Interações Medicamento-Alimento: Impacto na Absorção e Biodisponibilidade
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O fenômeno de interação fármaco-nutriente pode surgir em diversas etapas do processo farmacocinético:
- Antes ou durante a absorção gastrintestinal;
- Durante a distribuição e armazenamento nos tecidos;
- No processo de biotransformação;
- Ou mesmo durante a excreção.
Essas interações podem alterar a disponibilidade, a ação ou a toxicidade de uma destas substâncias ou de ambas. O trato gastrintestinal representa o principal sítio de interação fármaco-nutriente, uma vez que o processo de absorção de ambos ocorre por mecanismos semelhantes e podem ser competitivos.
A ingestão de alimentos é capaz de desencadear no trato digestivo a liberação de secreções que, por ação qualitativa e quantitativa dos sucos gástricos, agem hidrolisando e degradando ligações químicas específicas. Substâncias sensíveis a pH baixo podem ser alteradas ou até inativadas pelo ácido gástrico quando ingeridas com alimentos, como, por exemplo, no caso da inativação da penicilina e da eritromicina.
Paralelamente, o nutriente pode influenciar na biodisponibilidade do fármaco através de diversos mecanismos:
- Modificação do pH do conteúdo gastrintestinal;
- Esvaziamento gástrico;
- Aumento do trânsito intestinal;
- Competição por sítios de absorção;
- Fluxo sanguíneo esplâncnico;
- Ligação direta do fármaco com componentes dos alimentos.
Modificação do pH do Conteúdo Gastrintestinal
Com a ingestão de alimentos ou líquidos, o pH de 1,5 do estômago se eleva para aproximadamente 3,0, afetando a desintegração das cápsulas, drágeas ou comprimidos e, consequentemente, a absorção do princípio ativo.
O aumento do pH gástrico em função dos alimentos ou líquidos pode reduzir a dissolução de comprimidos de eritromicina ou de tetraciclina.
Medicamentos como a fenitoína ou o dicumarol desintegram-se mais facilmente com a alcalinização do pH gástrico.
Velocidade do Esvaziamento Gástrico
A presença de alimentos no estômago contribui para o retardo do esvaziamento gástrico. A velocidade é limitada pela quantidade de quimo presente no intestino delgado.
Refeições sólidas, ácidas, gordurosas, quentes, hipertônicas e volumes líquidos acima de 300 mL tendem a induzir um acentuado retardo do esvaziamento gástrico, podendo aumentar a absorção dos fármacos através de um prolongamento do tempo de contato do princípio ativo com a superfície de absorção. O mesmo ocorre com o álcool.
Aumento da Atividade Peristáltica do Intestino
A atividade peristáltica do intestino delgado é provocada, em parte, pela entrada de quimo no duodeno e pelo fluxo gastroentérico. Este reflexo eleva o grau geral de excitabilidade do intestino delgado e também aumenta a motilidade e secreção.
Este aumento moderado da motilidade pode favorecer a dissolução do medicamento, facilitando o contato das substâncias ativas com a superfície de absorção e otimizando a absorção. Por outro lado, este aumento moderado da motilidade pode diminuir a sua biodisponibilidade, em função da elevação da velocidade do trânsito intestinal.
Competição pelos Sítios de Absorção
A presença de nutrientes pode constituir uma competição pelos sítios de absorção, cuja consequência dependerá de qual componente apresenta maior afinidade com este sítio.
A levodopa (L-dopa), usada no tratamento da doença de Parkinson, tem ação terapêutica inibida por dieta hiperproteica. Entretanto, uma dieta hipoproteica potencializa e estabiliza este efeito. Esta alteração deve-se ao fato de os aminoácidos competirem com a levodopa tanto na absorção intestinal quanto na penetração no cérebro.
Fluxo Sanguíneo Esplâncnico (FSE)
A circulação esplâncnica é constituída pelo suprimento sanguíneo do trato gastrintestinal, baço e pâncreas. A ingestão de alimentos aumenta o fluxo sanguíneo esplâncnico, e o grau de modificação depende do tipo e da quantidade da refeição ingerida. Dietas hiperproteicas e hiperlipídicas elevam o FSE, o qual é maior para as grandes refeições do que para as pequenas.
Ligação Direta Fármaco-Alimento (Complexação)
A interação fármaco-nutriente pode ocorrer por mecanismo de complexação, resultando na diminuição da sua disponibilidade.