Funções Sociais da Escola e Teorias da Reprodução
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As Funções Sociais da Escola
As funções sociais primárias da escola incluem:
- A transmissão cultural e de socialização das novas gerações, principalmente em relação à cultura e à coesão social.
- A formação da cidadania e legitimidade em relação ao Estado ou subsistema político.
- A seleção e formação para o trabalho em relação à economia.
- A mobilidade social em relação ao sistema de estratificação social.
- O cuidado e custódia de crianças e jovens em relação à família.
Outras Funções
Outras funções, independentes das mencionadas acima, incluem:
- A missão de aliviar o desemprego ou ocultar o procedimento para retardar a entrada dos jovens na vida ativa.
- O papel de formar uma consciência nacional. Isto pode ser visto melhor em países do Terceiro Mundo, por exemplo, os países que alcançaram a independência política, onde a educação pode ou deve ser usada para criar e treinar quadros e a força de trabalho necessária para alcançar algum desenvolvimento econômico (embora essa abordagem, como foi visto ao analisar as teorias do desenvolvimento econômico, seja mais um desejo do que uma realidade).
- Doutrinação (religiosa). É difícil saber o que teria sido de algumas potências se não tivessem contado com a escola como um meio de transmissão de sua ideologia.
1. Preparação para o Trabalho
A Perspetiva Funcionalista e a Teoria do Capital Humano
Para o funcionalista, a inovação tecnológica torna os trabalhos cada vez mais complexos e, portanto, os trabalhadores precisam de um treinamento cada vez mais elevado, e a escola oferece tal formação.
Em sua teoria do **capital humano**, acreditam que a educação é um investimento que as pessoas fazem em si mesmas, e as oportunidades e a renda que cada um alcança são uma função do seu grau de produtividade no trabalho, que depende, por sua vez, da capacidade de trabalhar e, mais especificamente, do investimento que fizeram. Ambas as posições implicam, além disso, que a escola é ou pode tornar-se a melhor ferramenta para garantir a todos um jogo de igualdade de oportunidades. A educação claramente favorece a mobilidade social.
Embora essas interpretações tenham sido dominantes por um longo tempo, elas têm sido questionadas pela maioria dos sociólogos da educação. Destacam-se quatro principais objeções à abordagem funcionalista:
- Em primeiro lugar, o estudo da qualificação do trabalho tem demonstrado que a inovação tecnológica não conduz necessariamente a tarefas mais complexas por parte dos trabalhadores. Se há uma tendência predominante até agora neste século, é precisamente o oposto. A maioria das inovações procura simplificar o emprego ou reduzir a proporção daqueles que exigem tarefas complexas.
- Em segundo lugar, a maioria das pessoas realiza trabalhos que pouco ou nada têm a ver com o conhecimento específico e as habilidades adquiridas na escola, e então, pouco, mas não muito, com a sua educação geral, tendo que aprender a executar as tarefas associadas a processos de formação *ad hoc*.
- Em terceiro lugar, a educação é muito curta e a vida ativa muito longa, o que significa que a escola não pode prever o que o trabalho específico exigirá das pessoas décadas na vida ativa. Além disso, a escola é muito uniforme e o trabalho muito diversificado, o que, por sua vez, significa que a escola não pode reproduzir as condições necessárias para fornecer a vasta gama de aprendizagem especializada que a vasta gama de postos de trabalho requer.
- Em quarto lugar, a associação entre escolaridade e renda ou oportunidades na vida tende a desaparecer quando se controla a influência de outras variáveis relacionadas com a sorte ou a origem social.
Teoria da Correspondência (Bowles e Gintis)
A segunda abordagem alternativa é conhecida como a **Teoria da Correspondência** de Bowles e Gintis (1985, *Escolaridade na América Capitalista*, Madrid, Século XXI). Faz parte da chamada teoria da reprodução e a sua tese central é que o que liga a escola ao mundo do trabalho é fundamentalmente a aprendizagem não-cognitiva (mais do que a cognitiva). São as competências, conhecimentos e atitudes.
Esta interpretação baseia-se em:
- O isomorfismo acentuado das relações de produção (ou seja, autoridade e hierarquia, divisão de tarefas e padrões no local e nas atividades diárias de trabalho) e as relações sociais da educação.
- O equivalente das relações sociais que têm vários níveis e setores da estrutura ocupacional e os vários níveis e ramos da escola que levam, respetivamente, a eles.
- A grande importância demonstrada de características não-cognitivas para determinar o sucesso ou o fracasso e a seleção e orientação educacional.
Especificamente, Bowles e Gintis sugerem a existência de cinco correspondências entre o currículo da escola básica e a organização da produção na economia capitalista:
- A hierarquia entre professores e alunos corresponde à hierarquia de autoridade entre os empresários, quadros e trabalhadores no local de trabalho.
- A falta de supervisão dos alunos sobre o conteúdo e processos de trabalho corresponde ao alinhamento dos trabalhadores causado pela separação entre conceção e execução do seu trabalho.
- O sistema escolar de classificação (a busca por avaliação positiva em vez de conhecimento) corresponde à satisfação extrínseca dos trabalhadores sob o capitalismo, que trabalham por salários e não pela satisfação derivada do trabalho.
- A organização interna dos diferentes horários, cursos, estágios e ciclos da escola corresponde à produção de hábitos e traços de personalidade em indivíduos diferentes para ocupar várias posições exigidas pela divisão social hierárquica do trabalho.
- Diferentes níveis de ensino correspondem a diferentes níveis da estrutura de emprego.
2. A Formação de Cidadãos
As instituições estatais e políticas em geral são uma parte importante da vida social. Parece um facto inegável que a escola serve a um propósito que pode ser considerado político na medida em que forma cidadãos.
Em primeiro lugar, a manifestação mais evidente da formação de sujeitos políticos, a formação de cidadãos, é a **inculcação direta de ideias** sobre isso e sobre o todo social. No caso de estados democráticos, a educação política ocorre na transmissão cultural:
- **Direta:** através do conteúdo das humanidades e áreas sociais, de preferência, mas não exclusivamente, como também é feito com a ajuda de temas ou áreas específicas.
- **Indireta (Currículo Oculto):** através do que é chamado de currículo oculto, que se estende desde a celebração do dia nacional, eventos festivos ou conferências em sua honra, até a presença de símbolos e artefactos que representam o Estado no centro e na sala de aula, como no caso da presença da bandeira do Estado a presidir o edifício da escola, ou os retratos do chefe de Estado em cada sala de aula.
Estão atualmente a ser introduzidas várias funções de ensino, não só académicas, mas práticas e prescritivas, cuja importância não deve ser subestimada. Conjuntamente com os nomes dos **temas transversais**, agrupam-se ensinamentos como educação rodoviária, educação para a saúde ou campanhas de informação sobre drogas e prevenção de doenças como a SIDA. Sem dúvida, estas são funções que irão ganhar cada vez mais espaço na sala de aula. Sua funcionalidade pode ser vista de duas maneiras:
- De modo aparente, no campo de promover um crescimento equilibrado e uma mente livre, contribuindo para a formação da consciência cidadã em áreas como ecologia, sexualidade, higiene mental e física.
- De modo latente, como ferramentas para campanhas de divulgação em apoio a políticas governamentais específicas, partidárias ou não, engenharia social e técnicas de divulgação de vigilância e controlo social das práticas sociais de risco.
A formação do cidadão vai muito além da transmissão de mensagens que veiculam ideias ou valores. Em segundo lugar, podemos acrescentar que a educação dos cidadãos na escola também se dá pela mera pertença de todos os membros aos assuntos da escola. Nela, crianças e jovens são tratados como parte de agregados. Pela primeira vez em sua vida, não são tratados apenas como indivíduos, mas como alunos de um determinado curso, alunos matriculados neste ou naquele centro, como membros de grupos. Passam de papéis específicos que são identificados com a pessoa que os ocupa (para uma criança pequena, não há mais mãe do que a sua mãe e não há figura da mãe fora dela), para papéis universalistas que são entendidos e assumidos ou enfrentados como tal, independentemente de quem os desempenhe. A escola é uma instituição que gere coletivos em vez de indivíduos, e os alunos aprendem a comportar-se como membros desses coletivos porque é assim que a sociedade espera que se comportem amanhã. Em qualquer caso, há um aspeto que separa a participação na escola da participação política: enquanto os cidadãos têm o direito formal de voto ou igual representação na esfera política em geral, os órgãos de frequência escolar discriminam os alunos, garantindo a maioria absoluta aos professores e fornecendo uma representação para os pais até idades em que noutras esferas da vida são reconhecidos como adultos.
Mas estas não são as únicas limitações. Mariano Fernández Enguita (1992) observa que ocorre na escola a "aprendizagem da separação". Vejamos o quê:
A sociedade é constituída por duas áreas:
- **A Política:** todas as pessoas têm, em princípio, direitos iguais.
- **A Economia:** a primazia dos direitos de propriedade contra as pessoas. Para a maioria das pessoas, a economia é uma área em que os direitos são muito desigualmente distribuídos. Os empregadores são aqueles que monopolizam a capacidade de decidir.
3. Integração em Outras Instituições: Patriarcado e Consumo
O Patriarcado
O patriarcado, como modelo dominante de organização familiar, é uma relação entre os sexos e faixas etárias centrada na primazia do homem sobre a mulher e na autoridade dos adultos sobre os não-adultos, que não se centra apenas na estrutura familiar, mas cujos valores e práticas vão muito além.
A escola baseia-se em três linhas distintas de autoridade:
- O professor e a professora representam a sociedade, o grupo de adultos e o conhecimento.
- O aluno toma o lugar do indivíduo, não-adulto e que não sabe.
Como representante da sociedade, o professor apresenta uma série de exigências ao aluno. Como representante do conhecimento, determina o que merece ser aprendido e como deve e não deve ser. Como um adulto, sente-se compelido e com direito a tentar um maior controlo do comportamento de crianças e jovens.
O Consumidor
Destacamos alguns aspetos do consumo que nem sempre são reconhecidos:
Numa sociedade onde o trabalho é pouco ou nada gratificante para a maioria das pessoas, a busca por satisfação move-se para o campo do consumo. O consumo transcende as suas funções primitivas (atender a uma necessidade) para se configurar como:
- **Um campo de liberdade alternativa:** porque, ao contrário do trabalho, onde a maioria das pessoas é forçada a submeter-se a regras, o consumidor pode mudar e escolher.
- **Fonte de identidade pessoal:** gratificante, pois oferece mais possibilidades do que qualquer outro, permitindo mostrar o que pensamos que somos, fingir o que não somos e, se necessário, esconder quem somos.
- **Uma área de igualdade:** embora seja uma dimensão ilusória, e embora o consumo procure mais claramente fazer a diferença, também é o lugar onde, pelo menos ocasionalmente, as diferenças são excluídas.
- **Um elemento de distinção:** porque não há dificuldade em deslizar para o consumo comum quando nos comparamos com aqueles acima de nós, ou para o consumo diferencial quando queremos nos comparar com aqueles abaixo.
4. Igualdade de Oportunidades e Mobilidade Social
A extensão e difusão da cultura e motivos clássicos foram medidas repetidas nos programas e políticas dos partidos reformistas e dos governos que consideraram a igualdade de oportunidades educacionais e de acesso como o ponto de partida para alcançar a igualdade social. Ou, pelo menos, para concretizar o bom *slogan* "A cada um segundo as suas necessidades, a cada um segundo as suas capacidades", a excelência da igualdade meritocrática. Programas e medidas que se especificam como:
- A extensão da generalização, progressiva e gratuidade do ensino obrigatório.
- Políticas de bolsas de estudo para evitar os chamados "custos de oportunidade" que impedem novos estudos pós-obrigatórios.
- Em geral, as políticas de educação compensatória para desenvolver a noção de equilíbrio dos défices sociais de algumas classes ou grupos sociais no acesso à educação.
Além de tudo isto, há algumas evidências de que a educação contribui para a desigualdade social:
- Em geral, as teorias da reprodução indicam a sua contribuição para reproduzir a estrutura social através da reprodução da cultura e das condições sociais de produção.
- No nível institucional, o sistema educacional tem vários mecanismos de distinção social através da escolaridade que podem ser:
- **Tipo Horizontal:** que incluem a existência de uma dupla rede pública/privada, em que a educação privada assume o papel de via de distinção, trazendo maior capital cultural e uma educação mais de acordo com as necessidades do negócio, bem como a existência de redes paralelas de pós-obrigatório, de valor desigual, como foi o caso da FP e do BUP até agora no nosso país.
- **Tipo Vertical:** quando o sistema de ensino permite uma maior educação para distinguir aqueles que podem pagar por essa continuidade, obtendo títulos cada vez mais escassos e procurados: mestres, especialistas, doutores, etc.
Fundamentos Sociais do Currículo
5. Teoria da Reprodução Social (Althusser)
Althusser afirma que, para o sistema económico capitalista, é necessário reproduzir as condições materiais do mesmo, ou seja, a reprodução da força de trabalho. Para isso, o trabalhador submete-se ao Estado capitalista, através de:
- **O Aparelho Repressivo do Estado (ARE):** a violência institucional exercida pelos militares, polícia ou prisões.
- **O Aparelho Ideológico do Estado (AIE):** que funciona através da ideologia, da sugestão, mas também secundariamente pela repressão. A ideologia pela qual o trabalho é sempre unificado pela ideologia dominante, através da qual os indivíduos se constituem como sujeitos. (Althusser, 1974)
O sistema escolar é o AIE dominante da sociedade capitalista, contribuindo massivamente para a reprodução da submissão e obediência como o aparelho no qual os indivíduos estão cada vez mais sujeitos à penetração da ideologia dominante e, portanto, encorajam a aceitação da ordem existente.
O currículo, portanto, é a conversão da ideologia dominante em conteúdos escolares que atuam para fornecer a cada setor da população o suficiente da ideologia adequada ao papel a ser desempenhado na sociedade de classes: a exploração de trabalhadores, a exploração, os agentes da repressão... (Althusser, 1974: 136)
6. Teoria da Reprodução Cultural
1. Reprodução Cultural de Bourdieu
A ideia central é que o sistema tem os meios institucionais necessários para produzir um **habitus** capaz de reproduzir o arbitrário cultural dominante e reproduzir as contradições objetivas da inculcação do currículo arbitrário cultural. Esta ideia pode ser desenvolvida da seguinte forma. Primeiro, o sistema escolar inculca, através de vários mecanismos, o *habitus* correspondente ao arbitrário cultural da classe dominante.
Os meios de inculcar uma cultura arbitrária são fundamentalmente relacionados com o trabalho de ensino por meio da **violência simbólica**. Através deles, é transmitido o equivalente a um capital cultural no campo da biologia genética.
A **arbitrariedade cultural** designa a arbitrariedade implícita em qualquer cultura, isto é, o seu caráter relativo e, portanto, não universal, nem único. Bourdieu entende os sistemas de cultura como um conjunto de hábitos, modos de viver e de ser, esquemas de avaliação e de ação que são considerados legítimos numa dada formação social.
Em relação ao **habitus**, Bourdieu refere-se à internalização dos princípios de um arbitrário cultural que permitirá a reprodução. Especificamente, é definido como um sistema de disposições duráveis e transferíveis que integram todas as experiências passadas e trabalham em cada momento como uma matriz de estruturação de perceções, apreciações e ações dos agentes diante de uma situação ou evento que contribui para a produzir (Bourdieu e Passeron, 1997). O importante é entender que, pela mediação do *habitus* na prática, haverá um reflexo das condições de existência do agente. Dada a identidade das condições de vida para determinados grupos, haverá sistemas de disposições semelhantes, de modo que estará a ocorrer uma certa homogeneidade dos *habitus* que, por sua vez, farão surgir um grau objetivo de harmonização de práticas e das suas próprias obras. Aos poucos, dotarão esta regularidade e objetividade, que definirão a sua racionalidade específica e serão experimentadas como autoevidentes. As disposições destinam-se a transcender intenções objetivamente subjetivas e projetos conjuntos.
2. A Reprodução Cultural de Bernstein
O ponto de partida da análise de Bernstein pode ser resumido nos seguintes pontos:
- A criança aprende e interioriza a estrutura social a partir do momento em que começa a falar.
- A linguagem curva a organização do pensamento e do sentimento, pois este tipo de estrutura linguística induz uma forma particular de estrutura cognitiva e afetiva. Bernstein aponta para a existência de dois tipos de organização da linguagem:
- **Linguagem Elaborada (ou Formal):** com frases mais complexas e sintaxe, vocabulário mais rico, sensibilidade às distinções e semelhanças.
- **Linguagem Restrita (ou Comum):** o uso mais restrito, mais descritivo, prevalecem aspetos pessoais e menos analíticos.
Bernstein salienta, portanto, o entrelaçamento de linguagem e estrutura social que, além do aninhamento, também pode ser visto através do conceito de **código linguístico**: um conjunto de características gramaticais que correspondem a uma forma particular de compreensão da realidade e de se relacionar com ela.
Haverá dois tipos de códigos de linguagem:
- **Código Restrito:** sintaxe imperfeita, significados particulares (dependendo do conteúdo específico e da situação), menor expressão simbólica e raciocínio abstrato (raciocínio lógico formal). É próprio da classe trabalhadora e leva ao fracasso escolar.
- **Código Elaborado:** sintaxe mais complexa associada ao desenvolvimento do pensamento lógico formal, que é propício à classificação, ao estabelecimento de generalização, de distinções e semelhanças (característica das classes médias, que levam ao sucesso escolar).
Dinâmicas de Sala de Aula
Tipos de Interação em Sala de Aula
Durante o curso de uma aula, tanto os alunos quanto o palestrante ajustam continuamente o seu comportamento e estão a posicionar-se para uma série de situações diferentes. As interações definidas ocorrem em geral entre toda a turma e, particularmente, entre um pequeno número dos seus membros. As interações em sala de aula são realizadas entre:
- **O professor e os alunos/estudantes:** tais são os casos em que o professor/a se destina à manutenção da disciplina ou da ordem, ou à explicação dos diferentes tipos de indivíduo, grupo ou geral.
- **Os alunos/as e o professor/a:** incluem várias questões durante o desenvolvimento da aula, os pedidos para intervir, ir à casa de banho... ou para esclarecer qualquer aspeto da explicação ou o questionamento para melhor ditar notas.
- **Os alunos/as entre si:** as interações que consistem em mensagens passadas, pedir ajuda ou "copiar" num exame, a piada feita por algum grupo ao sair... Na prática, cada aluno numa turma passa uma grande parte de cada unidade de ensino interagindo com os seus colegas.
O estudo das interações deve ocorrer dentro de um quadro teórico, porque a interação não é um fim em si, mas uma ferramenta de descrição e classificação das relações sociais na sala de aula e de análise da construção social do conhecimento.
O Efeito Pigmalião
Nos anos 60, Rosenthal e Jacobson tentaram mostrar no seu trabalho *Pigmalião em Sala de Aula* (veja Gras, 1980) que as expectativas que os professores têm sobre os alunos de classe média e de classe trabalhadora têm um impacto significativo no desempenho escolar. A ideia central subjacente ao estudo foi a **profecia auto-realizadora**. Os resultados mostraram claramente que os alunos cujos professores esperavam um grande progresso, realmente o tinham. Sublinharam a importância da estima e da atitude positiva dos professores para o desenvolvimento intelectual dos estudantes. Sem excluir a possível influência de uma atitude positiva e estudos colaborativos, a explicação pode estar na interação professor-aluno do Efeito Pigmalião, na qual o primeiro transmite as suas expectativas positivas através de uma série de expressões, linguagem corporal e atitudes positivas. Embora vários estudos posteriormente não tenham conseguido repetir os resultados de uma maneira convincente, eles mantiveram-se como o modelo comportamental que os psicólogos dão às expectativas dos professores sobre o desempenho dos seus alunos. Talvez a origem de diferentes tipos de professores e alunos no estudo de Rosenthal e Jacobson ajude a entender melhor porque isso pode ser assim, pelo menos quando se trata de estudantes de classe.
Teoria da Rotulagem
A rotulagem dos estudantes é outra possível intervenção sociológica dos professores na relação educativa. Howard S. Becker desenvolve a alegação de que a definição de indivíduos ou grupos como "desviantes" tem consequências inesperadas no comportamento. Rist (1990) transfere a teoria do rótulo da sociologia do desvio para a da Educação.
A Teoria da Rotulagem afirma que o desvio surge da interação entre duas partes, o rotulador e o rotulado, e é um processo social baseado em três elementos:
- A prática de qualquer ação de rotulagem.
- A interpretação desta ação como desviante pelo rotulador, que o leva a definir os outros como desviantes e a dar o tratamento adequado.
- A reação deste com o **estigma** ou o rótulo que lhe é concedido.
Assim, o comportamento desviante não é uma simples violação de uma regra, mas a resposta dos outros a tal ação, de modo que ela produz um efeito permanente sobre o infrator rotulado que se estende à deflexão.
A Teoria da Rotulagem permite conhecer o tipo de alunos que os professores consideram propensos ao sucesso ou insucesso, e as diferentes reações que os professores têm com alunos diferentes, dependendo das suas expectativas.
Hargreaves (1976) observa que os fatores que influenciam a aceitação de alunos com um rótulo colocado pelo professor são:
- A frequência com que realizam a rotulagem.
- O valor a ser concedido ao professor que o faz.
- O apoio recebido por outros professores.
- A natureza pública da rotulagem.
Com base no exposto, o facto de um aluno ser chamado de "charlatão" uma ou duas vezes não significa que será rotulado como tal. É necessário reiterar essa qualificação para um professor-autor significativo, por exemplo, ou uma série deles, e numa situação ou situações de ordem pública para consolidar o rótulo.
A sala dos professores tem um papel na criação e difusão de consenso entre os professores sobre o rótulo de qualquer aluno.
No entanto, nem toda ação rotulada como desviante envolve uma cadeia de processos nessa direção, também pode servir como um elemento de dissuasão e padronização. Mas, em qualquer caso, a ação de rotular é um estigma para o rotulado, e ao ser desacreditado, ele se degrada e, finalmente, é rejeitado publicamente.
Diferenciação e Polarização
Um terceiro tipo de intervenção de professores na relação educativa é o processo de diferenciação. Em cada turma de alunos há dois processos de agrupamento: a diferenciação e a polarização.
**Diferenciação** é o processo de separação e triagem dos alunos pelos seus professores através de um conjunto de critérios que constituem o sistema de valores normativos e instruções de orientação académica. As escalas utilizadas para isso são académicas e de atitude, porque a conduta e o comportamento em sala de aula afetam os valores académicos, tanto pela atitude favorável do professor em relação aos alunos que se comportam bem e trabalham, quanto pela disposição do aluno que se comporta bem em aceitar o sistema de valores da escola. A diferenciação é produzida gradualmente e os estudantes duais (melhores e piores) são reconhecidos e identificados primeiro, e os medíocres e intermédios em segundo.
A **Polarização** é o resultado da diferenciação causada pelo professor. Neste processo, os estudantes são agrupados nas opções subculturais que se opõem à cultura dominante na escola, dando origem à formação de grupos e subculturas anti-escolares.
O Conceito Funcional da Profissão
O termo profissão acumulou um fardo social que implica, após o reconhecimento, pertencer a um setor privilegiado da sociedade. O título é uma exigência para a posição de reconhecimento profissional e social (Elliot, 1975:17).
As características que uma ocupação deve reunir para ser considerada uma profissão são:
- Ser uma atividade destinada a fornecer serviços aos clientes e à sociedade, cobrindo necessidades básicas ou consideradas vitais.
- Ser decidida por motivos altruístas, vocação ou chamado, não por razões económicas ou para o lucro.
- Ser a principal atividade do profissional que realiza o seu trabalho a tempo inteiro e dentro de uma autogestão limitada. Ou seja, baseada na licença concedida por um conhecimento sistemático e especializado, transmitido por membros da profissão e adquirido numa instituição *ad hoc* de uma universidade por um período de tempo, regido por códigos de ética desenvolvidos pelas próprias pessoas, realizado com autonomia individual e de grupo técnico, e livre do controlo e *feedback* dos clientes, com os quais mantém uma relação especial de dominação.
- Os membros envolvidos nessas atividades são dotados de uma organização empresarial que regulamenta os aspetos jurídicos, políticos, económicos e fiscais coletivos, e que participa ativa e diretamente nos padrões de formação e acesso à profissão, e a protege do controlo externo.
- O grupo tem uma ideologia subcultura profissional, terminologias e práticas. A ideologia serve como um mecanismo de defesa e justificação dos interesses do grupo.
- A ocupação tem um *status* social elevado e o reconhecimento legal de tal condição, através do mandato da instituição para a prática e apreciação das suas organizações como empresas públicas.