História Econômica Pós-Guerra: Marshall, Ouro e Modelos Globais
Classificado em História
Escrito em em
português com um tamanho de 30 KB
Ordem Política e Recuperação Econômica no Pós-Guerra
Os danos da Segunda Guerra Mundial foram superiores, apesar de a recuperação subsequente ter sido muito mais rápida, porque:
- Não houve obrigação de a Alemanha reparar os danos.
- A recuperação nos intercâmbios econômicos generalizados ajudou a recuperação.
O envolvimento dos EUA acelerou essa recuperação. O auxílio econômico para a Europa veio principalmente dos EUA e tinha duas fontes de distribuição:
- Alimentos e remédios para a produção dos exércitos aliados.
- Ajuda à reconstrução das Nações Unidas (UNRRA) em 1945-1946, que custou mais de um bilhão de dólares e distribuiu 20 mil toneladas de alimentos, roupas, cobertores e medicamentos. Os EUA foram responsáveis por mais de 2/3 dessa ajuda.
A UNRRA, em seguida, deu lugar a outro organismo. Ao contrário do que aconteceu após a Primeira Guerra Mundial, todos os países envolvidos na Segunda Guerra Mundial tinham consciência de que era impossível voltar ao mesmo estado de coisas de antes da guerra. Contra o isolacionismo dos anos 20, os EUA envolveram-se significativamente na reconstrução da economia europeia.
A ajuda americana não era desinteressada por 3 razões:
- Estavam interessados na reconstrução de um sistema internacional multilateral, contra o nacionalismo e o protecionismo do período de guerra, onde as políticas estatais se fechavam.
- A descida das exportações dos EUA já era esperada, o que teria alguns efeitos negativos sobre a atividade comercial e o emprego nos EUA.
- O início da Guerra Fria (bloco de Leste e Oeste) levou os EUA a se preocuparem em manter a Europa Ocidental forte política e economicamente contra a URSS.
Em 5 de junho de 1947, o Secretário de Estado dos EUA, George C. Marshall, propôs o auxílio à Europa e aprovou o "Plano Marshall" (ERP), também chamado de Programa de Recuperação Europeia. A ajuda americana foi distribuída em quatro anos de implementação e forneceu, no final, $13 bilhões entre 1947 e o início de 1952. O plano não incluiu a Alemanha Oriental nem a Espanha. Foi destinado principalmente ao pagamento de importações da Europa: alimentos e matérias-primas, essencialmente, que viriam da zona dólar (América do Sul e do Norte). A prioridade foi dada à recuperação econômica do capital.
Embora a recuperação já estivesse em andamento antes do início do ERP, é claro que isso acelerou o processo. A questão crítica da economia europeia era a escassez de divisas para comprar as importações necessárias. Entre 1945 e 1950, o ritmo da recuperação econômica europeia foi impressionante, mais notável na Europa Ocidental do que no Leste.
Fatores subjacentes a esta recuperação:
- A política dos respetivos governos: os governos estavam a tomar medidas econômicas internacionais.
- Cooperação econômica internacional.
- Riqueza de capital humano na Europa.
- Prioridade dada aos investimentos em relação ao consumo.
- Contenção da inflação.
- Redução do déficit comercial: em 1950, as exportações aumentaram, mas a posição externa da Europa ainda permaneceu fraca e os déficits comerciais continuaram a existir em muitos países durante a década de 50.
A Alemanha Ocidental foi incluída no ERP após a unificação das três áreas controladas por americanos, britânicos e franceses, criando o embrião da República Federal da Alemanha em setembro de 1949. Um mês depois, em outubro, surgiu a República Democrática Alemã, sob a égide da URSS. A recuperação da República Federal Alemã começou em 1948, baseada em:
- Auxílio externo.
- Estímulo às exportações.
- Oferta de trabalho flexível.
- Estímulos às atividades de investimento produtivas.
Este processo foi realizado unilateralmente, o que agravou as tensões com os soviéticos, cuja resposta foi o bloqueio. Este processo culminou em 1948, quando a Grã-Bretanha, França e países do Benelux formaram a Organização do Tratado de Bruxelas, que, com a posterior integração dos EUA, Canadá, Dinamarca, Noruega, Portugal, Islândia e Itália, se transformou na NATO.
Bases para a Nova Ordem Econômica Europeia
O sistema multilateral: O primeiro passo foi em 1941, quando os EUA e a Grã-Bretanha assinaram a Carta do Atlântico, que comprometeu ambos os países na recuperação econômica. Duas organizações da nova ordem internacional foram estabelecidas em 1944 na conferência de Bretton Woods, definindo as bases para a criação de duas instituições internacionais chave nas décadas seguintes:
- Fundo Monetário Internacional (FMI): Responsável por conduzir a estrutura do comércio entre as diversas moedas mundiais e por financiar desequilíbrios de pagamentos entre os países. O Fundo Monetário tinha de garantir que os países membros definissem um valor nominal de suas moedas em termos de ouro e dólar dos EUA (US$). Esses valores seriam fixados por paridade e só poderiam ser corrigidos para alterar o equilíbrio básico de pagamentos. Este sistema, que define o padrão-ouro, vigorou até 1973.
- Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD/Banco Mundial): Sua função seria emprestar para a reconstrução das economias destruídas pela guerra e também para o desenvolvimento das nações mais pobres. Ambas as instituições começaram a trabalhar em 1946 e desenvolveram plenamente o seu papel a partir da década de 50.
Os planos para a nova ordem comercial internacional liberal resultaram na criação do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), assinado em Genebra, em 1947. Inicialmente, integrou 23 países e, 20 anos mais tarde, mais de 50. Os signatários comprometeram-se a:
- Tentar reduzir tarifas.
- Não recorrer a restrições quantitativas e eliminar as políticas existentes.
- Consultar-se sobre mudanças políticas importantes.
Os países industriais mantiveram sua hegemonia no comércio mundial e implementaram estes compromissos somente quando podiam ganhar com eles. Os membros do GATT realizaram oito conferências tarifárias, chamadas de Rodadas. A sétima foi a Rodada de Tóquio, que terminou em 1979. A oitava, chamada Rodada Uruguai, teve início em 15 de setembro de 1986 e encerrou em 15 de dezembro de 1993 com um acordo que incluiu a substituição do GATT pela OMC (Organização Mundial do Comércio).
A Era de Ouro do Capitalismo (1950-1973)
As taxas de crescimento da produção total, das exportações e dos níveis de renda nacional alcançaram um crescimento sem precedentes. O crescimento mundial foi um fato, mas não foi generalizado, sendo mais forte nos países ocidentais desenvolvidos. Esse crescimento econômico acentuou as desigualdades já existentes na economia mundial.
Análise Econômica da Era de Ouro
Do ponto de vista da Demanda, houve uma expansão sem precedentes dos mercados domésticos e internacionais. O crescimento da renda per capita, aumentando o consumo privado e público, impulsionou o comércio interno e internacional. Após a Segunda Guerra Mundial, apareceu nos países desenvolvidos a moderna sociedade de consumo de massa. Relativamente a este caso, ocorreu uma mudança estrutural nas relações entre trabalho e capital. Registrou-se uma escassez de mão de obra que fortaleceu o poder de negociação dos trabalhadores e dos sindicatos. O Estado garantiu que a produtividade do trabalho aumentasse e que os benefícios desse aumento se traduzissem em aumento da remuneração do trabalho (salários), não apenas no padrão-ouro. O crescimento econômico com pleno emprego e uma distribuição mais justa de renda foram o alicerce sobre o qual surgiu a política do Estado de Bem-Estar Social após a Segunda Guerra Mundial. O nível médio dos salários em termos reais e nominais aumentou consideravelmente ao longo das décadas de 50 e 60 na maioria dos países da Europa Ocidental. O salário triplicou entre 1953-1970 e, em alguns casos, quadruplicou. Outras melhorias para os trabalhadores foram: redução da jornada de trabalho e melhoria significativa da assistência social (saúde, educação), tudo financiado por meio de avaliações sobre os trabalhadores, as empresas e o próprio Estado. Obter mais produto em menos tempo fez com que o salário aumentasse.
Do lado da Oferta, destacam-se três aspetos principais:
- Contribuição do trabalho: Mão de obra intensiva, proveniente da agricultura e, especialmente, da imigração.
- Contribuição do capital per capita: Aumento do capital per capita. Investimento em atividades produtivas.
- Contribuição da produtividade: Explica a diminuição da entrada de trabalho no desenvolvimento da atividade econômica. O desenvolvimento de novas tecnologias e novos processos de produção contribuiu para este aumento, assim como o aumento das despesas em I&D (da empresa e do estado). O desenvolvimento da indústria eletrônica, do setor farmacêutico e químico, com a disseminação de antibióticos, foi fundamental.
A Economia Mista e a Estabilidade de Preços
As características dos anos 50-60 foram, principalmente, três:
- A Economia Mista: Desenvolvida pelos Estados dos países industrializados. Tendeu a estimular o crescimento econômico, e o papel do Estado foi absolutamente relevante. O objetivo era conseguir o pleno emprego, crescimento econômico e redistribuição dos benefícios do crescimento entre a população. O papel do Estado na economia foi fortalecido através do aumento da despesa pública, um fator chave para o crescimento da demanda doméstica e, consequentemente, da produção.
- Serviços do Estado: Aumentou a oferta de serviços a todos os cidadãos, criando um sistema de Segurança Social universal, mas também expandindo a oferta de serviços públicos (educação, transportes) para coordenar a política econômica com sindicatos e empregadores. Estas condições de estabilidade encorajaram o aumento do investimento produtivo em três direções: setores industriais, bens de consumo (carros e casas), e o setor de serviços (todos os tipos), cobrindo as principais necessidades básicas e criando novas zonas industriais no interior de cada país.
- Preços Moderados: O aumento dos preços foi moderado porque:
- Disciplina monetária imposta pelas taxas de câmbio fixas em países onde os preços de exportação tendiam a subir.
- Taxas de preço muito baixas nos EUA, pois a moeda era o centro do sistema monetário internacional.
- A eliminação das barreiras comerciais e o crescimento da produtividade tenderam a estabilizar os preços de exportação.
- Estabilidade dos preços das commodities, como alimentos, matérias-primas, ouro e petróleo.
- Pressões salariais modestas devido à oferta de trabalho e ao crescimento da renda por trabalhador devido ao aumento da produtividade.
A marcada estabilidade do crescimento foi possível porque a principal explicação reside no aumento sustentado da procura nos países desenvolvidos, em parte, explicado pelas realizações institucionais nacionais e internacionais. Acordos a nível internacional promoveram o comércio exterior, uma das fontes mais importantes de procura. O novo estado da economia teve um impacto sobre o comportamento do consumidor e de negócios, pois era esperado um crescimento constante, mantendo os respetivos níveis de investimento e de consumo, mesmo quando apareceram desequilíbrios temporários.
A Grande Gestão Empresarial
Os benefícios são competitivos com outras empresas para a organização de arquivos e recursos mais elevados, que vinham se desenvolvendo e agora se consolidam. As empresas só conseguiram aumentar de tamanho quando criaram uma hierarquia administrativa capaz de coordenar um volume de atividade produtiva muito maior do que o gerado por um dono de empresa familiar de pequeno porte. As carreiras de gestores assalariados estão se tornando cada vez mais profissionalizadas, tendo menos a ver com os donos da empresa. Ante esta situação, começam a surgir conflitos e debates entre os acionistas (capitalistas), que visam aumentar os dividendos, e a nova classe de administradores assalariados, que favorecem a estabilidade do crescimento de dividendos a longo prazo da empresa. Estas grandes empresas industriais, administradas por gestores assalariados, passaram a dominar os setores chave da economia, modificando a estrutura básica dos mesmos e, finalmente, todo o sistema econômico.
Modelos de Gestão Empresarial
Na Europa, destaca-se a empresa alemã. Em relação ao tamanho do mercado americano e sua taxa de crescimento, a energia dos negócios baseia-se no estabelecimento de grandes empresas. Os EUA foram o primeiro país a ter um verdadeiro mercado de massa com uma ampla variedade de produtos. A Revolução Gerencial e organizacional das empresas, protagonizada pelos EUA, a partir do final do século XIX e primeiras décadas do século XX, é a resposta a esse desafio. Os EUA exportaram o modelo.
A empresa alemã mantém uma equipe (gestores, engenheiros, técnicos, supervisores, funcionários administrativos e comerciais) reduzida, e o número de gestores também é reduzido. O trabalhador alemão é um funcionário preparado. Este sistema tende a levar a faculdade de decisão da Alemanha, que um historiador se referiu como "capitalismo gerencial cooperativo".
O sistema de negócios japonês tem a Toyota como origem. É um sistema flexível e diversificado para produzir em pequenas séries e com custo relativamente alto. Este sistema desenvolvido pela Toyota decorre da necessidade de produzir carros de diferentes classes em pequenas séries. A solução para reduzir os custos da diversificação foi a remodelação da fábrica para facilitar o uso flexível de máquinas, pois os empresários procuraram que os trabalhadores atingissem o máximo uso do tempo de trabalho dos funcionários, com máquinas de fácil manuseio e programação de tarefas.
O financiamento recorre à dívida bancária (pedir dinheiro emprestado aos bancos). O barateamento da taxa de juros permite às empresas manter uma frequência regular de dívida muito alta. Acionistas recebem um dividendo reduzido, praticamente fixo, com pouca ou nenhuma participação na gestão do negócio, que reside nos funcionários. Os lucros da empresa são reinvestidos e geram reservas e crescimento global. A baixa rentabilidade a curto prazo é compensada por altos retornos sobre o capital a longo prazo.
O Modelo Soviético de Expansão (1944-1946)
O modelo soviético expandiu-se não apenas para a Europa Oriental, mas também para China, Vietnã, Cuba, etc., sob o regime econômico socialista das Democracias Populares. A Albânia e a Iugoslávia foram libertadas da dominação alemã pela resistência interna, embora tenham recebido ajuda soviética. Nos outros países do Leste, o Exército Soviético foi o libertador, o que permitiu o acesso dos partidos comunistas ao poder. Em geral, o estabelecimento político foi progressivo. A consolidação das democracias populares foi influenciada pela forma como o Plano Marshall foi concedido à Europa Ocidental, pois o Plano Marshall não foi propício para ajudar esses países.
A destruição da guerra é difícil de medir, e a mais importante ocorreu no Leste da Alemanha, na Iugoslávia e na Polônia. Havia outro problema: a reconstrução tinha de ser realizada em quadros geográficos que mudaram, especialmente na Alemanha Oriental. A maioria dos países era essencialmente agrícola, com superlotação no campo e produtividade muito baixa. Só a Tchecoslováquia e a Alemanha Oriental podiam ser considerados países industrializados, mas mesmo este último tinha um grande problema, pois a indústria estava em estreita relação com a outra Alemanha. A industrialização da Alemanha Oriental dependia das matérias-primas (MP) do Ruhr.
O Problema Agrícola e a Reforma Agrária
A maioria da população trabalhava na agricultura. Antes da Segunda Guerra Mundial, a reforma agrária tinha sido bloqueada pela aristocracia. Após a Segunda Guerra Mundial (1945), produziu-se uma verdadeira reforma da propriedade. Os camponeses exigiam o fim da expropriação de latifúndios e a distribuição de terras. Esta foi a única condição para que os partidos comunistas começassem a atuar nesses países. Estes partidos comunistas respeitaram a propriedade privada dos meios de produção e, nestas condições, dividiram a terra. Isso ia contra um dos princípios do socialismo e é uma demonstração tangível de que estes países não seguiram o modelo soviético (cujo principal objetivo era obter a terra). Portanto, as terras confiscadas foram sem indenização, e os negócios feitos para os camponeses eram gratuitos. Embora houvesse algumas exceções: na Tchecoslováquia, Polônia e Alemanha (Leste), foi paga compensação pelas propriedades de uma determinada área. Os proprietários de médio porte pagaram pelas terras obtidas, mas os pobres não pagaram nestes países. As terras estrangeiras também foram desapropriadas, assim como as fazendas dos colaboradores, da igreja e as fazendas de bancos e empresas. Com as grandes superfícies de terras expropriadas, criou-se um fundo agrícola nacional. A maioria das fazendas foi dividida entre os camponeses, e as reservas do estado do terreno foram usadas para criar fazendas estatais.
Este processo resultou numa excessiva fragmentação das explorações agrícolas, o que levou à necessidade de prolongar a duração das parcelas para torná-las mais rentáveis. Também era preciso adaptar-se ao modelo socialista. A forma de ajuste foi a coletivização, um processo fraco e lento entre 1953-1956 e um pouco mais rápido entre 1956-1960. Este processo consistiu no estado impulsionar a instalação de máquinas e tratores para acostumar o camponês ao trabalho e ao uso comum das superfícies. A nacionalização extensiva do Estado para cuidar da agricultura não foi totalmente alcançada.
Nacionalização da Indústria e Planejamento
A nacionalização da indústria foi muito mais lenta do que na União Soviética. Ocorreu em duas fases: foram criadas instituições de controle (conselhos operários) culminando na nacionalização das empresas. Foi pago o pagamento de indenizações aos proprietários, e seguindo o modelo soviético, foram nacionalizados setores estratégicos: mineração, energia elétrica, indústria pesada, transportes, banca e, posteriormente, seguros. Mais unidades com mais de um número específico de trabalhadores passaram para o setor público. Este processo culminou entre 1948 e 1952.
Depois de atingir os dois primeiros objetivos (coletivização da agricultura e nacionalização da indústria), o terceiro objetivo foi o planejamento. Incluindo dois tipos de planos:
- Planos de Reconstrução: Destinados à reconstrução do potencial econômico após a guerra, definindo metas básicas: elevados níveis de investimento e crescimento, e desenvolvimento do consumo.
- Planos de Desenvolvimento Econômico: O objetivo era desenvolver rapidamente a capacidade de produção, principalmente da indústria, especialmente a indústria pesada. Os níveis esperados foram alcançados na Alemanha Oriental, mas nos outros países nunca foram atingidos nesse período.
Os primeiros problemas surgiram na área de planejamento, causando dificuldades no abastecimento das cidades. A pouca atenção dada ao setor agrícola tornou-se um problema na estratégia de crescimento. A retificação do comando coincidiu com a crise econômica e os protestos sociais do campesinato e do proletariado. O ajuste foi o seguinte: aumento dos salários reais (aumento dos salários nominais e tentativa de diminuir os preços, para que os salários reais pudessem crescer) e incidência no setor agrícola, oferecendo outros benefícios para os agricultores e cooperativas. Também se deram os primeiros passos na coordenação da política econômica do bloco, a fim de facilitar e promover o comércio entre os países.
Conclusões: A maximização dos benefícios tornou-se um alvo principal na empresa socialista. O crescimento econômico estimulou o êxodo rural: entre 1950 e 1973, mais de um quarto da força de trabalho total deixou o campo em busca de outras ocupações. Os países socialistas mostraram uma taxa de crescimento econômico muito semelhante ao Ocidente e Extremo Oriente. No entanto, há diferenças:
- Os valores de consumo foram muito menores nesses países.
- A qualidade dos produtos era baixa em geral.
- A escolha de produtos era limitada e a fonte não era confiável.
- O serviço era, em geral, de má qualidade, e as moradias eram de qualidade precária.
- O padrão de vida era menor na área do que na Europa Ocidental.
As economias socialistas continuaram a dedicar mais recursos à indústria pesada e bens de capital e não a atender aos interesses dos consumidores. Os salários reais cresceram mais lentamente do que a produção global.
O Nascimento do Terceiro Mundo e a Descolonização
A expressão "Terceiro Mundo" é uma referência explícita aos dois primeiros:
- 1º Mundo: Constituído pelo bloco capitalista liderado pelos EUA. Características econômicas: economias de mercado mais avançadas, com sistema de propriedade privada. Politicamente: democracias.
- 2º Mundo: Bloco comunista liderado pela União Soviética, com economias de planejamento central, sistemas de propriedade coletiva e democracias populares (ditaduras).
- 3º Mundo: Todos os outros países mais pobres. Este grupo criou o Movimento dos Países Não Alinhados, consistindo em países capitalistas e socialistas, de economia de mercado e planejada, com democracia formal e popular, mas com a ideia de não estarem sujeitos nem aos EUA nem à URSS.
A maior parte do 3º Mundo era composta por países que foram colônias de potências ocidentais (França, Inglaterra) e também do Japão. A descolonização foi o principal fator de ligação dos países do Terceiro Mundo. Os primeiros a operar este processo foram os países da América Latina. A descolonização japonesa ocorreu ao longo dos últimos anos da Segunda Guerra Mundial, referindo-se à libertação de todos os países que tinham sido ocupados pelas tropas japonesas entre 1930-1939 e que constituem a totalidade do Extremo Oriente. As grandes descolonizações foram a Inglesa e a Francesa, variando entre 1945-1965, sendo os tempos mais intensos cerca de 1947-1949, com a descolonização da Índia, Paquistão e Indonésia. Outro pico importante ocorreu em 1960, com a maior parte da descolonização francesa da África e a aceleração da África britânica. A descolonização Portuguesa foi mais tardia, entre 1974-1975.
A independência ofereceu novas oportunidades para o desenvolvimento político e social, nem sempre possível de materializar. As receitas que funcionaram para a Europa Ocidental depois da guerra não tiveram o mesmo desempenho econômico nos países recentemente emergentes da descolonização. Os resultados econômicos do 3º Mundo foram, em geral, muito positivos durante a Era de Ouro do capitalismo. Na Ásia, o crescimento do PIB foi de 5,2% e na África, de 4,5%. No entanto, o forte aumento demográfico, muito acelerado durante esses anos, consumiu grande parte desse crescimento econômico. Apesar dessa dinâmica, os modos de crescimento foram bastante diferentes em cada uma dessas áreas.
A contribuição dos fatores de produção foi muito desigual:
- Fator Terra: Teve pouca importância no crescimento generalizado e nenhuma importância nos países desenvolvidos.
- Fator Trabalho: Teve menos peso nos países da Europa Ocidental, devido ao menor crescimento populacional e à redução das horas trabalhadas por pessoa.
- Fator Capital: A União Soviética mobilizou o dobro de capital dos países da Europa Ocidental.
A maior diferença foi na PTF (Produtividade Total dos Fatores), que nos países da Europa Ocidental representou 62%, 10% na URSS, 26% na Ásia e 34% na América Latina. Em última análise, os países avançados cresceram mais através de uma melhor conjugação de fatores e não pela adição de muito mais fatores. O crescimento soviético foi prolongado, enquanto o dos países da Europa Ocidental foi intensivo.
A Economia Espanhola: Da Autarquia ao Milagre Econômico
1. 1936-1950: Guerra Civil e Autarquia
Este foi o período mais negativo da história econômica da Espanha. A Guerra Civil (1936-1939) distorceu a economia espanhola e tornou impossível somar-se aos planos de recuperação dos anos 30. Após a guerra, a situação manteve-se negativa, já que a Espanha não pôde aderir ao Plano Marshall. A estagnação econômica é paralela à perda das liberdades e à perda de capital humano (irrecuperável). A Autarquia pretendia alcançar a suficiência econômica e, não a guerra, foi responsável pela queda brutal da renda e pelo empobrecimento geral do país. Nos anos 40, a economia espanhola se afastou do progresso industrial europeu. A Autarquia promulgou uma série de medidas:
- Medidas contra a concorrência estrangeira.
- Medidas de apoio ou assistência de políticas domésticas para os setores.
- Setor de gestão de regime ou o mercado global.
O custo do isolamento internacional impediu o fornecimento de matérias-primas, energia e bens de equipamento necessários. Dissipou muitas das vantagens da produção em massa e de especialização, pois se produzia apenas para o mercado interno, com baixa densidade populacional e baixo poder aquisitivo. A desordem monetária causou e prejudicou gravemente a inflação das empresas exportadoras. A generalização de um sistema baseado em autorizações prévias teve consequências negativas para o empreendedorismo.
2. Década 1950-1959: A Dobradiça da Recuperação
As alterações foram dirigidas a uma liberalização progressiva interna e externa. Dois fatos explicam estes critérios: a mudança de governo em 1951, que visava uma redução da intervenção e dos controles sobre o setor privado, e o acordo com os EUA (1953), que trouxe empréstimos e incorporou recomendações de flexibilidade do mercado e estabilidade monetária. As realizações prévias a esta liberalização são inequívocas: os índices do PIB, o IPI (Índice de Produção Industrial) e a renda per capita recuperaram e ultrapassaram os níveis de antes da guerra. Ocorreram alterações estruturais (urbanização, êxodo rural). A Espanha tornou-se uma nação industrial que seguia normas europeias. Começaram a ser importantes as remessas de emigrantes, o turismo e o comércio. A recuperação foi acompanhada de inflação. As importações de máquinas e energia necessárias não podiam ser financiadas pelas exportações, o que era penalizado por uma taxa de câmbio sobrevalorizada, levando ao endividamento. Em 1957, o governo fez uma mudança significativa, pois os tecnocratas, defensores da liberalização da economia, passaram a fazer parte dele. Foram eles que realizaram uma importante medida de estabilização:
- Desvalorização da peseta.
- Aumento da taxa de desconto.
- Reforma tributária.
Após a entrada da Espanha na OECE e no Fundo Monetário Internacional, foi realizado o Decreto-Lei de 1959, o Plano de Estabilização:
- Setor Público: Tentativa de equilibrar receitas e despesas, buscando um orçamento equilibrado.
- Política Externa: Medidas para liberalizar a circulação de mercadorias e de capitais.
- Plano Institucional: Adoção de medidas destinadas a reduzir as intervenções. Um retorno à liderança de mercado, ligando os salários à produtividade e reduzindo a rigidez nas leis trabalhistas.
3. 1960-1973: O Milagre Espanhol
Estes anos foram um período em que a economia espanhola se inseriu no ciclo de prosperidade das economias industriais. A base deste crescimento foi, em parte, compartilhada por todas as economias ocidentais:
- Estabilidade dos preços internacionais de matérias-primas e energia.
- Acesso a financiamento externo, complementado por remessas de emigrantes e divisas provenientes do turismo.
- Flexibilidade do mercado de trabalho, coincidindo com o êxodo rural.
- Transferência de ativos e incorporação de tecnologias de países líderes.
Os resultados dessa expansão não deixam dúvidas: a Espanha registrou um crescimento histórico do PIB entre 1964-1974, atingindo níveis de 5,9%. Fala-se de um milagre espanhol, mas não pode ser considerado espetacular, visto que outros países europeus relataram níveis similares. No entanto, a importância desse período está na mudança estrutural que ocorreu em todos os setores da atividade produtiva: setor primário, setor secundário e relações comerciais.