Guerra Civil Espanhola (1936-1939): Causas e Impacto
Classificado em História
Escrito em em português com um tamanho de 12,72 KB
A Guerra Civil Espanhola (1936-1939)
Após confrontos contínuos e ações revolucionárias, tanto da direita quanto da esquerda, a Guerra Civil Espanhola eclodiu. Para explicar a Guerra Civil Espanhola, foram apresentadas duas teorias: a da guerra como consequência de uma intervenção fascista, e a da guerra como resultado de uma reação da indústria espanhola justificada para conter o comunismo internacional.
1. O Levante Militar e o Contexto Internacional
Tentativas de golpe, como a de Sanjurjo, não ressurgiram até 1934, quando representantes monárquicos e carlistas pediram ajuda a Mussolini. Em 12 de julho, o tenente Castillo foi assassinado pela extrema-direita, e naquela mesma noite, Calvo Sotelo foi assassinado pela esquerda.
a) A Sublevação Militar
Desde a vitória da Frente Popular, uma série de conspirações contra a República foram criadas por diferentes setores. O coordenador geral, Mola, queria implementar o que chamou de "ditadura republicana militar". Ele teve o apoio da CEDA e de setores com pretensões monárquicas. A revolta iniciou-se em 17 de julho no Protetorado de Marrocos, em Melilla, sob o comando do General Franco. Sanjurjo, o chefe, morreu em um acidente de avião vindo de Portugal. Mola atuou em Pamplona e Queipo de Llano em Sevilha, entre outros. A reação do lado republicano foi de passividade e indecisão, com sucessivos governos em suas demissões.
b) Formação dos Campos
No dia 18, a revolta espalhou-se para o resto da Espanha, que ficou assim dividida em dois campos. Os rebeldes dominavam cerca de 230.000 km². O objetivo dos rebeldes era acabar com a República, defender o catolicismo e a presença militar na vida política, impor a lei e a ordem, e impedir a revolução comunista, além de estabelecer um modelo de Estado próximo ao fascismo. Quanto à zona Republicana, com cerca de 270.000 km², contava com as principais áreas de mineração e industriais, maior população, e as áreas de exportação, agricultura e as reservas de ouro da Espanha.
c) A Dimensão Internacional do Conflito
Desde o início, a Guerra Civil foi um problema internacional. Dessa forma, a neutralidade foi regulamentada com a criação do Comitê de Não-Intervenção em agosto de 1936, assinado pela França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália e Portugal.
Ajuda ao Lado Rebelde
Os rebeldes foram muito favorecidos pela ajuda externa. A Alemanha forneceu abundante equipamento militar (artilharia, tanques), assessores militares e, especialmente, a Legião Condor. A Itália contribuiu com tropas e material bélico (o Corpo Truppe Volontarie - CTV) de fascistas italianos. Portugal também participou ativamente ao lado dos rebeldes, permitindo o uso de seus portos para abastecimento e enviando um corpo de tropas, os Viriato.
Apoio ao Lado Republicano
As democracias apoiaram moralmente, e especialmente a URSS, que enviou armas (tanques, aviões), conselheiros militares e assessores políticos. Recebeu ajuda do México, que, presidido por Lázaro Cárdenas, apoiou a República com o envio de armas, alimentos e apoio diplomático. Deve-se adicionar a presença das Brigadas Internacionais.
2. Desenvolvimento da Guerra
A partir deste ponto, a história da Guerra Civil é a história do progresso contínuo dos rebeldes.
Fase Um (Julho a Novembro de 1936)
Caracteriza-se pela consolidação do domínio rebelde no sul e pelo primeiro ataque a Madrid, na crença de que a capital cairia rapidamente e que essa queda significaria o fim da guerra. Por um lado, as tropas avançaram rapidamente pela Andaluzia Ocidental e pela Extremadura, com o exército vindo de Marrocos. No entanto, o ataque de Mola no norte foi detido em Guadarrama e Somosierra. O objetivo principal de Franco era a conquista de Madrid. Os ataques de Franco contra Madrid foram frustrados pela resistência dos moradores, por uma coluna de tropas, pela ajuda de milícias de voluntários de partidos e sindicatos, e pela chegada de material soviético. As duras batalhas de Jarama e Guadalajara ocorreram neste período.
Segunda Fase (Fevereiro a Outubro de 1937)
A guerra no norte foi o próximo alvo dos rebeldes, que lançaram uma ofensiva na primavera de 1937 em uma frente dividida e isolada do resto do país. As batalhas de Brunete e Belchite (Madrid e Saragoça, respectivamente), com as quais a República pretendia desviar os ataques do norte, não tiveram o efeito desejado.
Terceira Fase (Dezembro de 1937 a Dezembro de 1938)
Esta fase é marcada pela ofensiva do governo contra Teruel, então nas mãos dos rebeldes. A cidade aragonesa viveria um dos momentos mais trágicos de sua história. A desesperada tentativa do governo de recuperar terreno levou à longa e sangrenta Batalha do Ebro, entre julho e dezembro.
Fim da Guerra: Os Três Primeiros Meses de 1939
Barcelona caiu em 26 de janeiro, e Girona, na Catalunha, seguiu o mesmo destino em fevereiro. Em 27 do mesmo mês, o governo de Franco foi reconhecido pela Grã-Bretanha e França. Em 28, Azaña renunciou como presidente da República. Em 6 de março, foi instituído um Conselho de Defesa, presidido por Besteiro e pelo Coronel Casado, com o objetivo de negociar a rendição. Franco, no entanto, não aceitou nada além da rendição incondicional. Madrid caiu em 28 de março, e Valência, Almeria, Múrcia e Cartagena em 30 e 31 de março. Em 1º de abril, foi transmitido o último comunicado de guerra, declarando oficialmente o fim do conflito e o início da Espanha Franquista.
3. Evolução nas Duas Zonas e Consequências
a) Desenvolvimentos Políticos em Ambas as Zonas
Zona Republicana
Na zona republicana, a administração territorial e provincial foi desarticulada, e o poder foi exercido através de comissões organizadas por partidos e sindicatos. Seus primeiros passos incluíram o controle de transportes, serviços urbanos, fontes militares e fábricas pelos comitês de partidos e sindicatos. Houve uma revolução social gerada a partir de duas perspectivas: por um lado, comunistas, socialistas moderados e simpatizantes republicanos que buscavam centralizar a liderança da revolução; por outro, anarquistas, trotskistas e socialistas radicais favoráveis a levar a revolução à sua conclusão lógica. Os recursos financeiros republicanos vieram do controle das áreas mais industrializadas e urbanizadas, além das reservas do Banco de Espanha.
Os Governos de Guerra
Os primeiros dias da guerra foram de desordem. Casares Quiroga demitiu-se em 18 de julho. Para lidar com a rebelião, Azaña tentou negociar acordos para formar um governo moderado com Martínez Barrio, mas Mola recusou. O governo logo entrou em colapso, e um segundo governo, liderado por Giral, foi estabelecido. Com o avanço dos rebeldes em Madrid, foi criado um governo de concentração, dominado por socialistas e liderado por Largo Caballero. Em 1937, boicotado pelos comunistas e pelo PSOE, Largo Caballero demitiu-se e foi substituído por Juan Negrín. Sua política representou uma mudança considerável, dando alta prioridade à guerra. Posteriormente, Negrín aproximou-se dos socialistas, mas na verdade respondia à orientação dada por Moscou através do PCE. Finalmente, o General Casado precipitou o fim da guerra ao realizar um golpe com a intenção de negociar a paz com Franco, inutilmente.
Zona Rebelde
Em 24 de julho, foi formado em Burgos o Conselho de Defesa Nacional, assistido por várias comissões, a partir do qual as primeiras decisões foram tomadas: o retorno da bandeira vermelha e amarela, a lei marcial, e a substituição de quase todas as autoridades civis por governos militares. Apesar da oposição de Cabanellas, foi decidido dar a liderança a Franco (1º de outubro de 1936), que a manteria até o fim da guerra. A Junta Técnica do Estado atuaria como órgão consultivo. Economicamente, buscou-se ajuda financeira, que não tardou a chegar. Foi promulgado o decreto de unificação de todas as organizações políticas, que se fundiram na Falange Española Tradicionalista y de las Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalista (FET y de las JONS). Franco tornou-se o líder supremo. O próximo passo foi a formação do primeiro governo em Burgos, em janeiro de 1938, criando pela primeira vez uma estrutura ministerial, com um regime pessoal em que Franco monopolizava todo o poder.
b) Consequências da Guerra
Do ponto de vista militar, a Guerra Civil foi um conflito em um país atrasado que, com poucas exceções, não apresentou as inovações técnicas que seriam utilizadas logo após a Segunda Guerra Mundial, mas teve consequências trágicas.
Consequências Demográficas
Cerca de 300.000 óbitos, dos quais cerca de metade ocorreram na frente de batalha e muitos outros foram resultado da repressão de ambos os lados. Além dos mortos, cerca de 400.000 feridos em combate e 300.000 prisioneiros de guerra foram registrados até 1945. Entre as vítimas estavam intelectuais como Melquíades Álvarez e políticos falangistas como José Antonio Primo de Rivera. Acontecimentos trágicos incluíram o assassinato de presos políticos em prisões e hediondos assassinatos em Sevilha, Málaga e Badajoz, entre outros lugares.
Consequências Econômicas
As consequências econômicas foram igualmente desastrosas: perda de população, destruição de centenas de milhares de edifícios e infraestruturas. As perdas concentraram-se na infraestrutura de transporte, navegação, ferrovias e estradas destruídas. Até os anos cinquenta, o país não recuperou o nível de renda de 1935.
Consequências Políticas: A Difícil Reconciliação
Finalmente, a Espanha tornou-se uma exceção política na Europa: um regime de ditadura em um contexto de democracias parlamentares. E não devemos esquecer o vazio científico e intelectual na vida cultural em geral. O país, que vivia sua 'Idade de Prata' cultural, transformou-se em um deserto cultural.
c) Incidência da Guerra Civil em Castela-La Mancha
Embora o levante militar contra a República tenha ganhado terreno inicialmente nas cidades de Guadalajara e Albacete, a maior parte de Castela-La Mancha permaneceu fiel à República. Nos primeiros dias do conflito, iniciou-se a perseguição daqueles que tinham ou poderiam ter alguma ligação com os rebeldes ou seus apoiadores. Militantes da CEDA, da Falange, latifundiários tradicionais, sacerdotes, religiosos e pessoas comuns foram forçados a deixar suas casas e muitos foram executados. Também nos primeiros dias da guerra, houve um forte anticlericalismo, manifestado tanto contra pessoas quanto contra o patrimônio artístico da Igreja (saques e destruição de templos e imagens), causando extensos danos por toda a geografia castelhano-manchega.
Ação Militar
A Guerra Civil, exceto nas províncias de Toledo e Guadalajara, foi vivida na região como retaguarda. Um primeiro evento notável ocorreu na cidade de Toledo, onde o Coronel Moscardó declarou estado de guerra. Seseña (Toledo) foi palco de combates das tropas rebeldes na Batalha de Jarama, em fevereiro de 1937. Nesse mesmo ano (março), foi travada a Batalha de Guadalajara, que se revelou um desastre para os rebeldes. Em janeiro de 1939, com a guerra quase perdida, os republicanos, a fim de aliviar a pressão sobre a Catalunha, lançaram uma ofensiva desesperada na frente da Extremadura. Durante o conflito, Albacete e algumas de suas localidades tornaram-se a base logística e de treinamento das Brigadas Internacionais.
Incidentes Socioeconômicos
Em grande parte de Castela-La Mancha, na zona republicana, ocorreu uma verdadeira revolução socioeconômica, refletida em:
- Para remover os vestígios do passado, algumas localidades mudaram de nome (por exemplo, Ciudad Real passou a ser chamada de "Ciudad Libre de La Mancha").
- A filiação sindical cresceu notavelmente (em muitos casos, como forma de autoproteção), especialmente a anarquista (ligada à CNT).
- A verdadeira marca da revolução social foram as coletivizações industriais e agrárias.
- Nos primeiros dias da guerra, imóveis e propriedades rurais daqueles considerados hostis à República foram apreendidos e expropriados.
- A pouca indústria existente foi militarizada e nacionalizada.
Em suma, operava-se em uma economia de guerra, que trouxe inflação, escassez de alimentos e falta de dinheiro (substituído por vales e bilhetes emitidos pelas prefeituras para a compra de alimentos básicos).