Guia de Intoxicações: Agrotóxicos, Raticidas e Domissanitários

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Praguicidas: Tipos, Ação e Tratamento

Utilizados para prevenir e reduzir a proliferação de insetos e fungos nas plantas, os praguicidas podem degradar recursos naturais, exigindo uso controlado.

Inibidores da Acetilcolinesterase

Organofosforados e Carbamatos (Chumbinho)

  • Mecanismo de Ação: Inibem a acetilcolinesterase, impedindo a degradação de acetilcolina. Esta se acumula, ligando-se aos receptores de outros órgãos e causando os sintomas. Esse acúmulo evita a transmissão de outros neurotransmissores através da fenda sináptica, provocando um colapso no SNC.
  • Sintomas: Hipersecreção brônquica, dispneia, náusea, vômito, diarreia, incontinência fecal, sudorese, lacrimejamento, bradicardia, hipertensão, visão turva, fraqueza muscular, tremores, confusão mental, convulsões, depressão respiratória e cardiovascular.
  • Tratamento e Antídoto: Lavagem gástrica, carvão ativado, mais catártico em múltiplas doses. Atropina bloqueia os efeitos muscarínicos. Pralidoxima, como antídoto, atua reativando as acetilcolinesterases inibidas, protegendo-as e potencializando os efeitos da atropina.
  • Exame: Determinação da atividade da acetilcolinesterase (AChE), que também está no sangue e será igualmente inibida. Este exame indicará em porcentagens o grau de exposição ao organofosforado.

Organoclorados (DDT)

  • Mecanismo de Ação: Alteram as propriedades eletrofisiológicas da membrana dos neurônios, bloqueando a bomba de Na+ e K+, prolongando a sinapse. O neurônio despolariza, abrindo os canais de Ca2+, que entra e vai para a vesícula, migrando para as bordas e fazendo fusão para a liberação de neurotransmissores.
  • Sintomas: Convulsão, cefaleia, tremores, vertigens, sudorese, dispneia, respiração deprimida.
  • Tratamento: Evitar êmese, tentar controlar os sinais vitais. Convulsões com Diazepam, arritmias com Propranolol e pneumonia com antibióticos. Não há antídoto específico.
  • Exame: Cromatografia.

Piretroides (Deltametrina)

  • Mecanismo de Ação: Causa irritabilidade e lesões teciduais. Prolonga a abertura dos canais de Na+ da membrana celular, retardando a repolarização.
  • Sintomas:
    • Na Pele: Edema, queimação.
    • Nos Olhos: Lesão na córnea.
    • Inalação: Rinite, asma.
    • Ingestão: Se não engolido, lavar com H2O. Se engolido, carvão ativado, bloqueador H2.

Paraquat (Bipiridilos)

  • Mecanismo de Ação: Quando ingerido, é transformado em radicais livres, formando peróxido de hidrogênio que causa lesão tecidual por peroxidação lipídica das membranas celulares.
  • Sintomas:
    • Fase 1: Diarreia, vômito, lesão no trato gastrointestinal (TGI).
    • Fase 2: Comprometimento do sistema renal. O rim não consegue eliminar, causando insuficiência renal e macro-hematúria.
    • Fase 3: Comprometimento do sistema respiratório. Ocorre colapso alveolar, causando insuficiência respiratória.
  • Exames: Cromatografia, ECG, EDA, CK, RX, hemograma, gasometria, TGP, TGO, bilirrubina.
  • Tratamento: Desobstrução das vias aéreas, ventilação, indução de vômito até 1 hora após ingestão, lavagem gástrica com SF 0,9% nas primeiras 2 horas.

Glifosato (Roundup)

  • Mecanismo de Ação: Inibição competitiva de enzima essencial na síntese proteica das plantas, cessando o crescimento e levando à morte.
  • Sintomas:
    • Forma Leve: Náusea, diarreia, vômito.
    • Forma Grave: Insuficiência respiratória e renal, convulsões, parada cardiorrespiratória. No rim: ação direta do veneno, hipotensão, hemólise.
  • Exames: Cromatografia, EDA, hemograma, gasometria, função renal, TGP, TGO.
  • Tratamento: Lavagem gástrica até 4 horas, carvão ativado (dose única), acidose com bicarbonato de sódio.

Rodenticidas/Raticidas

Cumarínicos (Varfarina)

  • Mecanismo de Ação: Inibição da síntese dos fatores da coagulação dependentes da vitamina K.
  • Sintomas: Sangramento gengival, equimoses, hemorragias.
  • Tratamento: TAP (Tempo de Atividade da Protrombina), lavagem gástrica, carvão ativado e catártico.

Domissanitários

Bases Fortes

  • Promovem necrose por liquefação, permitindo rápida penetração do agente cáustico e causando lesão profunda. Ex: Qboa, soda, detergentes aniônicos, pilhas.
  • Lesões Digestivas: Eritema, edema, dor em queimação, odinofagia, náusea, vômito, úlcera na mucosa, cólicas, diarreias, perfuração visceral. Pilhas e baterias: impacto no esôfago, obstrução de vias aéreas, ruptura com liberação de material cáustico – perfuração.
  • Tratamento: Diluição com água ou leite o mais rápido possível, remoção, endoscopia. Se houver ruptura: remoção cirúrgica.
  • Lesões Respiratórias: Inflamações na mucosa respiratória: tosse, edema de mucosa, dispneia, espasmo de glote, pneumonite, edema pulmonar. Alterações sistêmicas: cefaleia, tontura, vômito, fraqueza, taquicardia. Em casos de tontura, pode ocorrer morte rápida por asfixia.
  • Tratamento: Remover para local ventilado, oxigênio no hospital, traqueostomia.
  • Lesões Oculares: Conjuntivite, lacrimejamento e fotofobia. Em exposições maiores, causa dor intensa e edema.
  • Tratamento: Lavar com SF por no mínimo 3 horas, usar colírio cicloplégico, antibiótico tópico.
  • Lesões Dérmicas: Pele esbranquiçada, edema, escorregadia, com rápida evolução para necrose de liquefação.
  • Tratamento: Lavar com água fria por no mínimo 30 minutos até desaparecer a sensação de superfície escorregadia.

Ácidos Fortes

  • Promovem necrose por coagulação. A coagulação limita a profundidade, mas não a extensão, podendo atingir o estômago. Ex: amaciantes.
  • Tratamento: Se conseguir engolir, fazer diluição com até 250ml de água ou leite, usar bloqueador de bomba de prótons (Omeprazol).
  • Lesões Respiratórias: Tosse, dispneia, edema de glote, tonturas, fraqueza.

Ácido de Comportamento Atípico (Limpador, Polidor de Materiais)

  • Provoca lesões típicas de contato, altera os batimentos cardíacos, causa convulsão, insuficiência renal, hipocalcemia, gerando cristais de oxalato de cálcio.
  • Tratamento: Lavagem gástrica com solução de cloreto, carbonato ou gluconato de cálcio, se houver tempo. Caso contrário, aplicar gluconato de cálcio IV para corrigir a hipocalcemia.

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