Fisiologia da Lactação e Glândula Mamária
Classificado em Medicina e Ciências da Saúde
Escrito em em português com um tamanho de 14,18 KB
Hormonas e Desenvolvimento da Glândula Mamária
Prolactina – estimula o desenvolvimento do epitélio lóbulo-alveolar, apesar de as suas concentrações plasmáticas se manterem a níveis basais ao longo de quase toda a gestação.
Hormona de Crescimento – estimula o desenvolvimento dos condutos excretores.
ACTH – através dos corticoesteróides, estimula o crescimento mamário.
Lactogénese I: Início da Sintese de Leite
Fundamentais para a lactogénese são a Prolactina, a Insulina e os Glucocorticóides. A Hormona de Crescimento e o Lactogénio Placentário também desempenham papéis.
Papel da Prolactina
- Crescimento e diferenciação da glândula mamária.
- Inicia a síntese de leite.
- Manutenção da lactação.
Regulação da Prolactina
Inibidores (PIF - Prolactin Inhibiting Factors):
- Dopamina
- GABA (ácido α-aminobutírico)
- GAP
- Acetilcolina
- Histamina
Estimuladores (PRF - Prolactin Releasing Factors):
- TRH
- VIP
- Angiotensina II
- 5-hidroxitriptamina
- VAG
- Oxitocina
Outras Hormonas na Lactogénese I
Estradiol – estimula a síntese, secreção e armazenamento de PRL. Induz a supressão da libertação de dopamina pelo hipotálamo.
Progesterona – ação sinérgica ou antagónica com o Estradiol na libertação de PRL, de acordo com a proporção relativa das duas hormonas. O pico de PRL pré-nascimento coincide com a diminuição da Progesterona.
Lactogénio Placentário (LP) – secretado pela placenta no meio da gestação, diminui ligeiramente antes ou no momento do parto.
Insulina – importante no desenvolvimento, viabilidade e funcionamento das células secretoras da glândula mamária. É fundamental a sensibilização das células mamárias pela PRL para funcionar. Facilita a diferenciação glandular por ação dos esteróides ováricos e adrenais. Aumenta a permeabilidade celular, a captação de glucose e a incorporação e transformação do acetato em ácidos gordos nos ruminantes. Estimula a síntese proteica.
Glucocorticóides – a concentração diminui no início da gestação, mantendo-se baixa durante quase toda a gestação. Aumentam ligeiramente nos dias que precedem o parto, atingindo a sua concentração máxima no momento do parto. Durante a gestação, existe uma globulina no soro que se liga aos Glucocorticóides, inativando-os. A concentração desta globulina diminui no período imediatamente anterior ao parto, aumentando a disponibilidade de hormona livre. A captação e disponibilidade mamária de grandes quantidades de Glucocorticóides coincide com o início da lactação.
Hormona de Crescimento – aumenta as propriedades lactogénicas da PRL e do cortisol.
Progesterona – inibição da lactogénese. Inibe a capacidade da PRL, reduzindo os seus recetores na glândula mamária. Inibe a síntese de lactose, caseína e lactoalbumina. A diminuição da sua concentração antes do parto coincide com o pico de PRL e, consequentemente, com o início da lactação. A concentração alta durante quase toda a gestação resulta na inibição da lactogénese antes do parto, apesar de as células da glândula mamária se encontrarem funcionalmente diferenciadas.
Lactogénese II: Início da Secreção e Manutenção
Galactopoiese
A lactogénese II corresponde ao início da atividade secretora e à manutenção da lactação (galactopoiese).
Fatores que Desencadeiam a Secreção de Leite
- A diminuição dos níveis de esteróides no parto torna a glândula mamária mais sensível à ação das hormonas lactogénicas, principalmente Prolactina e Glucocorticóides.
- O desaparecimento da globulina que inativa os Glucocorticóides aumenta a sua atividade biológica.
- Os estímulos uterinos resultantes da passagem do feto pelo canal do parto e os originados pela sucção ou ordenha estimulam a secreção de Prolactina e cortisol.
Manutenção da Atividade Secretora
Para que a atividade secretora se mantenha depois do parto, é necessária a amamentação ou ordenha a intervalos intermitentes, que estimula a lactação de duas formas:
- Reduz os efeitos inibidores do aumento da pressão intra-mamária através da expulsão do leite.
- Estimula a secreção de hormonas lactogénicas (principalmente Prolactina e Glucocorticóides).
Hormonas Galactopoiéticas
A secreção de hormonas galactopoiéticas inclui: Prolactina, Hormona de Crescimento, ACTH (via Glucocorticóides), TRH, Insulina e PTH.
Papel Específico das Hormonas na Lactogénese II
Prolactina
É essencial no início da lactação, especialmente na cadela, gata, coelha e porca. Nos ruminantes, tem ação reduzida na sua manutenção. A sucção constitui o estímulo natural mais potente para a libertação de PRL, dependendo da intensidade e duração do estímulo, e do intervalo entre sucções (quanto maior esse intervalo, menor a secreção de PRL). A libertação de PRL induzida pela sucção diminui à medida que avança a lactação, devido à dessensibilização gradual do sistema neurotransmissor de controlo da secreção de PRL.
Hormona de Crescimento
Nos ruminantes, é a principal hormona responsável pela galactopoiese. Proporciona um aumento do rendimento do leite, sem que seja necessário um aumento proporcional da ingestão de alimento ou do esgotamento das reservas corporais. A GH capta a energia disponível existente nos diferentes tecidos corporais e conduz para a glândula mamária em lactação. Desencadeia uma série de mecanismos que desviam os nutrientes para a síntese de leite. Em bovinos, os locais de ação da GH são extra-mamários (fígado); nos pequenos ruminantes, a GH atua também aumentando o fluxo sanguíneo à glândula mamária, o que aumenta o aporte de substratos à glândula mamária e, consequentemente, a síntese de leite.
Glucocorticóides
Os estímulos da sucção de leite ou da ordenha estimulam a libertação de ACTH, que por sua vez aumenta a libertação de Glucocorticóides pelo córtex adrenal, aumentando a quantidade de Glucocorticóides que atuam sobre a glândula mamária. O número de recetores para os Glucocorticóides aumenta. A ligação hormona-recetor estimula a captação de glucose pela glândula mamária.
Hormonas da Tiroide (T4)
Os efeitos galactopoiéticos são mais acentuados nos ruminantes. No início, a secreção e os níveis séricos de T4 são baixos na fêmea lactante (menor que na fêmea não lactante). Em fêmeas de alta produção, a concentração de T4 e a produção de leite são inversamente proporcionais. Fêmeas podem ficar num estado hipotiroideo. Os níveis de T4 estabilizam posteriormente. Níveis baixos de T4 permitem uma redução do metabolismo periférico, favorecendo a utilização preferencial de substratos energéticos na produção de leite.
Insulina
Estimula a captação de glicose e a sua utilização. Na glândula mamária de bovinos, a captação de glucose, β-hidroxibutirato, acetato e triglicerídeos é independente da ação da Insulina. As suas ações durante a fase II promovem adaptações metabólicas do organismo: inibem a neoglucogénese hepática, estimulam a síntese de lípidos e proteínas, e inibem a proteólise e a lipólise no músculo e fígado. Nos ruminantes, estimulam a utilização de acetato do tecido adiposo.
Estrogénios
Provocam uma atrofia das miofibrilhas das células mioepiteliais que rodeiam os alvéolos, inibindo a expulsão de leite.
Progesterona
Inibe a fase I da lactogénese; não tem qualquer efeito sobre a fase II.
Expulsão do Leite: Reflexo de Sucção
A sucção é um dos principais fatores que estimula a manutenção da lactação. A expulsão ativa do leite deve-se a um mecanismo neuroendócrino. A expulsão é regulada por um arco reflexo no qual a via aferente conduz o estímulo de sucção desde o mamilo até ao hipotálamo, e a via eferente é constituída pelos neurónios hipotalâmicos que contêm Oxitocina e se projetam na neuro-hipófise, aumentando a concentração sérica de Oxitocina.
Regulação da Libertação de Oxitocina
A via eferente do reflexo neuroendócrino é constituída por neurónios hipotalâmicos que secretam Oxitocina. As suas fibras neurosecretoras projetam-se na neuro-hipófise, onde as hormonas ficam armazenadas. A Oxitocina libertada pela neuro-hipófise é transportada por via sanguínea à glândula mamária. A Oxitocina liga-se a recetores das células mioepiteliais e condutos menores da glândula mamária, causando a contração das células mioepiteliais e a expulsão do leite. A sua ação é muito breve.
Simultaneamente, ocorre relaxamento dos condutos maiores e da cisterna da glândula mamária e do mamilo, levando a um aumento das dimensões destas estruturas, o que permite a acumulação do leite expulso e um aumento da pressão intra-mamária devido à acumulação de leite proveniente dos alvéolos e dos condutos menores. Devido ao aumento da pressão intra-mamária, o animal lactente ou a ordenha apenas tem de vencer a resistência do esfíncter do mamilo.
Anestro Lactacional
A alteração provocada na atividade reprodutora pela lactação deve-se ao facto de o estímulo de sucção suprimir a libertação de gonadotrofinas, fundamentalmente de LH, o que impede o desenvolvimento folicular e a ovulação.
Mecanismo de Inibição
- Sucção
- Libertação de péptidos opióides
- Inibição da libertação de GnRH hipotalâmica
- Inibição da libertação de LH
Os valores de FSH retomam os valores normais imediatamente após o parto. Concentrações muito reduzidas de GnRH estimulam a libertação de FSH (o mesmo não acontece com a LH).
Duração em Diferentes Espécies
- Porca – anestro nas primeiras 4-6 semanas de lactação. Depois do desmame, o estro e a ovulação surgem 3-10 dias depois.
- Pequenos Ruminantes – período de anestro estacional; atividade reprodutora em dias mais curtos (Outono). Durante a lactação, o estro atrasa-se cerca de 3 semanas.
- Bovinos – 25 dias em fêmeas ordenhadas; 60 dias em animais que amamentam as suas crias.
Involução da Glândula Mamária
Corresponde ao fim da atividade secretora e involução da glândula mamária.
Tipos de Involução
- Involução Induzida – terminação súbita da amamentação durante a galactopoiese.
- Involução Gradual – ocorre durante a progressão normal da lactação.
Colostro
Definição e Importância
O Colostro é a secreção produzida pela glândula mamária no momento peri-parto. É o primeiro alimento do recém-nascido, com elevado Valor Nutritivo e Valor Imunitário.
É secretado e armazenado nos últimos 2 a 7 dias antes do parto e 2 a 3 dias depois do parto. Nos 3 primeiros dias da fase II, o colostro transforma-se gradualmente em leite.
Composição e Valor
É um fluído viscoso, de cor amarelada/acastanhada, sabor amargo, muito rico em albumina e globulinas. O teor em lactose é inferior ao do leite, mas é mais rico em minerais e vitaminas.
Possui um elevado teor em imunoglobulinas, até 50% do teor total de proteína. São fundamentais na imunização passiva do recém-nascido. É muito rico em IgG, concentrado em IgA e IgM.
Imunização Passiva
Os animais ungulados (pequenos e grandes ruminantes, porca e égua) possuem uma placenta sindesmocorial não permeável à passagem de anticorpos entre a circulação materna e fetal. Não estão imunizados no momento do nascimento, sendo dependentes da ingestão de colostro para que haja transmissão de anticorpos. Estes anticorpos vão conferir imunidade ao recém-nascido enquanto o seu sistema imunitário não produz os seus próprios anticorpos.
A placenta das cadelas e das gatas é semi-permeável à passagem de anticorpos. No entanto, também é importante a ingestão de colostro para a sua imunidade.
Absorção de Anticorpos
O epitélio intestinal é muito permeável à absorção de anticorpos na sua forma intacta nas primeiras 12 a 16 horas de vida; esta permeabilidade desaparece nas primeiras 24 a 48 horas. O intestino do recém-nascido tem escassa atividade proteolítica; por outro lado, o colostro contém inibidores da tripsina. Consequentemente, as imunoglobulinas passam intactas ao longo do intestino delgado e são absorvidas no íleo por pinocitose. É fundamental a ingestão de colostro nas primeiras 24 horas.