Immanuel Kant: Conhecimento, Liberdade e Moral
Classificado em Filosofia e Ética
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Kant apresenta uma sinopse da Crítica da Razão Pura e da filosofia transcendental. Indica que o nosso conhecimento teórico ou especulativo é limitado aos fenômenos naturais dados na experiência (que podem ser organizados pela mente do sujeito através das intuições puras de espaço e tempo e das categorias do entendimento). Ele observa também que esses conhecimentos são limitados aos fenômenos e não se estendem ao númeno, ou coisas em si, que só podem ser pensados como ideias, mas não compreendidos cientificamente. Kant argumenta que deve haver necessariamente o númeno, pois seria absurdo que houvesse coisas sem um propósito por trás de sua manifestação. No texto, Kant demonstra a utilidade da distinção entre fenômeno e númeno, mantida em sua filosofia e aplicada ao problema da liberdade humana: o homem, como fenômeno da natureza (corpo), não é livre, mas considerado em si mesmo, entendido como ser racional ou moral (númeno), é livre. Por fim, Kant refere-se aos três postulados da razão prática: a liberdade, a imortalidade da alma e a existência de Deus. Observa que a Crítica da Razão Pura provou que esses conceitos são ideias da razão que, ao se referirem ao númeno, não podem ser conhecidos, mas apenas pensados. Não fazem sentido no campo da ciência (uso teórico da razão), mas desempenham um papel importante nas crenças éticas e religiosas, que parecem dar sentido ao uso moral e prático da razão.
Kant é um dos filósofos mais importantes da Idade Moderna. Em sua obra, convergem os dois principais problemas da filosofia deste período: o problema do conhecimento humano e o da liberdade. Em Kant, resumem-se as contribuições do racionalismo e do empirismo, culminando na filosofia transcendental. Kant partilhava a tese do racionalismo dogmático, representado por Leibniz e Wolff, acreditando na possibilidade de uma ciência metafísica, capaz de conhecer a alma, o mundo e Deus. A partir de 1781, inicia-se o período crítico de Kant, no qual ele propõe examinar os limites da razão humana, tanto no uso científico (razão teórica) quanto no ético (razão prática). Para Kant, todas as questões da filosofia podem ser resumidas em quatro perguntas: O que posso saber? O que devo fazer? O que me é permitido esperar? O que é o homem? Para respondê-las, utiliza o método crítico, pelo qual a razão se examina a si mesma, a fim de descobrir seus usos e limitações.
Conhecimento e Realidade
A. O Uso Teórico da Razão: A Teoria do Conhecimento de Kant
Kant responde à primeira dessas questões na Crítica da Razão Pura. A pergunta mais importante que se coloca é se a metafísica é uma ciência. Se for, não terá limites de conhecimento; se não for, terá limites. Kant analisa as condições que tornaram a matemática e a física ciências. Ambas são ciências por serem capazes de formular leis ou "juízos sintéticos a priori", que são universais e verdadeiros. A pergunta, então, é: como o conhecimento humano pode formular juízos sintéticos a priori científicos? Nem todo conhecimento provém da experiência. Deve haver alguma forma, definida pela mente do sujeito. Kant, então, sintetiza empirismo e racionalismo no idealismo transcendental: a sensibilidade fornece ao entendimento um material dado pelos sentidos, que a mente do sujeito organiza por meio de estruturas a priori, independentemente da experiência. No conhecimento, estão envolvidas três faculdades mentais: a sensibilidade, o entendimento e a razão. Primeiro, a sensibilidade, por meio das intuições puras de espaço e tempo, organiza o caos das sensações, constituindo nossa "representação mental". Em seguida, o entendimento, com seus conceitos puros a priori (as categorias), organiza o caos dos fenômenos, a fim de conhecer as leis da natureza. Sensibilidade e entendimento são complementares. Do exposto, fica claro que, para Kant, só conhecemos as manifestações sensíveis da natureza (os fenômenos), que são organizadas no espaço-tempo e às quais podemos aplicar as categorias. As coisas em si mesmas (os númenos) podem ser pensadas, mas nunca conhecidas, porque não temos experiência delas e, portanto, as categorias não podem ser aplicadas a elas.
Ação Ética
Kant aborda a análise do uso prático da razão na Fundamentação da Metafísica dos Costumes e na Crítica da Razão Prática. O único critério que determina o valor moral de uma ação é a boa vontade, que, ao agir, se baseia no dever e não em interesses pessoais. Diante disso, Kant propôs uma ética formal, a única que pode fundamentar a ideia de dever. Este ponto de vista ético baseia-se na razão do sujeito como uma lei moral abstrata e universalmente válida, o imperativo categórico, que é formulado como: "Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal". O imperativo categórico pressupõe a liberdade do indivíduo, porque só um ser com livre-arbítrio pode ser ele próprio uma lei moral: o indivíduo é livre na esfera moral, pois só obedece a si próprio, à sua própria lei. Virtude é o desejo de sempre agir por dever. A ética kantiana pode sustentar uma fé racional. Em contraste com Tomás de Aquino, para Kant não é a religião que fundamenta a ética, mas a ética que coloca a religião como um possível complemento, no qual as ideias da razão pura desempenham um papel importante como postulados da razão prática. Sua ética culmina na formulação dos três postulados da razão prática: a liberdade, a imortalidade da alma e a existência de Deus. Estes três postulados mostram "o que é permitido esperar" e o verdadeiro significado das ideias da razão. Na Crítica da Razão Pura, Kant mostrou que o númeno não pode ser conhecido, mas agora compreendemos que o verdadeiro significado dessas ideias não é teórico, mas prático ou moral. Essas ideias não desempenham qualquer papel no uso teórico da razão, pois não ampliam nosso conhecimento dos objetos a que se referem. Mas a ética kantiana demonstra que essas ideias desempenham um papel importante no domínio da utilização prática ou moral da razão: as ideias de liberdade, imortalidade da alma e Deus são ideais morais que dão sentido à ação humana.