Imprensa Brasileira: 1930-1974

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Jornais brasileiros 1930-1974

Foram anos agitados para os jornais neste período. O Diário Carioca, por exemplo, em 3 de outubro, quando estourou a Revolução de 30, iniciada pela chapa derrotada nas eleições por Júlio Prestes, Getúlio Vargas e João Pessoa, apoiou os revolucionários. Depois do evento, o jornal rompeu com o movimento e passou a adotar posicionamentos estranhos, fez campanhas contra a Light, a companhia de Gás, indústria pesqueira, à imigração de elementos indesejáveis, como japoneses e sírios, como também posições a favor dos funcionários públicos e da liberdade de imprensa. Esta mudança de posicionamento gradativamente aconteceu com todos os jornais, chegando ao ponto do governo getulista tomar a posse do O Estado de S. Paulo, em 1940, com o pretexto de que o jornal estocava armas em seu prédio.

Outros jornais, como o Correio da Manhã, assim como já havia feito no primeiro conflito, se posicionou contra a neutralidade do Brasil na Segunda Guerra, quando Getúlio claramente favorecia os Nazistas. O jornal, mesmo sob a censura do Estado Novo, decretado em 1937, disse que tal guerra se dava no plano ideológico e defendeu novamente a participação do país. Depois da entrada do país no conflito, em 1942, o jornalista Rubem Braga foi enviado ao front italiano para acompanhar os pracinhas da FEB, Força Expedicionária Brasileira. Ele foi o terceiro jornalista brasileiro a cobrir o conflito e o segundo por um jornal brasileiro. O Primeiro foi Samuel Wainer, de forma independente, e o segundo Joel Silveira, pelos Diários Associados. No final da Guerra, um importante marco do fim do getulismo na imprensa foi a entrevista dada pelo ex-ministro José Américo de Almeida, publicada pelo Correio da Manhã, em 1945, feita por Carlos Lacerda.

A equipe foi expandida com a contratação de Nabor Caíres de Brito, Paulo Silveira, e a família inteira de Mario Rodrigues, incluindo seu filho, Nelson Rodrigues. Wainer planejou a volta do colunismo, uma das grandes características da formação da imprensa brasileira, mas desaparecidos desde os anos de 1920. Mas, o mais marcante, foi a nova diagramação, com a valorização da primeira página, através do uso de cores e fotos grandes, o que valorizava também o fotógrafo.

A única regra limitadora do colunismo do Última Hora era de que não se podia escrever contra os interesses do jornal. Às claras ela foi incorporada. Sergio Porto, criou o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, até Paulo Francis, que ganhou notoriedade em matérias contra Carlos Lacerda, rebelde, ficou quase sempre dentro de seus limites. Houve outros colunistas, como Jô Soares, Ignácio de Loyola Brandão e Jean Claude Bernardet. O jornal tinha dois cadernos: o primeiro político, o segundo voltado às causas populares e aos problemas do cotidiano das pessoas de baixa renda. No seu primeiro ano de existência, a tiragem subiu de 4 mil para picos de 100 mil exemplares.

Foi mérito de Francis, na ocasião em que Carlos Lacerda, então governador do estado da Guanabara, a criação do apelido de mata-mendigos, se referindo ao escândalo descoberto por Amado Ribeiro, repórter do UH, do genocídio dos moradores de rua a mando do político. O jornalista conseguiu localizar uma sobrevivente que confirmou que foram policiais que executaram os crimes. Ele mergulhou em uma investigação e ligou tais policiais a Cecil Bohrer, chefe de polícia, que recebeu ordens do governador de limpar o Rio.

O jornal nasceu tendo outro como antagonista, a Tribuna da Imprensa, fundado em 1949 por Carlos Lacerda, que, apesar de um passado de esquerda, havia se associado aos ramos mais conservadores da política para construir uma plataforma de ataques contra Getúlio com ambições políticas próprias. Lacerda partiu para o combate direto contra seu ex-companheiro Samuel Wainer e o acusou de favorecimento pelo governo. Acusação estranha, já que todos os jornais tinham alta dívida com o governo, inclusive, a Tribuna da Imprensa e os Diários Associados, de Assis Chateubriand.

Primeiro criou-se uma CPI para investigar o caso da aquisição do jornal, depois acusaram seu dono de não ser brasileiro nato, fato que o jornalista confirmou como verdadeiro na segunda edição de suas memórias. Lacerda perdeu as disputas contra Wainer, mas levou vantagem sobre Getúlio, graças a um atentado patético contra sua vida, um tiro no pé, sofrido durante uma tentativa de assassinato na rua Toneleiros, no Rio, em 5 de agosto de 1954. Getúlio suicida-se no mesmo mês, e culpa grupos internacionais (lê-se oposição), sua Carta Testamento gera reação imediata contra os opositores da presidência. A população, revoltada, depreda os veículos de entrega e de reportagem dos jornais O Globo e Tribuna da Imprensa.

Nos anos seguintes, Juscelino trabalhou em um período de relativa calma e otimismo, graças ao anti-golpe perpetrado pelo Marechal Lott, contra os golpistas que se articulavam para impedir sua posse, e o projeto de criação de uma nova capital dentro de modelo desenvolvimentista. Ele foi o primeiro presidente eleito diretamente a concluir um mandato. E o jornalismo impresso também conseguiu se modernizar no período. O Diário Carioca, antes de sucumbir à crise, investiu para competir. Nos anos 50, sua redação continha nomes importantes como Zuenir Ventura, Amílcar de Castro, Milton Coelho da Graça, José Ramos Tinhorão, e, principalmente, Ana Arruda Callado, que viria a ser, em 1964, a primeira mulher chefe de reportagem de um jornal de prestígio no Brasil. Mas a grande contribuição deste jornal para o jornalismo, e talvez a maior de todas na imprensa brasileira, foi a introdução do lead nos impressos brasileiros. Mas este não era apenas uma reprodução da técnica americana, como aconteceu no Repórter Esso, ele foi adaptado ao mercado brasileiro baseado nas contribuições da geração modernista de 1922, a oralidade e o coloquialismo no discurso escrito. Durante o ano de 1950, Pompeu de Souza, juntamente com Danton Jobim, criaram o primeiro curso de jornalismo da então Universidade do Brasil, que não só aplicaram a versão nacional do lead, como criaram o primeiro manual de redação para padronização de textos da imprensa brasileira.

O Jornal do Brasil, que, segundo Wainer, nesta época não passava de um balcão de anúncios, refletia a mentalidade de seu diretor José Pires do Rio. Depois da morte deste, em 1954, Manuel Francisco do Nascimento Brito, foi trazido da Rádio JB para o jornal. Ele importou equipamentos novos para o velho jornal, e preparou por dois anos o projeto de renovação e reestruturação empresarial. Durante este período, contratou Odylo Costa Filho, que trouxe um qualificado grupo de profissionais do Diário Carioca e da Tribuna da Imprensa, Jânio de Freitas, Carlos Lemos, Wilson Figueiredo e, principalmente, Amilcar de Castro, que teve a liberdade de criar o jornal do zero, dando início a mais uma revolução no jornalismo impresso, pouco depois do UH.

Foi lançado em 1957 o Suplemento Dominical, que nos anos 60 passou a se chamar Caderno B. Tratava-se do primeiro caderno exclusivo de variedades, criado por Reynaldo Jardim, com a colaboração de Ferreira Gullar, os irmãos Campos, Haroldo e Augusto. Como consequência, o número de páginas foi ampliado, o espaço para reportagem e fotografias também, e quanto às publicidade, foram divididas em módulos, a partir de 1959. No início do anos 60, o mesmo Jornal do Brasil, chefiado por Alberto Dines, fundaria o Departamento de Pesquisa, o que deu início à organização temática das matérias (o embrião das futuras editorias).

O jornalismo popular no país, que foi iniciado pelo pequeno jornal Luta Democrática, de propriedade do controverso político fluminense Tenório Cavalcanti, posteriormente desenvolvido pelo UH, ampliava-se durante os anos 60, com o surgimento de outros títulos importantes. Jornais como o Notícias Populares, lançado em São Paulo pelo empresário Herbert Levy, que também possuía outro jornal, a Gazeta Mercantil, chegaram para dividir mercado. Com o tempo, estes dois últimos acabariam nas mãos da Empresa Folha da Manhã, que tentou se popularizar, uma vez que, desde sua fundação, em 1921, mal conseguia fazer sombra ao O Estado de S. Paulo.

O golpe de direita, adiado pelo suicídio de Getúlio, e a ação de Lott aconteceria dez anos depois, sob os aplausos de toda a imprensa brasileira, menos pelo UH. Os organizadores do golpe, que na verdade eram os civis Carlos Lacerda, Ademar de Barros e Magalhães Pinto, logo seriam deixados de lado quando os militares passaram a cercear os direitos constitucionais, políticos e, finalmente, de imprensa, através do AI-5. Eles cassaram e exilaram os antigos aliados e mais tarde implantariam os censores oficiais nas redações de alguns jornais, assim como acontecia na época do Estado Novo. Nem o grande grupo liderado pelo então cadeirante combalido Chateaubriand, um dos maiores apoiadores dos militares, foi poupado.

O UH passou a ser algo prioritário na imprensa já que havia feito oposição desde o início dos acontecimentos, pouco depois Wainer se retirou para um curto exílio no Chile. O jornal ficou nas mãos de Jânio de Freitas e Danton Jobim, juntos novamente desde o Diário Carioca, de 1964 a 1968, e mantiveram oposição crítica à ditadura. Mesmo de volta ao país em 68, Samuel pouco pôde fazer para salvar o jornal, fustigado pelo governo e decadente, já que O Globo, que copiou as suas fórmulas e levou parte de seu pessoal, O Jornal do Brasil, reformulado, e O Dia, lideravam as vendagens. Em 27/4/1971, foi vendido para Maurício Nunes de Alencar. Alguns anos depois, sua posse pertencia ao Grupo Folhas, que convidou Wainer para dirigir, como empregado, o próprio jornal que fundara. Com sua morte, em 1980, quando a chefia foi assumida, pela última vez, por Giba 1, pouco antes do jornal parar de circular.

O Diário Carioca não resistiu à virada política além da competição, com o UH, o que culminaria com o encerramento das atividades, em 31 de dezembro de 1965. Sem o apoio financeiro garantido pelo governo, que agora usava a televisão para consolidar a Integração Nacional, os jornais enfrentaram o maior desafio de sua existência: a crise do papel de 1974.

Já o Correio da Manhã, às portas com uma nova ditadura, desta vez, identificado com a classe média conservadora e o pensamento econômico liberal, exigia a saída do presidente João Goulart, como se leu no editorial intitulado Fora!, publicado no dia 1 de abril de 1964, data do golpe: “A nação não mais suporta a permanência do Sr. João Goulart à frente do governo. Não resta outra saída ao Sr. João Goulart senão a de entregar o governo a seu legítimo sucessor. Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: saia”. Mas o erro foi rapidamente percebido, e, menos de um dia depois do golpe, iniciou oposição aos revolucionários. Coube a Carlos Heitor Cony a tarefa de crítico mor através da publicação de uma série de crônicas, cuja primeira levava o título de A salvação da pátria, que depois foram reunidas no livro O ato e o fato.

Isto custaria caro. No ano de 1968, mesmo antes do AI-5, houve tanta pressão do governo, com prisões e bombas lançadas à redação, suspensão de tiragens, dentre outras coisas, que fizeram com que o jornal, que antes atingia 200 mil exemplares, a não ter anunciantes, amedrontados com as represálias do governo. Na ocasião da promulgação do decreto, em dezembro, assim como o Jornal do Brasil, o Correio da Manhã já havia sido fechado preventivamente. Isto gerou uma crise financeira que fez com que metade da redação fosse dispensada e a empresa entrasse em concordata em 11 / 3 / 1969. O periódico foi vendido ao grupo Ecos, de Maurício Nunes de Alencar, e, até sua última edição em 8/6/1974, permaneceu combativo à ditadura. Neste dia, o jornal saiu com 8 páginas e com uma tiragem de 3 mil exemplares.

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