Giardíase: um guia completo
Classificado em Medicina e Ciências da Saúde
Escrito em em português com um tamanho de 6,55 KB.
Giardíase: um guia completo
O que é Giardia?
A Giardia é um protozoário flagelado parasita que coloniza o intestino de mamíferos, pássaros, répteis e anfíbios. É o parasita intestinal humano mais comum em todo o mundo. Cães, gatos, bovinos, ovinos e uma variedade de animais selvagens podem agir como reservatórios da infecção humana. Rios e cursos d'água, tanto em áreas rurais quanto urbanas, estão sob risco significativo de contaminação.
A Giardia apresenta uma distribuição mundial, com prevalência de, pelo menos, 5% na maior parte da população.
Ciclo de vida
A Giardia possui duas formas evolutivas:
- Trofozoíto: forma ativa e móvel, encontrada no trato intestinal. Possui aproximadamente 15 μm de comprimento e 8 μm de largura, em forma de gota.
- Cisto: Estágio latente e resistente, imóvel, responsável pela transmissão. Possui aproximadamente 12 μm de comprimento e 7 μm de largura. O cisto pode sobreviver por vários meses fora do hospedeiro.
Giardia lamblia, também conhecida como Giardia duodenalis ou Giardia intestinalis, é um protozoário flagelado parasita cavitário adaptado ao parasitismo monoxênico.
Encistamento:
- Ocorre no jejuno.
- É induzido pela diminuição de colesterol e pH alcalino.
- Ocorre após replicação nuclear e antes da citoquinese = 4 núcleos.
- 1º: Síntese de proteínas de membrana - Golgi se torna aparente – vesículas aparentes - Aumento da síntese de chaperonas.
- 2º: Síntese de proteínas de alto peso molecular – filamentos da membrana.
- Taxa metabólica 10-20% da do trofozoíto.
Desencistamento:
- Ocorre após a passagem pelo estômago.
- É induzido por pH ácido.
- Formação de dois trofozoítos.
Epidemiologia
Transmissão:
- Ingestão de águas não tratadas ou alimentos contaminados com água de esgoto.
- Alimentos contaminados por vetores mecânicos.
- Mãos contaminadas com fezes.
- Transmissão sexual.
O risco de infecção por Giardia é acentuado com:
- Alta densidade populacional.
- Falta de higiene e certos hábitos alimentares.
A prevalência da giardíase é mais alta em jovens, que não são imunologicamente maduros e mais propensos à ingestão de material fecal.
A suscetibilidade é aumentada em:
- Hospedeiro com transferência inadequada de imunidade materna.
- Doença concorrente.
- Estresse.
- Nutrição inadequada.
- Hospedeiros imunocomprometidos.
As deflagrações da doença em proporções epidêmicas têm sido, na maioria das vezes, atribuídas à transmissão pela água.
Quadro Clínico
- A maioria das infecções é assintomática e autolimitada, podendo haver eliminação de cistos nas fezes por longos períodos.
- Diarreia, esteatorreia, irritabilidade, náuseas e vômitos são sintomas comuns em crianças pequenas.
- Indivíduos que nunca entraram em contato com o parasita antes podem apresentar diarreia aquosa, explosiva, com odor fétido e dor abdominal – diarreia dos viajantes.
- Quadros crônicos estão associados à desnutrição e vice-versa – má absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), vitamina B12, ferro, xilose e lactose.
- Perda de peso ou redução do ganho de peso e desenvolvimento insuficiente.
Patogenia
- A Giardia provoca diarreia e má-absorção intestinal.
- Adere-se às microvilosidades do intestino delgado através de seu disco ventral suctorial e impede a absorção de nutrientes.
- Possui proteases que poderiam agir sobre glicoproteínas de superfície e lesar as microvilosidades.
- Desencadeia resposta inflamatória e imune com produção de IgA e IgE que ativa mastócitos e libera histamina – edema – aumento de motilidade – diarreia.
Diagnóstico
1. Parasitológico
- Nas fezes formadas – pesquisa de cistos com salina ou lugol pelo método de Faust.
- No fluido duodenal – pesquisa de trofozoítos em biópsia jejunal ou “Entero-test” (para casos de diarreia crônica).
- Nas fezes diarreicas – pesquisa de trofozoítos ou cistos – devem ser examinadas imediatamente após a coleta ou colocadas em soluções conservantes, pois os trofozoítos têm viabilidade curta.
2. Imunológico
- No soro – pesquisa de anticorpos por ELISA ou IFI – pouco sensível e específico.
- Nas fezes – pesquisa de antígenos por ELISA – sensibilidade em torno de 85% a 95% e especificidade de 90 a 100%.
3. Molecular
- Amostras de água – pesquisa de DNA parasitário por PCR.
Tratamento
Derivados imidazólicos:
- Metronidazol – 15 a 20mg/kg/dia durante 7 a 10 dias consecutivos para crianças; para adultos 250mg 2x/dia.
- Tinidazol – 1g/dia dose única para crianças; 2g/dia VO para adultos.
Outras drogas: nitazoxanida.
Controle e Prevenção
A infecção confere pouca resistência, e casos assintomáticos são as principais fontes de infecção. A quimioterapia em massa não se justifica.
Educação sanitária:
- Uso de latrinas e instalações sanitárias (não defecar no chão).
- Manter unhas curtas.
- Lavar as mãos após o uso do sanitário.
- Lavagem cuidadosa dos vegetais com água potável e deixá-los em imersão em ácido acético ou vinagre, durante 15 minutos, para eliminar os cistos.
Saneamento ambiental:
- Abastecimento de água abundante, de fácil acesso, potável e livre de contaminação fecal.
- Tratamento da água: floculação, sedimentação, filtração ou filtração lenta para a eliminação de cistos; permanganato de potássio (0,3 g/litro); hipossulfito 2%.
- Câmaras digestoras de tratamento de esgotos devem chegar a 60-70°C.
- Combate a moscas e baratas – remoção do lixo.
- Identificação e tratamento de indivíduos que manipulam alimentos.
- Proteção de indivíduos com exposição temporária ao risco de infecção.