Fisiologia do Exercício: Uma Visão Geral

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A fisiologia do exercício é o estudo da adaptação aguda e crônica da ampla gama de condições aperfeiçoadas pelo exercício físico. É uma área do conhecimento científico que estuda como o organismo se adapta fisiologicamente ao estresse agudo do exercício físico e ao estresse crônico do treinamento físico.

Introdução

O termo "fisiologia" vem do grego "physis" = natureza, função ou funcionamento e "logos" = palavra ou estudo. Assim, a Fisiologia caracteriza-se como o ramo da Biologia que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e bioquímicas dos seres vivos. Ela se utiliza dos conceitos da física e da química para explicar como ocorrem as funções vitais dos diferentes organismos e suas adaptações frente aos estímulos do meio ambiente.

Nesse contexto, a Fisiologia do Exercício (também chamada de Fisiologia do Esforço ou da Atividade Física) é uma área do conhecimento derivada da disciplina-mãe Fisiologia, que estuda como as funções orgânicas respondem e se adaptam ao estresse imposto pelo exercício físico (JOYER & SALTIN, 2008; WILMORE & COSTILL, 2010). Em outras palavras, a Fisiologia do Exercício estuda os efeitos agudos e crônicos do exercício físico sobre a estrutura e a função dos diversos sistemas orgânicos. Em complemento, a Fisiologia do Exercício investiga também a interação entre os diferentes efeitos do exercício físico e a influência dos estressores ambientais (PATE & DURSTINE, 2004).

Entende-se por efeitos agudos, chamados de "respostas", as alterações decorrentes da execução de uma sessão de exercício. Essas respostas são subdivididas em respostas observadas durante o exercício (também chamadas de per exercício) e respostas observadas após o exercício (também chamadas de subagudas ou pós-exercício). As últimas podem ainda ser divididas em respostas imediatas, que ocorrem nas primeiras uma ou duas horas após o exercício, e tardias, que são observadas ao longo de 24 horas pós-exercício. Quanto aos efeitos crônicos, denominadas “adaptações”, eles correspondem às alterações estruturais e funcionais decorrentes de um período prolongado de treinamento físico regular (NÓBREGA, 2005).

Para melhor esclarecimento, podemos tomar como exemplo o interesse da área da Fisiologia do Exercício em investigar os efeitos da atividade física sobre a frequência cardíaca. Alguns pesquisadores poderiam estar interessados em saber se a frequência cardíaca se altera durante a execução de um exercício - efeitos agudos per exercício.

Porém, outros poderiam estar interessados se, após a finalização do exercício, a frequência cardíaca retorna aos valores pré-exercício, caracterizando o estudo dos efeitos agudos pós-exercício. Outros ainda poderiam ter como objetivo saber se, após um período de treinamento de algumas semanas, a frequência cardíaca sofre alguma modificação - efeito crônico. Em todas essas situações, a influência de outros fatores poderia também ser investigada, por exemplo, se esta resposta é a mesma em diferentes populações, qual o efeito de diferentes tipos de exercício ou treinamento físico, ou ainda qual a influência da temperatura ambiental. Os mecanismos envolvidos nessas respostas também interessam aos pesquisadores e, portanto, também podem ser investigados.

É interessante observar, entretanto, que pesquisas utilizando o exercício físico e avaliando as respostas fisiológicas são realizadas também por pesquisadores da fisiologia básica, sendo importante discriminar as diferenças dessas pesquisas para as pesquisas específicas, de caráter mais aplicado, em Fisiologia do Exercício. Para a fisiologia básica, o exercício é empregado como um estressor ao organismo, assim como poderia ser utilizado um estresse térmico, psicológico ou qualquer outro. O importante é colocar o organismo numa situação de instabilidade e verificar suas respostas. Fica claro que o exercício físico é utilizado como um meio de investigação científica. Por outro lado, para os pesquisadores da Fisiologia do Exercício, os conhecimentos da fisiologia básica são utilizados para explicar as respostas humanas ao exercício. O exercício passa a ser o ponto principal da análise, ele é o objeto de estudo propriamente dito, é a finalidade da pesquisa.

Alguns autores (PATE & DURSTINE, 2004; WILLMORE & COSTILL, 2010) subdividem a Fisiologia do Exercício e conceituam a Fisiologia do Esporte como uma área do conhecimento que aplica os conceitos da Fisiologia do Exercício na elaboração e organização de meios, métodos e programas de treinamento voltados, especificamente, para o aumento do desempenho físico-esportivo de atletas. Da mesma forma, outra subdivisão existente é a Fisiologia do Exercício Clínica, que aplica os conceitos da Fisiologia do Exercício na elaboração de programas voltados para manutenção da saúde, através da prevenção, tratamento e controle das doenças pelo exercício físico (EHRAN, GORDON, VISICH & KETEYIAN, 2009; PATE & DURSTINE, 2004).

Neste manuscrito, a terminologia Fisiologia do Exercício será utilizada para representar a aplicação dos conhecimentos fisiológicos às situações da Educação Física e do Esporte.

Histórico

As origens da Fisiologia do Exercício se confundem com os primórdios da Medicina e da prescrição da atividade física com fins terapêuticos no tratamento de doenças e manutenção das boas condições de saúde. Porém, somente no final do século XIX é que a Fisiologia do Exercício começou a surgir como uma área de interesse acadêmico-científico. O primeiro livro específico da área foi publicado em 1889 pelo pesquisador francês Fernand LaGrange intitulado "Physiology of Bodily Exercise" (WILMORE & COSTILL, 2010). É interessante destacar que a contribuição européia para a evolução da Fisiologia do Exercício prosseguiu nos anos seguintes. O dinamarquês August Krogh (1920), o britânico Archibald V. Hill (1922) e o alemão Otto Meyerhof (1922) receberam o Prêmio Nobel por suas pesquisas na fisiologia da musculatura esquelética e do metabolismo energético.

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