Filosofia de Platão: Ideias, Alma, Conhecimento e Política
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Teoria das Ideias de Platão
Platão estabelece a dualidade de mundos: um Mundo Físico, particular, de objetos que se caracteriza por contínuas alterações; e o Mundo das Ideias: há ideias em si, esta é a verdade real. Essas ideias 'são inteligíveis e são a essência da praça de toiros'; é separado da parte física, mas lá elas mesmas [existem]. A maneira de descobri-las é através do pensamento e, portanto, sujeitas ao estudo da ciência. Cada ideia é única, eterna e imutável, ao contrário de entidades físicas, para as quais as ideias servem de modelo. Isso estabelece uma relação entre ideias e a presença de coisas físicas.
Crítica e Fundamentos da Teoria das Ideias
Confrontado com problemas como: Que tipo de ideias existem? Qual é a relação entre ideias e coisas? Existe uma hierarquia de ideias? Platão fundamenta a existência das ideias nas seguintes razões:
- 1. O mundo das ideias é o alicerce do mundo sensível, já que deve permanecer fiel e imutável.
- 2. As propriedades das coisas sensíveis são limitadas, em contraste com o universal, que são as ideias.
- 3. A ciência só pode tratar do imutável e universal.
Cosmologia Platónica
Na Cosmologia, o Demiurgo [atua sobre] uma entidade chamada 'massa', que se torna eterna e material caótico dentro do espaço existente, [realizando a] modelagem. Para isso, ele usa o modelo das ideias, que são eternas. Platão acreditava que o universo é uma esfera, cujo centro é a Terra, então as esferas dos planetas e tudo o que é cercado pela esfera das estrelas fixas. Todo o movimento é baseado em harmonias musicais e proporções numéricas.
A Alma em Platão
Platão estabelece uma dualidade entre corpo e alma, que constitui o ser humano. A alma é imortal e unida ao corpo, enquanto procura purificar-se. Ela está dividida em:
- 1. Parte Racional (Logistikon): fonte da inteligência e está localizada no cérebro. Imortal.
- 2. Parte Irascível (Thymoeides): fonte das paixões nobres e localizada no tórax. Mortal.
- 3. Parte Apetitiva (Epithymetikon): fonte das paixões ignóbeis e localizada no abdómen. Mortal.
O único [elemento] que está separado do corpo após a morte é o 'som criado pelo demiurgo', e após várias encarnações, retorna ao mundo das ideias. O corpo é um obstáculo para a alma.
Teoria do Conhecimento de Platão
A Teoria do Conhecimento usa a teoria da Reminiscência, que afirma que conhecer é recordar o que a alma já sabia, mas esqueceu. A alma, antes de se unir ao corpo, contempla as ideias, obtendo conhecimento. Ao unir-se ao corpo, sob sua influência, esquece o que aprendeu no mundo das ideias. Durante a vida, a alma recorda o que contemplou no mundo das ideias, sendo a experiência sensível um estímulo para essa recordação. Diante disso, conhecer é recordar.
Mas, em obras posteriores, esta teoria é complementada pelo Símile da Linha, que divide o conhecimento em níveis:
- 1. A Opinião (Doxa): formada pela imaginação (Eikasia - a categoria de base), responsável pelas imagens de seres sensíveis, e pela crença (Pistis), que lida com os próprios objetos sensíveis.
- 2. A Ciência (Episteme - alto nível): subdividida em razão discursiva (Dianoia), que usa o discurso matemático e imagens visíveis como auxílio para tirar conclusões dedutivamente; e inteligência pura (Noesis - o nível mais alto), que conduz ao conhecimento da verdade e das Ideias.
Ética Platónica
A Ética platónica visa promover a Justiça, que é a principal virtude, tanto individual quanto política. Os sofistas, por exemplo, ensinavam sobre a justiça (muitas vezes de forma retórica). Platão define a virtude principal como a Sabedoria (Phronesis), que é o âmbito do filósofo.
Mas a justiça na alma é também definida como a harmonia entre as suas partes, que só pode ser alcançada se a parte racional (Logistikon) governa as partes irascível (Thymoeides) e apetitiva (Epithymetikon). Assim, uma pessoa é justa.
Outras virtudes morais associadas às partes da alma são:
- 1. Prudência (Phronesis): a virtude da parte racional, que permite a escolha correta em cada caso.
- 2. Coragem (Andreia): a virtude da parte irascível, que permite executar ações difíceis.
- 3. Temperança (Sophrosyne): a virtude da parte apetitiva, que permite controlar os prazeres dos sentidos.
Política Platónica
No Estado ideal, há três funções essenciais: defesa, produção económica e governo. A sociedade é dividida em três classes, correspondentes às funções e às partes da alma:
- 1. Produtores: responsáveis por satisfazer as necessidades materiais da sociedade.
- 2. Guardiões (ou Auxiliares): responsáveis pela defesa do Estado.
- 3. Governantes (ou Filósofos-Reis): responsáveis pela organização e governo do Estado.
Os Governantes (Filósofos-Reis) têm a parte racional mais desenvolvida e a virtude da prudência (sabedoria). Os Guardiões têm a parte irascível mais desenvolvida e a virtude da coragem. Os Produtores têm a parte apetitiva mais desenvolvida e a virtude da temperança. Se cada classe desempenha a sua função corretamente, a sociedade é justa.
Contexto Histórico e Filosófico
O pensamento de Platão desenvolve-se ao longo do século V a. C., durante o período helenístico. Na Grécia, destacava-se a pólis, a cidade-estado independente. A forma tradicional de governo era a monarquia, que por vezes degenerava em oligarquia. Mas os problemas sociais e os excessos dos oligarcas podiam levar à tirania. Atenas, em particular, adotou a democracia direta como forma de governo. Péricles foi uma figura central no desenvolvimento desta forma de governo, promovendo a isonomia (igualdade perante a lei) e a isegoria (igualdade de direito à palavra na assembleia). Atenas estava em crise como resultado da Guerra do Peloponeso, tendo sido derrotada. A base económica era a agricultura e o comércio marítimo. Havia uma efervescência na escultura, literatura e arquitetura. Surgiram escolas de retórica, matemática e filosofia. Platão foi influenciado por Sócrates e pela herança do conflito com os sofistas. Ele também foi influenciado pelos pré-socráticos, como Parménides.