h2>Nicolau Maquiavel: Vida, Obra e a Verdade Efetiva das Coisas

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Nicolau Maquiavel: O Cidadão Sem Fortuna, o Intelectual de Virtù

O Conceito de Maquiavelismo

Maquiavelismo
Associação à ideia de perfídia, a um procedimento astucioso, velhaco e traiçoeiro.
“Antimaquiavelismo”
O termo “Maquiavelismo” tornou-se mais forte que Maquiavel.
É um mito que sobrevive independente do conhecimento do autor ou da obra onde teve origem.

Rousseau e Maquiavel

Rousseau opõe-se aos intérpretes que viam em Maquiavel um “autor maldito” e afirma: “Maquiavel, fingindo dar lições aos príncipes, deu grandes lições ao povo” (Do Contrato Social, Livro 3, Cap. IV).

As Desventuras de um Florentino

Maquiavel nasceu em Florença, Itália, em 3 de maio de 1469, onde passou a infância e a adolescência. Filho de um advogado estudioso das humanidades, recebeu do pai uma aprimorada educação clássica.

Carreira Pública e Exílio

  • 1498 (29 anos): Exerceu o primeiro cargo de destaque na vida pública, ocupando a Segunda Chancelaria, considerada uma posição de responsabilidade moderada na administração do Estado.
  • Ocupando a Segunda Chancelaria, preocupou-se em instituir uma milícia nacional.
  • 1512: Os Médicis recuperam o poder, Soderini (governante) foi exilado e a República foi dissolvida. Maquiavel foi demitido, proibido de abandonar o território florentino por um ano e teve o acesso a qualquer prédio público proibido.
  • 1513: Foi considerado suspeito e acusado de tomar parte na fracassada conspiração contra os Médicis. Foi torturado, condenado à prisão e a pagar multa alta.
  • Saiu da prisão, devido à interferência do amigo Vettori, mas foi exilado na própria terra, proibido de exercer a profissão. Passou a morar em São Casciano, numa propriedade herdada dos pais e avós.

As Principais Obras

Deste forçado retiro nasceram suas principais obras:

  • 1512 a 1513: O Príncipe.
  • 1513 a 1519: Os Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio.
  • 1519 a 1520: A Arte da Guerra.
  • 1520 a 1525: História de Florença – Última obra e última frustração. Escrita a pedido do Cardeal Júlio de Médicis, presidente da Universidade de Florença.

Última Frustração e Morte

A História de Florença foi sua última frustração, porque com a queda dos Médicis em 1527 e a restauração da República, os republicanos consideraram-no alguém que possuía ligações com os tiranos depostos, uma vez que recebera deles a tarefa de escrever sobre sua cidade. É considerado inimigo da República.

1527 – Junho: Maquiavel adoece e morre.

Cenário Político da Itália

Período de Infância e Adolescência de Maquiavel

A Itália era um “mosaico” político – cidades expostas a invasões consecutivas por parte de estrangeiros.

  • 1494: A cidade experimentou certa tranquilidade, devido à influência de Lourenço, o Magnífico.
  • Últimos anos do século: Desordem e instabilidade, provocadas pelas dissensões internas e entre regiões, e pelas invasões de nações poderosas, dentre elas França e Espanha.

Mapa Político da Itália

Sul
Reino de Nápoles, comandado por Aragão.
Centro
Estados Papais, controlados pela Igreja, e República de Florença, comandada pelos Médicis.
Norte
Ducado de Milão e a República de Veneza.

A Verdade Efetiva das Coisas (Verità Effettuale)

A preocupação central de Maquiavel em todas as suas obras é o Estado.

O Estado deve ser real, capaz de impor a ordem – Maquiavel rejeita a tradição idealista de Platão, Aristóteles e São Tomás de Aquino (Ruptura com os Clássicos Greco-Romanos).

  • Ponto de partida e chegada: a realidade concreta.
  • Ênfase na Verità Effettuale – Verdade Efetiva das Coisas.
  • Regra Metodológica de Maquiavel: Ver e examinar a verdade tal como ela se apresenta e não como se gostaria que ela fosse.
  • Substituição do reino do dever ser pelo reino do ser, da realidade.

Problema Central da Análise Política de Maquiavel: Descobrir como pode ser resolvido o inevitável ciclo de estabilidade e caos do poder.

A Ordem Política

Maquiavel rompe com o saber repetido pelos séculos. Põe fim à ideia de uma ordem natural e eterna. Prega que a ordem não é natural.

  • A ordem serve para evitar o caos e a barbárie. Não é definitiva, pois há a ameaça de que possa ser desfeita.
  • A ordem resulta de feixes de força, oriundas das ações concretas dos homens em sociedade, mesmo que nem todas as suas faces sejam provenientes do reino da racionalidade e sejam reconhecidas imediatamente.

Maquiavel é um clássico da filosofia política – fala do poder que todos sentem, mas não conhecem. Qualquer tentativa de compreendê-lo é provisória e sujeita a interpretações diversas sempre.

Natureza Humana e História

Maquiavel, guiado pela busca da “Verdade Efetiva”, observa que há traços imutáveis nos homens (o tempo não modificou o homem e nem mesmo a sua natureza).

Afirma que os homens “são ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os perigos, ávidos de lucro” (O Príncipe, Cap. XVII).

  • Visão de Homem para Maquiavel: Racionalidade instrumental: busca sempre o êxito (cálculo custo x benefício).
  • Do estudo do passado deve-se extrair as causas e os meios utilizados para enfrentar o caos resultante da expressão da natureza humana.
  • A ordem sucede a desordem, que clama por uma nova ordem.
  • A origem do poder político é mundana. Nasce com a “malignidade”.
  • O Poder é a única possibilidade de enfrentar o conflito estabelecido pela “malignidade”.

Anarquia, Principado e República

A Desordem origina-se da imutável natureza humana, marcada pela presença de duas forças opostas: uma quer dominar e outra não quer ser dominada.

O Problema Político é encontrar mecanismos que imponham a estabilidade das relações, que sustentem determinada correlação de forças.

Tipos de Estado

Principado
A nação se encontra deteriorada, a corrupção alastrou-se, necessitando-se de um governo forte.
República
A nação já encontrou formas de equilíbrio. O poder político cumpriu sua função regeneradora e “educadora”.

República: Os conflitos são fonte de vigor, sinal de uma cidadania ativa, portanto, desejáveis.

Para Maquiavel não existe Estado ideal. O que importa são as necessidades. Assim, em alguns momentos a República será necessária, em outros o Principado.

Virtù e Fortuna

A atividade política exige Virtù sobre a Fortuna.

Virtù
Força, sabedoria/astúcia e coragem.
Fortuna
Riqueza, glória e honra/poder.

A prática do homem livre de freios extraterrenos, do homem, sujeito da história. A liberdade humana é capaz de amortecer o suposto poder incontestável da Fortuna.

Poder, honra e glória (Fortuna) são tentações mundanas – bens perseguidos e valorizados. O homem de Virtù pode consegui-los e por eles luta, contudo, não pode se deixar seduzir pela Fortuna.

O Poder funda-se na força, mas é necessário Virtù para mantê-lo.

Tipos de Principados

  • Hereditário
  • Novos
  • Mistos

O Perfil do Príncipe

O Príncipe deve guiar-se pela necessidade:

  • Sabedoria de agir conforme as circunstâncias.
  • Aparentar possuir as qualidades valorizadas pelos governados.
  • A Virtù política exige os vícios e o reenquadramento da força.
  • Agir como homem e como animal.

Relação do Príncipe com o Povo: Mantê-lo como amigo, como aliado.

Desejo do Povo Segundo Maquiavel: Não se sentir oprimido.

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