Freud: Estrutura da Personalidade e Desenvolvimento Psicossexual

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A Estrutura Psíquica e o Desenvolvimento Psicossexual

Freud considera que a compreensão do comportamento requer uma análise dos fenómenos psíquicos, isto é, um estudo da dinâmica dos acontecimentos da mente. Segundo Freud, a nossa estrutura psíquica é formada por três componentes ou instâncias de personalidade:

  • ID
  • EGO
  • SUPEREGO

Estas três instâncias, na opinião de Freud, estabelecem entre si uma relação dinâmica, muitas vezes conflituosa, de que resulta a conduta das pessoas. O comportamento de umas pessoas compreender-se-á pela supremacia do Id, enquanto o de outras se entende pela predominância do Superego.

ID: O Princípio do Prazer

O Id é o primeiro elemento e já nasce com a criança. A energia psíquica deriva apenas de tendências instintivas de natureza biológica que visam a satisfação imediata na busca exclusiva do prazer. A busca narcisista e egocêntrica de prazer levaria a constantes frustrações e conflitos, dado que, no mundo real, não existem condições que permitam que o objeto necessário à libertação da energia pulsional seja encontrado ou esteja disponível sempre que o indivíduo o procura.

EGO: O Princípio da Realidade

O Ego tem por função orientar as pulsões de acordo com as exigências da realidade, de modo a tornar possível a adaptação do indivíduo ao mundo externo. No seu papel de árbitro na luta entre as pulsões inatas e o meio, o Ego conta com a ajuda de um conjunto de mecanismos de defesa (como o recalcamento) que se vão progressivamente formando e exercem um controlo inconsciente sobre as pulsões que ameaçam o equilíbrio psíquico do indivíduo. Os recalcamentos, como mecanismo de defesa, devolvem ao inconsciente os materiais que procuram tornar-se conscientes.

SUPEREGO: A Moralidade e a Consciência

Se considerássemos a criança apenas em termos de Id e Ego, poderíamos dizer que ela seria perfeitamente amoral. O desenvolvimento do sentido de moralidade só é possível quando se forma uma outra instância do aparelho psíquico: o Superego. Este controlo imposto a partir do exterior tende, pouco a pouco, a ser interiorizado e, por volta dos sete anos, o Superego é já uma instância interna que, segundo Freud, atua de modo automático e espontâneo. O Superego representa um conjunto de valores nucleares como: honestidade, sentido de dever, obrigações, sentido de responsabilidade e outros. A constituição e a manifestação do Superego não eliminam a atuação do Id, que se mantém ativo ao longo da vida.

A Teoria da Libido e o Prazer Psicossexual

Toda a teoria freudiana se desenvolve à roda de conceitos de energia sexual ou libido. Freud acredita que o desejo ou busca do prazer psicossexual surge no indivíduo antes da puberdade, logo a partir do nascimento. Usa o termo prazer psicossexual num sentido muito amplo, que inclui as sensações agradáveis resultantes da estimulação de diversas áreas do corpo e considera que a energia psicossexual ou libido deriva de processos metabólicos.

Estádios do Desenvolvimento Psicossexual

No seu desenvolvimento, a criança atravessa uma série de fases ou estádios, cada um dos quais se associa a sensações de prazer ligadas a uma zona erógena específica. O controlo destas sensações origina conflitos cuja resolução influencia a formação da personalidade adulta. Para alcançar a maturidade psicológica, o indivíduo tem de resolver positivamente os conflitos próprios de cada etapa.

Estádio Oral (Do nascimento aos 12/18 meses)

Neste período, a boca é a principal fonte de prazer, por isso, constitui-se como zona erógena. Nesta fase, trate-se ou não de alimento, tudo o que a criança consegue agarrar é levado à boca. O seio materno é fonte de grande satisfação que lhe permite estabelecer uma relação afetiva de proximidade com a mãe, cuja natureza marca o modo como futuramente se relacionará com o mundo. É nesta fase que se começa a estruturar a personalidade.

Estádio Anal (Dos 12/18 meses aos 3 anos)

Após a digestão dos alimentos, estes vão-se acumulando na área retal, até que a pressão nos músculos do esfíncter anal provoca a descarga reflexa. Esta descarga alivia a tensão, pelo que se torna agradável. É também por esta altura que os pais se preocupam com a criação de hábitos de higiene. Quer reter, quer expulsar as fezes se torna fonte de prazer, pelo que a região anal é a zona erógena desta fase.

Estádio Fálico (Dos 3 aos 5/6 anos)

É durante este período que os rapazes e as raparigas descobrem que o corpo do homem e da mulher são diferentes e começam a explorar o seu próprio corpo, apercebendo-se que a relação entre as pessoas envolve elementos de natureza sexual. O objeto da libido é, nesta fase, constituído pelos órgãos genitais. Pelo que a criança obtém prazer ao tocar-lhes. É também nesta fase que as crianças vivem a primeira experiência de amor heterossexual (Complexo de Édipo).

Estádio de Latência (Dos 5/6 anos aos 12/13 anos)

Após a vivência da situação edipiana, a criança entra numa fase em que os desejos sexuais estão praticamente ausentes. Segundo Freud, o apaziguamento das pulsões sexuais é devido à amnésia infantil. A criança canaliza a energia psíquica para atividades de outro tipo. A curiosidade sexual cede lugar à curiosidade intelectual que a entrada na escola ajuda a desenvolver. O conhecimento do mundo físico e social amplia-se, afastando-se dos limites do mundo familiar carregado de afetividade. Deseja obter sucesso na escola ou noutras atividades, procurando tornar-se uma espécie de “criança modelo” bem comportada, apreciada pelos pais, professores e amigos. O aparelho psíquico, constituído pelas três instâncias – Id, Ego e Superego –, está completamente organizado nesta fase, pelo que a estrutura da personalidade se encontra praticamente formada.

Estádio Genital (Depois da puberdade)

Ao período de uma sexualidade latente sucede-se um estádio em que a sexualidade desperta de novo e com grande intensidade. Isso deve-se ao fenómeno de maturação orgânica e aos impulsos desencadeados pela consequente produção de hormonas sexuais. O complexo de Édipo é revivido pelo adolescente de uma forma muito especial. O amor vivido no período fálico em relação ao progenitor do sexo oposto é agora canalizado para uma atração heterossexual por pessoas alheias ao universo familiar. A satisfação dos impulsos da libido é agora procurada pela prática de atividades sexuais de natureza genital. Segundo Freud, não há fixação neste período, dado ser a última etapa do desenvolvimento psicossexual.

Metodologia de Investigação Psicanalítica

Depois de ter abandonado a hipnose como meio de explorar o inconsciente, Freud considerou que seria necessário constituir um método próprio. Criou então a Psicanálise. O psicanalista, na sua prática terapêutica, recorre a diferentes formas de contornar as resistências que são impostas às revelações do inconsciente:

  • Associações Livres: O psicanalista pede ao analisado que diga tudo o que sente e pensa, sem qualquer omissão, mesmo que lhe pareça não ter importância, ser desagradável ou absurdo. Neste processo, o psicanalista começa por dizer palavras soltas, enquanto que o analisado diz a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando se refere àquela palavra. É no decorrer deste procedimento que se manifestam resistências, desejos, recordações e recalcamentos inconscientes que o analista procurará identificar e interpretar.
  • Interpretação dos Sonhos: O psicanalista pede ao analisado para que lhe relate os sonhos. Segundo Freud, o sonho seria a realização simbólica (disfarçada) de desejos recalcados. Freud distingue o conteúdo manifesto do sonho (o que é lembrado, o que é consciente) e o conteúdo latente (os desejos, medos, recalcamentos que estão subjacentes). Cabe ao analista dar-lhe um sentido, interpretando os sonhos narrados.
  • Análise do Processo de Transferência: O psicanalista analisa e interpreta os dados do processo de transferência. Esta é uma transferência de traumas/sentimentos da sua fonte original para a relação com o psicanalista ou outra pessoa que rodeia o sujeito. A transferência é um processo em que o analisado transfere para o psicanalista os sentimentos de amor/ódio vividos na infância, sobretudo relativamente aos pais.
  • Análise dos Atos Falhados: O psicanalista procura interpretar os esquecimentos, lapsos e erros de linguagem, leitura ou audição do analisado. Segundo Freud, estes erros involuntários manifestariam desejos recalcados no inconsciente e que irromperiam na vida quotidiana. Estes lapsos são uma manifestação da luta entre o que o inconsciente quer e o que o consciente consegue tolerar.

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