Fundamentos do Conhecimento: De Descartes a Hume
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Tipos de Conhecimento
- Conhecimento prático (saber-fazer): conhecimento de atividades. Ex: saber tocar piano.
- Conhecimento por contacto: conhecimento de pessoas ou locais. Ex: conhecer Bon Jovi.
- Conhecimento proposicional: conhecimento de proposições. Ex: saber que Bon Jovi toca guitarra.
O Conhecimento Proposicional: Crença Verdadeira Justificada
O conhecimento proposicional é entendido como uma crença verdadeira e justificada (Teoria CVJ). Esta é a conceção clássica.
A justificação necessita de:
- Provas
- Evidências
- Bons argumentos
O conhecimento proposicional (conhecimento de verdades) é aquele que permite saber se uma proposição é verdadeira ou falsa, respondendo às questões referentes às condições:
- Necessárias
- Suficientes
As condições necessárias para que uma proposição seja considerada conhecimento são:
- Que seja uma crença.
- Que seja verdadeira.
- Que seja uma crença verdadeira justificada.
Distinguir Conhecimentos: A Priori vs. A Posteriori
1. Conhecimento a priori: Justificação que se faz independentemente da experiência. Ex: A soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a dois ângulos retos (180º).
2. Conhecimento a posteriori: Justificação que se baseia na experiência. Ex: Todos os habitantes desta casa são músicos.
O Projeto Cartesiano de Fundamentação do Saber
A atitude de Descartes perante o saber do seu tempo pode caracterizar-se segundo dois vetores:
- O conjunto dos conhecimentos, que constituem o sistema do saber ou o edifício científico tradicional, está assente em bases frágeis.
- Esse edifício científico é constituído por conhecimentos que não estão na sua devida ordem.
A Função da Dúvida em Descartes
Sentido da Dúvida Hiperbólica e Metódica
Dúvida Hiperbólica: Consiste em identificar o duvidoso, por mínimo que seja, como falso. É assim chamada porque é propositadamente exagerada. Duvidar, por mínima que seja a razão para tal, é uma forma de assegurar que a crença que resiste será absolutamente verdadeira.
Dúvida Metódica: Não quer dizer que a dúvida seja o método, mas sim o instrumento metodológico, pois é a forma de aplicar a primeira regra do método, a regra da evidência, que identifica a verdade como indubitável.
Características do Cogito Cartesiano
- Será o alicerce inabalável de todo o conjunto de conhecimentos que a partir dele descobriremos.
- É uma verdade puramente racional.
- É uma verdade descoberta por intuição e não por dedução.
O Papel de Deus na Fundamentação do Saber em Descartes
As ideias que qualquer indivíduo possui são de três tipos: adventícias, factícias e inatas. Uma das ideias inatas que todos nós temos na mente é a ideia de perfeição. É esta a ideia que Descartes vai usar para provar a existência de Deus:
- Sendo Deus perfeito, tem de existir. Não é possível conceber Deus como perfeição e não existente.
- A causa da ideia de perfeito não pode ser o ser pensante, porque este é imperfeito. A ideia de perfeição só pode ter sido criada por algo perfeito: Deus.
- O ser pensante não pode ter sido o criador de si próprio, pois, se o tivesse sido, ter-se-ia criado imperfeito. Só a perfeição divina pode ter criado o ser imperfeito.
Logo, Deus é omnipotente e perfeito e, como tal, não engana; Ele é a garantia da objetividade das verdades racionais. O papel da veracidade divina é assegurar a validade das evidências atuais e passadas.
Conhecimento em Descartes: Possibilidade e Justificação
É possível o conhecimento para Descartes? Como é justificado? A razão dá-nos conhecimentos independentes da experiência?
Para Descartes, o conhecimento é possível. Embora a dúvida pareça conduzir à descrença na existência de verdades, Descartes não é um cético. Com efeito, a dúvida propõe-se a separar o verdadeiro do falso, o que pressupõe a crença na existência de verdades. A objetividade do conhecimento (o facto de ser uma crença verdadeira e não uma mera opinião) é justificada pela existência de Deus.
Sim, a razão dá-nos conhecimentos independentes da experiência. Descartes rejeita o empirismo; os sentidos não são fonte de conhecimento seguro. Descartes rejeita a ideia de que o conhecimento comece com a experiência, porque os sentidos nos enganam.
Descartes vs. Hume: A Origem do Conhecimento
Um dos problemas gnosiológicos recorrentes na filosofia é saber qual é a origem do conhecimento. Assim, todo o nosso conhecimento provém da experiência ou da razão? O Empirismo (David Hume) e o Racionalismo (Descartes) constituem duas respostas a este problema.
Segundo a perspetiva racionalista (Descartes), a razão é a fonte principal do conhecimento, defendendo que os nossos conhecimentos verdadeiros procedem dela e não dos sentidos. Os racionalistas acreditavam que o conhecimento da realidade poderia constituir-se de forma puramente racional a partir de certos princípios ou ideias indubitáveis. O conhecimento é, assim, justificado pela existência de um Deus, cuja veracidade garante a verdade das evidências atuais e passadas. Podemos conhecer a realidade em si mesma mediante a razão, sem qualquer apoio da experiência.
O empirismo de David Hume refere que o conhecimento deriva da experiência, tendo todas as crenças e ideias uma base empírica. Segundo este autor, a razão depende dos dados empíricos e só podemos conhecer o que está ao alcance dos nossos sentidos. O nosso conhecimento não pode estender-se para lá do que é dado na experiência. Se, a uma ideia, não corresponde uma impressão sensível, não podemos falar de conhecimento objetivo.
Para Hume, todo o conhecimento depende da experiência e a esta se limita. Todo o conhecimento do mundo é baseado na experiência, ou seja, é a posteriori.
Concluindo, se para Descartes as ideias inatas são originárias da razão, fazendo parte da estrutura racional do homem e sendo as únicas que funcionam como base segura do conhecimento, para Hume e o empirismo em geral, a ideia-chave é que “nada está no pensamento que não tenha estado primeiramente nos sentidos”.