Fisiologia Neuromuscular: Fibras, Reflexos e Corrente Russa
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Tipos de Fibras Musculares
Fibras Tipo I (Tônicas ou Vermelhas)
São fibras de contração lenta, também chamadas de fibras vermelhas. Possuem alta resistência à fadiga, sendo predominantes em atividades de longa duração.
Fibras Tipo II (Fásicas)
São fibras de contração rápida, menos resistentes à fadiga em comparação com as do tipo I. Subdividem-se em tipo IIa (intermediárias, oxidativas-glicolíticas) e tipo IIb/IIx (rápidas glicolíticas).
Corrente Russa: Fortalecimento Muscular
A Corrente Russa é uma corrente alternada de média frequência (AMF), que classicamente opera em 2.500 Hz, modulada em bursts (sequências de pulsos) de 50 Hz, utilizada para o fortalecimento muscular e hipertrofia.
Mecanismo de Ação do Estímulo Elétrico
O estímulo elétrico da Corrente Russa ativa as terminações nervosas sensitivas (aferentes) que, posteriormente, ativam as terminações nervosas motoras (eferentes). Estas acionam a placa motora, local onde o nervo motor se conecta ao músculo, transmitindo o comando para a contração muscular de forma sincronizada e potente.
Efeitos Fisiológicos da Corrente Russa
- Estímulo para contração muscular isotônica e/ou isométrica
- Hipertrofia e fortalecimento muscular
- Aumento da irrigação sanguínea, aporte de oxigênio, nutrientes e metabolismo local
- Aumento do retorno venoso e linfático
- Prevenção e auxílio na eliminação de aderências musculotendinosas
- Recrutamento de um maior número de unidades motoras
Indicações da Corrente Russa
- Fortalecimento muscular em casos de atrofia por desuso ou fraqueza
- Manutenção e aumento da Amplitude de Movimento (ADM)
- Hipertrofia muscular em atletas ou para fins estéticos
- Melhora do tônus muscular e contorno corporal
- Pós-operatórios para recuperação funcional (com devida cautela)
- Programas de reabilitação neurológica para facilitação motora
Contraindicações da Corrente Russa
- Lesões musculares, tendinosas e ligamentares na fase aguda
- Processos inflamatórios ou infecciosos ativos na área de tratamento
- Fraturas não consolidadas
- Neoplasias (câncer) na área de aplicação ou histórico recente sem liberação médica
- Hipertensão arterial descompensada
- Pacientes cardíacos com insuficiência cardíaca descompensada, arritmias graves ou angina instável
- Portadores de dispositivos eletrônicos implantados, como marca-passo cardíaco ou desfibrilador
- Presença de implantes metálicos no trajeto da corrente (pode causar aquecimento ou desconforto)
- Tromboflebites ou trombose venosa profunda (TVP)
- Gravidez (especialmente sobre o abdômen, região lombar e pélvica)
- Alterações de sensibilidade na pele na área de aplicação
- Epilepsia não controlada (risco de desencadear crises)
- Sobre áreas de sangramento ativo ou recente
Controle Motor e o Papel da Medula Espinhal
Funções da Medula Espinhal no Sistema Motor
A medula espinhal desempenha papéis cruciais no sistema motor, incluindo:
- Condução de Impulsos Nervosos: Atua como condutora para as vias nervosas ascendentes (aferentes, que levam informações sensoriais ao cérebro) e descendentes (eferentes, que trazem comandos motores do cérebro e tronco encefálico para os músculos). É um local de retransmissão de impulsos para níveis superiores e inferiores do sistema nervoso central.
- Área Integradora e Circuitos Neuronais: Serve como uma área integradora fundamental. Seus circuitos neuronais são extremamente importantes para o funcionamento global do Sistema Nervoso (SN), integrando a informação sensorial recebida e produzindo respostas motoras através de mecanismos reflexos ou automáticos.
Níveis de Organização do Controle Motor Espinhal: Reflexos
Os reflexos são respostas motoras automáticas, rápidas e involuntárias a um estímulo específico, processadas primariamente na medula espinhal (reflexos espinhais) ou no tronco encefálico (reflexos do tronco encefálico).
O Arco Reflexo
O arco reflexo é a via neural que medeia uma ação reflexa. É uma resposta motora que ocorre após um estímulo sensorial, consistindo em receber o estímulo e produzir uma resposta de forma involuntária e, frequentemente, inconsciente. Os componentes básicos de um arco reflexo incluem:
- Receptor sensorial: Detecta o estímulo (ex: tátil, térmico, doloroso, proprioceptivo).
- Via aferente (neurônio sensorial): Transmite o sinal do receptor para o sistema nervoso central (medula espinhal ou tronco encefálico).
- Centro integrador: Localizado no SNC, onde a informação é processada. Pode ser um único neurônio motor (em reflexos monossinápticos) ou envolver um ou mais interneurônios (em reflexos polissinápticos).
- Via eferente (neurônio motor): Transmite o sinal do centro integrador para o órgão efetor.
- Órgão efetor: Músculo ou glândula que executa a resposta.
Componentes Neuronais dos Reflexos Medulares
Os principais tipos de neurônios envolvidos nos reflexos medulares são:
- Neurônios Sensitivos (aferentes): Conduzem o impulso nervoso do receptor sensorial para a medula espinhal. Seus corpos celulares geralmente estão localizados nos gânglios da raiz dorsal.
- Interneurônios: Localizados inteiramente dentro da substância cinzenta da medula espinhal, processam a informação e conectam neurônios sensitivos a neurônios motores. Podem ser excitatórios ou inibitórios e estão presentes na maioria dos reflexos (exceto nos monossinápticos).
- Neurônios Motores (eferentes): Conduzem o impulso nervoso da medula espinhal para o órgão efetor (músculo ou glândula). Seus corpos celulares estão localizados no corno anterior da substância cinzenta da medula.
Função Motora Somática
Unidade Motora
A unidade motora é a unidade funcional básica do sistema neuromuscular, responsável pela contração muscular. Ela compreende:
- Um único neurônio motor alfa (motoneurônio alfa).
- Todas as fibras musculares esqueléticas que este neurônio motor inerva.
Características importantes da unidade motora:
- O corpo celular do neurônio motor localiza-se no corno anterior da substância cinzenta da medula espinhal ou nos núcleos motores dos nervos cranianos no tronco encefálico.
- Seu axônio projeta-se para fora do sistema nervoso central, atinge o músculo-alvo e divide-se em múltiplos ramos colaterais. Cada ramo inerva uma única fibra muscular através da junção neuromuscular (placa motora).
- Quando um neurônio motor é ativado e dispara um potencial de ação, todas as fibras musculares por ele inervadas são estimuladas a se contrair simultaneamente e de forma máxima (princípio do "tudo ou nada" para a unidade motora).
- O número de fibras musculares inervadas por um único neurônio motor é variável e constitui a taxa de inervação.
Taxa de Inervação (Número de Fibras Musculares por Neurônio Motor)
A taxa de inervação influencia diretamente a precisão e a força do controle motor:
- Controle Fino e Movimentos Delicados: Grupos musculares que exigem movimentos precisos (ex: músculos extrínsecos do olho, músculos da laringe) possuem uma baixa taxa de inervação. Exemplo: aproximadamente 3 a 23 fibras musculares por neurônio motor (3/1 a 23/1).
- Controle Grosseiro e Movimentos Potentes: Grupos musculares responsáveis por movimentos potentes e menos precisos (ex: músculos posturais, músculos da perna como o gastrocnêmio) possuem uma alta taxa de inervação. Exemplo: 1.000 a 2.000 fibras musculares por neurônio motor (1000/1 – 2000/1).