As Fundações da Psicologia: Wundt, Freud e Watson

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Wundt e a Consciência: O Estruturalismo

Wundt acreditava que os processos ou experiências mentais podem ser decompostos nos seus elementos básicos, assim como os químicos tinham decomposto a água nos seus elementos básicos (H₂O).

O objetivo seria identificar a estrutura e unidades básicas da consciência (sensações, sentimentos e imagens).

Quando temos a perceção de um cacho de uvas, combinamos uma sensação física (o que vemos) com sentimentos (gostar ou não de uvas) e imagens (recordações de outros cachos de uvas).

Para descobrir os elementos básicos da consciência, Wundt recorria à introspeção controlada, que consistia na descrição e análise, por parte de uma pessoa, das sensações e sentimentos que experimentava em resposta a determinados estímulos.

A experiência consciente só pode ser observada pela pessoa que a vive. Por isso, a técnica a adotar seria necessariamente a auto-observação ou introspeção.

Por exemplo, dando como estímulo os sons de um instrumento musical, Wundt e os seus colaboradores registavam os sentimentos que ele provocava.

Com base nas suas experiências, Wundt concluiu que as unidades básicas da consciência (sensações, sentimentos e imagens) se combinam, de tal forma que os fenómenos psíquicos são a associação e não a simples soma desses dados elementares. Por isso mesmo, a doutrina de Wundt é conhecida pelo nome de estruturalismo ou associacionismo.

Freud e o Inconsciente: A Psicanálise

Sigmund Freud (1856-1939) é o fundador da Psicanálise. Chamou a atenção da comunidade médica ao adotar a hipnose como técnica terapêutica.

Freud percebeu que na histeria os pacientes exibem sintomas que são anatomicamente inviáveis. Por exemplo, na "anestesia em luva", uma pessoa não terá nenhuma sensibilidade na mão, mas terá sensações normais no pulso e no braço. Uma vez que os nervos têm um percurso contínuo do ombro até a mão, não pode haver nenhuma causa física para este sintoma.

Com Joseph Breuer, o médico austríaco, elaborou os estudos sobre a Histeria. Breuer criou um método visando tratar a histeria: o Método Catártico (de Catarsis), ou teoria da conversa.

Catarse é um termo antigo, cunhado por Aristóteles, preconizando limpezas simbólicas das emoções. Os sintomas neuróticos resultam de processos inconscientes e desaparecem quando esses processos se tornam conscientes.

O tratamento de uma paciente de Breuer, que ficou conhecida como Anna O., e as comunicações que este fazia a Freud sobre o caso, foi um dos fatores que levou ao desenvolvimento da psicanálise. Breuer, utilizando técnicas de hipnose e autohipnose, fazia com que Anna O. verbalizasse emoções intensas que a perturbavam.

Psicanálise: Conceito e Aplicação

A Psicanálise caracteriza-se como uma corrente da Psicologia que busca o fundamento oculto dos comportamentos e dos processos mentais, com o objetivo de descobrir e resolver os conflitos intrapsíquicos geradores de sofrimento psíquico.

Trata-se, ao mesmo tempo, de uma disciplina científica que visa descobrir e mapear as estruturas da Psique e de um método terapêutico, assente numa relação profunda entre o psicanalista e o paciente.

Sexualidade Infantil e a Formação da Personalidade

Uma das mais importantes descobertas de Freud é a de que há uma sexualidade infantil: o psiquismo humano forma-se a partir dos conflitos que, desde o nascimento, confrontam os instintos sexuais (a libido) e a realidade. Podemos dizer que, em termos psicanalíticos, nós somos o resultado da história da nossa infância.

O Inconsciente: Natureza e Impacto na Psique

Outra descoberta importante é a de que a nossa mente consciente não controla todos os nossos comportamentos.

Mesmo os nossos atos voluntários, resultantes de uma deliberação racional, estão dependentes de uma fonte motivacional inconsciente...

A descoberta do inconsciente trouxe uma revolução à Psicologia e à forma como esta encara o ser humano.

A nossa infância persegue-nos ao longo de toda a nossa vida, uma vez que é nesse período que a nossa personalidade se desenvolve.

Ao longo da infância, o inconsciente vai dividir-se e dar origem às outras instâncias da Psique.

Por isso, passamos por períodos de crise, de rutura e de reconfiguração das nossas estruturas psíquicas. Por esta razão, estamos sujeitos a traumas e a conflitos intrapsíquicos que ficam guardados no inconsciente e marcam a forma como nos relacionamos connosco mesmos e com os outros.

O Inconsciente corresponde aos conteúdos instintivos, hereditários, da mente, bem como aos conteúdos recalcados ao longo da história de vida do indivíduo.

O Inconsciente não esquece nada; todos os incidentes da história de vida do indivíduo ficam aí retidos e guardam a mesma força e vivacidade do momento em que foram vividos. O Inconsciente é imune ao tempo.

Mas, para além disso, existe um mecanismo de segurança que impede que os conteúdos ameaçadores da sanidade mental e da sobrevivência física ou social do indivíduo acedam à consciência: trata-se da barreira da censura, que é responsável pelo recalcamento desses conteúdos perigosos.

Esta instância daria lugar aos mecanismos de defesa do Ego, quando Freud desenvolveu a sua teoria psicanalítica.

Eros e Thanatos: As Pulsões Fundamentais

O desejo e a insatisfação são elementos inerentes à nossa vida psíquica. Todos os nossos comportamentos resultam de uma fonte energética inesgotável e cuja manifestação assume múltiplas formas...

Trata-se do núcleo instintivo que dá vida à nossa Psique, constituído por duas polarizações antagónicas:

  • A libido, o desejo sexual, a que Freud deu o nome de Eros.
  • E o impulso de morte, ligado à agressividade (autodirigida e heterodirigida), a que Freud deu o nome de Thanatos.

Interpretação dos Sonhos: A Via Real do Inconsciente

A Psicanálise assenta na análise das mensagens que o inconsciente dos pacientes envia à consciência, através dos sonhos, dos atos falhados, das fobias e dos desvios comportamentais.

Para Freud, o sonho é a VIA REAL DO INCONSCIENTE. O sonho é a realização ilusória (simbólica) de desejos inconscientes (recalcados). É a expressão noturna das nossas frustrações diurnas.

O recalcamento é uma força que, mediante um mecanismo chamado censura, mantém fora da consciência os desejos e as pulsões provenientes do inconsciente. Os desejos recalcados encontram no sonho uma satisfação velada, simbólica.

Atos Falhados: Manifestações do Inconsciente

São a forma disfarçada de impulsos de que não temos consciência, mas que são indesejáveis, se expressarem.

O inconsciente manifesta-se incessantemente e os atos falhados são o modo, por vezes grotesco, mas nunca doentio, de os conteúdos e representações inconscientes vencerem a barreira da censura.

As Instâncias da Psique: Id, Ego e Superego

Id

O Id (isso) é o termo usado para designar uma das três instâncias apresentadas na segunda tópica da obra de Freud.

  • Formado por instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes.
  • Regido pelo princípio do prazer, que exige satisfação imediata.
  • É a energia dos instintos e dos desejos em busca da realização desse princípio do prazer, a libido.

Ego

O Ego é a soma total dos pensamentos, ideias, sentimentos, lembranças e perceções sensoriais.

  • Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer o Id sem transgredir as exigências do Superego.
  • É um dado complexo formado primeiramente por uma perceção geral do nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registos da nossa memória.

Superego

O Superego é inconsciente; é a censura das pulsões que a sociedade e a cultura impõem ao Id, impedindo-o de satisfazer plenamente os seus instintos e desejos.

  • É a repressão, particularmente, a repressão sexual.
  • Manifesta-se à consciência indiretamente, sob a forma da moral, como um conjunto de interdições e deveres, e por meio da educação, pela produção do "eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa.

Watson e o Comportamento: O Behaviorismo

Watson é considerado o pai da psicologia científica ao demarcar-se de forma radical de toda a psicologia tradicional, que tinha por objeto o estudo da consciência (método da introspeção...).

Watson não nega a existência da consciência, porém, defende que a análise dos estados de espírito, bem como a procura das suas causas, só pode interessar ao sujeito no âmbito da sua vida pessoal.

A única forma de a psicologia se constituir como ciência é cortar com todo o seu passado (conceção e método) e constituir-se como um ramo objetivo e experimental da ciência.

O psicólogo deverá, assim, assumir a atitude do cientista: trabalhar com dados provenientes de observações objetivas, i.e., públicas e acessíveis a outro observador. Deve renunciar à introspeção e limitar-se, como nas outras ciências, à observação externa.

O behaviorismo é uma corrente que define a psicologia como a ciência do comportamento.

Para Watson, o comportamento é o conjunto de respostas (R) observáveis a estímulos (E) observáveis provenientes do meio em que o organismo se insere.

Por estímulos entende-se o conjunto de excitações que agem sobre o organismo. Um estímulo pode ser qualquer elemento ou objeto do meio externo ou qualquer modificação interna do organismo.

Watson defendeu que todo o nosso comportamento é exclusivamente influenciado pela experiência, por fatores sociais e educativos, ou seja, somos produtos do meio, uma vez que somos modelados por ele (organismos em situação).

Watson não nega a existência de fatores hereditários, porém, considera-os irrelevantes na formação da personalidade do indivíduo.

Os contributos de Watson a favor da objetividade na psicologia foram bem recebidos pelos psicólogos norte-americanos. Esta aceitação deve-se, sobretudo, à definição inequívoca do seu objeto: o comportamento observável e o seu método experimental.

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