Frei Luís de Sousa: Análise das Cenas XI-XIII e XVI
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Análise das Cenas XI, XII, XIII e XVI
As cenas XI, XII e XIII preparam o clímax da diegese dramática: a cena do reconhecimento. Enquanto Manuel de Sousa Coutinho e D. Jorge conversam, o escudeiro Miranda vem avisar que um Romeiro, daqueles que costumam ir a Santiago, embora este diga que vem de Roma e dos Santos Lugares, quer falar com D. Madalena e só com ela.
A Ironia Trágica na Fala de D. Madalena
Comenta-se a ironia trágica presente na terceira fala de D. Madalena. A incredulidade de Madalena perante a dura caracterização que o Romeiro faz dos familiares que o esqueceram — “Haverá tão má gente e tão vil que tal faça?” — faz com que a sua pergunta assuma um valor irónico — embora involuntário por parte da personagem —, visto que as palavras do Romeiro a têm como referente, ou seja, descrevem o comportamento que, na ótica de D. João de Portugal, a própria Madalena protagonizou: facto que ela, obviamente, desconhece.
O Caráter e a Linguagem do Romeiro
Ao longo destas cenas, podemos concluir que o Romeiro está convicto de que possui uma certa superioridade moral relativamente às outras personagens em cena. Ao longo da cena, o Romeiro vai adotando um registo cada vez mais sentencioso — “Não há ofensa verdadeira senão as que se fazem a Deus.” — e lacónico, parecendo mesmo ter algum prazer no sofrimento dos outros, que ele encara como merecido e, portanto, justo — “Agora acabo: sofrei, que ele também sofreu muito.”. A gestão meticulosa da divulgação do segredo revela alguma crueldade — principalmente para com D. Madalena — “Madalena — Como se chama? / Romeiro - O seu nome, nem o da sua gente nunca o disse a ninguém no cativeiro.” e, simultaneamente, uma convicção de que terá a razão do seu lado e, portanto, direito a agir como age.
O Desnorte Emocional de D. Madalena na Cena Final (XVI)
Na cena final, a linguagem veicula o desnorte emocional de D. Madalena. A última fala de Madalena caracteriza-se pela repetição das apóstrofes e pela presença da interjeição — “Minha filha, minha filha, minha filha! “Oh! minha filha, minha filha!...” —, pelas indecisões sintáticas e vocabulares, que indiciam a incapacidade de, devido à emoção, designar a realidade, ou então o medo da força das próprias palavras — “Estou.., estás... perdidas, desonradas... infames!” — e ainda pelo predomínio das frases de tipo exclamativo. Todas estas características discursivas, aliadas à informação veiculada pelas didascálias, materializam o estado de consciência da personagem cujo mundo acaba de se esboroar e que, com ele, ameaça arrastar mãe e filha.