História do Rádio e Cinejornal no Brasil
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**O Rádio e o Cinejornal no Brasil**
A primeira radiofusão no Brasil aconteceu em Recife, no dia 6 de abril de 1919, quando foi inaugurada a Rádio Clube de Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, Augusto Pereira e João Cardoso Ayres.
Entretanto, tem-se como data oficial do início do rádio 7 de setembro de 1922, quando, no Rio de Janeiro, como parte das comemorações do Centenário da Independência, 80 aparelhos foram distribuídos para se ouvir o discurso do Presidente Epitácio Pessoa. Mas este foi um caso isolado, a emissora não perdurou.
Já no dia 20 de abril de 1923, começou a transmitir a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Roquette Pinto e Henry Morize, cujo primeiro papel era educativo. Na impossibilidade de se obter patrocínio comercial na forma de anúncios, essa rádio funcionava por assinatura de serviços.
Foi apenas com a Revolução de 1930, que já trazia a ideia de integração nacional desde sua fase de planejamento, com a revista O Cruzeiro, que se viu as potencialidades do rádio neste sentido e permitiu o uso de publicidade pelo Decreto nº 21.111, de 1º de março de 1932. Este autorizava a veiculação de propaganda a 10% da programação (posteriormente elevada para 20%).
Getúlio criou o Departamento Oficial de Propaganda - DOP, e, em 1934, o rebatizou como Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, que criaria A Voz do Brasil. Já em 1939, dentro do Estado Novo, surgiria o Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP, diretamente ligado à Presidência da República e que substituiu o antigo departamento.
Em 1932, a rádio Record, de São Paulo, passou a veicular propaganda política engajada à Revolução Constitucionalista de 1932. A Record também foi a primeira a fazer a cobertura política. O sucesso se deveu ao modelo de programação organizado por César Ladeira, profissionalizando suas fileiras técnicas, que passaram a contratar cantores e suas orquestras para o elenco fixo.
Em 1935, surgem novas emissoras: a Rádio Kosmos e a Rádio América, em São Paulo. A Rádio Bandeirantes só surgiu em 1937, e presidida por José Pires de Oliveira Dias, deficitária foi vendida duas vezes até chegar às mãos de Ademar de Barros. O Político que sempre pretendeu a presidência, entregou o controle a seu genro João Jorge Saad. E no Rio, a Rádio Jornal do Brasil. No ano seguinte, 1936, surge, no dia 12 de setembro, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Esta última seria incorporada ao governo em 8 de março de 1940, através do decreto-lei 2.073 criando as empresas incorporadas ao patrimônio da união, quando o governo assumiu as dívidas das empresas devedoras Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, A Noite (acervo e jornal), Rio Editora e a Rádio Nacional. Que seria chefiada por Gilberto Andrade, que profissionalizou a emissora nos moldes da Record.
A Rádio Nacional, em 1941, criou uma divisão de jornalismo que viria a lançar o noticioso Repórter Esso, um programa criado com o objetivo de veicular notícias da II Guerra Mundial, com material da United Press International - a agência UPI. Mas, a partir de 1944, quando chefiada por Heron Lima Domingues, o programa passou a contar com informações da Agência Nacional para relatar o desempenho dos soldados brasileiros na Itália.
Este programa é de extrema importância dentro do jornalismo brasileiro. De 28 de agosto de 1941 até 31 de dezembro de 1968, foi este que introduziu a fórmula norte-americana de jornalismo de maneira irreversível em todos os meios de informação nacionais. Foi no Repórter Esso que se introduziu a técnica da manchete no texto do rádio, havia herdado da UPI o formato rápido do lead, versão americana, que, finalmente, chegava ao Brasil: frases curtas em ordem direta e, principalmente, uma retidão grande no ato de noticiar, bem, o fato com todos os pontos de vista abordados e as informações checadas.
O único fator que o diferenciava da narração do moderno jornalismo radiofônico era o fato de que suas narrações serem emocionais. A partir de 1962, o noticiário era transmitido tanto no rádio quanto na televisão.
Estes conceitos chegaram ao país através de um manual, em espanhol, dos outros noticiários produzidos na América Latina, principalmente da Argentina. Já, a experiência obtida no noticioso, como salienta Armando Figueiredo, ex-chefe de jornalismo dos Diários Associados até 1968, a locução do resumo (ou lead) da notícia, repetidas vezes, foi acontecendo naturalmente na medida em que se tomava consciência do seu público.
Outras emissoras também chegaram com peso no noticiário jornalístico. Em 1942, a Rádio Tupi de São Paulo, veiculou o Grande Jornal Falado Tupi, criado por Coripheu de Azevedo Marques e Armando Bertoni, programa este que também migraria para a TV.
A próxima revolução na linguagem do rádio seria implantada pela Rádio Bandeirantes de São Paulo. Com a implantação do projeto RB55, implantado por Carlos Pedregal, que modulou a programação e atualizou a linguagem radiofônica da emissora, e levou o diretor de jornalismo na época, Walter Carvalho, com o apoio do diretor geral Alexandre Kadum, à condensação das notícias de rádio em blocos de um minuto e a ordenação dos conteúdos em que uma notícia servia de chamada para a próxima, além de livrar os radiojornais das aberturas sérias baseadas em marchas militares, um padrão na época, tudo isso em 1955. O primeiro noticioso com a nova estética foi O Nosso Correspondente, apresentado por Salomão Esper. A orientação para a prestação de serviços foi iniciada em 1959 pela Rádio Jornal do Brasil, características que juntas moldaram o Moderno Lead de Rádio.
Com o passar das décadas, a tecnologia do rádio se tornou ultrapassada e de fácil produção, e, nos anos 70, se iniciou um movimento que lutava por democracia no acesso aos meios de produção de notícia: Rádio: democracia no ar. Num primeiro momento, com a criação de inúmeras rádios sem a permissão da Radiobrás, estatal que as regulamentava. Anos depois, isto desembocaria na aclamação popular das Rádios Comunitárias.
Para tentar acalmar os ânimos o governo regulamentou uma lei 9.612, de 1998, específica para estas rádios que é, sem dúvida, um dos textos de lei mais ridículos já feito, contendo, entre outros, estes dois parágrafos:
- Art.22 - As emissoras do Serviço de Radiofusão Comunitária, operarão sem direito à proteção contra eventuais interferências causadas por emissoras de qualquer serviço de telecomunicações ou radiofusão regularmente instaladas, condições estas que constarão do certificado e licença de funcionamento.
- Art. 23 - Estando em funcionamento a emissora do Serviço de Radiofusão Comunitária, em conformidade com os preceitos desta lei, e constando-se interferências indesejáveis nos demais serviços regulares de Telecomunicação e Radiofusão, o poder concedente determinará a correção da operação e, se a interferência não for eliminada, no prazo estipulado, determinará a interrupção do serviço.
Cinejornais
A utilização das salas de cinema como meio de informação jornalística foi bem inferior a outros países, mas deixaram sua marca. Com a organização do D.I.P., foram elaborados vários cinejornais que introduziam o filme ao público pagante de um cinema, como uma espécie de trailer. Os assuntos eram variados, desde matérias turísticas até mini-documentários políticos de cunho governista. Estes filmes foram os precursores da informação televisiva.
Jean Manson, após sair da revista O Cruzeiro, montou uma produtora que fazia filmes, documentários e propaganda de cinema. Primo Carbonare, em São Paulo, fez a mesma coisa, embora sua motivação fosse menos empresarial. Rodou vários filmes que servem até hoje de registro das transformações do estado de São Paulo.
Entretanto, o mais famoso e assistido dos cinejornais brasileiros não veiculava notícias e sim partidas de futebol. Era o Canal 100, que antecipou esteticamente as coberturas de futebol modernas, o público ansiava por ver as cenas de certo jogo, apesar de se saber o resultado do jogo há semanas. Com novos ângulos, numa época em que havia poucas câmeras de TV por partida, e a qualidade superior de imagem e som do cinema registrados com a utilização de filmadoras portáteis, tinha o status de arte. O cinejornal foi idealizado por Carlos Niemeyer, e contava com a narração de Cid Moreira, ele sobreviveu de 1957 a 1989, tendo outros poucos exemplares feitos e exibidos nos anos 1999.