Fundamentos da Enfermagem: Teoria, Prática e Processo
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Profissão de Enfermagem: Arte, Ciência e Teoria
- Arte: Cuidar com compaixão, respeitando a dignidade de cada paciente.
- Ciência: Baseada em conhecimentos que evoluem com novas descobertas e inovações.
- Teoria: Fundamenta a prática com um marco teórico que orienta e organiza as intervenções na enfermagem.
Marco Teórico e Conceitual na Prática Clínica
A prática da enfermagem utiliza teorias específicas para guiar suas ações. As teorias dão estrutura e direção para o cuidado, ajudando a identificar princípios que norteiam as intervenções e resultados.
Componentes da Teoria de Enfermagem
As teorias são compostas por pressupostos, princípios ou proposições interpretativas que ajudam a explicar e orientar a ação na prática da enfermagem.
Classificação das Teorias de Enfermagem
- Grandes Teorias: Complexas e abrangentes, tentam explicar fenômenos amplos dentro da enfermagem. São mais abstratas e difíceis de testar.
- Teorias de Médio Alcance: Mais específicas, focam em um número limitado de conceitos e podem ser testadas no mundo real, oferecendo base para formulação de hipóteses.
- Microteorias: Altamente específicas e menos complexas, oferecem orientações práticas relacionadas a fenômenos muito particulares.
Enfermagem como Disciplina, Ciência e Tecnologia
Enfermagem como Disciplina
A enfermagem é uma disciplina acadêmica e prática, com um corpo de conhecimento derivado de diversas áreas, como ciências físicas, biológicas e sociais. Ela é pluridisciplinar e utiliza conhecimentos de outras disciplinas para fundamentar sua prática.
Enfermagem como Ciência
A enfermagem é vista como uma ciência aplicada, usando conhecimentos de outras ciências (como biologia e comportamento) e adaptando-os às necessidades do cuidado. É também considerada uma ciência prática, pois está focada em resolver problemas específicos do cuidado.
Enfermagem como Tecnologia
A enfermagem não é apenas uma ciência ou arte, mas pode ser considerada uma tecnologia, pois aplica conhecimentos científicos para resolver problemas práticos no cuidado de saúde.
Importância do Marco Referencial e Conceitual
Um marco referencial organiza o corpo de conhecimento da enfermagem, guiando o planejamento assistencial e permitindo maior flexibilidade e racionalidade nas intervenções. Ele reforça a relação entre teoria e prática, promovendo uma prática crítica e baseada em evidências.
Motivos para Aprender Teorias de Enfermagem
- Motivos Filosóficos: A filosofia tem um papel essencial no desenvolvimento das teorias de enfermagem, oferecendo bases de conhecimento e instrumentos valiosos. Florence Nightingale, por exemplo, foi muito influenciada por filósofos.
- Motivos Histórico-Científicos: Até 1960, as teorias explicavam a prática da enfermagem. Depois disso, a enfermagem passou a adotar uma abordagem mais científica, influenciada pelo positivismo, enfatizando a criação e teste de teorias.
- Motivos Profissionais: A prática da enfermagem é complexa e precisa ser orientada por teorias que expliquem e justifiquem suas ações. Além disso, as teorias ajudam a guiar a prática baseada em valores acadêmicos e apoiam o Processo de Enfermagem.
Visão Geral de uma Teoria
Uma teoria é um conjunto de pressupostos, princípios ou proposições que ajudam a explicar e orientar ações na prática de enfermagem. O metaparadigma da enfermagem abrange conceitos fundamentais: indivíduo, ambiente, saúde e enfermagem.
Componentes do Metaparadigma
- Indivíduo: Visto como um ser capaz de se recuperar com apoio adequado.
- Ambiente: Exerce forte influência na saúde do ser humano, sendo crucial alterar o ambiente para promover bem-estar.
- Saúde: Considerada um processo natural de recuperação, influenciada por fatores ambientais.
- Enfermagem: Um processo que restaura a saúde e promove o bem-estar do paciente, agindo de forma terapêutica.
Finalidades de uma Teoria de Enfermagem
As teorias servem para descrever, explicar, prever e prescrever fenômenos relacionados à prática de enfermagem, ajudando a desenvolver hipóteses e guiar pesquisas.
Escolhendo um Modelo de Enfermagem
A escolha de um modelo adequado envolve conhecer as variáveis que afetam a situação do paciente. Deve-se considerar o foco, os conceitos centrais e como eles se relacionam. Diferentes modelos levam a diferentes formas de cuidado.
Principais Teorias de Enfermagem
Entendendo as Teorias de Enfermagem:
Teoria Ambientalista (Florence Nightingale)
Enfatiza o papel do ambiente na recuperação do paciente. O ambiente deve ser ajustado para fornecer ar fresco, luz, calor, higiene e silêncio adequados para promover a saúde.
Teoria das Relações Interpessoais (Hildegard Peplau)
Foca no relacionamento interpessoal entre enfermeiro e paciente. Esse processo se desenvolve em quatro fases: orientação, identificação, exploração e resolução.
Teoria das 14 Necessidades Básicas (Virginia Henderson)
Define a enfermagem como a ajuda ao indivíduo, doente ou saudável, para realizar atividades que contribuem para sua saúde ou recuperação, que ele faria sem assistência se tivesse força, vontade ou conhecimento.
Teoria de Martha Rogers
Vê o ser humano como um todo unificado, com campos energéticos que interagem com o universo. A enfermagem busca promover a harmonia desses campos energéticos para a saúde.
Teoria do Déficit de Autocuidado (Dorothea Orem)
O autocuidado é uma atividade aprendida que o indivíduo realiza em seu próprio interesse. A enfermagem é necessária quando o indivíduo não consegue realizar autocuidado suficiente.
Teoria do Modelo de Adaptação (Callista Roy)
Vê o cliente como um sistema adaptativo que precisa se ajustar às mudanças. A enfermagem ajuda a pessoa a adaptar-se às necessidades fisiológicas, ao autoconceito e às funções desempenhadas.
Teoria do Cuidado Transpessoal (Jean Watson)
O cuidado é visto como uma atividade que envolve aspectos emocionais, espirituais e cósmicos do ser humano. A enfermagem busca promover a saúde e prevenir a doença por meio de uma relação humana e profunda de cuidado.
Resoluções COFEN e o Impacto na Enfermagem
Resolução COFEN nº 272/2002
Mudança para enfermeiros: Definiu o papel específico do enfermeiro auditor, mas não envolveu diretamente os técnicos de enfermagem.
Impacto da Resolução 272/2002
Enfermeiros passaram a atuar de forma estruturada na auditoria de serviços de saúde, sendo responsáveis pela avaliação da qualidade, o que não se aplica aos técnicos de enfermagem.
Resolução COFEN nº 358/2009
Mudança para enfermeiros: Estabeleceu que o enfermeiro é o responsável por coordenar o Processo de Enfermagem, realizando diagnóstico de enfermagem, planejamento e avaliação dos cuidados.
Mudanças para Técnicos de Enfermagem (358/2009)
Os técnicos de enfermagem passaram a atuar na execução das ações planejadas, sob a supervisão do enfermeiro, sem poder realizar diagnósticos ou planejamento do cuidado.
Impacto da Resolução 358/2009
Enfermeiros ganharam mais autonomia e responsabilidade sobre o planejamento e avaliação do cuidado, enquanto os técnicos ficaram mais focados na execução das tarefas sob orientação do enfermeiro.
Resolução COFEN nº 736/2024
Mudança para enfermeiros: Os enfermeiros têm responsabilidade sobre a integração de tecnologias digitais, a segurança de dados e a coordenação do cuidado multidisciplinar.
Mudanças para Técnicos de Enfermagem (736/2024)
Os técnicos seguem sob supervisão dos enfermeiros, mas precisam se adaptar ao uso de novas tecnologias na prática diária e garantir a segurança dos dados durante a execução dos cuidados.
Impacto da Resolução 736/2024
Enfermeiros precisam dominar novas tecnologias e protocolos de segurança, enquanto os técnicos, embora mais executores, também devem se capacitar no uso dessas tecnologias para assegurar um cuidado eficiente e seguro.
Teorias de Médio Alcance (TMA)
Definição de TMA
As TMA são teorias específicas e focadas, utilizadas para guiar a prática da enfermagem. Elas não são tão amplas quanto as “grandes teorias” da enfermagem (que abordam conceitos gerais, como saúde e cuidado), mas também não são tão restritas quanto as “microteorias” (que tratam de situações muito específicas).
Essas teorias procuram responder a situações comuns na prática clínica, oferecendo uma base teórica para melhorar o cuidado com base em necessidades específicas.
Classificações das TMA
- Descritivas: Têm como objetivo descrever ou classificar fenômenos. Um exemplo é a taxonomia de diagnósticos de enfermagem, que organiza conceitos essenciais à prática.
- Explicativas: Investigam a relação entre conceitos, preocupando-se em entender como esses conceitos interagem. Por exemplo, o modelo de raciocínio clínico OPT (Outcome-Present state-Test) explora o processo de raciocínio do enfermeiro.
- Preditivas: Essas teorias tentam prever como mudanças em um conceito podem impactar outros, criando modelos de causalidade.
Exemplos de TMA no Brasil
- Teoria Interativa de Amamentação: Criada para apoiar o cuidado durante o processo de amamentação, considerando aspectos da interação mãe-filho e as percepções dos envolvidos.
- Teoria de Atenção à Saúde Mental: Desenvolvida para orientar o cuidado de enfermagem em saúde mental.
- Teoria do Cuidado no Contexto de Risco Cardiovascular: Focada em pacientes com risco cardiovascular, auxiliando no entendimento e na prevenção de complicações.
Importância das TMA
As TMA ajudam a conectar teoria e prática de forma específica e prática. Elas guiam intervenções em situações clínicas reais, permitindo ao enfermeiro aplicar um cuidado mais direcionado e eficaz.
Facilitam o desenvolvimento de novas abordagens e intervenções baseadas em evidências para resolver problemas específicos enfrentados na prática.
Origem e Evolução das TMA
As TMA foram sugeridas pela primeira vez na sociologia em 1960 e introduzidas na enfermagem em 1974. Essa adaptação para a enfermagem permitiu que elas fossem utilizadas para abordar problemas concretos e específicos da área de saúde.
Características das TMA
- Menos abstratas do que as grandes teorias, as TMA oferecem uma visão “média” da realidade.
- Têm um número limitado de conceitos que são claros e operacionais, permitindo a geração de hipóteses testáveis.
- Emanam tanto das grandes teorias quanto da prática clínica, revisões de literatura e diretrizes práticas, consolidando-se como uma importante ferramenta para a prática assistencial.
Processo de Enfermagem (PE)
Histórico e Desenvolvimento do PE
O PE surgiu nos Estados Unidos nos anos 1950 como uma forma de guiar o pensamento crítico dos estudantes de enfermagem, permitindo que desenvolvessem habilidades para identificar e resolver problemas de saúde.
No Brasil, o PE foi introduzido na década de 1970, quando foi adaptado para ser um método estruturado de assistência de enfermagem. A enfermeira Wanda Horta, influenciada pela Teoria das Necessidades Humanas Básicas, foi pioneira nesse processo.
Importância do PE
O PE é fundamental para garantir um cuidado sistemático, planejado e cientificamente fundamentado. É uma ferramenta que assegura que o cuidado ao paciente seja individualizado, adequado às necessidades e pautado em evidências.
Além de padronizar a prática da enfermagem, o PE também fortalece a autonomia profissional, ajudando o enfermeiro a tomar decisões com base em avaliações detalhadas.
Diferença entre PE e SAE
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE): É o sistema organizacional que permite a aplicação do PE. Ela organiza o trabalho profissional, estabelecendo um método, o dimensionamento da equipe, instrumentos de coleta de dados, entre outros.
Processo de Enfermagem (PE): É o método específico que guia o pensamento crítico e a prática clínica da enfermagem, composto por cinco etapas interligadas (avaliação, diagnóstico, planejamento, implementação e evolução).
As Cinco Gerações do PE
- 1ª Geração (1950-1970): Foco nos problemas do paciente e sua resolução, com práticas de enfermagem fortemente vinculadas a prescrições médicas.
- 2ª Geração (1970-1990): Introdução do diagnóstico de enfermagem e fortalecimento do raciocínio clínico para solucionar problemas específicos de saúde.
- 3ª Geração (2000-2010): Especificação e teste de resultados de enfermagem, com ênfase na avaliação dos resultados das intervenções.
- 4ª Geração (2010-2020): Uso de classificações de diagnósticos e intervenções padronizadas.
- 5ª Geração (2020-2040): Integração de modelos preditivos de cuidado com base em dados coletivos e individuais, projetando uma assistência mais precisa e personalizada.
Dificuldades de Implementação do PE
Apesar de sua importância, a implementação do PE enfrenta dificuldades, como falta de capacitação dos profissionais, resistência por parte de alguns membros da equipe, sobrecarga de trabalho, falta de recursos e apoio institucional.
Estrutura do PE
O PE se organiza em cinco etapas inter-relacionadas e cíclicas, garantindo a continuidade e o ajuste do cuidado:
- Avaliação: Coleta de dados subjetivos (entrevista) e objetivos (exame físico) para entender as necessidades do paciente.
- Diagnóstico de Enfermagem: Identificação de problemas de saúde específicos que exigem intervenção de enfermagem.
- Planejamento: Definição das ações e objetivos para resolver ou minimizar os problemas identificados.
- Implementação: Execução das intervenções planejadas.
- Evolução (Avaliação): Revisão dos resultados das intervenções e ajustes no plano de cuidado conforme necessário.
Objetivo Final do PE
O PE permite que o enfermeiro forneça uma assistência de qualidade, cientificamente embasada, e voltada para as necessidades do paciente, promovendo, assim, um cuidado mais seguro, eficaz e humano.