A Influência de Keynes na Cepal: Uma Análise Crítica
Classificado em Outras materias
Escrito em em português com um tamanho de 2,89 KB.
O artigo contesta a tese, corrente na literatura, segundo a qual as teorias defendidas pelos economistas ligados à Cepal nas décadas de 1950 e 1960 devem-se à influência direta de Keynes. Para tanto, além de evidenciar diferenças entre as duas construções teóricas, mostra que, antes de a Cepal ser criada ou da publicação da Teoria Geral, teses mais tarde consagradas como suas já encontravam adeptos na América Latina. Chama atenção para a complexidade da origem do pensamento estruturalista latino-americano e levanta hipóteses sobre que correntes ou teorias o teriam influenciado mais diretamente em seu nascedouro.
Pode-se afirmar, à guisa de conclusão, que, embora o estruturalismo cepalino tenha tido em Keynes uma de suas fontes de inspiração, há razões bastante sólidas para se afirmar que intervencionismo, críticas ao laissez-faire e às teorias liberais do comércio internacional, teses defendendo a indústria como condição para o desenvolvimento, advogando que a especialização agrária levava a perdas no comércio internacional e vendo as economias como duais já existiam e encontravam adeptos na América Latina, seja antes de a Cepal ser criada, seja antes da publicação da Teoria Geral. De forma alguma pode-se atribuir ao sucesso desta obra e a seu impacto teses tão específicas e voltadas para a realidade latino-americana como as que os estruturalistas defenderam, e muito menos procurar reduzir a contribuição destes a um tipo particular de keynesianismo – de que, em aspectos fundamentais, a Cepal se afasta. A evidência de citações de inúmeros exemplos do Brasil mostra que várias contribuições que mais tarde apareceriam como integrantes do pensamento da Cepal encontravam aqui ferrenhos defensores, os quais recorriam aos mais diferentes matrizes teóricas ou doutrinárias, como o "liberalismo de exceção", o positivismo ou o nacionalismo de List, para firmar seus pontos de vista.
Esse aspecto do pensamento cepalino, de ver o presente como momento de construção do futuro, assumindo-o como transição na expectativa de determinado futuro a ser conscientemente construído, ressalta seu traço de modernidade. Hegel já havia mostrado que a afirmação desta teve momentos historicamente decisivos com a Reforma, o Iluminismo e a Revolução Francesa, ao substituírem a teologia pelo livre arbítrio humanista, quando descobriu "o princípio dos tempos modernos na subjetividade e na liberdade que lhe é inerente" (Paulani, 1992:154). Modernidade que o liberalismo "de exceção", o positivismo e List, cada qual à sua maneira, souberam incorporar em seus momentos históricos, e que está nas raízes do estruturalismo cepalino.
Conclui que a contribuição da Cepal consistiu em sistematizar, dentro de um programa de pesquisa reconhecido academicamente, ideias que, de forma fragmentária, já existiam na América Latina.