Fundamentos da Psicologia: Agressão, Amor, Perceção e Memória
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Teorias sobre a Origem da Agressividade
Definir a origem da agressividade é um dos temas que mais debates e polémica suscita. A questão central envolve saber se a agressividade é inata ou se é produto da aprendizagem.
Perspetivas Inatas (Instintivas)
- Freud: A agressividade é inata, instintiva, de origem biológica, constituindo uma pulsão destrutiva.
- Lorenz: Tal como Freud, defende a perspetiva do instinto. A agressividade é um impulso específico que conduz à agressão, sendo parte integrante da natureza humana e importante para a sua sobrevivência.
Estes dois autores defendiam que a energia agressiva se acumulava dentro da pessoa, como a água por trás de uma barragem.
Hipótese Frustração-Agressão (Dollard)
No final da década de 60, Dollard propôs a hipótese frustração-agressão, segundo a qual a agressão é desencadeada pela frustração. A frustração deriva da discrepância entre as expectativas e as realizações. Esta teoria recebeu muitas críticas, pois nem todas as pessoas reagem à frustração através de comportamentos agressivos.
Agressão como Comportamento Aprendido (Bandura)
A conceção de Bandura apresenta a agressão como um comportamento aprendido/adquirido. Este resulta da observação e imitação de comportamentos agressivos no processo de socialização.
O Modelo Triangular do Amor de Sternberg
Para responder à pergunta “o que têm em comum as várias espécies de amor e como compreender as diferenças?”, Sternberg elaborou o Modelo Triangular do Amor. Segundo este autor, o amor tem três componentes/dimensões:
- Intimidade: Corresponde a sentimentos que visam a proximidade emocional, a união, a compreensão mútua e a partilha (componente essencialmente emocional).
- Paixão: Envolve um intenso desejo sexual e uma vontade irreprimível de estar com o outro (componente essencialmente motivacional).
- Compromisso: Corresponde à intenção de manter um compromisso e uma relação amorosa (componente essencialmente cognitiva).
As diferentes relações que estabelecemos refletem cada dimensão em proporções distintas, em quantidades que podem variar com o tempo. O amor consumado integra estas três dimensões: as pessoas partilham uma grande intimidade e paixão, bem como um compromisso, ou seja, a decisão consciente de participar na relação.
A Mente como um Conjunto Integrado de Processos
Durante muito tempo, o conceito de mente foi associado apenas à dimensão cognitiva do ser humano. É no final do século XX que esta conceção é revista. Por influência das descobertas das neurociências e pelas novas perspetivas sobre o ser humano, a mente passa a ser encarada como um sistema que integra:
- Processos Cognitivos (saber)
- Processos Emocionais (sentir)
- Processos Conativos (fazer)
Importa acentuar que a mente não é uma coleção de processos, nem um somatório de dimensões psicológicas autónomas. É, antes, uma manifestação total de processos dinâmicos que interagem constantemente de forma complexa: os processos mentais implicam-se mutuamente de forma integrada.
Sensação e Perceção
Relação entre Sensação e Perceção
A sensação e a perceção são processos interdependentes. Só depois de atuar a sensação é que a perceção pode interpretar os estímulos do exterior. A sensação é o modo como os sentidos (afetivos, visuais, táteis e auditivos) captam/recebem os estímulos do exterior. Após a captação desses estímulos externos, permite que as informações sejam transmitidas ao cérebro. A interpretação da sensação é feita pela perceção.
A perceção é um processo ativo de organização e interpretação das informações sensoriais; não se limita ao registo da informação, mas implica a atribuição de sentido. É uma atividade cognitiva influenciada por diversos fatores: a capacidade sensorial (por isso a perceção depende da sensação), a idade, as experiências anteriores e o conhecimento prévio. Concluímos que a sensação e a perceção conjugam-se sequencialmente na apreensão e construção mental do mundo envolvente.
Fatores que Contribuem para a Subjetividade da Perceção
Para se compreender este processo cognitivo, é importante reconhecer a subjetividade da nossa perceção do mundo: percebemos o meio que nos rodeia em função dos nossos conhecimentos anteriores, das nossas necessidades, dos nossos interesses, valores e expectativas, e não de uma maneira neutra e objetiva. Além disso, a perceção permite-nos antecipar consequências, prever acontecimentos e prepararmo-nos para eles. Já referimos que os estados emocionais e a motivação afetam as nossas perceções e as nossas representações. O interesse sobre determinado objeto ou assunto torna-nos mais sensíveis à perceção do que lhe está relacionado. Os estímulos percetivos são selecionados pela nossa atenção de acordo com os nossos interesses.
A expectativa afeta também as nossas perceções, podendo até levar-nos a errar: quando estamos à espera de uma pessoa, é frequente sermos iludidos e percecionarmos essa pessoa noutras que passam.
Manifestações da Constância Percetiva
A perceção visual é a que mais interfere com a interpretação que fazemos da realidade; dito de outra maneira, a imagem que temos do mundo não é a realidade tal e qual como ela é, é sim a interpretação que fazemos do mesmo.
Algumas situações em que estão envolvidas perceções visuais, designadamente a constância percetiva são:
- Constância de Tamanho: Percecionamos o tamanho de um objeto ou de uma pessoa independentemente da distância a que se encontre. Quanto mais longe um objeto está, mais pequeno parece. No entanto, o cérebro interpreta os dados que recebe mantendo constante o tamanho.
- Constância da Forma: Um objeto nunca forma a mesma imagem na retina: a luz é diferente, tal como o ângulo do olhar, a distância muda constantemente, etc., mas nós reconhecemo-lo. Percecionamos a roda de um automóvel redonda, mesmo que o ângulo de visão lhe dê uma forma elíptica, percecionamos a porta como retangular quando, ao abri-la, ela perde essa forma.
- Constância do Brilho e da Cor: Nós mantemos constantes o brilho e a cor dos objetos, mesmo quando as circunstâncias físicas nos dão outra informação. Percecionamos uma casa branca em plena luz do sol e mantemos constante a cor, à noite; percecionamos o sangue sempre vermelho, a neve sempre branca, independentemente da quantidade de luz.
Memória e Esquecimento
A Importância e Estrutura da Memória
A memória retém acontecimentos, ideias, encontros e datas de aniversário. É o suporte dos processos aprendidos, ou seja, da sobrevivência da vida humana. A memória assegura-nos a nossa identidade pessoal. A memória divide-se em dois tipos: memória a curto prazo e memória a longo prazo.
A Memória a Curto Prazo (MCP) subdivide-se em:
- Memória Imediata: Aquela que permite memorizar algo dependendo do tempo em que estamos a visualizá-la. Por exemplo: quando se olha fixamente para um número de telefone, consegue-se memorizar 7 dígitos.
- Memória de Trabalho: Aquela em que memorizamos algo até ao momento que nos interessa. Por exemplo, quando estudamos para certos testes, memorizamos/decoramos certos conceitos, que assim que saímos do teste, esquecemo-nos dessa informação, mas por vezes podemos mandar estas informações para a memória a longo prazo.
Tipos de Memória a Longo Prazo (MLP)
Memória Não Declarativa (Implícita): É uma memória automática. Há comportamentos que dependem desta memória: andar de bicicleta, apertar os atacadores, lavar os dentes, pentear o cabelo. São comportamentos do dia a dia que, com o exercício, o hábito e a repetição, tornam esta atividade automática e reflexa. É algo que não conseguimos declarar/contar verdadeiramente como ela foi.
Memória Declarativa (Explícita): Implica a consciência do passado, do tempo, reportando-se a acontecimentos, factos, pessoas. Dentro dela distinguem-se dois subsistemas:
- Memória Episódica: Envolve recordações, como os rostos dos teus familiares, amigos e ídolos, as tuas músicas preferidas, factos e experiências pessoais. Reporta-se a lembranças da tua vida pessoal, sendo, portanto, uma memória pessoal que manifesta uma relação íntima entre quem recorda e o que se recorda.
- Memória Semântica: Refere-se ao conhecimento geral sobre o mundo, por exemplo, as leis da química, os factos históricos, as fórmulas da matemática, a gramática, onde não há localização de tempo.
A Memória como Processo Ativo e Reconstrutivo
A memória é um processo ativo e dinâmico na medida em que não reproduz fielmente aquilo que armazenou. A memória reconstrói os dados, o que implica que dê mais relevo a uns, distorça outros ou mesmo os omita. Por outro lado, quando os acontecimentos são muito emotivos, a memória deixa escapar pormenores que depois são substituídos/reconstruídos pelo cérebro. Quem conta um conto, acrescenta um ponto e, assim, quanto mais se reproduz o que aconteceu, mais elaborada e complexa vai ficando a história, chegando a um ponto em que muitos factos não passam de imaginação.
No entanto, as representações que temos são sempre tão claras como se fossem plenas reproduções da realidade, o que faz com que este processo ativo e dinâmico nos passe completamente despercebido. Por este motivo, o mesmo acontecimento pode ser descrito de formas bastante diferentes por diferentes pessoas. Não mentem, apenas têm diferentes interpretações resultantes de diferentes sentimentos, emoções e atenção.
O Esquecimento: Um Processo Inerente à Memória
Memorizar e esquecer são processos inerentes ao normal funcionamento do psiquismo. A memória é um processo cognitivo, é o suporte dos processos aprendidos, ou seja, da sobrevivência da vida humana. A memória assegura-nos a nossa identidade pessoal. Retém acontecimentos, ideias, datas. É o fator básico da identidade pessoal. Se perdêssemos a memória, deixaríamos de ser quem somos, este património torna-nos únicos.
O esquecimento é a incapacidade de recordar, de recuperar dados, informações, experiências vividas que ao longo da nossa vida foram memorizadas. É por esquecermos que continuamos a reter informação. O esquecimento tem como função selecionar as informações que lhe interessam, tendo uma função seletiva e adaptativa. O esquecimento pode ser efetuado por doenças, mas as causas do esquecimento estudadas foram:
- Esquecimento Regressivo: Processo normal que faz parte do envelhecimento do cérebro, que perde a capacidade de relembrar tudo o que já passou. Ocorre quando surgem dificuldades em reter novos materiais e recordar conhecimentos, factos e nomes aprendidos recentemente. Pode ser devido à degenerescência dos tecidos cerebrais.
- Esquecimento Motivado (Recalcamento): Segundo Freud, seria através do recalcamento que os conteúdos do inconsciente seriam impedidos de aceder à consciência. É um processo pelo qual pensamos, desejamos, sentimos e recordamos; as recordações dolorosas são afastadas da consciência com o objetivo de reduzir a tensão provocada por conflitos internos.
- Interferência das Aprendizagens: As novas memórias interferem com a recuperação das memórias antigas. Nestas memórias antigas, quando não nos conseguimos lembrar de tudo, fazemos então modificações em um determinado assunto ou momento, devido geralmente ao efeito de transferências de aprendizagens e experiências posteriores. Às vezes, até nos parece que esquecemos algum acontecimento devido às alterações nele sofridas.
Assim, concluímos que o esquecimento tem um papel fundamental na memória.
A Perceção como Construção Mental
As perceções não são cópias do mundo à nossa volta. A perceção não reproduz o mundo como um espelho; o cérebro não regista o mundo exterior como um fotógrafo tridimensional, mas sim constrói uma representação mental ou imagem da realidade.
Na perceção visual, que é a grande fonte de informação sobre o mundo, há todo um processo biológico complexo em que o estímulo visual é transformado, não se projetando no nosso cérebro como um slide num ecrã. Os estímulos luminosos, que sensibilizam a nossa retina, são codificados em impulsos nervosos, que são transmitidos pelos nervos óticos às áreas visuais do córtex, que os processam como uma representação.
É no nosso cérebro que se vão estruturar e organizar as representações do mundo, é no cérebro que se dá sentido ao que vemos e ouvimos. Por isso se diz que é no cérebro que se ouve, se vê, se sente o frio, o calor, os cheiros, os sabores. A informação proveniente dos órgãos sensoriais é tratada pelo cérebro. É nesta estrutura do sistema nervoso que ganha sentido e significado.