Guia de Gestos Básicos em Saúde: Dor e Sistema Cardiovascular

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Gestos Básicos em Saúde - Introdução à Medicina Clínica

Relação Médico-Doente e Equipa de Saúde

A relação médico-doente com a restante equipa de saúde é fundamental. Os médicos devem transmitir confiança e tranquilidade ao doente. O seguimento do doente é um trabalho de equipa.

Habilidades Clínicas Essenciais

  • Anamnese
  • Exame Físico
  • Exames Auxiliares de Diagnóstico (laboratoriais, imagiológicos, anatomopatológicos)

Dor: Fisiopatologia, Abordagem e Tratamento

Mecanismos Periféricos e Centrais da Dor

Mecanismos Periféricos

  • Nociceptor Aferente Primário: Um nervo periférico é constituído por 3 tipos diferentes de axónios: aferentes sensoriais primários, neurónios motores e neurónios pós-ganglionares simpáticos.
    • Fibras A-beta (mielinizadas e de maior diâmetro, respondem maximamente a estímulos leves, abundam na pele e, normalmente, o seu estímulo não provoca dor);
    • Fibras A-delta (mielinizadas de pequeno diâmetro);
    • Fibras C (não mielinizadas).
  • Sensibilização: Há diminuição dos limiares de ativação dos nociceptores quando são aplicados estímulos a tecidos inflamados ou lesados. Mediadores da inflamação: bradicinina, prostaglandinas e leucotrienos.
  • Inflamação Induzida por Nociceptores: Os nociceptores contêm mediadores polipeptídicos que se libertam das suas terminações periféricas quando ativados, como a substância P (vasodilatador potente, desgranula os mastócitos, aumenta a produção e a libertação de mediadores químicos).

Mecanismos Centrais

  • A Medula Espinhal e a Dor Referida: Os axónios dos nociceptores aferentes penetram na medula espinhal através da raiz dorsal e terminam no corno dorsal da substância cinzenta espinhal. Há convergência de vários impulsos sensoriais para um único neurónio medular transmissor da dor (dor referida).

Imagem

  • Vias Ascendentes para a Dor: A maioria dos neurónios medulares com os quais os nociceptores aferentes primários fazem contacto emite os seus axónios para o tálamo contralateral.

Dor: Definição, Tipos e Tratamento

O que é a Dor?

A dor é um fenómeno complexo e com variantes multidimensionais (biofisiológicas, bioquímicas, psicossociais, comportamentais e morais) que pode ter diversas causas. É um sintoma que acompanha, de forma transversal, a generalidade das situações patológicas.

Tipos de Dor (Classificação)

A dor pode ser classificada de diversas formas:

  • Classificação Topográfica
    • Dor focal;
    • Dor referida (dor sentida numa região diferente daquela onde existe a causa da dor. Ocorre devido à convergência de fibras nervosas provenientes de diversas regiões do corpo até à medula espinhal).
  • Classificação Fisiopatológica
    • Dor nociceptiva (devida a uma lesão tecidular, estando o SNC íntegro);
    • Dor sem lesão tecidular ativa:
      • Dor neuropática (devida a um compromisso neurológico);
      • Dor psicogénica (de origem psicossocial).
  • Classificação Temporal
    • Dor Aguda: Dor de início recente e de duração limitada. Normalmente há uma definição temporal e/ou causal para a dor aguda.
    • Dor Crónica: Dor prolongada no tempo, normalmente com difícil identificação temporal e/ou causal, que causa sofrimento, podendo manifestar-se com várias características e gerar diversos estádios patológicos. A atuação precoce na dor crónica pode evitar múltiplas intervenções, promovendo o bem-estar do doente e o seu regresso a uma atividade produtiva normal.
    • Dor Recidivante: Dor que recidiva, que acontece de forma recorrente ou repetitiva. Exemplo: enxaqueca.

Tratamento da Dor

Técnicas Farmacológicas
  • Fármacos Analgésicos: Opióides (morfina, codeína) e não opióides (paracetamol, metamizol).
  • Fármacos Adjuvantes: De enorme importância na dor crónica, são medicamentos que, não sendo verdadeiros analgésicos, contribuem para o alívio da dor, potenciando os analgésicos (antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes, corticosteroides, relaxantes musculares e anti-histamínicos).
  • Métodos Farmacológicos Invasivos: Bloqueios nervosos, com a intenção de provocar a interrupção da transmissão dolorosa; administração de opióides, anestésicos locais e corticoides, por via espinhal.
Técnicas Não Farmacológicas

Compreendem, entre outras, o tratamento da causa da dor, a reeducação do doente, a estimulação elétrica transcutânea, as técnicas de relaxamento, psicoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional, etc.

A Modulação da Dor

A dor provocada por lesões semelhantes varia em situações diferentes e em indivíduos diferentes.


Dor Torácica e Palpitações

Causas da Dor Torácica

  • Isquemia e lesão do miocárdio;
  • Pericardite;
  • Doenças da aorta;
  • Tromboembolismo pulmonar;
  • Pneumotórax;
  • Pneumonia ou pleurite;
  • Distúrbios gastrointestinais;
  • Distúrbios neuroesqueléticos;
  • Transtornos emocionais e psiquiátricos.

Palpitações

O que são Palpitações?

  • Perceção dos batimentos cardíacos;
  • São muitas vezes manifestações de doenças psiquiátricas;
  • Associam-se a arritmias cardíacas;
  • Podem aparecer em situações não cardíacas: hipertiroidismo, hipoglicemia, feocromocitoma, febre.

Exames Auxiliares de Diagnóstico

  • Anamnese e exame clínico;
  • ECG;
  • Holter de 24h;
  • Ecocardiograma;
  • Prova de esforço;
  • Gravadores de ECG por solicitação do doente;
  • Registador implantável do ECG.

Tratamento das Palpitações

  • O tratamento depende da causa. A maioria das palpitações cardíacas é inofensiva e desaparece sozinha. Nesse caso, o tratamento não é necessário.
  • Evitar o que possa desencadear as palpitações cardíacas:
    • Reduzir a ansiedade e stress;
    • Evitar estimulantes como cafeína, nicotina, álcool e anfetaminas;
    • Evitar drogas ilegais como a cocaína;
    • Evitar medicamentos que ajam como estimulantes.
  • Tratamento das condições médicas que podem desencadear as palpitações cardíacas.

Sistema Cardiovascular

Aterosclerose: Definição, Sintomas, Fatores de Risco, Prevenção e Tratamento

O que é a Aterosclerose?

Doença inflamatória crónica caracterizada pela formação de ateromas dentro dos vasos sanguíneos. Os ateromas são placas, compostas especialmente por lípidos e tecido fibroso, que se formam na parede dos vasos. Levam progressivamente à diminuição do diâmetro do vaso, podendo chegar à obstrução total do mesmo. A aterosclerose em geral é fatal quando afeta as artérias do coração ou do cérebro, órgãos que resistem apenas poucos minutos sem oxigénio. Para além de morte súbita, pode causar síndrome coronário agudo, acidente isquémico transitório, acidente vascular cerebral (AVC), etc.

Sintomas Comuns

  • Dilatações de algumas áreas dos vasos sanguíneos (aneurismas);
  • Dor no peito tipo facada (angina ou enfarte);
  • Dores fortes na cabeça (acidente vascular cerebral);
  • Dores em braços e pernas (trombose);
  • Dores no corpo;
  • Cansaço.

Fatores de Risco

  • Hipertensão;
  • Falta de atividade física e obesidade;
  • Diabetes Mellitus;
  • Hiperlipidemia;
  • Tabagismo;
  • Álcool.

Prevenção

  • Manter um peso saudável;
  • Ser fisicamente ativo;
  • Ter uma dieta saudável, com gorduras insaturadas e baixo teor de colesterol;
  • Controlo da glicose sanguínea;
  • Evitar o tabagismo.

Tratamento

O tratamento para a aterosclerose consiste em retirar as placas de gordura que estão presas nas paredes das artérias e curar as lesões que ficam no local. Isso pode ser conseguido através de cirurgia, cateterismo, angioplastia a laser, consumo de alguns medicamentos e atividade física.

Hipertensão Arterial

Regras para a Medição da Tensão Arterial (TA)

  • A medição da TA deve ser feita num local silencioso e quente;
  • Não fumar nos 15 minutos anteriores nem ingerir cafeína nos 60 minutos anteriores;
  • Atenção ao uso de drogas que influenciem de modo direto a TA (descongestionantes nasais ou gotas oftálmicas);
  • Preferir um aparelho automático em vez dos esfigmomanómetros de mercúrio;
  • Na primeira vez que se mede a TA, fazer uma medição em decúbito dorsal, após 5 minutos de repouso, e depois uma medição após 2 minutos em pé;
  • O paciente deve estar confortável e com o braço ao nível do coração;
  • Na primeira vez que se mede a TA, deve-se medir em ambos os braços e nas medições posteriores preferir o braço em que a TA foi mais elevada;
  • Se a TA estiver elevada, medir a pressão numa perna;
  • Registar sempre o valor da TA em mmHg e referir em que braço e posição foi feita a medição;
  • Em cada ocasião fazer pelo menos duas medições separadas. Se a TA estiver elevada na primeira vez em que se mede, fazer pelo menos mais 3 medições separadas por uma semana.

Categorias da Tensão Arterial (mmHg)

  • Ótima: Sistólica < 120; Diastólica < 80;
  • Normal: Sistólica 120-129; Diastólica 80-84;
  • Normal Alta: Sistólica 130-139; Diastólica 85-89;
  • Hipertensão Grau 1: Sistólica 140-159; Diastólica 90-99;
  • Hipertensão Grau 2: Sistólica 160-179; Diastólica 100-109;
  • Hipertensão Grau 3: Sistólica ≥ 180; Diastólica ≥ 110.

Situações de Alto Risco

  • TA Sistólica ≥ 180 mmHg e/ou Diastólica ≥ 110 mmHg;
  • TA Sistólica > 160 mmHg e TA Diastólica < 70 mmHg;
  • Diabetes Mellitus;
  • Obesidade;
  • Etc.

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