvida dos aspectos éticos; aceita normas morais provisórias).

Âmbito da Dúvida: A dúvida cartesiana afeta três áreas:

  1. Dúvida dos sentidos: O conhecimento sensível, pois se os sentidos às vezes nos enganam, por que não pensar que nos enganam sempre? No entanto, a dúvida da percepção do mundo não é a dúvida do mundo, e como a dúvida é universal, devemos também duvidar da existência da realidade.
  2. Dúvida da existência da realidade: Às vezes, não distinguimos quando estamos acordados ou sonhando (indistinção entre vigília e sono). Tanto no sono quanto na vigília, parecem certas as verdades matemáticas, mas também se duvida delas.
  3. Dúvida sobre a capacidade da inteligência: O entendimento pode estar errado quando argumenta, até mesmo nas provas matemáticas. Chega-se à hipótese da existência de um gênio maligno que nos engana quando buscamos a verdade.

3.4. Resultados da Superação da Dúvida e do Ceticismo: A Primeira Verdade e o Critério de Verdade. "Cogito ergo sum"

Superando o Ceticismo: A primeira verdade é o sujeito que pensa.

No processo de dúvida, não posso duvidar que duvido; portanto, para duvidar, preciso existir (cogito ergo sum). Eu sou um ser pensante e, portanto, um ser que existe. No entanto, só foi demonstrada a atividade interna de duvidar; não foi demonstrado que se tem corpo (a realidade). O "Cogito" inclui qualquer operação interna do sujeito (duvidar, pensar, sentir, imaginar...).

  • O "cogito ergo sum" (Penso, logo existo) é o princípio que Descartes buscava, a ideia clara e distinta, a base para construir todo o edifício da filosofia.
  • O 'cogito' é a primeira verdade, a exatidão ou evidência (1º período). É uma ideia clara e distinta.
  • Sua abordagem é certa: Qualquer coisa que seja percebida com igual clareza e distinção será verdadeira e posso afirmar com certeza.
  • O cogito (sujeito) é a base da filosofia moderna.
  • Inspiração de Santo Agostinho. Santo Agostinho disse: "Se me engano, existo". Para Descartes, o "cogito" é o ponto de partida para qualquer reflexão; para Santo Agostinho, é apenas mais um exemplo das coisas verdadeiras.

Partindo da dúvida, obtivemos a existência do sujeito pensante, ou seja, o mental. O problema que agora se coloca a Descartes é como passar do mental para o extra-mental (realidade), do sujeito para o objeto.

4. ANÁLISE E CLASSIFICAÇÃO DAS IDEIAS

4.1. O Problema a Ser Resolvido: A Existência de uma Realidade

Temos uma ideia clara e distinta: o pensamento, o sujeito. Mas como provar a existência de uma realidade externa ao pensamento?

Descartes não tem outra escolha senão deduzir a existência da realidade a partir da existência do pensamento. Tirar conclusões a partir de um ponto de partida (Cogito). Os elementos que tem para realizar a dedução são a atividade do pensamento ("eu penso") e as ideias que o "eu" pensa.

4.2. O Conceito de Ideia em Descartes

Descartes conclui que o pensamento está sempre pensando ideias, mas o conceito de ideia em Descartes é diferente da filosofia anterior. Para a filosofia anterior, o pensamento não recai sobre ideias, mas sobre as coisas; para Descartes, o pensamento não recai sobre coisas, mas sobre ideias. O problema é como garantir que à "ideia" do mundo corresponde a "realidade" do mundo?

4.3. Natureza das Ideias

Descartes distingue dois aspectos das ideias: consideradas como atos mentais, todas as ideias têm a mesma realidade e todas provêm do pensamento; mas consideradas em termos do seu conteúdo objetivo, cada ideia é uma coisa diferente.

4.4. Classificação das Ideias

Três tipos de ideias:

  • Ideias adventícias: Aquelas que parecem vir de nossa experiência externa, dos sentidos.
  • Ideias factícias: Provenientes da imaginação.
  • Ideias inatas: O pensamento as possui em si mesmo, por natureza; são as ideias de "pensamento" ou "existência". Para Descartes, é inata a ideia da substância infinita, ou Deus, e Deus assegurará a existência de uma realidade fora da mente.

5. SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DA REALIDADE E CONSTRUÇÃO DA METAFÍSICA

Descartes estabelece que o eu existe como uma substância cuja essência ou natureza toda é pensar.

A substância é o que existe de forma concreta (a coisa).

5.1. Digressão: Metafísica da Substância

Conceito de substância: Uma coisa que existe de tal forma que não precisa de mais nada para existir.

Tipos de substâncias:

  • Substância infinita (Deus): Somente aquele que não precisa de mais nada além de si mesmo para existir.
  • Substância finita: Há outras duas substâncias finitas, além de Deus; elas não precisam de mais nada além de outra para existir, exceto Deus. Estas duas substâncias são a "res cogitans" (pensamento) e a "res extensa" (matéria). Estas substâncias têm determinados atributos (aquilo por que conhecemos a substância) e modos (propriedades da substância).

5.2. A Construção da Nova Metafísica

Metafísica Geral: Teologia (Natural). Deus

Descartes chega à demonstração de Deus a partir da análise das ideias que o eu pensa e encontra as ideias inatas. Para isso, ele usa os seguintes argumentos:

  1. Argumento ontológico: Parte de Santo Anselmo. Descartes diz que, entre os conteúdos da consciência, aparece a ideia inata de Deus, o ser mais perfeito. Como a existência real é uma perfeição, é necessário que o ser perfeito exista na realidade. A ideia de Deus como um ser supremamente perfeito implica necessariamente a existência real; caso contrário, não seria absolutamente perfeito, pois careceria da perfeição da existência real.
  2. Argumento da Infinidade: Entre nossas ideias inatas, aparece a "ideia do infinito". A ideia do infinito deve ter uma causa, desde que a produziu; essa ideia não pode ter sido formada pelo meu próprio eu, que é finito. Teve que ser provocada em mim por uma realidade infinita. Logo, existe o infinito, ou Deus.
  3. Argumento da Perfeição: A ideia de perfeição não pode vir das coisas do mundo. A ideia de perfeição não pode vir de mim, porque algo tão perfeito não pode proceder do imperfeito. A ideia de perfeição foi induzida em mim por uma natureza mais perfeita que a minha, e que possui toda a perfeição, ou seja, Deus.

Atributos da substância infinita: Para Descartes, o atributo essencial de Deus é a infinidade e a perfeição.

Papel de Deus no sistema cartesiano: Entre as ideias, Descartes encontrou a ideia inata de Deus, que é infinitamente bom e verdadeiro e não pode permitir que eu me engane e pense que o mundo existe; portanto, o mundo existe. A existência de Deus servirá como uma ponte entre o eu e o mundo exterior. Deus é o que lhe permite resolver o problema da realidade.

METAFÍSICA ESPECIAL: O Mundo (Cosmologia). A "res extensa" (matéria)

  • A "res extensa" é uma substância finita, que só precisa de Deus (substância infinita) para existir. É independente da res cogitans (dualismo cartesiano).
  • Segundo Descartes, a existência do meu pensamento em si não prova a existência do meu corpo, mas encontro em mim faculdades e atividades (movimento) que implicam a existência de uma substância corpórea ou extensa.
  • A existência de uma substância do mundo: Percebemos o mundo, corpos e coisas que têm extensão (largura, comprimento e profundidade), que é o atributo da substância corpórea. A verdade dessa ideia é a extensão, que é uma ideia clara e distinta de Deus.

Descartes prova a existência do mundo a partir da existência de Deus, porque Deus existe e Deus é perfeito (caso contrário, não seria Deus), não pode me enganar.

Atributo do corpo ou res extensa: Para Descartes, o atributo fundamental dos corpos é a extensão, ou seja, o que pode ser quantificado matematicamente. O movimento também tem um lugar importante, porque pode ser quantificado.

A "res cogitans", ou substância pensante. Antropologia: Dualismo Cartesiano

Tenho certeza do meu pensamento, mas duvidei que meu corpo existisse. Aquilo de que duvidei (meu corpo) não pode ser o mesmo daquilo de que não duvidei (meu pensamento). Portanto, o pensamento e o corpo são concebidos como coisas diferentes. O homem é composto de matéria ou corpo (extensão) e alma ou espírito (pensamento), que são naturezas simples independentes, unidas acidentalmente. Meu pensamento não precisa do corpo para existir; o corpo não precisa do pensamento.

Mas como se relacionam o corpo e a alma? Descartes fala da glândula pineal, que está no cérebro e é onde reside a alma. Através desta glândula, é alcançada a unidade de interação e comunicação entre o corpo e a alma. Esta solução é bastante frágil.

Objetivo do dualismo cartesiano: Pode ser para salvar a liberdade humana.

Entradas relacionadas: