Globalização: Impactos e Dinâmicas das Relações Comerciais
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Desde sempre que os Estados estabelecem relações comerciais entre si. A análise histórica revela que já no período dos fenícios e romanos eram estabelecidas trocas entre os Estados. A análise histórica mostra também que o processo de globalização se iniciou com o período dos descobrimentos, há mais de quinhentos anos.
De fato, as economias nacionais e as suas unidades institucionais estão ligadas por extensivas redes de relações comerciais e financeiras. Veja-se as famílias que, no dia a dia, consomem bens e serviços produzidos no exterior; as empresas que importam recursos e produtos necessários ao seu processo produtivo e exportam os seus produtos/serviços. Além disso, recorrem aos mercados financeiros para obter financiamento e investir; as instituições financeiras intervêm nos mercados internacionais como investidores e intermediários; e os próprios Estados são também agentes dessas relações comerciais e financeiras na medida em que intervêm nos mercados para realizar operações de estabilização cambial e para obter financiamento externo.
Como já referimos, as economias nacionais estão ligadas por extensivas redes de relações comerciais e financeiras, as quais trazem muitas vantagens, como por exemplo, maior variedade de bens/serviços, custos e preços mais baixos, inovações tecnológicas. No entanto, também implicam desvantagens, nomeadamente, o fato de transmitir ou transformar uma crise local numa crise global.
Definições de Internacionalização, Multinacionalização e Globalização
Internacionalização: refere-se à troca de matérias-primas, produtos acabados e semiacabados, serviços e fluxos financeiros entre dois ou mais Estados-Nação.
Multinacionalização: é o processo que se caracteriza, fundamentalmente, pela transferência e deslocalização de recursos de uma economia para outra.
Globalização: refere-se à multiplicidade de ligações e interconexões entre os Estados e as sociedades que caracterizam o presente sistema mundial. Descreve o processo pelo qual os acontecimentos, as decisões e atividades levadas a cabo numa parte do mundo acarretam consequências significativas para os indivíduos e comunidades em zonas distintas do globo.
Portanto, a noção de globalização insere-se em muitos domínios da vida. Talvez por isso existam muitas definições para o termo:
- Definições que acentuam o caráter multidimensional do processo;
- Outras que incidem mais na dimensão económica e financeira;
- Há também definições que associam o processo de globalização à dimensão política e cultural;
- E outras ainda ao sistema económico capitalista e à ideologia neoliberal.
A globalização não é um fenómeno puramente económico e tecnológico, é um processo complexo e multidimensional (envolvendo diferentes atores e tocando diversos âmbitos da vida), pelo que compreende, simultaneamente, interdependência e integração internacional.
Interdependência Internacional
Alcance e extensão do processo: Um evento ocorrido num país pode desencadear um conjunto de processos que afete e abranja a maioria do globo (conotação espacial). Com efeito, uma dimensão essencial da globalização é o seu alcance ou extensão do processo que se verifica pela crescente interligação e interdependência entre Estados, organizações e indivíduos do mundo inteiro, não só na esfera das relações económicas, mas também ao nível da interação social e política. Isto significa que acontecimentos, decisões e atividades em determinada região do globo têm significado e consequências noutras regiões distintas do mundo.
Integração Internacional
Intensificação do processo: A globalização também significa uma intensificação dos níveis de interação ou interdependência entre os Estados e sociedades que constituem a comunidade mundial. Isto é, à medida que o processo se intensifica ou aprofunda, assiste-se a uma progressiva abertura das fronteiras ao livre funcionamento dos mercados de bens/serviços e recursos produtivos. Mas a globalização não se limita ao campo económico; alcança a cultura e as instituições, as redes de comunicação e informação, as políticas públicas e a consciência social sobre questões planetárias.
Dimensões da Globalização
Uma outra dimensão da globalização é a desterritorialização, ou seja, as relações entre os homens e entre instituições, sejam elas de natureza económica, política ou cultural, tendem a desvincular-se das contingências do espaço. As alterações decorrentes de todo este processo transformaram um comércio puramente nacional num comércio globalizado, em que praticamente o mercado é o mundo inteiro.
Causas e Fatores que Favorecem o Processo de Globalização
Com efeito, o crescimento dos fluxos internacionais de bens e serviços, pessoas, capitais, fluxos financeiros e informação refletem e são o resultado da conjugação de um conjunto de fatores:
- Progresso tecnológico: Avanço das tecnologias em áreas chave e o declínio acentuado dos custos de transporte e comunicações internacionais. De fato, o avanço tecnológico, em diferentes domínios, permitiu aumentar a rapidez e facilidade de comunicação e de transporte, conduzindo a uma redução acentuada dos custos. Estas inovações permitiram, por exemplo, a contentorização, intermodalidade, transporte aéreo, facilitando a circulação de mercadorias em grande escala. Tudo isto, associado aos avanços na tecnologia da informação (internet, satélites, …) e comunicação, traduziu-se na redução do tempo e custos, o que, por sua vez, favorece todo o processo de globalização.
- Fatores competitivos: A alteração dos métodos de produção, a descoberta de novos produtos (por exemplo, os microprocessadores, telefones móveis, computadores pessoais), a existência de empresas multinacionais favoreceram o aumento da produção mundial e permitiram aumentos de eficiência dos processos produtivos. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC) (2008, p.23), a substituição, em grande escala, do carvão pelo petróleo e gás foi um fator impulsionador da globalização, na medida em que se traduziu numa fonte de energia fundamental (abundante e de mais baixo custo) para o crescimento económico, mas também porque integrou os países exportadores de petróleo do Médio Oriente na economia mundial.
- Liberalização e desregulamentação: Após a 2ª GM, assiste-se à constituição de Organismos Internacionais (OI) que, juntamente com os Estados nacionais, defendem e reconhecem a importância dos mercados livres, o que tem conduzido à definição e estabelecimento de um conjunto de políticas económicas como a redução das barreiras ao comércio (OMC, EU,…), liberalização dos movimentos de capitais (desmantelamento das barreiras ao investimento, desregulamentação dos mercados), integração dos mercados,…
- Integração regional: Formação de blocos regionais em todas as partes do mundo (UE; NAFTA; Mercosul).
- Fatores sociais e demográficos: Convergência a nível cultural e social; emergência da classe média em países emergentes (China; Índia; Rússia), as migrações, a maior participação das mulheres na força de trabalho, as melhorias nos níveis educacionais e o envelhecimento da população em países desenvolvidos, são factos que estão a influenciar o padrão das vantagens comparativas e na procura por importações. Atualmente, e segundo os autores do relatório do comércio mundial (2013), o futuro do comércio depende da eficácia com que as políticas e medidas de política vão responder às questões que levantam cada vez mais preocupações sociais como o desemprego (e as persistentes desigualdades de rendimento) e as questões ambientais.
- Acontecimentos políticos: Como a queda do muro de Berlim, o desmembramento da União Soviética, a entrada da China na OMC e as reformas económicas ocorridas neste país foram determinantes para o processo de globalização.
Consequências da Globalização
Consequências de âmbito microeconómico: São aquelas que estão centradas ao nível da empresa-organização, isto é, ao nível dos custos-escala e competitividade. A globalização e as decorrentes reduções de barreiras à entrada e ampliação dos mercados facilitam:
- Obtenção de economias de escala - decorrentes de maiores volumes de transações internacionais;
- Mudanças nas estruturas de custos das empresas, isto é, tendência à redução de custos ao nível da estrutura organizacional, dos processos e de mão de obra e aumentos de investimento em pesquisa e desenvolvimento;
- Mudança na diretriz da competitividade das empresas: passa a estar mais centrada na tecnologia de processos e no encurtamento do ciclo de vida dos produtos, na medida em que a eficiência, agilidade e competitividade estão muito mais ligadas e dependentes das exigências e padrões mundiais;
- Alteração nas estratégias empresariais que se voltam para a especialização em linhas de produção e lançamento de produtos direcionados para o consumo mundial, diferenciados apenas por elementos ou exigências dos mercados nacionais ou locais;
- Alianças estratégicas e fusões.
Consequências de âmbito macroeconómico: Podem ser realçadas ao nível do setor real e monetário, bem como ao nível da política económica. Ao nível do setor real e monetário, assiste-se a:
- Aumento dos fluxos de importação e de exportação;
- A longo prazo, tendência para a aproximação nas estruturas de custos;
- Interdependência entre instituições financeiras;
- Maior exposição da economia a choques externos;
- Maior quantidade, velocidade e volatilidade de transferências de recursos entre países para serem aplicados em mercados financeiros e para investimentos no setor real das economias.
Ao nível da política económica: A globalização e a interdependência das economias determinam uma redução da eficácia dos instrumentos fiscais e monetários, pelo que a condução das políticas económicas nacionais é cada vez mais determinada por condicionamentos externos (ex.: subida do preço do petróleo).
Consequências ao nível institucional: A globalização e a crescente influência de agentes económicos externos, tais como Estados e governos, organizações multilaterais e empresas multinacionais, conduzem a uma perda de autonomia no campo económico, perda de atributos de soberania nacional, bem como uma agenda política das nações cada vez mais determinada por temas supranacionais. Ex.: Perante uma crise financeira, os países recorrem à ajuda externa do Fundo Monetário Internacional (FMI). No entanto, a concessão desta ajuda está dependente da adoção de um conjunto de medidas/condições (redução da dívida pública e défice orçamental, privatizações, etc). Estas implicam alterações ao nível das políticas económicas nacionais que acabam por ser consideradas como perda de soberania.
Sujeitos das Relações Económicas Internacionais (REI)
- Indivíduos – cidadãos: O desenvolvimento dos sistemas de informação e telecomunicações facilitou a progressiva intervenção dos indivíduos, individual e coletivamente, nas REI.
- Empresas – multinacionais: Para muitos autores, estas empresas estão no centro do fenómeno da globalização (económica) na medida em que são elas que desenvolvem as relações de troca, redes de negócio e IDE, para criar valor através de fronteiras nacionais.
- Governos e Estados: Os governos dos Estados realizam acordos internacionais, definem políticas económicas no sentido de defender interesses nacionais, mas que podem ter influência e influenciar as relações entre os países.
- Organizações internacionais: No final da 2ª GM, os EUA, a Grã-Bretanha e os seus aliados, no sentido de garantir a estabilidade política e económica internacional, estabeleceram acordos que conduziram à criação de Organizações Internacionais (OI) tais como o FMI, o Banco Mundial (BM), as Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), entre outras, as quais desempenham e constituem um importante elemento das REI. Por quê? Os seus objetivos fundamentais passam pelo estabelecimento de regras, internacionalmente aceites, para as trocas e comércio, bem como por dirimir potenciais conflitos e disputas e evitar que se espalhem entre as diferentes nações.
Importação e Exportação
Importação ou oferta externa: Corresponde ao valor total de bens e serviços, provenientes do exterior, que entram no país. Dão origem à saída de divisas do país.
Exportação ou procura externa: Corresponde ao valor total de bens e serviços exportados para o exterior, dando origem à entrada de divisas no país. Vantagens da atividade exportadora incluem:
- Com o alargamento do mercado, será possível às empresas obterem ganhos de produtividade decorrentes do aumento na escala de produção;
- As exportações não são sujeitas a tributação;
- Incentivos à inovação;
- Mercados externos mais competitivos e exigentes induzem as empresas a melhorar os seus processos de fabrico, adotar programas de qualidade e desenvolver novos produtos com maior frequência;
- Desenvolvimento dos recursos humanos na medida em que as empresas que exportam tornam-se mais exigentes, mas também costumam oferecer melhores condições de trabalho.
Taxa de Câmbio e Preço Relativo
Taxa de câmbio: Corresponde à quantidade de uma moeda necessária para obter uma unidade monetária de outro país. Ex: 1€ = 200,482 escudos.
Preço relativo: Custo de oportunidade de um bem em relação a outro. O preço relativo de um bem ou custo de oportunidade indica o preço de um bem medido em unidades reais, isto é, em termos de unidades de outro bem, em vez de unidades monetárias ou nominais. Assim, o custo de oportunidade mede o número de unidades de um bem que é necessário abdicar para obter uma unidade adicional de outro bem.
Multinacionais e Investimento Direto Estrangeiro (IDE)
Multinacionais: São normalmente consideradas como empresas que controlam recursos produtivos ou ativos em mais do que um país. Constituem um dos principais agentes da globalização na medida em que planeiam as suas operações numa escala global, difundindo ideias e tecnologia por todo o mundo. Por que se deslocalizam as empresas? Para controlar uma fonte de matéria-prima; utilizar e aproveitar mão de obra mais barata; penetrar num mercado em desenvolvimento.
Investimento Direto Estrangeiro (IDE): Engloba os fluxos internacionais de capital pelos quais uma empresa de um país cria ou expande outra filial noutro país. Assim, o IDE consiste na aquisição, por não residentes, de capital ou ativos até aí de propriedade de residentes. Uma característica fundamental do IDE é envolver, não apenas a transferência de recursos, mas também a aquisição de controle. O FMI estabeleceu como regra para que exista controle – 10% sobre os ativos. O IDE e a expansão de multinacionais podem ocorrer:
- Pela integração horizontal: Quando a multinacional expande as suas operações produzindo o mesmo produto, ou produtos da mesma linha, nas suas filiais em diferentes países. Objetivos: defender ou aumentar a sua quota de mercado; competir de forma mais eficiente com a concorrência local; redução de custos e economias de aprendizagem.
- Pela integração vertical: Quando a multinacional passa a produzir bens e serviços em diferentes estágios do processo produtivo, podendo ter os outputs de uma filial a servir de inputs para outras. Objetivos: reduzir a incerteza; eliminar e reduzir custos de transação; eliminação da concorrência.