Guerra Civil Espanhola: Resumo (1936-1939)
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Guerra Civil Espanhola (1936-1939)
A Conspiração e a Revolta Armada
Desde a vitória da Frente Popular nas eleições de 1936, um grupo de generais (Sanjurjo, Mola, Franco, entre outros) e numerosos líderes e oficiais militares começaram a planear uma insurreição armada contra o governo da Frente Popular. Como chefe da revolta foi nomeado o general Sanjurjo, mas este morreu pouco depois num acidente de avião. O coordenador de toda a conspiração foi o general Mola, a partir de Pamplona. Contudo, entre os golpistas, havia quem apoiasse a criação de uma ditadura e quem defendesse uma monarquia.
Em 17 de julho, começou em Melilla a chamada Revolta Nacional, cuja data foi antecipada devido ao assassinato de Calvo Sotelo (líder monárquico) e do tenente Castillo (oficial da Guarda de Assalto republicana). Nos dias seguintes, a revolta espalhou-se por diferentes áreas da Península, triunfando na Galiza, Navarra, Castela e Leão, Aragão, etc., mas falhou nas grandes cidades (Madrid, Barcelona) e nos principais centros industriais.
O facto de a revolta não ter tido sucesso imediato nem ter falhado completamente provocou a divisão do país em duas zonas, dando início a uma guerra civil que duraria três anos. A Espanha ficou dividida em duas áreas:
- Zona Republicana: Controlava as principais cidades, áreas mineiras e industriais, a maior parte da frota, as reservas de ouro do Banco de Espanha e recebeu apoio da URSS e do México.
- Zona Nacionalista: Dominava áreas agrárias, contava com a maior parte do exército experiente (incluindo o Exército de África) e foi apoiada militarmente pela Itália fascista e Alemanha nazi, além do apoio interno de Carlistas e Falangistas.
Desenvolvimento Militar
O plano inicial dos Nacionalistas era ocupar Madrid rapidamente para terminar a guerra. Franco assumiu o comando das tropas de Marrocos (o Exército de África) e o general Mola comandou os exércitos do Norte. Franco encontrava-se inicialmente isolado em Marrocos, pois a frota, maioritariamente fiel à República, bloqueava a sua passagem pelo Estreito de Gibraltar. No entanto, uma ponte aérea estabelecida com aviões alemães e italianos conseguiu transportar as suas tropas de elite (regulares e legionários) de Tetuão para Sevilha e Jerez. A partir de Sevilha, avançaram pela Extremadura seguindo a Rota da Prata, conquistando Badajoz (onde ocorreu um massacre) e Mérida. Entretanto, no norte, as colunas de Mola avançavam sobre Madrid, mas foram detidas nas serras a norte da capital por milícias republicanas.
O avanço de Franco sobre Madrid sofreu um grande atraso porque desviou parte do seu exército para libertar o Alcázar de Toledo, onde um grupo de nacionalistas resistia cercado. Este desvio, embora propagandisticamente importante para os Nacionalistas, deu tempo à organização da defesa de Madrid. Em outubro de 1936, em Burgos, foi organizada a Junta de Defesa Nacional e Franco foi nomeado Generalíssimo dos Exércitos e Chefe do Governo do Estado Nacionalista. De seguida, preparou um ataque geral a Madrid. Dada a gravidade da situação espanhola, as potências europeias assinaram um Acordo de Não Intervenção, mas, na prática, este não foi respeitado pela Alemanha, Itália e URSS, que ajudaram ativamente os respetivos lados.
A Batalha de Madrid
O objetivo inicial dos Nacionalistas era a captura de Madrid, mas a ofensiva direta falhou devido a:
- À forte defesa de Madrid por milícias populares, unidades do exército leais e as primeiras Brigadas Internacionais, galvanizada pelo famoso slogan '¡No pasarán!', atribuído a Dolores Ibárruri (La Pasionaria).
- Ao tempo ganho com o desvio das tropas nacionalistas para a tomada de Toledo.
A Batalha de Madrid (final de 1936 - início de 1937) pode ser dividida em várias fases importantes, incluindo tentativas de assalto direto e manobras de cerco:
- Ataque pela Casa de Campo e Cidade Universitária (novembro de 1936): As tropas de Franco chegaram aos subúrbios de Madrid, mas encontraram forte resistência. Foi formada uma Junta de Defesa de Madrid, presidida pelo general Miaja, enquanto o governo republicano se mudou para Valência.
- Batalha da Estrada da Corunha (dezembro de 1936 - janeiro de 1937): Tentativa nacionalista de cortar a estrada e isolar Madrid pelo noroeste, que falhou.
- Batalha do Jarama (fevereiro de 1937): Tentativa nacionalista de cortar a estrada Madrid-Valência a sul. Após combates muito duros, com pesadas baixas de ambos os lados, a ofensiva foi detida, destacando-se a participação crucial das Brigadas Internacionais na defesa republicana.
Mussolini enviou para Espanha abundante material de guerra e dezenas de milhares de soldados 'voluntários', que formaram o Corpo Truppe Volontarie (CTV). Estes foram usados com sucesso na conquista de Málaga (fevereiro de 1937).
- Batalha de Guadalajara (março de 1937): Com o objetivo de cercar Madrid pelo nordeste, tropas italianas do CTV e nacionalistas lançaram uma ofensiva. Após um avanço inicial, o Exército Popular Republicano (já reorganizado em brigadas mistas), com apoio das Brigadas Internacionais e da aviação, lançou uma contra-ofensiva eficaz. Nas planícies de Brihuega, os italianos retiraram-se desordenadamente, sofrendo uma derrota significativa. Esta vitória teve um grande efeito propagandístico para a República.
O fracasso na conquista de Madrid levou Franco a mudar de estratégia, concentrando-se na conquista da costa cantábrica (a Campanha do Norte), rica em indústria e recursos. Em 26 de abril de 1937, aviões da Legião Condor alemã bombardearam e destruíram Guernica, um ato que chocou o mundo e se tornou símbolo da brutalidade da guerra moderna. Bilbau caiu em junho de 1937, e o Estatuto de Autonomia Basco foi revogado. Para aliviar a pressão no norte, a República lançou ofensivas de diversão nos arredores de Madrid (Batalha de Brunete, julho de 1937) e em Aragão (Belchite, agosto-setembro de 1937), mas estas não conseguiram impedir a queda de Santander (agosto de 1937) e, finalmente, das Astúrias (outubro de 1937), completando a conquista do Norte pelos Nacionalistas.
A Batalha de Teruel
Após a conquista do norte, o exército Nacionalista ficou com mais forças disponíveis para outras frentes. A República, numa tentativa ousada de ganhar iniciativa e demonstrar capacidade ofensiva, lançou um ataque surpresa para conquistar Teruel no inverno de 1937-1938. A cidade foi tomada pelos republicanos em janeiro de 1938, numa batalha travada sob condições climatéricas extremamente adversas. Contudo, Franco concentrou forças e lançou uma poderosa contraofensiva, recuperando Teruel em fevereiro de 1938, após combates devastadores.
Após Teruel, os Nacionalistas lançaram a Ofensiva de Aragão (março-abril de 1938), rompendo a frente e avançando rapidamente até ao Mediterrâneo (em Vinaròs), conseguindo assim dividir a zona republicana em duas partes e isolar a Catalunha do resto do território republicano (Madrid e Valência).
A Batalha do Ebro e o Fim da Guerra
A República, numa última tentativa desesperada de reverter a situação e reunificar o seu território, lançou a sua maior ofensiva da guerra: a Batalha do Ebro (julho-novembro de 1938). O Exército Republicano atravessou o rio Ebro e obteve sucessos iniciais, mas a superioridade material e aérea nacionalista acabou por prevalecer numa longa e sangrenta batalha de desgaste. A derrota no Ebro significou o colapso militar da República.
Isto permitiu a Franco lançar a ofensiva final contra a Catalunha no final de 1938. Em janeiro de 1939, o exército Nacionalista tomou Barcelona sem grande resistência. O Estatuto de Autonomia da Catalunha foi suspenso, e centenas de milhares de civis e soldados republicanos iniciaram a retirada (La Retirada) para o exílio em França. O presidente da Generalitat, Lluís Companys, exilou-se, mas seria capturado pela Gestapo em França em 1940, entregue a Franco e fuzilado.
Nesta fase final, com a guerra perdida, surgiram divisões profundas no campo republicano:
- Negociar o fim da guerra: Apoiada por setores militares (liderados pelo Coronel Casado) e políticos moderados, que deram um golpe de estado contra o governo de Negrín em Madrid, procurando uma paz negociada para evitar mais sofrimento e represálias.
- Resistência a todo o custo: Defendida pelo governo de Juan Negrín e pelos comunistas, na esperança (cada vez mais ténue) de que o conflito espanhol se ligasse à iminente guerra mundial contra o fascismo.
A resposta de Franco foi a exigência de rendição incondicional, não admitindo qualquer negociação.
Em 28 de março de 1939, as tropas nacionalistas entraram em Madrid. Nos dias seguintes, as restantes cidades republicanas renderam-se. Em 1 de abril de 1939, Franco emitiu o último comunicado de guerra, declarando o fim do conflito e o início da sua longa ditadura.
Ajuda Externa à Espanha Republicana
A República recebeu ajuda militar principalmente da URSS (armamento, conselheiros militares) e, em menor escala, do México (armas, apoio diplomático). A França, apesar das simpatias do governo da Frente Popular francês, aderiu oficialmente à política de Não Intervenção, embora tenha permitido alguma passagem de material e voluntários pela fronteira em certas fases. Devido ao apoio soviético, a propaganda nacionalista e internacional apelidou a República de 'República Vermelha' ou 'Marxista'. A Espanha pagou pela ajuda soviética com a maior parte das reservas de ouro do Banco de Espanha, transferidas para Moscovo (episódio conhecido como o 'Ouro de Moscovo').
A assistência humana mais visível veio através das Brigadas Internacionais, unidades militares compostas por voluntários antifascistas de mais de 50 países (estimativas variam entre 35.000 e 60.000 homens e mulheres ao longo da guerra). Caracterizavam-se por:
- Forte motivação ideológica (comunistas, socialistas, anarquistas, liberais antifascistas).
- Muitos não tinham experiência militar prévia, mas mostraram grande bravura e disciplina.
- Estavam organizados em brigadas por nacionalidade ou língua (ex: Abraham Lincoln - EUA, Garibaldi - Itália, Thälmann - Alemanha, Dombrowski - Polónia, Comuna de Paris - França/Bélgica).
Ajuda Externa à Espanha Nacionalista
Os Nacionalistas receberam ajuda militar crucial, massiva e tecnologicamente avançada da Alemanha Nazi e da Itália Fascista. Esta ajuda incluiu:
- Armamento moderno: aviões (caças, bombardeiros), tanques, artilharia.
- Tropas: A Alemanha enviou a Legião Condor (unidade aérea e terrestre experimental, responsável pelo bombardeamento de Guernica) e a Itália enviou o CTV (Corpo Truppe Volontarie), um corpo expedicionário com dezenas de milhares de soldados.
- Conselheiros militares, apoio logístico e matérias-primas.
Este apoio foi, em geral, mais consistente, de melhor qualidade e mais decisivo do que a ajuda recebida pela República, sendo um fator chave na vitória nacionalista.
Consequências da Guerra
Entre as consequências mais marcantes da Guerra Civil Espanhola destacam-se:
- Fim da República e Ditadura: Fim da Segunda República Espanhola e instauração de uma longa ditadura liderada pelo Generalíssimo Francisco Franco (1939-1975), de cariz autoritário, nacionalista e católico.
- Demográficas: Um número muito elevado de mortos (estimativas variam, mas superam largamente as 500.000 pessoas, incluindo mortos em combate, vítimas da repressão em ambas as zonas, fome e doenças). A isto soma-se o drama do exílio republicano: centenas de milhares de espanhóis fugiram do país, principalmente para França, mas também para o Norte de África e América Latina. Entre os exilados encontrava-se uma parte significativa da elite intelectual, científica e artística do país, representando uma enorme perda cultural.
- Repressão: Houve repressão brutal e assassínios políticos em ambas as zonas durante a guerra (o 'Terror Vermelho' na zona republicana e o 'Terror Branco' na zona nacionalista). No entanto, a repressão franquista após a vitória foi sistemática, institucionalizada, muito mais vasta em número de vítimas e prolongou-se por décadas, visando a eliminação física e política dos vencidos e a 'limpeza ideológica' do país. Incluiu execuções sumárias (o 'paredón'), prisões em massa, campos de concentração, trabalhos forçados e depuração de funcionários públicos.
- Económicas: Destruição massiva de infraestruturas (estradas, pontes, caminhos de ferro, habitações), da indústria e da agricultura. Perda das reservas de ouro do Banco de Espanha. A economia espanhola ficou arrasada e demorou décadas a recuperar os níveis pré-guerra. A política de autarcia imposta pelo regime nos primeiros anos e o isolamento internacional após a Segunda Guerra Mundial agravaram a pobreza e o atraso económico.
- Sociais e Culturais: Profunda divisão da sociedade espanhola, cujas feridas demoraram décadas a cicatrizar (e algumas permanecem). Imposição de uma cultura oficial nacional-católica, com censura e repressão das culturas regionais (catalã, basca, galega). Perda de liberdades democráticas.