Funcionalismo, Estruturalismo e Antropologia Evolucionista
Classificado em Psicologia e Sociologia
Escrito em em português com um tamanho de 14,87 KB.
Funcionalismo
Funcionalismo (do Latim fungere, desempenhar) é um ramo da Antropologia e das Ciências Sociais que procura explicar aspectos da sociedade em termos de funções realizadas por instituições e suas consequências para a sociedade como um todo. É uma corrente sociológica associada à obra de Émile Durkheim.
Para ele, cada instituição exerce uma função específica na sociedade e seu mau funcionamento significa um desregramento da própria sociedade. Sua interpretação de sociedade está diretamente relacionada ao estudo do fato social, que segundo Durkheim, apresenta características específicas: exterioridade e a coercitividade. O fato social é exterior, na medida em que existe antes do próprio indivíduo, e coercitivo, na medida em que a sociedade impõe tais postulados, sem o consentimento prévio do indivíduo.
Nas Ciências Sociais, especificamente na Sociologia e na Antropologia Sociocultural, o Funcionalismo (também chamado Análise Funcional) é uma filosofia sociológica que originalmente tenta explicar as instituições sociais como meios coletivos de satisfazer necessidades biológicas individuais, vindo mais tarde a se concentrar nas maneiras como as instituições sociais satisfazem necessidades sociais, especialmente a solidariedade social. Juntamente com a Teoria do Conflito e o Interacionismo, o funcionalismo é uma das três principais tradições sociológicas.
O Funcionalismo é tradicionalmente associado a Émile Durkheim e, mais recentemente, a Talcott Parsons. Segundo as teses de funcionalistas como Talcott Parsons, a sociedade e a respectiva cultura formam um sistema integrado de funções. Proposto como uma alternativa a explicações históricas ao mesmo tempo que o Behaviorismo se popularizava, o Funcionalismo foi uma das primeiras teorias antropológicas do século XX, até ser superado pela Análise Estruturo-funcional ou Estrutural-funcionalismo.
Conceitos funcionais: A ideia de função tem um papel muito importante no Funcionalismo, modelando o desenvolvimento de toda a Análise Funcional. De fato, o Funcionalismo é basicamente o estudo das funções e suas consequências.
Função social: Uma função social é a contribuição que um fenômeno provê a um sistema maior do que aquele ao qual o fenômeno faz parte.[1] Esse uso técnico não é o mesmo da ideia popular de função como um evento, ocasião, obrigação, responsabilidade, ou profissão.
Termo que em Sociologia exprime a ideia de uma sociedade vista como um organismo vivo onde cada parte tem uma função (semelhante à Biologia).
A grande crítica sobre esta visão reside no fato de, como num organismo vivo, haver a tendência a identificar partes deste como mais importantes (órgãos vitais), justificando assim a existência e manutenção ou extinção daqueles considerados como menos importantes. Seriam as partes descartáveis da sociedade. (Ver Sociologia Crítica de Pedrinho Guareschi).
Uma distinção, primeiramente feita por Robert K. Merton, é feita entre funções evidentes e funções latentes[2] e também entre funções com efeitos positivos (funcionais ou positivamente funcionais) e negativos (disfuncionais).[1] Assim, descrever uma instituição como "funcional" ou "disfuncional" para os homens equivale a declará-la, respectivamente, "recompensadora" ou "punitiva".
Estruturo-funcionalismo
O Estruturo-funcionalismo, ou Funcionalismo Estrutural, foi a perspectiva dominante de antropologistas culturais e sociólogos rurais entre a II Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã. O Estruturo-funcionalismo tem a visão de que a sociedade é constituída por partes (polícia, hospitais, escolas, fazendas etc.). Cada parte possui suas próprias funções e trabalhando em conjunto para promover a estabilidade social.
[editar] Críticas
Nos anos 60, o Funcionalismo era criticado por prover modelos ineficazes para mudanças sociais, contradições estruturais e conflitos; por isso mesmo, a Análise Funcional ficou conhecida como Teoria do Consenso. Funcionalistas respondem que Durkheim usou uma forma radical de socialismo corporativo juntamente com explicações funcionalistas, o Marxismo reconhece contradições sociais e utiliza explicações funcionais e a teoria evolucionária de Parsons descreve os sistemas e subsistemas de diferenciação e reintegração.[4] Críticos mais fortes incluem o argumento epistemológico que diz que o Funcionalismo tenta descrever instituições sociais apenas através de seus efeitos e assim não explica a causa desses efeitos. Também é frequente a referência ao argumento ontológico que a sociedade não pode ter "necessidades" como os seres humanos, e até que se a sociedade tem necessidades elas não precisam ser satisfeitas. Anthony Giddens argumenta que explicações funcionalistas podem todas ser reescritas como descrições históricas de ações e consequências humanas individuais.[4] Anterior aos movimentos sociais dos anos 60, o funcionalismo foi a visão dominante no pensamento sociológico; após tais movimentos, a Teoria de Conflito desafiou a sociedade corrente, defendida pela teoria funcionalista. Conforme alguns opositores, a Teoria Funcionalista sustenta que conflito e disputa pelo status quo é danosa à sociedade, tendendo a ser a visão proeminente entre os pensadores conservadores.
Como resposta às críticas ao determinismo, alguns autores, como Jeffrey Alexander, enxergam o Funcionalismo como uma ampla escola e não como um método ou sistema específico, como o de Parson. Deste modo, o Funcionalismo seria capaz de tomar o equilíbrio como ponto de referência ao invés de suposição e trata a diferenciação estrutural como principal forma de mudança social. O termo "Funcionalismo" implicaria, então, em uma distinção de métodos ou interpretações inexistentes. De maneira análoga, Cohen argumenta que mais do que necessidades, a sociedade tem fatos tendenciais: característica do ambiente social que sustenta a existência de instituições sociais particulares mas não as causa.[4]
Estruturalismo
O estruturalismo é uma corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspirou do modelo da linguística e que apreende a realidade social como um conjunto formal de relações.
Estruturalismo na Antropologia
Claude Lévi-Strauss é o expoente da corrente estruturalista na Antropologia. Para fundá-la, Lévi-Strauss buscou elementos das ciências que, no seu entender, haviam feito avanços significativos no desenvolvimento de um pensamento propriamente objetivo. Sua maior inspiração foi a Linguística estruturalista da qual faz constante referência, por exemplo, a Jakobson.
Ao apropriar-se do pensamento estruturalista para aplicá-lo à Antropologia, Lévi-Strauss pretende chegar ao modus operandi do espírito humano. Deve haver, no seu entender, elementos universais na atividade do espírito humano entendidos como partes irredutíveis e suspensas em relação ao tempo que perpassariam todo o modo de pensar dos seres humanos.
Nesta linha de pensamento, Lévi-Strauss chega ao par de oposições como elemento fundamental do espírito: todo pensamento humano opera através de pares de oposição. Para defender essa tese, Lévi-Strauss analisa milhares de mitos nas mais variadas sociedades humanas, encontrando modos de construção análogos em todas.
A antropologia evolucionista
Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do Século XIX privilegiou o Darwinismo Social, que considerava a sociedade europeia da época como o apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígenes eram tidas como exemplares "mais primitivos". Esta visão usava o conceito de "civilização" para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos. Esta maneira de ver o mundo a partir do conceito civilizacional de superior, ignorando as diferenças em relação aos povos tidos como inferiores, recebe o nome de etnocentrismo. É a «Visão Etnocêntrica», o conceito europeu do homem que se atribui o valor de "civilizado", fazendo crer que os outros povos, como os das Ilhas da Oceania estavam "situados fora da história e da cultura". Esta afirmação está muito presente nos escritos de Pauw e Hegel.
Com fundamento nestas concepções, as primeiras grandes obras da antropologia, consideravam, por exemplo, o indígena das sociedades não europeias como o primitivo, o antecessor do homem civilizado: afirmando e qualificando o saber antropológico como disciplina, centrando o debate no modo como as formas mais simples de organização social teriam evoluído, de acordo com essa linha teórica essas sociedades caminhariam para formas mais complexas como as da sociedade europeia.
Nesta forma de apreender a experiência humana, todas as sociedades, mesmos as desconhecidas, progrediriam em ritmos diferentes, seguindo uma linha evolutiva. Isso balizou a ideia de que a demanda colonial seria "civilizatória", pois levaria os povos ditos "primitivos" ao "progresso tecnológico-científico" das sociedades tidas como "civilizadas". Há que ver estes equívocos como parte da visão de mundo que pretendiam estabelecer as diretrizes de uma lei universal de desenvolvimento.
Mas não se pode generalizar e atribuir as características acima a todos os autores que se aparentaram a essa corrente. Cada autor tem suas próprias nuances. Durkheim, por exemplo, procurou nas manifestações totêmicas dos nativos australianos a forma mais simples e elementar de religiosidade, mas não com o pensamento enquadrado numa linha evolutiva cega: se nossa sociedade era dita mais complexa ele atribuía isso às diversas tendências da modernidade de que somos fruto, e a dificuldade de determinar uma tendência pura na nossa religião, escamoteada por milhares de anos de teologia.
Método: O método concentrava-se numa incansável comparação de dados, retirados das sociedades e de seus contextos sociais, classificados de acordo com o tipo (religioso, de parentesco, etc), determinado pelo pesquisador, dados que lhe serviriam para comparar as sociedades entre si, fixando-as num estágio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica, de modo a que todo costume representasse uma etapa numa escala evolutiva, como se o próprio costume tivesse a finalidade de auxiliar esta evolução. Entendiam os evolucionistas que os costumes se demarcavam como substância, como finalidade, origem, individualidade e não como um elemento do tecido social, interdependente de seu contexto.
Pensadores: Vale ressaltar que apesar da maior parte dos evolucionistas terem trabalhado em gabinetes, um dos mais conhecidos pensadores dessa corrente, Lewis Henry Morgan, tinha contato com diversas tribos do norte dos Estados Unidos. É absurdo creditar a autores dessa corrente uma compilações cega das culturas humanas, isso seria uma simplificação enorme, ao mesmo tempo que se deixaria de aproveitar esses estudos clássicos da antropologia. e separado por muito tempo.