H2: Inflação, Moeda e Sistema Financeiro: Conceitos Essenciais

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- Inflação

Inflação pode ser definida como “o aumento persistente e generalizado no nível geral de preços” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2006, p. 223). O processo contrário é denominado deflação.

O que devemos compreender por aumento persistente e generalizado? Significa que os preços de bens e serviços não sofreram apenas um reajuste passageiro, mas sim persistente. Além disso, o aumento no preço de um só produto isoladamente não representa uma elevação da inflação.

Agora que sabemos o que é inflação, devemos entender quais são as distorções causadas pela presença de altas taxas de inflação em um país.

Distorções Causadas pela Inflação

Perda do Poder Aquisitivo e Agravamento na Distribuição de Renda

De forma geral, os preços mais altos provocam uma redução no poder aquisitivo. Contudo, essa redução é maior nos assalariados que dependem de um aumento nos salários que, por lei, ocorre uma vez por ano, para conseguir repor as perdas. Particularmente, essa perda do poder aquisitivo é maior nos assalariados que ganham menos.

Por outro lado, os empresários e o governo perdem menos, pois conseguem repassar o aumento da inflação para os preços de seus produtos vendidos e impostos cobrados. Dessa maneira, a distribuição de renda tende a piorar.

Redução das Exportações

Com a inflação em alta e maior que a de outros países, o produto nacional tende a ficar mais caro, reduzindo a competitividade e, consequentemente, reduzindo as exportações do país.

Inibição dos Investimentos

A tomada de decisões do empresário é bastante influenciada pela inflação no que diz respeito às expectativas sobre o futuro, dada a instabilidade e a imprevisibilidade de seus lucros. O empresário permanecerá em compasso de espera e dificilmente tomará iniciativas para aumentar os investimentos. Ou seja:

Inflação → Incerteza → Redução dos Investimentos → Redução do Crescimento Econômico

Até agora, vimos que altas taxas de inflação trazem uma série de problemas a um país!

Causas da Inflação

REFLITA

No entanto, se a inflação está associada ao aumento de preços, o que provoca isso? Ou seja, o que faz os preços aumentarem?

Basicamente, a inflação pode ter duas origens: excesso de demanda e aumento dos custos de produção.

Inflação de Demanda

Quando a demanda agregada é maior do que a quantidade de bens e serviços ofertados, isso provoca o que chamamos de inflação de demanda. Contudo, a probabilidade de ocorrer inflação de demanda aumenta quando a economia está produzindo próximo do pleno emprego de recursos.

O processo pode ser ilustrado da seguinte forma:

  • Pouca demanda → Pouca produção (capacidade ociosa de 10%)
  • Aumento da demanda → Aumento da produção (capacidade ociosa de 5%)
  • Aumento da demanda → Aumento da produção (capacidade ociosa de 2%)
  • Aumento da demanda → Pleno emprego (capacidade ociosa = 0%)
  • Aumento de demanda (além do limite de produção) → Inflação

No exemplo acima, vemos que, quando a economia está desaquecida e, portanto, com pouca demanda, os empresários respondem com uma produção baixa e capacidade ociosa de 10% – o que significa que o país está produzindo 10% abaixo do potencial. Se a economia começa a aquecer e a demanda aumenta, a produção aumenta também, reduzindo a capacidade ociosa. Entretanto, chega um momento em que a demanda aumenta mais um pouco e a produção não pode mais aumentar, pois já atingiu o limite de produção (capacidade ociosa 0%). Se a demanda continuar a aumentar, os preços tendem a aumentar, pois a economia não tem mais a capacidade de responder aumentando a produção. Isso ocorre quanto mais próximo de seu limite de produção as empresas estiverem produzindo.

REFLITA

O que um governo deve fazer para controlar uma inflação de demanda?

A inflação de demanda também pode estar associada ao desequilíbrio das contas públicas. Isso ocorre quando o governo gasta mais do que arrecada e, portanto, apresenta um déficit fiscal e pode emitir mais moeda. Contudo, ao fazer isso, aumenta a demanda e há aumento da inflação.

Controle da Inflação de Demanda

Se a inflação é provocada por um excesso de demanda, o governo terá que implementar medidas que reduzam a demanda agregada, tais como:

  • Aumento da carga tributária;
  • Redução dos gastos públicos;
  • Arrocho salarial;
  • Aumento da taxa de juros;
  • Redução do crédito.

Inflação de Custos

Além do excesso de demanda, os preços podem aumentar devido ao aumento dos custos de produção. “A inflação de custos pode ser associada a uma inflação tipicamente de oferta. O nível de demanda permanece o mesmo, mas os custos de certos fatores de produção aumentam.”

REFLITA

O que costuma provocar o aumento de custos e, em consequência, inflação de custos?

Podemos citar, entre outras causas da inflação de custos:

  • Elevação dos custos de matéria-prima;
  • Aumentos salariais superiores à inflação e aos ganhos de produtividade;
  • Redução da produção;
  • Presença de oligopólios e monopólios.

SAIBA MAIS

Taxa Selic

O Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) foi criado, em 1979, pelo Banco Central e pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto) com o objetivo de tornar mais transparente e segura a negociação de títulos públicos. O Selic é um sistema eletrônico que permite a atualização diária das posições das instituições financeiras, assegurando maior controle sobre as reservas bancárias. Hoje, Selic identifica também a taxa de juros que reflete a média de remuneração dos títulos federais negociados com os bancos. A Selic é considerada a taxa básica porque é usada em operações entre bancos e, por isso, tem influência sobre os juros de toda a economia. (FOLHA DE SÃO PAULO, 14/05/2009, Caderno de Economia, p. 5).

Metas de Inflação

Desde 1999, o Banco Central trabalha com uma meta de inflação a ser alcançada no ano, com uma margem de tolerância de 2% acima ou abaixo do centro da meta. Nesse caso, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, a cada 45 dias, se reúne e, de acordo com os níveis de inflação, altera ou não a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) buscando atingir a meta.

- Moeda e Sistema Financeiro

REFLITA

Você sabe o que é moeda?

Conceito e Evolução da Moeda

Segundo Vasconcellos & Garcia (2006, p. 139), “moeda é qualquer instrumento ou objeto que é aceito pela coletividade para intermediar as transações econômicas”. Para compreendermos melhor esse conceito, vamos ver como se deu a evolução da moeda.

Para Vasconcellos & Garcia (2006), a história da moeda pode ser dividida nas seguintes fases (Figura 7.1):

Figura 7.1 - Fases da História da Moeda

  • Era da Troca de Mercadorias (Escambo)
  • Era da Moeda Mercadoria
  • Era da Moeda Metálica
  • Era da Moeda Papel
  • Era do Papel-Moeda Conversível em Ouro (Padrão-Ouro)
  • Era da Moeda Fiduciária

Fonte: Autora

Era da Troca de Mercadorias (Escambo)

SAIBA MAIS

Escambo: As feiras do rolo que ocorrem atualmente são um exemplo de economia de escambo. No entanto, a dificuldade de simplesmente efetuar trocas apenas de mercadorias faz com que, em vários momentos, a troca envolva mais algum produto.

No início da humanidade, não existia moeda, e as pessoas eram obrigadas a trocar diretamente mercadoria por mercadoria. Isso é o que chamamos de escambo. Se João dispunha de arroz e necessitava de um cavalo, em primeiro lugar, precisava encontrar alguém que, ao mesmo tempo, estivesse disposto a abrir mão do cavalo e procurasse arroz. Ou seja, teria de haver dupla coincidência de desejos. Outras questões são: saber qual a quantidade necessária de cada bem para que ocorra a troca? Qual o volume de arroz que João terá de ter para poder trocar pelo cavalo? Esse é um dos problemas de uma economia de escambo.

Era da Moeda Mercadoria

Com o objetivo de facilitar as trocas, chegamos à era da moeda mercadoria. Nessa fase, a sociedade elege um produto como referência para as trocas, que se torna uma moeda. A escolha de um produto ocorre em virtude do seu grau de importância e da raridade na região ou no período em questão.

Historicamente, o gado foi a mercadoria mais utilizada como moeda. Essa escolha ocorria não apenas em função do próprio valor do gado, mas pela capacidade de reprodução que aumentava seu valor. Por outro lado, a desvantagem seria a dificuldade em dividir o gado com o objetivo de comprar outras mercadorias como arroz ou sal.

Era da Moeda Metálica

Os metais preciosos foram utilizados como moeda por apresentarem características essenciais como maior durabilidade e a possibilidade de produzir moedas com tamanhos e valores diferentes. A dificuldade de se carregar a moeda em função do peso e do risco de ser assaltado eram obstáculos à sua utilização.

Era da Moeda Papel

A moeda metálica foi substituída, em determinados locais, pela moeda papel, que era um certificado de depósito emitido pelas Casas de Custódia. Ao invés de carregarem moedas metálicas, as pessoas as deixavam guardadas em estabelecimentos que se comprometiam a tomar conta. Em troca, recebiam um certificado garantindo que elas tinham um determinado valor de ouro. Assim, caso os detentores desses certificados quisessem comprar algum bem, poderiam efetuar o pagamento com esse documento e o portador poderia a qualquer momento trocá-lo pelo ouro.

SAIBA MAIS

Liquidez: Liquidez é a capacidade que um ativo tem de ser prontamente disponível e aceito para as mais diversas transações.

Era do Papel-Moeda Conversível em Ouro (Padrão-Ouro)

Nesse tipo de moeda, a cada unidade monetária emitida, o governo deveria ter o equivalente em reserva de ouro. Assim, a moeda em si tinha valor, pois poderia, a qualquer momento, ser trocada pela quantidade equivalente em ouro. Esse tipo de sistema monetário ficou conhecido como padrão-ouro.

Era da Moeda Fiduciária

Hoje vivemos na era da moeda fiduciária, na qual a moeda só tem valor porque o Banco Central de cada país garante isso. A palavra fidúcia significa confiança. Portanto, a moeda é aceita por força da lei.

Funções da Moeda

REFLITA

Para que serve uma moeda? Quais são as suas funções?

De maneira geral, as funções da moeda são três:

  1. Meio ou instrumento de troca;
  2. Denominador comum monetário (unidade de medida);
  3. Reserva de valor.

- Conceito de Oferta de Moeda

A oferta de moeda é sinônima de meios de pagamento, que é o total de moeda à disposição do setor privado não-bancário, de liquidez imediata.

Os meios de pagamento (M) são calculados pela soma da moeda em poder do público (PP) e dos depósitos à vista (DV):

M = PP + DV

  • M = Meios de pagamento
  • PP = Moeda em poder do público
  • DV = Depósitos à vista (dinheiro em conta corrente)

Oferta de Moeda

A moeda pode ser ofertada pelas autoridades monetárias (Banco Central) e pelos bancos comerciais (que têm correntistas).

Oferta de Moeda pelos Bancos Comerciais: O Multiplicador Monetário

Os bancos comerciais podem aumentar a oferta monetária por meio da multiplicação dos depósitos à vista.

Exemplo de Multiplicador Monetário:

Suponhamos que:

  1. A emissão primária de moeda pelo Banco Central seja de $ 100.000, sendo essa quantia entregue ao público;
  2. As pessoas depositarão todo o dinheiro nos bancos comerciais (por simplificação, estamos supondo que não há moeda em poder do público);
  3. Os bancos precisam manter em reservas 40% dos depósitos (depósito compulsório);
  4. Os bancos irão reter apenas o necessário para cobrir as reservas e emprestarão os recursos remanescentes.

Tabela 7.1 – Exemplo de Multiplicador Monetário.

BancoDepósitos à VistaReserva dos Bancos Comerciais (40% dos depósitos à vista)Empréstimos
Total250.000100.000150.000
A100.00040.00060.000
B60.00024.00036.000
C36.00014.40021.600
D21.6008.64012.960
E12.9605.1847.776
Demais bancos19.4407.77611.664

Oferta inicial (moeda manual): $ 100.000

Oferta total (depósitos à vista): $ 250.000

Fonte: Vasconcellos & Garcia (2009, p.179).

De um total inicial de $ 100.000,00, os bancos multiplicaram a quantidade de moeda em 2,5 vezes.

SAIBA MAIS

Multiplicador Monetário e Multiplicador da Base Monetária

O multiplicador monetário (simples) não leva em consideração o efeito da retenção da moeda em poder do público. Quanto mais o público (pessoas físicas e empresas não-financeiras) retém moeda, menos deposita nos bancos e menor é a multiplicação monetária.

Nesse sentido, o que se utiliza é o multiplicador da base monetária, que é a soma da moeda em poder do público e das reservas bancárias (compulsórias, técnicas e voluntárias), excluindo apenas a moeda que permaneceu no Bacen.

Oferta de Moeda pelo Banco Central (BC)

O Banco Central oferta moeda por meio dos instrumentos de política monetária:

  • Emissões;
  • Depósitos compulsórios;
  • Open market (operações de mercado aberto);
  • Redesconto;
  • Determinação da taxa básica de juros (Taxa Selic);
  • Regulamentação da moeda e do crédito.

O Banco Central tem como funções principais:

  • Banco emissor;
  • Banco dos bancos;
  • Controle e regulamentação da oferta de moeda;
  • Controle dos capitais estrangeiros e das operações com moeda estrangeira;
  • Fiscalização das instituições financeiras.

O Papel da Taxa de Juros

Para as Empresas

A taxa de juros afeta as decisões empresariais quanto à compra de máquinas, equipamentos, aumentos ou diminuições de estoques, de matérias-primas ou de bens finais e de montantes de capital de giro.

As decisões são afetadas não só pelos níveis atuais de juros, mas também pelas expectativas dos níveis futuros de taxas de juros. Se, por exemplo, as expectativas quanto à trajetória da taxa de juros for pessimista:

  • Deverão manter níveis baixos de estoques e mesmo de capital de giro, uma vez que o custo de manutenção desses ativos poderá ser extremamente oneroso no futuro.
  • Inviabilizará muitos projetos de investimentos em bens de capitais e os empresários optarão por aplicar seus recursos no mercado financeiro.

Para os Consumidores

A taxa de juros afeta as decisões de compra dos consumidores. Se, por exemplo, as taxas de juros aumentam:

  • Inibe o consumo, particularmente de bens de consumo duráveis, pois aumentam os custos do financiamento, estimulando a preferência por aplicações financeiras em detrimento do consumo, com o objetivo de obter receitas financeiras.

Para os Mercados Financeiros Internacionais

Se, por exemplo, tudo o mais constante, a taxa de juros no Brasil se tornar relativamente mais elevada do que a taxa praticada nos EUA, haverá maior demanda por crédito externo, comparativamente à situação anterior.

Segmentos do Sistema Financeiro Nacional

No que diz respeito a suas finalidades e às instituições que as praticam, as operações do sistema financeiro podem ser agregadas em cinco grandes mercados:

Mercado Monetário

Nesse segmento, são realizadas as operações de curtíssimo prazo com a finalidade de suprir as necessidades de caixa dos diversos agentes econômicos, entre os quais se incluem as instituições financeiras.

A oferta de liquidez nesse mercado é afetada pelas operações que sensibilizam as reservas bancárias que os bancos mantêm no Banco Central, por meio de operações de mercado aberto, para evitar flutuações muito acentuadas na liquidez bancária. Exemplos: Fundos de curto prazo, open market, Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs), etc.

Mercado de Crédito

Nesse mercado, são atendidas as necessidades de recursos de curto, médio e longo prazo, principalmente oriundas da demanda de crédito para aquisição de bens de consumo duráveis e da demanda de capital de giro das empresas.

A oferta, no mercado de crédito, é determinada fundamentalmente pelas instituições bancárias. Exemplos: Crédito rápido, desconto de duplicatas, giro, etc.

Mercado de Capitais

Esse segmento supre as exigências de recursos de médio e longo prazo, principalmente com a realização de investimentos em capital. Nesse mercado é negociada grande variedade de títulos, desde os de endividamento de curto prazo (commercial papers) e de longo prazo (debêntures), passando por títulos representativos do capital das empresas (ações) e até de outros ativos ou valores (mercadorias, parcerias em gado, etc.).

Mercado Cambial

Nele, são realizadas a compra e a venda de moeda estrangeira, para atender a diversas finalidades, como a compra de câmbio para a importação; a venda, por parte dos exportadores; e venda/compra para viagens e turismo. As operações no mercado cambial são realizadas pelas instituições financeiras — bancos e casas de câmbio — autorizadas pelo Banco Central.

Mercado de Seguros, Capitalização e Previdência Privada

Nesse mercado, são coletados recursos financeiros ou poupanças, destinados à cobertura de finalidades específicas, como a proteção a riscos (seguro), capitalização e obtenção de aposentadorias e pensões (previdência privada).

Em razão da importância que têm na formação de poupanças no longo prazo, essas instituições também são chamadas de investidores institucionais.

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