Guia de Patologias das Glândulas Salivares e Lesões Orais

Classificado em Medicina e Ciências da Saúde

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Mucocele (Fenômeno de Extravasamento de Muco)

A Mucocele não é um cisto verdadeiro, pois não possui revestimento epitelial circundante. É uma lesão comum da mucosa oral resultante da ruptura de um ducto de glândula salivar e o extravasamento da mucina para dentro dos tecidos moles adjacentes (tecido conjuntivo).

  • Características: Aumento de volume mucoso em forma de cúpula (1 mm a alguns cm); geralmente flutuante; pode apresentar coloração azulada, ser bem definido e avermelhado (clássico) ou disperso e da cor da mucosa.
  • Epidemiologia: Mais comum em crianças e adultos jovens; resultante geralmente de um trauma local.
  • Localização: Mais comum no lábio inferior, na área do canino.
  • Lesão fundamental: Nódulo ou bolha (se for possível visualizar líquido em seu interior).
  • Histopatológico: Área de mucina extravasada circundada por tecido de granulação reacional; presença de histiócitos espumosos (macrófagos); glândulas menores adjacentes com infiltrado inflamatório crônico e ductos dilatados. Em alguns casos, o ducto salivar rompido aparece desembocando dentro da área.
  • Tratamento: Algumas se rompem e cicatrizam sozinhas; a maioria deve ser tratada com excisão cirúrgica, devendo-se remover qualquer glândula salivar menor que possa localizar-se dentro da lesão; outras opções incluem criocauterização e micromarsupialização. O prognóstico é excelente.

Rânula

A Rânula é uma mucocele no assoalho da boca. São bem maiores, pois acometem uma glândula maior (sublingual).

  • Clínica: Nódulo grande ou tumor; começa sempre unilateral; aumento de volume flutuante, de formato abaulado e coloração azulada no assoalho bucal.
  • Diagnóstico Diferencial: Pode ser confundida com o cisto dermoide/epidermoide. Diferenciação: a rânula começa em um dos lados (unilateral) e tem crescimento rápido e conteúdo líquido; o cisto começa no meio (linha média), tem crescimento lento e conteúdo pastoso. Outro diferencial clínico é o prolapso do assoalho bucal (em pacientes desdentados).
  • Histopatológico: Mucina extravasada com tecido de granulação reacional circundante que tipicamente contém histiócitos (macrófagos) espumantes.
  • Tratamento: Remoção da glândula sublingual e/ou marsupialização ou micromarsupialização.

Síndrome de Sjögren

Doença autoimune crônica que ocorre mais em mulheres na meia-idade, frequentemente relacionada ao estresse.

  • Xerostomia: Menor salivação; saliva espumosa; dificuldade no uso de dentadura; alteração no paladar; língua fissurada ou atrofia papilar. Pode ser decorrente de radioterapia ou idade (senilidade). Causa dificuldade de deglutição e fala, mucosa avermelhada e sensível (candidíase), acúmulo de placa e predisposição a cáries cervicais e sialadenite bacteriana.
  • Outros Sintomas: Secura nos olhos (xeroftalmia) e dor articular.
  • Classificação: Primária (Síndrome Sicca: xerostomia e xeroftalmia) ou Secundária (associada a outras doenças autoimunes como artrite reumatoide ou lúpus eritematoso).
  • Achados Laboratoriais: Velocidade de hemossedimentação elevada; níveis de IgG elevados; fator reumatoide (FR) positivo em 60% dos casos; anticorpos antinucleares (ANAs) presentes em 75–85%; anti-SS-A em mais de 40% e anti-SS-B em mais de 25% dos casos.
  • Histopatológico: Infiltração linfocítica nas glândulas salivares com destruição das unidades acinares; agregados inflamatórios crônicos focais (mais de 50 linfócitos e plasmócitos).
  • Tratamento: Multidisciplinar (reumatologista, oftalmologista e cirurgião-dentista). O tratamento odontológico é paliativo, com uso de sialogogos, saliva artificial e flúor.

Sialadenite

  • Clínica: Inflamação da glândula salivar. Forma Aguda: aumento de volume e dor na glândula com pele quente e edema; pode haver febre baixa, trismo e saída de pus do ducto ao massagear. Forma Crônica: decorrente de obstrução persistente; dor e aumento da glândula próximos às refeições.
  • Etiologia: Infecciosa (principalmente caxumba); cirurgia recente; medicação que induz xerostomia; ou não infecciosa (radioterapia, Síndrome de Sjögren).
  • Histopatológico: Aguda: acúmulo de neutrófilos nos ductos. Crônica: infiltrado crônico no parênquima glandular, atrofia de ácinos e dilatação de ductos.
  • Tratamento: Reidratação do paciente, antibióticos e drenagem em caso de abscesso.

Sialolitíase

  • Etiologia: Formação de sialólitos (cálculos calcificados); causa desconhecida.
  • Clínica: Aumento de volume arredondado, duro e amarelo; mais comum em adultos jovens e no ducto submandibular. Causa dor e aumento da glândula.
  • Radiográfico: Massa radiopaca.
  • Histopatológico: Laminação concêntrica ao redor de um ninho amorfo de debris; inflamação circundando o ducto.
  • Tratamento: Cálculos pequenos podem ser massageados para expelir; recomenda-se aumentar a ingestão de líquidos, aplicação de calor e uso de sialogogos. Cálculos grandes exigem excisão cirúrgica.

Tumores de Glândula Salivar

Adenoma Pleomórfico

  • Etiologia: Mistura de elementos mioepiteliais e ductais.
  • Clínica: Aumento de volume firme e indolor; crescimento lento; comum entre 30 e 60 anos.
  • Histopatológico: Tumor encapsulado e bem circunscrito; pode haver infiltração de células tumorais; mistura de epitélio glandular e células mioepiteliais; epitélio com ductos, estruturas císticas ou ilhas/cordões celulares; acúmulo de muco entre células; parênquima hialinizado.
  • Tratamento: Excisão cirúrgica.

Carcinoma Mucoepidermoide

  • Clínica: Mais comum na parótida; aumento de volume assintomático; dor ou paralisia do nervo facial ocorrem apenas quando a lesão é grande.
  • Histopatológico: Mistura de células acinares e escamosas (poligonais) junto a células intermediárias (progenitoras); pode apresentar infiltrado linfoide.
  • Tratamento: Remoção cirúrgica.

Carcinoma Adenoide Cístico

  • Clínica: 60% ocorrem em glândulas salivares menores; pacientes com mais de 20 anos; aumento de volume com crescimento lento e dor constante.
  • Histopatológico: Mistura de células ductais e mioepiteliais; apresenta invasão perineural e três padrões distintos.
  • Radiográfico: Pode apresentar destruição óssea.
  • Tratamento: Excisão e radioterapia; possui alta taxa de recidiva (35% apresentam metástase).

Lesão Física: Úlcera Traumática

  • Etiologia: Mordidas durante a mastigação, fala ou sono; alimentos cortantes; escovação excessiva; queimaduras químicas ou elétricas.
  • Clínica: Áreas de eritema ao redor de uma membrana central destacável e fibrinopurulenta de cor amarela; margem branca de hiperqueratose.
  • Histopatológico: Membrana fibrinopurulenta com neutrófilos; epitélio normal ou pouco hiperplásico.
  • Tratamento: Remoção da fonte de irritação e alívio da dor.

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