Glauber Rocha: Estética da Fome no Cinema Novo

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Glauber Rocha: Uma Estética da Fome

Publicada em 1965

Texto importante sobre o cinema em geral, especialmente o cinema dos países do Terceiro Mundo.

Uma Estética da Fome traz algumas questões, exemplificando com elementos de filmes do Cinema Novo, tais como:

  • Como falar de Cinema Novo sem pensar na realidade cultural em que estamos inseridos?
  • Como o mundo subdesenvolvido pode desenvolver culturas que escapem das formas de colonialismo?
  • Como essas culturas podem expressar a realidade em que foram desenvolvidas?

Glauber Rocha propõe um cinema revolucionário na forma e no conteúdo, uma arte comprometida com a verdade.

Este cinema estaria à margem da indústria, pois "o compromisso do cinema industrial é com a mentira e a exploração."

Para Glauber Rocha, o cinema encontra grandes dificuldades para ser revolucionário. A integração econômica e industrial do Cinema Novo depende da liberdade da América Latina, pois, enquanto a América Latina lamenta suas misérias gerais, o interlocutor estrangeiro cultiva o sabor dessa miséria.

Para o observador europeu, os processos de criação artística do mundo subdesenvolvido só interessam na medida em que satisfazem sua nostalgia do primitivismo.

A Fome Latina

Originou o Cinema Novo diante do cinema mundial. Nossa originalidade é nossa fome, que, apesar de sentida, não é compreendida.

De "Aruanda" a "Vidas Secas", o Cinema Novo narrou, descreveu, poetizou, discursou e analisou os temas da fome: personagens comendo terra, roubando para comer, matando para comer, fugindo para comer.

O que fez do Cinema Novo um fenômeno de importância internacional foi seu alto nível de compromisso com a verdade. Foi seu próprio miserabilismo que, antes escrito pela literatura dos anos 30, agora era fotografado pelo cinema dos anos 60.

E, se antes era escrito como denúncia social, hoje se tornou um problema político.

O miserabilismo no cinema é evolutivo, vai do Fenomenológico (Porto das Caixas) ao Social (Vidas Secas), ao Político (Deus e o Diabo), ao Poético (Ganga Zumba), ao Demagógico (Cinco Vezes Favela), ao Experimental (Sol Sobre a Lama), ao Documental (Garrincha, Alegria do Povo) e à Comédia (Os Mendigos).

Para o europeu, esta fome é um estranho surrealismo tropical; para o brasileiro, uma vergonha nacional.

O Cinema Novo não fez melodramas: as mulheres do Cinema Novo sempre foram seres em busca de uma saída possível para o amor, dada a impossibilidade de amar com a fome.

O baiano Glauber Rocha desejava fazer do cinema não somente um ato de denúncia, mas também de mudança social.

A intenção era reconstruir a sétima arte a partir da realidade dura, feia e miserável do Terceiro Mundo, rompendo com os padrões cinematográficos europeus e estadunidenses predominantes, o chamado "ideal estético adolescente."

É possível observar o Nordeste como cenário das principais obras do Cinema Novo.

O sonho é o único direito que não se pode proibir.

Nelson Pereira dos Santos abriu caminho para o que depois chamaria de Cinema Novo, enxergando o Brasil e o povo brasileiro como ninguém havia feito antes, criando um olhar original e universal. Em quase todos os 20 longas, Nelson denunciou as mazelas do capitalismo e elogiou nossa capacidade de criar e persistir às injustiças.

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