Fisiologia do Exercício: Fundamentos e Adaptações
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Fisiologia do Exercício
Fundamentos da Fisiologia do Exercício
Bioenergética: Formas de Energia
- Química
- Elétrica
- Térmica (energia = Kcal)
- Mecânica
- Transferência de energia (esôfago, estômago e intestino)
- Nuclear (absorção pela pele para sintetizar vitamina D e cálcio)
Sistema Musculoesquelético
O sistema musculoesquelético necessita de energia para realizar atividade física. Atletas necessitam de uma dieta balanceada para otimizar a captação de energia.
Metabolismo
- Metabolismo: Conjunto de reações químicas que ocorrem em todo o organismo, dividindo-se em:
- Anabolismo: Reações de síntese.
- Catabolismo: Reações de degradação.
Bioenergia
- Bioenergia: Processo metabólico de transformação de energia, convertendo nutrientes alimentares em energia biologicamente utilizável.
Homeostase
- Homeostase: Manutenção do equilíbrio interno, incluindo a produção de ATP (trifosfato de adenosina), um composto altamente energético (7,3 Kcal/mol).
Substratos Energéticos
- Substrato Energético: Matéria ou substância que gera energia.
Carboidratos (4 kcal/g)
- Composição: Carbono, hidrogênio e oxigênio.
- Tipos: Monossacarídeos, dissacarídeos, polissacarídeos (ex: sacarose).
- Função: Principal fonte de energia, preservação das proteínas, ativador metabólico, combustível para o SNC (Sistema Nervoso Central).
Gorduras (Lipídios) (9 kcal/g)
- Composição: Carbono, hidrogênio e oxigênio.
- Tipos: Lipídios simples, compostos e derivados.
- Função: Fonte e reserva de energia, proteção de órgãos vitais.
Proteínas (4,2 kcal/g)
- Composição: Carbono, hidrogênio e oxigênio (aminoácidos essenciais e não essenciais).
- Função: Contribui para a estrutura tecidual (plasma, tecido, visceral, músculo); formação de pelos, cabelos, pele, unhas (queratina), ossos, tendões e ligamentos.
Ressíntese de ATP: Sistemas Energéticos
A ressíntese de ATP (trifosfato de adenosina) é crucial para o fornecimento de energia.
1) Sistema ATP-CP (Anaeróbio Alático)
- Promove a ressíntese de ATP através da utilização da energia da ligação fosfato-energética da creatina fosfato (CP).
- Reação: ATP → ADP + Pi (fosfato inorgânico) + Energia.
- A enzima ATPase catalisa essa ligação, liberando energia que pode ser utilizada para a realização de trabalho (ex: contração muscular).
- ADP: Difosfato de adenosina.
- Metabolismo Anaeróbio Alático: Energia fornecida pela hidrólise da creatina fosfato (CP).
- Características: Exercícios de alta intensidade e curta duração (2 a 6 segundos). Em exercícios crescentes, os estoques de CP diminuem, levando à transição para outros tipos de metabolismo.
2) Sistema Glicolítico (Anaeróbio Lático)
- Ressíntese de ATP a partir da transformação anaeróbia da glicose/glicogênio em ácido lático.
- Via: Glicogênio → Glicose → Ácido Pirúvico → Ácido Lático.
- Rendimento: 2 a 3 moles de ATP por mol de glicose/glicogênio.
- Capacidade e Duração: A capacidade de duração é diretamente relacionada à capacidade de ressíntese de ATP.
- Metabolismo Anaeróbio Lático ou Glicolítico: Energia fornecida pela glicose dos carboidratos.
- Características: Principalmente utilizado em exercícios de alta intensidade e curta duração (maior que 10 segundos).
- Observação: A glicólise envolve a degradação da glicose ou glicogênio para 2 moles de ácido pirúvico ou ácido lático. É uma via anaeróbia utilizada para transferir energia das ligações da glicose.
- Exemplos/Consequências: Atividade física após o almoço pode diminuir o desempenho, pois o metabolismo está direcionado para a região abdominal. Câimbras podem ocorrer devido à falta de oxigênio no músculo.
3) Sistema Oxidativo (Aeróbio)
- Ressíntese de ATP a partir da transformação de glicose/glicogênio, gorduras e aminoácidos com o uso de oxigênio (O2).
- Metabolismo Aeróbio ou Oxidativo: Energia fornecida por carboidratos, gorduras, proteínas e ácido lático.
- Processo: O ácido pirúvico, na presença de O2, entra na mitocôndria e é convertido em Acetil-CoA, que se desintegra e oxida no Ciclo de Krebs, formando ATP na cadeia respiratória.
- Características: Exercícios de baixa a moderada intensidade e longa duração (maior que 10 minutos).
- Rendimento: Liberação de 38 a 39 moles de ATP por mol de glicose, além de CO2 e H2O.
- Função do Ciclo de Krebs: Remover hidrogênios de vários substratos.
Respostas Fisiológicas ao Esforço
As respostas fisiológicas ao esforço dependem da capacidade física individual, incluindo:
- Consumo de O2 (VO2): Pode estar desequilibrado.
- Débito Cardíaco (DC): Capacidade do coração de ejetar sangue por minuto (aumenta 5 a 6 vezes durante o exercício).
- Diferença Arteriovenosa de O2 (D(a-v)O2): Maior concentração de O2 permite ao indivíduo mudar a velocidade.
- Sistemas Envolvidos: Respiratório, cardíaco e muscular.
Fórmula do VO2
VO2 (Consumo de O2) = DC (Débito Cardíaco) x D(a-v)O2 (Diferença Arteriovenosa de O2)
DC = VES (Volume Ejetado Sistólico) x FC (Frequência Cardíaca)
Extração Periférica de Oxigênio
A extração periférica de oxigênio (Diferença a-v O2) aumenta devido à queda da pressão venosa de O2 (PVO2) em resposta à necessidade de equilibrar ou extrair oxigênio de forma homogênea. Para determinar o VO2, é necessária uma integração precisa com as necessidades periféricas.
Como Aumentar o Débito Cardíaco (DC)?
O aumento do DC está diretamente relacionado à Frequência Cardíaca (FC) e ao Volume Sistólico (VS).
- DC em Repouso: 5-6 L/min
- DC em Exercício: 25-30 L/min
Em exercícios progressivos crescentes (ex: corrida na esteira), o DC aumenta às custas da FC e do VES (até 40-60% do VO2 máximo, ambos aumentam). Em exercícios com VO2 máximo > 60%, a melhora do DC dependerá apenas da FC, pois o VS se estabiliza (mecanismo de proteção para o coração).
Ajustes Cardíacos pelo Centro Cardiovascular (SNC)
O coração é ajustado pelo centro cardiovascular no Sistema Nervoso Central (SNC) através de:
- Mecanorreceptores: Aórticos e carotídeos.
- Mecanorreceptores Cardíacos.
- Metabolorreceptores Musculares: Adaptam o metabolismo muscular ao exercício para evitar a fadiga.
Respostas Eferentes do Centro Cardiovascular
- Retirada do Tônus Vagal: Aumenta a prontidão para a resposta.
- Aumento da Descarga Simpática: Torna o sistema mais responsivo.
- Ação das Catecolaminas: Aumenta a FC e a contratilidade miocárdica (melhora o VS e o DC).
- Vasoconstrição: Aumenta devido ao estímulo simpático.
- Vasodilatação Adrenérgica: Relacionada ao aumento da Pressão Arterial (PA).
Como o Volume Ejetado Sistólico (VES) Aumenta?
- Em Repouso:
- Diástole: Aumento do retorno venoso.
- Sístole: Aumento da contratilidade, diminuição do tempo sistólico, aumento do tempo para o enchimento diastólico.
- Em Exercício:
- Aumento do volume de sangue que chega e do volume de sangue que sai.
- O VES aumenta rapidamente no início do exercício e depois se estabiliza.
- O VES é determinado por fatores como pré-carga, pós-carga e contratilidade miocárdica.
Retorno Venoso
O retorno venoso tem relação direta com o VES e é influenciado por:
- Bomba Muscular: Periférica e abdominal-torácica.
- Estimulação Simpática.
Alterações no DC afetam diretamente a FC, o VS e o Retorno Venoso (RV).
Fluxo Sanguíneo Periférico
- Em Repouso: 1 L/min (20% do DC).
- Em Exercício: 21 L/min (80-85% do DC).
- Aumento se deve a: Aumento do DC, redistribuição do fluxo sanguíneo, bomba muscular esquelética (capacidade do sangue de retornar ao coração).
Pressões Sanguíneas
- Pressão Arterial Sistólica (PAS): Pode atingir 200 mmHg.
- Pressão Arterial Diastólica (PAD): Pode atingir 110 mmHg.
- Pressão Capilar Periférica:
- Repouso: 15-20 mmHg.
- Exercício: 25-35 mmHg.
- Pressão da Artéria Pulmonar: < 15 mmHg (com recrutamento e distensão vascular pulmonar).
Fluxo Sanguíneo Coronário
- Em Repouso: 10-20% do DC (para o miocárdio).
- Em Exercício: Atinge 25% do DC.
O aumento é pequeno durante o exercício, pois o metabolismo coronário é altamente oxidativo (aeróbio) mesmo em repouso, e a demanda de oxigênio é satisfeita eficientemente.
Resumo das Respostas Cardiovasculares
- Débito Cardíaco (DC): Aumenta linearmente com o VO2 (consumo de oxigênio), sendo proporcional à necessidade muscular. O VO2 máximo está intimamente relacionado ao DC máximo.
- Fórmula: VO2 = DC (FC x VES) x C(a-v)O2.
- Volume Ejetado Sistólico (VES): Aumenta rapidamente no início do exercício e depois se estabiliza. Uma melhora importante é observada com o treinamento (atletas têm FC baixa devido a um músculo cardíaco mais forte e maior força de ejeção).
- Frequência Cardíaca (FC): Aumenta pela retirada do tônus vagal e, posteriormente, pela estimulação simpática. O aumento da FC é proporcional ao VO2.
- Captação de O2: O VES aumenta durante o exercício, principalmente no início da atividade, aumentando a captação de O2.
- Pressão Arterial: Aumento do DC com moderado aumento da PAS (Pressão Arterial Sistólica) e um aumento bem direcionado da PAD (Pressão Arterial Diastólica) – em casos especiais, a PAD pode diminuir em cardiopatas ou obesos.
Respostas Cardiovasculares Agudas ao Exercício
- Aumento da Frequência Cardíaca (FC): Relacionado ao DC e ao metabolismo da atividade.
- Aumento do Volume Ejetado (VE): VE = VDF (Volume Diastólico Final) - VSF (Volume Sistólico Final).
- Aumento do Débito Cardíaco (DC): DC = FC x VES.
- Fluxo Sanguíneo: Redistribuído.
- Pressão Arterial (PA): PAS aumenta, PAD inalterada ou com pequeno aumento.
- Recuperação: FC e consumo de oxigênio diminuem.
Sistema Respiratório
- Aumento da Frequência Respiratória (FR).
- Aumento do Volume Corrente (VC).
- Aumento da Difusão de Gases: Alvéolo-capilares.
- Relação Ventilação/Perfusão (V/Q): Uniformização em exercícios submáximos e diminuição em exercícios máximos.
Respostas Ventilatórias
O sistema respiratório geralmente não limita o exercício em condições normais. Durante o exercício, ocorre menor trabalho resistivo.
- Tipos de Respiração: Nasal e oral.
- Broncodilatação: Estimulação simpática.
- O diafragma apresenta um pequeno aumento na diferença arteriovenosa de O2 (C(a-v)O2).
Avaliação da Força Muscular
- Força Muscular: É a força máxima que pode ser gerada por um músculo ou por um grupo muscular.
Critérios de Seleção para o Teste de Força
- Especificidade.
- Facilidade de obtenção e análise dos dados.
- Custo e segurança.
Tipos de Contração Muscular
- Estática (Isométrica): Ocorre quando as duas extremidades musculares estão fixas e nenhum movimento articular acontece.
- Dinâmica (Isoinercial/Isotônica):
- Concêntrica: Ocorre quando o músculo ativado se encurta durante a contração.
- Excêntrica: Ocorre quando o músculo ativado se alonga durante a contração.
- Isocinética: Ocorre quando a velocidade angular de movimento é constante.
Avaliação Isométrica de Força (Teste Estático)
- Tipo: Tensiometria (uso de dispositivo tensiômetro).
- Vantagens: Portátil, medida confiável e reprodutível, baixo custo.
- Desvantagens: Mais tempo para realizar em vários ângulos.
Avaliação Isoinercial/Isotônica da Força Muscular
- Método mais comum: Avaliação de 1 RM (Repetição Máxima) ou 3-10 RM.
- 1 RM: É a quantidade máxima de peso que pode ser levantada em uma repetição (técnica crescente e decrescente).
- Vantagens: Maior validade externa, equipamento disponível, baixo custo, confiável.
- Desvantagens: Número de repetições até a RM pode causar fadiga, fornece apenas informação concêntrica, tentativas e erro são influenciados pelo tempo de descanso.
Princípios do Treinamento
Princípio da Individualidade
Cada indivíduo responde de forma diferente ao treinamento; portanto, os exercícios devem ser ajustados às necessidades e capacidades individuais dos participantes.
Princípio da Especificidade
O treinamento deve focar nos sistemas fisiológicos que são fundamentais para o desempenho ideal em um determinado esporte, com o objetivo de obter adaptações específicas do treinamento.
Princípio da Sobrecarga
A aplicação regular de uma sobrecarga, na forma de um exercício específico, aprimora a função fisiológica a fim de induzir uma resposta ao treinamento.
Princípio da Reversibilidade
A perda das adaptações fisiológicas e de desempenho ocorre rapidamente quando uma pessoa encerra sua participação no exercício regular.
Treinamento Resistido ou de Força
Força Muscular
É a maior força que o sistema neuromuscular pode mobilizar através de uma contração máxima voluntária, ocorrendo (dinâmica) ou não (estática) movimento articular.
Endurance Muscular (Resistência Muscular)
É a capacidade do sistema neuromuscular de executar contrações repetidas durante um período de tempo prolongado.
Força Explosiva
É o potencial ou força produzida na unidade de tempo.
Tipos de Treinamento
Treinamento de Força
- Intensidade: 50 a 80% de 1 RM.
Treinamento de Resistência
- Intensidade: Baixa ou moderada.
- Duração: Longa (> 30 min).
- Zona de Treinamento: 60 a 80% da inclinação no teste incremental.
- Fórmula da Frequência Cardíaca de Treinamento (FC treino): 0,5 a 0,8 * (FC máxima - FC de repouso) + FC de repouso.
Efeitos Fisiológicos do Exercício
Efeitos Agudos Imediatos (Respostas)
- Associação direta com o exercício.
- Aumento da FC (Frequência Cardíaca), PA (Pressão Arterial), DC (Débito Cardíaco), Ventilação Minuto.
- Sudorese.
Efeitos Agudos Tardios
- Observados nas primeiras 24 horas.
- Redução dos níveis tensionais.
- Aumento do número de receptores de insulina.
Efeitos Crônicos (Adaptações)
Representam os aspectos morfofuncionais que diferenciam um indivíduo fisicamente treinado de um sedentário.
Adaptações Fisiológicas ao Treinamento
1) Sistema Nervoso
- Maturação de vias nervosas.
- Memorização do ato motor.
- Melhor coordenação motora.
- Adaptação ao estresse físico.
2) Sistema Muscular
- Hipertrofia muscular.
- Hiperplasia muscular.
- Aumento da força muscular.
- Redução da fadiga muscular.
3) Sistema Cardiovascular
- Aumento da espessura da parede cardíaca.
- Aumento do peso cardíaco.
- Aumento da força de contração cardíaca.
- Redução da frequência cardíaca de repouso e aumento do volume sistólico de repouso.
4) Sistema Pulmonar
- Manutenção constante do número de alvéolos.
- Aumento da extração de oxigênio alvéolo-capilar.
- Redução da fadiga dos músculos respiratórios.
- Melhor equilíbrio ácido-base.
5) Sistema Sanguíneo
- Aumento do hematócrito.
- Aumento da concentração de hemoglobina.
- Aumento na concentração dos tampões plasmáticos.
- Aumento da resistência às variações do pH.
6) Sistema Endócrino e Metabólico
- Aumento da tolerância à glicose.
- Aumento na liberação do hormônio GH (Hormônio do Crescimento).
- Redução dos níveis de cortisol.
- Redução dos níveis de colesterol e triglicerídeos.
Adaptações Orgânicas Gerais
- Aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2max).
- Redução do VO2 em cargas submáximas (maior eficiência).
- Aumento da potência aeróbica.
- Aumento do prazer pelo exercício.
- Redução da incidência de doenças degenerativas.
- Aumento da performance esportiva.
- Aumento da reserva funcional.
- Melhora da saúde geral.