Fisiologia Gastrointestinal: SNE, Contração e Secreção Salivar

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1. Inter-relação entre o Sistema Nervoso Entérico e o SNA

O Sistema Gastrointestinal (SGI) apresenta um sistema nervoso intrínseco tão complexo quanto a medula espinhal. A seguir, disserte sobre a inter-relação entre o Sistema Nervoso Entérico (SNE) e o Sistema Nervoso Autônomo (SNA).

O Trato Gastrointestinal (TGI) possui o Sistema Nervoso Entérico (SNE). O SNE é formado pelos plexos ganglionares maiores – o submucoso (ou de Meissner) e o mioentérico (ou de Auerbach) –, que se intercomunicam, e por plexos aganglionares secundários e terciários, que se comunicam com os plexos ganglionares por feixes de fibras nervosas. Os plexos nervosos são estruturas em contato com interneurônios e neurônios motores.

Situam-se totalmente na parede do tubo digestório, exceto nos esfíncteres do ânus e do esôfago. O plexo mioentérico localiza-se entre as duas camadas musculares externas, enquanto o plexo submucoso fica após a mucosa.

O SNE é responsável por controlar todas as funções do sistema gastrointestinal: motoras, secretoras e endócrinas. Isso significa que ele possui autonomia, entretanto, ainda assim, comunica-se com o Sistema Nervoso Central (SNC), estando sob influência dos ramos simpático e parassimpático do Sistema Nervoso Autônomo (SNA).

  • Fibras Parassimpáticas: Geralmente partem do núcleo vagal e da medula espinhal, fazendo sinapses com fibras pós-sinápticas entéricas. Normalmente, as fibras parassimpáticas são estimulatórias através da acetilcolina.
  • Fibras Simpáticas: Partem de estruturas como gânglios simpáticos, com fibras pós-ganglionares que fazem sinapses com os plexos e, então, com o sistema digestório. As fibras simpáticas geralmente são inibitórias pela ação da noradrenalina. Além disso, as fibras simpáticas têm efeito direto sobre os vasos sanguíneos, controlando o fluxo sanguíneo para o trato gastrointestinal no momento da digestão.

2. Frequência e Acoplamento Excitação-Contração da Musculatura Lisa Gastrointestinal

O que determina a frequência de contração da musculatura lisa gastrointestinal? Como ocorre o acoplamento excitação-contração dessa musculatura?

O acoplamento excitação-contração depende do influxo de cálcio (Ca²⁺) do meio extracelular. O nível de Ca²⁺ intracelular determina o fenômeno contrátil e o acoplamento entre a excitação neural e a contração mecânica. O processo envolve:

  1. Despolarização do sarcolema;
  2. Ativação de canais de cálcio sensíveis à voltagem;
  3. Entrada de cálcio na célula;
  4. Consequente contração.

A contração das fibras musculares lisas é rítmica e determinada pelas regiões marca-passo, que são grupos de células intersticiais de Cajal (CICs). Estas células comunicam-se entre si e com as fibras musculares lisas vizinhas da parede do TGI por gap junctions, o que propicia a propagação da excitação por toda a musculatura.

O potencial de membrana das fibras lisas viscerais sofre oscilações ou despolarizações subliminares, as denominadas ondas lentas. Estas são perturbações no potencial de repouso das células, tornando a musculatura lisa pulsátil. As ondas lentas têm frequência típica para cada região do TGI, determinada nas regiões de marca-passo, caracterizando o Ritmo Elétrico Basal (REB). Quando as ondas lentas são transformadas em potencial de ação, elas atingem o limiar contrátil e elétrico por atividade hormonal.

Tanto o SNA quanto o SNE regulam a amplitude das ondas lentas e podem, também, alterar a frequência das ondas lentas e dos potenciais de ação que ocorrem nos picos das ondas lentas. Portanto, a força contrátil e a frequência do Ritmo Elétrico Basal (REB) são reguladas pelo SNA e SNE.

  • Em geral, a estimulação noradrenérgica diminui a amplitude das contrações, podendo mesmo aboli-las.
  • A estimulação colinérgica aumenta tanto a amplitude das ondas lentas quanto a frequência dos potenciais de ação e, portanto, a força contrátil.

3. Secreção Salivar: Funções e Formação

Para que serve a secreção salivar? Descreva o processo de formação da saliva, ressaltando a transformação da saliva primária e secundária.

Funções da Secreção Salivar:

  • Lubrificação: O muco torna o processo de mastigação e deglutição mais facilitado.
  • Favorece a gustação e fonação: Aumenta a área de contato com as papilas gustativas e lubrifica as cordas vocais.
  • Controle da temperatura do alimento: Pode haver trocas de calor com a saliva.
  • Limpeza: A saliva contém substâncias bactericidas, ação antiviral e promove movimentos mecânicos.
  • Ação tamponante: O pH final da saliva tende ao alcalino, devido ao aumento da secreção de bicarbonato.
  • Ação antimicrobiana: Presença de substâncias bactericidas (como lisozima) e bacteriostáticas (como lactoferrina).
  • Incorporação de flúor e fosfato aos dentes: Íons são captados do sangue e concentrados pelas glândulas salivares, que os secretam na saliva.
  • Digestão: Presença de enzimas digestivas que realizam hidrólise, sendo a principal a alfa-amilase salivar, que hidrolisa o amido.

A saliva, quando produzida, é sempre hipotônica em relação ao plasma, ou seja, a concentração de íons na saliva é menor que no plasma.

Processo de Formação da Saliva:

Saliva Primária

Produzida pelos ácinos, contendo proteínas, sais minerais e água.

Saliva Secundária

Nos ductos estriados, a saliva reabsorve sódio e cloreto devido à ação de células ricas em transportadores iônicos que secretam bicarbonato e potássio. A saliva secundária, portanto, apresenta maior teor de potássio e bicarbonato, tendendo ao alcalino.

Estímulo Salivatório:

O estímulo salivatório é neural, dependendo exclusivamente da inervação.

  • Inervação Parassimpática: Nervos saem dos núcleos salivatórios superior e inferior para as fibras parassimpáticas, espalhando-se pelas diferentes glândulas (ação direta).
  • Inervação Simpática: Os nervos saem de ramos de nervos espinhais e inervam primeiro os vasos sanguíneos e, só depois, as glândulas (ação indireta).

A inervação também influencia a qualidade da saliva:

  • Vasoconstrição: Saliva mais densa.
  • Vasodilatação: Saliva mais volumosa.

Outros fatores que atuam sobre a secreção salivar incluem:

  • Reflexos condicionados: A salivação ao ver ou sentir o alimento (pelo olfato e visão) prepara o sistema gastrointestinal para recebê-lo.
  • Situações inibitórias: Sono, medo, desidratação.
  • Situações excitatórias: Reflexo de compensação.

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