A Ilha de Utopia: Geografia, Sociedade e Costumes

O que é Utopia?

A ilha de Utopia tem cerca de 200 quilômetros de largura no seu ponto mais largo, e seu perímetro é de 500 quilômetros, resultando em uma ilha em forma de lua crescente. A distância entre os dois pólos é de 11 quilômetros, dando origem a um lago plácido, com águas calmas. Toda a costa de Utopia está repleta de várias portas, que seus habitantes sabem usar com grande desempenho.

Os utopianos dizem que a ilha nem sempre foi cercada de água; eles contam que havia um istmo que foi destruído para que a ilha ficasse totalmente independente de qualquer continente nas proximidades.

Organização Urbana e Política

A ilha possui 54 cidades, todas iguais e separadas umas das outras, de modo que nunca se leva mais de um dia para chegar à cidade mais próxima. Amaurote, sua capital, está localizada no centro da ilha, e embora todas as cidades sejam iguais, Amaurote é significativa por ser a sede do Senado.

As cidades compartilham a mesma língua, costumes, instituições e leis. Além disso, a distribuição de terras é praticamente a mesma para todos, e nenhum deles sente o desejo de ampliar suas fronteiras, pois seus habitantes são considerados agricultores e proprietários de suas terras.

Agricultura e Trabalho Comunitário

Todos os seus habitantes estão envolvidos no cultivo da terra. Eles fazem turnos e ocupam casas que o Estado distribuiu e equipou com as ferramentas necessárias. O tempo exato de permanência no campo é de dois anos, e depois voltam para a cidade, de modo que todas as pessoas conhecem as tarefas do campo. Os agricultores, por sua vez, criam os animais e transportam seus produtos para a cidade. Cada família tem quarenta membros, e a cada trinta famílias é designado um Filargo (Phylarchus).

“Na Utopia, conhecer uma cidade é conhecer todas” (1), por isso daremos uma breve descrição de sua capital, Amaurote.

A Capital: Amaurote

Amaurote se estende às margens de um grande rio navegável que corre para o mar, onde há uma ponte alta o suficiente para permitir a passagem de navios com segurança. Há outro pequeno rio que nasce na mesma montanha onde a cidade está situada.

A cidade é cercada por uma muralha inexpugnável, magnífica e sólida, e um fosso profundo e seco. Mas o que é mais impressionante para qualquer visitante estrangeiro são as casas e, especialmente, o fato de que as suas portas nunca estão fechadas. Assim, você pode obter tudo o que quiser, porque não há propriedade privada, e as casas são trocadas por sorteio a cada dez anos. Cada casa tem um jardim.

Estrutura de Governo

A cada trinta famílias, escolhe-se um juiz, que é chamado Filargo ou Sifogrante (Syphogrants). A cada dez Filargos, escolhe-se um chefe entre muitos, cerca de 4, candidatos eleitos pelo povo. Este cargo é vitalício, a menos que seja deposto por tentativa de tirania.

Quem se candidata a um cargo público nunca o consegue. Nenhum magistrado se mostra terrível ou orgulhoso. Ele é honrado, embora ninguém seja obrigado a pagar impostos.

A cada três dias, reúne-se o grupo constituído pelo Senado para discutir assuntos de estado. Nada é promulgado a menos que tenha sido discutido no Senado com três dias de antecedência. “Primeiro refletir, depois falar” (2)

Profissões e Rotina Diária

A ocupação comum é a agricultura. Além disso, cada cidadão é instruído a possuir uma profissão. As únicas ocupações são:

• Agricultura;
• Processamento de lã;
• Trabalho de linho;
• Arte e artesanato (pedreiro, ferreiro ou carpinteiro).

Geralmente, todos aprendem a profissão da própria família, mas se por alguma razão alguém tem outros interesses, é adotado por uma família que exerce esse trabalho.

As roupas que vestem são comuns em toda a ilha, diferindo apenas por sexo e condição (solteiro ou casado). Cada família faz as suas próprias vestimentas.

Eles passam seis horas trabalhando: três pela manhã, antes do almoço, e três na parte da tarde, antes do jantar. Eles vão para a cama às oito e dormem oito horas.

“As horas de lazer devem ser ocupadas por outros interesses (...) O jogo é proibido” (3)

Vida Familiar e Mercados

A cidade é composta de famílias, e estas são formadas por parentesco. Quando as mulheres se casam, vivem na casa do marido, e filhos e netos permanecem sob a obediência do membro mais velho.

Cada cidade é dividida em quatro zonas, e no centro de cada uma há um mercado totalmente abastecido. O chefe de família pede o que precisam e eles o levam sem dar dinheiro ou outras compensações.

Cada bairro tem alguns grandes edifícios onde vivem os Sifograntes. A cada um são atribuídas trinta famílias, que comem lá. As refeições são muito curtas, porque é preciso continuar trabalhando. Os jantares são mais longos e, durante o jantar, há música e sobremesas doces.

Saúde e Casamento

Há quatro hospitais. São prédios muito grandes, e os doentes não sofrem privações, e, portanto, não há chance de serem atacados por doenças contagiosas.

As mulheres não se casam antes dos 18 anos, e os homens, antes dos 20 anos. A escolha do cônjuge segue esta prática: a noiva (virgem ou viúva) é exposta nua aos olhos do pretendente. O noivo também é apresentado nu para a moça.

Viagens e Permissões

Para ir de uma cidade para outra, é preciso pedir permissão aos Sifograntes. Eles organizam uma viagem para um determinado grupo de pessoas portadoras de uma carta do príncipe, na qual a permissão é concedida, especificando o tempo e a data de retorno. “Dá-lhes um veículo e um escravo público que cuida dos bois (...) a menos que levem mulheres, os viajantes renunciam a ele, devido à inconveniência e desconforto” (4). Para viagens, eles não usam nada, mas nada lhes falta. Se ficarem mais de um dia em um lugar, todos praticam seu ofício para obter alimentos.

O Desprezo pelo Ouro e Prata

Os utopianos não conhecem a moeda. Incrivelmente, ouro e prata são armazenados sob a forma de tigelas e recipientes de uso comum, tanto em edifícios públicos quanto privados.