Guerra Espiritual: A Armadura de Deus em Efésios 6

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O Manual de Guerra Espiritual (Efésios Capítulo Seis)

Ao longo da história da igreja, crentes, tanto teólogos quanto leigos, têm buscado auxílio nesta passagem de Efésios 6, especialmente quando todos os poderes do inferno pareciam ter-se desencadeado contra eles. Como o ensino do apóstolo Paulo nos ajuda na evangelização eficaz daqueles que estão cegados para a verdade do evangelho por espíritos malignos? Neste capítulo, Paulo aplica todos os seus ensinamentos à guerra, levando todos os leitores ao ponto em que estão prontos para a instrução mais importante da carta sobre a guerra espiritual. Podemos dizer que aqui está a aplicação desse ensino. Um comentarista disse: "Este é o único lugar em todos os escritos paulinos que convida os crentes a lutar."

A luta é dos crentes cheios do Espírito Santo, usando toda a armadura de Deus contra as astutas ciladas do diabo, para permanecerem firmes na vitória.

Paulo começou sua apresentação com as palavras: "Quanto ao mais," (v. 10a). Por isso, Ele nos deu o Espírito Santo; além disso, Cristo habita em nós e somos um só corpo com Ele.

O diabo e os poderes do mal guerreiam contra nós. Embora tenham sido derrotados pelo Senhor Jesus, estão livres para continuar atacando e dificultando nosso ministério.

Não há necessidade de medo.

No entanto, temos de aprender a ser fortes em Cristo. Enquanto o inimigo nos ataca, Deus providenciou tudo o que precisamos para ser soldados vitoriosos.

Um Olhar Sobre Efésios 6

A expressão "Quanto ao mais," é seguida por três imperativos: "fortalecei-vos" (v. 10), "revesti-vos" (v. 11) e "tomai" (v. 13). Os dois últimos referem-se à armadura de Deus e destacam a necessidade da força divina para resistir ao inimigo.

Usando a conjunção "Portanto," (v. 13-14), o apóstolo Paulo introduz a exortação principal do versículo 14, com uma referência à necessidade do poder divino por causa da natureza sobrenatural de inimigos poderosos, revelados no versículo 12, "versículo que expressa o caráter do nosso adversário."

O imperativo "permanecer firmes" (v. 11, 13, 14) deve ser devidamente considerado como o recurso principal desta passagem. O conselho de adquirir força divina e revestir-se da armadura não foi dado pelo autor como um fim em si mesmo.

Essa força é necessária para um propósito específico: capacitar o crente a permanecer firme contra os poderes (v. 11, 13) e resistir com êxito (v. 14).

Portanto, o "Estai, pois, firmes" neste versículo torna-se o comando central da passagem.

Estai, Pois, Firmes

Agora que Paulo deu seu primeiro mandamento: "Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder" (v. 10).

Vine diz que "tomai" (v. 13) significa "receber intencionalmente e com boa disposição o que é oferecido, pegar com a mão, agarrar, apanhar algo."

Mantendo a posição firme, a vitória é nossa. Em nome de Jesus, tudo é possível. Os versículos 14-20 dependem inteiramente do pensamento expresso no versículo 14. Todas as outras ideias apontam para esta meta: alcançar a firmeza que a armadura e o poder divino proporcionam.

Este é um versículo muito importante: cada crente deve viver no poder de Jesus, fortalecido em Seu poder.

Paulo diz que os crentes têm amplo acesso a esse poder divino, que já se provou poderoso o suficiente para superar a oposição satânica (cf. Ef 1:19-21). É provável que Paulo estivesse pensando nessa passagem, inspirado pelo Espírito Santo, quando escreveu o versículo 10 de Efésios 6.

O Inimigo que Enfrentamos

Depois de fazer o chamado para todos os crentes serem fortalecidos no poder e na força do Senhor e se revestirem de toda a armadura de Deus, Paulo apresenta as razões para seu chamado à batalha nos versículos 11 e 12, dizendo:

  • A necessidade de "permanecer firmes contra as astutas ciladas do diabo" (v. 11d).
  • Nossos inimigos não são humanos (carne e sangue) (v. 12a).
  • Lutamos contra uma hierarquia complexa e viciosa de seres sobrenaturais (principados, potestades, dominadores deste mundo tenebroso, forças espirituais do mal nas regiões celestiais) que exercem grande controle (v. 12b).

O comando do versículo 14 ("Estai, pois, firmes") é uma repetição dos anteriores (v. 11b; 13b), reforçando a ideia de que este é o mandato principal em torno do qual tudo mais gira.

Um comentarista diz que a construção "estar firmes contra" (antistēnai pros, v. 11b) é uma expressão militar grega usada por Paulo nestes versículos.

De acordo com Paulo, essa abordagem militar não é dirigida contra seres humanos, mas contra o diabo e seus poderes demoníacos (vv. 11-12). O título mais usado para se referir ao adversário é "diabo" (neste capítulo, v. 11) e "o Maligno" (v. 16), embora "Satanás" também seja comum.

Referência a Outras Passagens

Em outras passagens (como 2 Coríntios), temos descrições dos principados e potestades. O diabo é o líder cósmico do mal. A ideia por trás da palavra grega methodeia (ciladas) é engano ou estratagema.

O apóstolo adverte-nos que todo o sistema de guerra do diabo contra nós é baseado em mentiras. Ele não luta abertamente em um campo de batalha, mas usa ataques repentinos, astutos e ferozes.

O Inimigo que Enfrentamos (Detalhes)

Certamente, o versículo 12 de Efésios 6 é um dos mais notáveis de toda a Bíblia sobre a guerra espiritual. Paulo diz claramente que lutamos contra principados e potestades, uma hierarquia completa e elevada do mal sobrenatural.

A palavra grega para "luta" (palē, v. 12) remete à luta corpo a corpo, envolvendo a competição entre dois oponentes, cada um tentando derrubar o outro. A intensidade dessa luta pode ser comparada à seriedade de uma competição atlética na Grécia antiga. A luta dos cristãos contra os poderes das trevas não é menos desesperadora ou negligente.

A mudança da metáfora do soldado para o lutador não deve surpreender, porque, às vezes, em combate corpo a corpo, o soldado também é um lutador. O apóstolo provavelmente usou essa imagem do lutador, acima de tudo, para enfatizar a natureza pessoal e intensa do conflito.

Até agora, Paulo falou, em geral, dos principados e potestades do mal.

Agora, observe que em Efésios 6, Paulo menciona o diabo (v. 11), o Maligno (v. 16) e os principados e potestades do mal (v. 12). Ele afirma claramente, embora implicitamente, que nossa batalha não é apenas contra o diabo como indivíduo, mas contra os ataques que ele envia através dos governantes cósmicos do mal e autoridades de alto escalão.

Paulo não tenta ser técnico nesta passagem, mas simplesmente acumula palavras para descrever a hierarquia extraordinária e complexa do mal sobrenatural contra a qual o crente está em guerra.

Vários comentaristas concluíram que esta não era uma expressão inventada por Paulo, mas que ele a tirou do mundo em que os crentes viviam. Acrescentam que termos como "governadores deste mundo de trevas" eram comuns na tradição mágica e no mundo da astrologia quando o apóstolo Paulo escreveu esta epístola.

Crentes que outrora adoraram outros deuses (como, por exemplo, Ártemis em Éfeso, ou Diana, Serápis e outras divindades com suposto poder mágico ou cósmico), agora estavam sendo instruídos por Paulo sobre como lidar com os espíritos por trás desses cultos, após colocarem sua fé em Cristo.

As divindades pagãs são, na verdade, emissários demoníacos, aos quais temos de resistir com a poderosa armadura de Deus.

Paulo deseja que os cristãos percebam que, ao participarem dos cultos a divindades pagãs e trazerem ofertas a elas, colocavam-se sob sua influência, pois esses cultos eram instrumentos de Satanás.

Às vezes, dizemos que damos uma oferta de louvor a Deus ao bater palmas.

Na esfera religiosa pagã, a dinâmica era semelhante, com a diferença de que os efésios tinham o templo físico de Ártemis.

Na maior parte do mundo, os "deuses" dos não-cristãos são muito semelhantes aos de Éfeso, embora tenham nomes diferentes. Os poderes cósmicos malignos de alto escalão controlam esses sistemas contemporâneos de divindades, espíritos e magia.

Graças a Deus que nos libertou do império das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos pecados (cf. Colossenses 1:13-14).

A Palavra de Deus afirma que o cristão foi liberto das trevas; por isso, não devemos temer. E, embora tenhamos uma luta feroz contra o poder das trevas, a vitória é nossa pelo sangue de Jesus Cristo.

Finalmente, o apóstolo Paulo diz que estamos em guerra contra as hostes espirituais da maldade nas regiões celestiais (v. 12c).

Paulo termina sua lista de poderes com uma referência abrangente a todos os tipos de espíritos hostis, indicando que os crentes devem estar preparados para enfrentar todas as forças do mal na batalha.

Paulo encoraja os soldados cristãos, destacando o terrível inimigo que são chamados a enfrentar. Eles são puramente maus em sua essência e em sua atuação.

Da mesma forma, uma igreja que não se lança para a batalha, mas permanece apenas na defensiva, já foi derrotada.

Paulo descreve uma armadura que é tanto ofensiva quanto defensiva.

Paulo omite o pilum (dardo) e o pugio (punhal) dos legionários, mas este último era preso ao cinto e pode ser considerado implícito na menção aos lombos cingidos.

Referindo-se às três vezes que Paulo repete a frase "permanecer firmes", pode-se pensar que os cristãos devem apenas resistir para não serem oprimidos. No entanto, Paulo não vê o crente apenas em uma operação defensiva ou de resistência desesperada, mas em uma guerra ativa contra as potências do mal.

Analisando Cada Peça da Armadura

  1. Cingidos com a Verdade (v. 14b)

    Muitas vezes surge a pergunta: qual é a verdade a que Paulo se refere? A verdade pode ser o evangelho, Jesus como a Verdade, ou a sinceridade (ausência de artifício). Falando de maneira concreta, podemos dizer que o evangelho é o "poder de Deus" para a salvação. Isto é o que Paulo enfatiza em Efésios.

  2. A Couraça da Justiça (v. 14c)

    A couraça da justiça fazia parte da armadura de Javé no Antigo Testamento (Isaías 59:17). Portanto, a justiça vem de Deus como força divina. Neste contexto, a justiça de Deus é um termo de poder. O dom da justiça de Deus para o crente derrota completamente o inimigo. O resultado de experimentar a justiça de Deus é uma vida justa.

  3. Pés Calçados com a Preparação do Evangelho da Paz (v. 15)

    O apóstolo Paulo pode aludir ao texto do Antigo Testamento que menciona os pés que anunciam as boas novas (Isaías 52:7). O equipamento aqui pode estar ligado não tanto à proclamação, mas à hetoimasia (prontidão, firmeza, preparação) que o evangelho da paz proporciona. Esta então é a disposição ou a preparação do crente para o combate e para a firmeza na batalha que o evangelho da paz dá.

  4. O Escudo da Fé (v. 16)

    Paulo recorre ao Antigo Testamento para dizer que o escudo era usado como uma imagem da proteção de Deus para o Seu povo. A fé baseia-se nos recursos de Deus em meio aos ataques ferozes do inimigo e produz uma resolução firme que repele o diabo. Mas ele também diz que "a fé capacita o crente a apagar todos os dardos inflamados do Maligno" (v. 16). A fé é o poder que permite aos crentes resistir e triunfar sobre tais ataques.

  5. O Capacete da Salvação (v. 17a)

    Paulo introduz as duas peças seguintes da armadura com outro verbo: "Tomai também" (dexasthe), indicando algo a ser recebido. Ou seja, como um dom do Senhor, algo que Ele proporciona e oferece. O capacete é, naturalmente, necessário para proteger a cabeça. Assim como a justiça é a couraça, a salvação é o capacete (cf. Isaías 59:17; 1 Tessalonicenses 5:8). Estas palavras são verdadeiramente maravilhosas! O capacete da salvação nos protege contra os golpes mais fatais que podem ocorrer a um filho de Deus: as dúvidas sobre sua aceitação pelo Senhor.

  6. A Espada do Espírito, que é a Palavra de Deus (v. 17b)

    Neste versículo, Paulo usa duas palavras técnicas. Pela primeira vez em Efésios, considera-se o Espírito Santo como o poder por trás do uso da Palavra de Deus pelo guerreiro cristão, que é a espada que o Senhor nos deu para a batalha. A espada curta e afiada (machaira), em contraste com a espada longa (rhomphaia), era a principal arma ofensiva no combate próximo. Como a igreja continua a ser a comunidade reconciliada e reconciliadora, ela empunha o evangelho contra os espíritos hostis de inimizade e realiza os propósitos de Deus.

A Oração: A Chave da Guerra Espiritual (v. 18)

Na conclusão da descrição da armadura divina que Deus providenciou para o guerreiro cristão, vemos que Paulo ainda não completou sua instrução. Embora a oração não deva ser considerada estritamente uma peça adicional da armadura, está diretamente relacionada a tudo o que Paulo vem dizendo nos versículos 10-17.

Alguns consideram a oração como a sétima peça da armadura espiritual. É demasiado grande, demasiado fundamental, demasiado essencial, demasiado abrangente para ser listada como uma única peça de armadura, por mais importantes que sejam as outras partes.

Paulo completou sua apresentação das armas espirituais com um chamado à oração.

Paulo queria que seus leitores compreendessem que a oração é uma arma espiritual essencial, e mais do que isso. É central para o uso eficaz de todas as outras armas. Na verdade, é a chave para a guerra eficaz contra os poderes das trevas nas regiões celestiais.

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