História da Natação: da Antiguidade ao Crawl
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“*Pois assim como o golfinho desliza pela água com suas velozes nadadeiras, em um momento surgindo sobre a superfície e em outro mergulhando nas profundezas, criando ondas e lançando-as em círculos, todas as pessoas nascidas sob o signo do golfinho voarão através das ondas, erguendo um braço e depois o outro, em lentos arcos.*”
Manilius, poeta romano do século I
A evolução anatômica do ser humano de indivíduos quadrúpedes (deslocamento horizontal) para bípedes (deslocamento vertical), transformou o ato de nadar em um movimento não natural para o ser humano.
A Predominância de 400 Anos do Nado de Peito
As traduções de textos gregos e romanos antigos falam de nadadores que usam movimentos alternados com o braço emerso. Acredita-se que a braçada do nado crawl existia há muito tempo.
Depois, durante a Idade Média, a natação desapareceu em toda a Europa, por causa da crença de que os banhos ao ar livre ajudavam a disseminar epidemias que, com tanta frequência, varriam o continente. Quando as pessoas nadavam, preferiam um tipo de nado de peito, para manter o rosto fora da água. Até a segunda metade do século XIX ainda persistia esse preconceito contra a natação.
Primeiro livro sobre natação, 1538, Nicolaus Wynman, Bavária. Descreve no seu livro o nado de peito como “o nado científico que todos deveriam aprender.”
Nos séculos XVI e XVII, o nado de peito era executado com a cabeça ereta e completamente fora da água (Thevenot, 1699). Em vez de usar a batida “sapo” das pernas, a propulsão era aplicada com os dorsos e não com as solas dos pés (Muths, 1798).
O Advento dos “Professores de Natação”
Durante quase 400 anos, dentro do que se pode afirmar, o nado de peito era o método de natação mais comum. Ele proporcionava estabilidade e era ideal para nadar com a cabeça de fora em águas sujas e poluídas. No começo do século XIX, o nado de peito foi formado em um padrão distinto, e, em toda Europa, foram desenvolvidos métodos padronizados para ensiná-lo.
O método de ensino era baseado em moldar o indivíduo através do nado, não levando em consideração a individualidade.
Outra tendência da época era copiar e se espelhar na técnica dos campeões.
“*A resposta, obviamente, é descobrir a técnica que melhor se adapte ao físico do indivíduo e à inclinação natural dos movimentos; ou seja, agora sabemos que há uma variedade aceitável de movimentos propulsores efetivos, cuja escolha varia de pessoa para pessoa*” (Schleihauf, 1986).
O começo do século XIX testemunhou o advento dos “professores de natação”, que inventaram todos os tipos de métodos de ensino, dos quais alguns podem ser classificados apenas como exóticos. Seus “tratados” defendiam o ensino da natação por meio de uma variedade de exercícios educativos e ginásticas. Muitos outros exercícios educativos, habilidades e acrobacias foram percebidos em estudos. Para resumir, pode-se afirmar que vários dos métodos propostos eram excêntricos, para não dizer absurdos.
Os Primeiros Métodos de Ensino na Europa
Hoje sabemos que muitos dos aparelhos iniciais, desenvolvidos para ensinar a natação, são desnecessários. Os professores alemães de natação, particularmente, eram especialistas no uso de dispositivos para ajudar seus alunos a aprender os nados no solo. Os procedimentos nunca poderiam ser uma experiência agradável. Um dos métodos sugeria que se pendurasse o aprendiz em barras paralelas, com dois conjuntos de correntes amarradas sob o peito e ao redor do abdome. Outro método favorito, usado durante o mesmo período na França, consistia em posicionar o nadador atravessado em uma caixa ou em um banco e depois aplicar assistência manual, à frente e atrás. Um instrutor orientava os pés, e o outro, as mãos.
A Natação nos Mares do Sul
Enquanto os europeus buscavam métodos laboriosos nos seus ginásios, os povos indígenas dos mares do sul já praticavam o nado com o braço emerso.
A Transição do Nado de Peito para a Braçada Lateral
A braçada lateral surgiu a partir o nado de peito, com o corpo de lado, os nadadores descobriram que encontravam menos resistência da água.
O nado lateral com os dois braços submersos, foi dominante nas competições desde 1855 até vinte anos depois.
Após surgiria uma braçada lateral inglesa com o braço emerso (Wilson, 1883).
O Desenvolvimento da Braçada Dupla com o Braço Emerso
Em 11 de agosto de 1987, John Trudgen surpreendeu os espectadores ao vencer o torneio inglês das 160 jardas com uma braçada incomum: ele ficava com o peito na horizontal e girava cada um dos braços alternadamente para a frente e acima da água, batendo as pernas como no nado de peito no plano horizontal a cada ciclo de braçada. Trudgen nadava com a cabeça erguida e fora da água, e seu corpo levantava-se com cada batida da perna, provocando seu progresso em uma série de avanços espasmódicos (Carlili, 1963).
Começa a aparecer o giro do corpo. O medo de realizar esse giro seria observado até os anos de 1950, quando os australianos finalmente desmistificaram essa antiga teoria com suas equipes de nadadores que quebraram recordes mundiais; todos usavam rolamento de ombros e de corpo de forma muito pronunciada.
A Origem do Crawl
A Influência do Mar sobre os Primeiros Nadadores do Crawl
A evolução das braçadas do crawl parece ter começado no mar, onde as pessoas habitualmente nadavam e no qual existe maior flutuabilidade. Modelo esse observado em nativos australianos.
O surfe de barriga “jacaré”, também pode ter sido um precursor do nado crawl.
O ponto de virada no desenvolvimento do nado crawl surgiu quando Dick Cavill, membro da família de nadadores australianos, percebeu que a batida lateral das pernas atrasa o desenvolvimento do nado. Syd Cavill escreveu ao irmão relatando que em 1914, em Samoa, competiu com uma nadadora que fazia braçada alternada submersa, mas não batia as pernas. Observando o fato, amarrou as próprias pernas e nadou mais rápido, de quando batia as pernas lateralmente.
No resto da história constas que o nado de crawl original surgiu na Austrália e, por isso, tem o nome de nado crawl australiano.