Fundamentos Essenciais da Anestesiologia Veterinária: Guia de Q&A
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Efeitos da Aplicação Acidental de Atropina em Cães
Jade, a nova estagiária de anestesiologia da clínica veterinária do ICESP, estava auxiliando a veterinária de plantão. Ambas preparavam um animal para cirurgia. A veterinária solicitou a Jade que pegasse uma ampola de morfina para fazer a MPA (Medicação Pré-Anestésica), mas Jade, distraída com o WhatsApp, pegou atropina, a qual foi aplicada acidentalmente no animal.
Diante desta situação, explique quais os efeitos que o anticolinérgico poderá ocasionar no organismo do animal.
Resposta: Efeitos da Atropina (Anticolinérgico)
O anticolinérgico poderá ocasionar os seguintes efeitos no organismo do animal:
- Redução das secreções.
- Sistema Cardíaco: Pode causar bradicardia, bloqueio atrioventricular e redução no inotropismo.
- Ocular: É um midriático (causa dilatação da pupila).
- Gastrointestinal: Promove aumento da produção do suco gástrico (embora o efeito primário seja a redução da motilidade).
- Pulmonar: Promove broncoconstrição.
Aferição da Pressão Arterial Não Invasiva (PANI)
Explique como funciona a aferição da Pressão Arterial Não Invasiva (PANI) e que fatores podem influenciar a precisão da aferição por este método.
Resposta: Funcionamento e Fatores de Influência da PANI
Funcionamento da PANI
A aferição da PANI pode ser realizada por dois métodos principais:
- Método Auscultatório (Esfigmomanômetro): Consiste em obstruir o fluxo de uma artéria inflando o manguito até o ponto de cortar o fluxo sanguíneo arterial. Logo após, o manguito é esvaziado gradativamente e é auscultado o retorno do fluxo sanguíneo. O retorno significa a pressão arterial sistólica.
- Método Oscilométrico (Monitores): Este método identifica a força do pulso na artéria e transforma essa oscilação em valores numéricos.
Fatores que Influenciam a Precisão da PANI
- A hipotensão severa pode influenciar na correta leitura.
- O tamanho do manguito pode influenciar: se for muito pequeno ou mal posicionado, pode superestimar a pressão, dando valores acima do real.
Bloqueio dos Nervos Mandibular e Maxilar em Cães
Um cão deu entrada na emergência da clínica veterinária do ICESP por ter sido baleado na altura do rosto. Após análise do cirurgião e exames sanguíneos realizados, o animal foi encaminhado ao serviço de anestesiologia. Foi definido que o animal passará por um procedimento cirúrgico na região bucomaxilofacial, sendo necessário fazer o bloqueio do nervo mandibular e maxilar.
Descreva a técnica para bloquear os nervos citados, a região que ficará dessensibilizada e se houver alguma possibilidade de complicação, as explique.
Resposta: Técnica e Complicações do Bloqueio Mandibular
Técnica do Bloqueio Mandibular
O bloqueio mandibular é feito pela inserção da agulha no forame mandibular, que fica 1 a 2 cm dorsalmente ao processo angular da mandíbula.
Região Dessensibilizada
Dessensibiliza toda a mandíbula e tecidos adjacentes, incluindo:
- Lábio inferior.
- Dentes molares, pré-molares, canino e incisivo.
- Língua.
Complicações
A maior complicação é a mordedura da língua pelos animais devido à perda temporária da sensibilidade.
Interpretação de Ondas Eletrocardiográficas (ECG)
Análise da Onda P
Observe as ondas eletrocardiográficas na figura abaixo:
ONDA P
A respeito da figura acima, responda:
A) Que onda está apontada pelas setas? O que ela representa?
B) Qual é a arritmia que este traçado eletrocardiográfico nos mostra?
Resposta: Onda P e Bloqueio Atrioventricular
O traçado indica um distúrbio de condução elétrica ou bloqueio atrioventricular.
A onda P aparece afastada do complexo QRS, revelando que a condução elétrica pelo nó atrioventricular está mais lenta. Este distúrbio elétrico é conhecido como Bloqueio Atrioventricular de Primeiro Grau.
Análise da Onda T
Observe as ondas eletrocardiográficas na figura abaixo:
ONDA T
A respeito da figura acima, responda:
A) Que onda está apontada pelas setas? O que ela representa?
B) Qual é a arritmia que este traçado eletrocardiográfico nos mostra?
Resposta: Onda T e Distúrbios Eletrolíticos
A onda T pode indicar hipóxia transitória do miocárdio ou distúrbio eletrolítico (como a hipercalemia – valores altos de potássio no sangue).
Anestesia Epidural em Cães
Em relação à anestesia epidural em cães, responda:
A) Descreva a técnica.
B) Como podemos confirmar que a agulha está no canal epidural?
C) Quais os riscos que esta técnica pode trazer?
Resposta: Técnica, Confirmação e Riscos da Epidural
A) Descrição da Técnica
O animal deve estar em posição de esfinge, com os membros pélvicos distendidos cranialmente. A região de punção é L7-S1, tendo como referência a asa do íleo. A agulha é inserida abaixo do ligamento amarelo e acima das meninges.
B) Confirmação da Posição da Agulha
O teste para confirmar é chamado de Teste da Gota Pendente: uma pequena gota de líquido é colocada no canhão da agulha. Após romper o ligamento amarelo, a gota é sugada, pois no espaço epidural a pressão é negativa. Além disso, quando se está no espaço epidural, não há resistência na agulha, e o líquido flui facilmente.
Regiões Dessensibilizadas: Membros pélvicos, cauda, períneo. Dependendo do volume, pode atingir regiões torácicas e abdômen.
C) Riscos e Complicações
- Punção venosa acidental: Pode formar um hematoma que, por sua vez, pode comprimir os nervos.
- Lesão direta na medula: Risco maior em gatos, pois a medula deles termina em L7, enquanto a medula do cão termina em L6.
Anestésicos Locais: Associação com Vasoconstritores e Bicarbonato
Em relação aos anestésicos locais, descreva:
A) Por que eles são associados a vasoconstritores? Há alguma contraindicação?
B) Por que eles são associados ao bicarbonato?
Resposta: Farmacologia dos Anestésicos Locais
A) Associação com Vasoconstritores
A associação com vasoconstritores serve para promover vasoconstrição local, o que resulta em:
- Diminuição da absorção sistêmica do anestésico.
- Aumento do tempo de duração do efeito anestésico.
Contraindicação: Deve-se ter cautela em pacientes cardiopatas para diminuir o risco de intoxicação sistêmica.
B) Associação com Bicarbonato
O objetivo de usar o bicarbonato é alcalinizar o pH local. Isso faz com que se tenha mais anestésico local na forma não ionizada, que possui rápida absorção e penetração nas membranas nervosas. O anestésico local também pode ser associado a opioides para promover analgesia potencializada.
Hipercapnia Durante o Procedimento Anestésico
Em relação à hipercapnia, relate alguns fatores que podem levar o animal a acumular CO2 no sangue durante o procedimento anestésico.
Resposta: Fatores Causadores de Hipercapnia
Fatores que podem levar ao acúmulo de CO2 (hipercapnia) no sangue durante a anestesia incluem:
- Insuficiência respiratória.
- Insuficiência cardíaca.
- Doença pulmonar preexistente.
- Ventilação insuficiente (hipoventilação).
- Baixo fluxo de oxigênio no sistema.
- Cal sodada exaurida (incapaz de absorver o CO2 exalado).
- Mau funcionamento do ventilador mecânico.
Anestésicos Inalatórios: Características e Efeitos Fisiológicos
Faça uma explanação sobre os anestésicos inalatórios. Fale sobre suas características, vantagens e desvantagens de seu uso, mecanismo de ação e seus efeitos nos diversos sistemas fisiológicos.
Resposta: Anestésicos Voláteis
Características e Mecanismo de Ação
Os anestésicos inalatórios são administrados por via aérea, mantendo a via aérea com administração de O2. Eles proporcionam rápida indução e rápida recuperação, com mínimo comprometimento da biotransformação, sendo a excreção basicamente pulmonar.
O mecanismo de ação envolve a administração pela via pulmonar, onde o ar alveolar, saturado com anestésico, entra em contato com o sangue alveolar, sendo captado, distribuído e, por fim, alcança o SNC (Sistema Nervoso Central) por difusão passiva.
Vantagens e Desvantagens
- Vantagem: A recuperação é rápida.
- Desvantagem: É necessário um profissional especializado para o manejo.
Efeitos Fisiológicos
- Sistema Respiratório: Pode ocorrer a redução do volume respiratório e redução dos níveis de O2, com consequente aumento dos níveis de CO2. Para compensar a depressão respiratória, é necessária ventilação assistida ou mecânica para manter os níveis de CO2 adequados.
- Sistema Cardiovascular: Todos os anestésicos voláteis diminuem o débito cardíaco de maneira dose-dependente. A hipercapnia promove depressão cardíaca e vasodilatação periférica, causando queda da pressão arterial. O organismo tenta compensar ativando o SNA (Sistema Nervoso Autônomo) simpático.
Problemas na Anestesia Geral de Equinos
Quais os problemas que podem surgir na anestesia geral de um equino e como lidar com eles?
Resposta: Riscos e Manejo na Anestesia de Equinos
Por ser um animal de grande porte, a anestesia de equinos apresenta riscos específicos:
- Efeito Supino: Durante a cirurgia, as vísceras podem comprimir grandes vasos, levando à insuficiência cardíaca e insuficiência respiratória.
- Miosite e Lesões: Devido ao peso, podem ocorrer traumas e lesões musculares (miosite) e nervosas.
- Outros Problemas: Jejum mal executado, sala mal preparada, contenção inadequada.
Manejo e Prevenção
É essencial garantir:
- Proteção e acolchoamento adequado para evitar miosite.
- Suporte de levantamento do animal (recuperação).
- Monitoramento rigoroso para evitar o efeito supino prolongado.
Mecanismo de Ação dos Bloqueadores Neuromusculares
Disserte sobre o mecanismo de ação dos bloqueadores não despolarizantes e despolarizantes.
Resposta: Bloqueadores Musculares
Bloqueadores Não Despolarizantes (BNDs)
Os BNDs são antagonistas competitivos da Acetilcolina (ACh) no receptor nicotínico pós-sináptico. Eles ocupam os receptores nicotínicos, impedindo que a ACh se ligue. Consequentemente, não há contração muscular. Eles se ligam a uma ou ambas as subunidades alfa do receptor, impedindo a ligação da ACh que ocasionaria a despolarização.
Bloqueadores Despolarizantes (BDs)
Os BDs se ligam aos receptores nicotínicos, promovendo a despolarização da fibra muscular, mimetizando a ação da Acetilcolina (ACh). Estruturalmente, a succinilcolina (o principal BD) se liga às duas subunidades alfa do receptor, resultando em despolarização da membrana. A despolarização resulta rapidamente em contração muscular, observada clinicamente na forma de fasciculações.
Após a despolarização, o potencial de membrana deve ser restabelecido antes que uma próxima despolarização possa ocorrer. Até que isso ocorra, o músculo permanece em um estado de relaxamento flácido.
Concentração Alveolar Mínima (CAM)
O que significa a Concentração Alveolar Mínima (CAM)? Que fatores podem influenciar a CAM?
Resposta: Definição e Fatores de Influência da CAM
Definição de CAM
CAM é a concentração necessária de anestésico inalatório para abolir a resposta a um estímulo doloroso em 50% dos pacientes. A CAM refere-se à potência do anestésico inalatório.
Fatores que Influenciam a CAM
Fatores que Aumentam a CAM (Requerem mais anestésico):
- Idade jovem (animais jovens requerem uma quantidade maior de anestésico para manter o plano).
- Hipertermia.
Fatores que Diminuem a CAM (Requerem menos anestésico):
- Anemia.
- Hipotensão.
- Hipotermia.
- Hipoxemia.
- Administração concomitante com opioides.
- Administração de MPA (Medicação Pré-Anestésica).
- Gestação.
Intubação Traqueal: Objetivos e Riscos
Quais os objetivos da intubação traqueal em pacientes anestesiados? Quais riscos podem advir deste procedimento?
Resposta: Finalidade e Complicações da Intubação
Objetivos da Intubação Traqueal
A intubação traqueal tem como objetivos principais:
- Garantir a via aérea permeável.
- Proteger contra a possível entrada de água ou conteúdo gastrointestinal (aspiração).
- Garantir a pressão positiva para ventilação mecânica.
Riscos do Procedimento
- Uso do tubo errado: Pode causar isquemia traqueal ou ruptura traqueal.
- Intubação seletiva: O tubo é inserido muito profundamente, ventilando apenas um lado do pulmão, resultando em ventilação insuficiente.