Fundamentos da Comunicação: Coesão e Coerência Textual
Classificado em Língua e literatura
Escrito em em português com um tamanho de 11,26 KB
1. Elementos Essenciais da Comunicação
A comunicação é um processo complexo que envolve diversos elementos interligados, cada um com uma função específica:
- Emissor (Remetente) – Função Emotiva: É quem emite a mensagem, expressando seus sentimentos, emoções ou opiniões.
- Receptor (Destinatário) – Função Conativa: É quem recebe a mensagem, sendo o alvo da comunicação. O foco está em influenciar ou persuadir o receptor.
- Mensagem – Função Poética: É o conjunto de informações transmitidas. A função poética se manifesta quando há um foco na forma e na estética da mensagem, na sua elaboração.
- Código – Função Metalinguística: É a combinação de signos (linguagem verbal, não verbal, etc.) utilizada na transmissão da mensagem. A comunicação só se concretizará se o receptor souber decodificar a mensagem. A função metalinguística ocorre quando o texto chama atenção para o próprio código.
- Canal de Comunicação – Função Fática: É o meio físico ou virtual por onde a mensagem é transmitida: TV, rádio, jornal, revista, cordas vocais, ar. A função fática visa testar ou manter o canal de comunicação.
- Contexto (Referente) – Função Referencial: É a situação a que a mensagem se refere, também chamado de referente. Caracteriza-se por ser denotativa, informativa ou representativa, focando na realidade objetiva.
2. Coesão Textual: A Microestrutura do Texto
A coesão, parte da microestrutura textual, refere-se ao encadeamento e às relações de sentido existentes no interior de um texto, onde a interpretação de algum elemento é dependente da de outro. Os mecanismos de coesão estabelecem essas relações de sentido, garantindo a unidade e fluidez do texto.
2.1. Conceito de Coesão
A coesão é a ligação, a relação e a conexão entre as palavras, expressões ou frases de um texto, tornando-o um todo articulado.
2.2. Mecanismos de Coesão Textual e Exemplos
Os principais mecanismos que contribuem para a coesão textual são:
- Coesão por Referência (Uso de Pronomes, Advérbios, Numerais, Perífrase, Sinônimo, Hiperônimo):
- Pronomes: "Rui foi ao cinema. Ele não gostou do filme."
- Advérbios: "Vou-me embora para Pasárgada. Lá sou amigo do rei." (Manuel Bandeira)
- Numerais: "Marta e Joana são amigas. As duas estudaram juntas."
- Perífrase: "Viajamos por São Paulo. A terra da garoa nos pareceu bastante agradável."
- Sinonímia: "Joaquim tinha um cachorro. O cão gostava de passear."
- Hiperonímia: "Joaquim tinha um cachorro. O animal latia muito."
- Coesão por Elipse (Omissão):
- Exemplo: "Camila leu Othelo; João, Dom Casmurro." (Omissão de "leu")
- Coesão por Nominalização:
- Exemplo: "Chegar ao fim da corrida foi difícil. Na chegada, todos estavam exaustos."
- Coesão por Expressões de Síntese:
- Exemplo: "A fome, a violência, o desemprego assolam o país. Por causa disso há medo e ansiedade."
- Coesão por Repetição:
- Exemplo: "Grande no pensamento, grande na ação, grande na glória, grande no infortúnio, ele morreu desconhecido e só." (Rocha Lima)
- Coesão por Pontuação:
- Exemplo: "Marcela saiu mais cedo: precisava ir ao médico."
- Coesão por Conectivos (Preposições e Conjunções):
- Exemplo: "Carlos saiu cedo porque não podia se atrasar."
- Coesão Lexical: Engloba o uso de sinônimos, hiperônimos, metonímia e repetição para manter a unidade temática e evitar a repetição desnecessária de palavras.
- Coesão por Metonímia: Mecanismo de coesão lexical que envolve a substituição de um termo por outro com o qual mantém uma relação de proximidade (ex: "ler Machado de Assis" em vez de "ler as obras de Machado de Assis").
- Coesão por Substituição: Substituição de um elemento textual por outro, geralmente um pronome ou advérbio, para evitar repetição e manter a fluidez.
2.3. Coesão por Anáfora e Catáfora
São tipos específicos de coesão referencial, onde um componente do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) nele presentes ou inferíveis a partir do universo textual:
- Anáfora: Remissão a algo já mencionado no texto. Exemplo: "A mulher atravessou a rua e entrou na loja. Lá, ela esperou calmamente que a chuva passasse." ("Lá" e "ela" referem-se à loja e à mulher, respectivamente).
- Catáfora: Remissão a algo que será mencionado posteriormente no texto. Exemplo: "Tudo aconteceu repentinamente: o susto, o baque, o desmaio." ("Tudo" antecipa os eventos que serão listados).
2.4. Coesão Sequencial
Refere-se aos procedimentos que estabelecem, entre segmentos do texto, diversos tipos de relações à medida que o texto progride, utilizando conectivos para ligar ideias e garantir a continuidade semântica.
Exemplo: "A mulher saiu de casa sem guarda-chuva. Embora tivesse observado que o céu estava carregado de nuvens, ainda assim não voltou para apanhar a proteção. Mas teve sorte, porque pouco tempo depois o sol apareceu e não caiu a tempestade que todos esperavam."
2.5. Mecanismos de Coesão Progressiva: Conjunções
As conjunções são elementos cruciais para a coesão sequencial, estabelecendo relações de sentido entre orações e períodos. Elas podem indicar:
- Circunstância:
- Causa: Porque, como, já que, uma vez que, visto que.
- Consequência: Que (tal...que; tanto...que, tão...que), de forma que, de maneira que, de modo que.
- Finalidade (Fim): Para que, a fim de que.
- Concessão: Embora, ainda que, mesmo que, por mais que, por menos que, se bem que.
- Comparação: Que, do que (depois de mais, menos, melhor, menor, pior), quanto (tanto...quanto), como, assim como, bem como.
- Condição: Se, caso, contanto que, desde que, a menos que, a não ser que.
- Conformidade: Conforme, segundo, como.
- Tempo: Quando, antes que, depois que, até que, logo que, sempre que, assim que, desde que.
- Proporção: À medida que, ao passo que, à proporção que, enquanto.
- Relação (Coordenativas):
- Aditivas: e, não só, mas também, nem (= e não).
- Adversativas: Mas, porém, contudo, todavia, no entanto.
- Alternativas: Ou, ou...ou, ora...ora.
- Conclusivas: Pois (depois do verbo), logo, portanto, por isso.
- Explicativas: Pois (antes do verbo), porque, que.
3. Coerência Textual: A Macroestrutura e Interpretabilidade
A coerência, parte da macroestrutura textual, refere-se à possibilidade de estabelecer um sentido para o texto, garantindo sua inteligibilidade em uma situação de comunicação e a capacidade de calcular o sentido dele.
3.1. Condições para a Manutenção da Coerência
Para que um texto seja coerente, é fundamental:
- Evitar Inadequações Vocabulares: O uso preciso das palavras é crucial para a clareza e o sentido do texto.
- Exemplo Inadequado: "O artista está no ágio da fama." (Correto: "O artista está no auge da fama.")
- Exemplo Inadequado: "O homem comprimentou o amigo." (Correto: "O homem cumprimentou o amigo.")
- Evitar Uso Incorreto de Conectivos: A escolha adequada dos conectivos garante a lógica das ideias e a progressão do sentido.
- Exemplo Inadequado: "Está chovendo, mas devo usar capa." (Sugestão: "Está chovendo, portanto devo usar capa." ou "Está chovendo, então devo usar capa.")
- Exemplo Inadequado: "Embora você seja meu amigo, vou convidá-lo para minha festa." (Sugestão: "Como você é meu amigo, vou convidá-lo para minha festa." ou "Mesmo que você não fosse meu amigo, eu o convidaria para minha festa.")
3.2. Elementos Contextualizadores da Coerência
A coerência de um texto também depende de sua adequação ao contexto de comunicação, considerando aspectos como:
- Quem produziu o texto?
- Por que produziu?
- Quando produziu?
- De que se fala?
- Para quem se fala?
- Qual é a situação de comunicação?
Um exemplo de frase que pode ser incoerente fora de um contexto específico ou por falta de sentido lógico é: "Porco pega peixe no Parque."
3.3. Regras Práticas para a Coerência Textual
Para garantir a coerência de um texto, algumas regras práticas são essenciais:
- Metarregra da Repetição: Um texto coerente deve ter elementos repetidos, garantindo a unidade temática e a retomada de informações.
- Metarregra de Progressão: Um texto deve renovar o suporte semântico, introduzindo novas informações e desenvolvendo o tema.
- Metarregra da Não-Contradição: Um texto coerente não pode contradizer o que foi dito antes ou o que ficou pressuposto.
- Metarregra de Relação: O conteúdo de um texto deve estar adequado ao mundo real ou a mundos possíveis, ou seja, deve fazer sentido em relação ao conhecimento de mundo do leitor.
3.4. As Metarregras de Coerência de Michel Charolles
Pesquisando sobre a coerência dos textos, o estudioso francês Michel Charolles delimitou quatro princípios fundamentais responsáveis pela coerência textual, chamando-os de metarregras da coerência:
- Metarregra da Repetição: Um texto coerente deve ter elementos repetidos, garantindo a retomada de informações e a unidade temática.
- Metarregra de Progressão: Um texto coerente deve apresentar renovação do suporte semântico, introduzindo novas informações e desenvolvendo o tema.
- Metarregra da Não-Contradição: Em um texto coerente, o que se diz depois não pode contradizer o que se disse antes ou o que ficou pressuposto.
- Metarregra de Relação: Em um texto coerente, seu conteúdo deve estar adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis, ou seja, deve fazer sentido em relação ao conhecimento de mundo do leitor.