Introdução à Sociologia: Conceitos e Pensadores Clássicos

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1. Sociologia

Prof. Pedro Mahfuz

Para Dias (2005, p. 21), o surgimento da sociologia ocorre num contexto histórico que coincide com a desagregação da sociedade feudal e a formação da sociedade capitalista. Acontecimentos como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial possibilitaram o aparecimento da sociologia.

Profundas mudanças começam a ocorrer no campo social, sobretudo a partir do triunfo industrial.

Problemas decorrentes do rápido processo de urbanização e de concentração de máquinas, terras e ferramentas sob controle do empresário capitalista fazem surgir a questão social.

Já no século XVII, pensadores racionalistas provocavam notáveis avanços no modo de pensar, com o uso sistemático da razão. No século XVIII, os iluministas buscavam transformar velhas formas de conhecimento, utilizando a razão para criticar a sociedade. Atacaram os fundamentos da sociedade feudal, os privilégios dos nobres e as restrições que estes impunham aos interesses econômicos e políticos da burguesia. Esse pensamento teve um importante papel na Revolução Francesa de 1789.

Conforme Charon (2004), no século XIX e início do século XX, quatro pensadores europeus tiveram especial importância para a sociologia e, juntos, podem ser considerados sociólogos clássicos: Auguste Comte; Karl Marx; Max Weber; Émile Durkheim.

Entre 1900 e 1920, os sociólogos foram deixando de lado as reformas a fim de ganhar respeitabilidade na comunidade universitária e científica. Empenharam-se para fazer com que a sociologia se tornasse uma ciência social legítima nas grandes universidades, especialmente no centro-oeste e no leste dos Estados Unidos.

Para os sociólogos, é fundamental compreender o ser humano de um modo cuidadoso e objetivo, usando princípios científicos sempre que possível. Nada é mais fascinante do que entender por que as pessoas agem de determinada maneira - e nada é tão importante.

Para Lakatos (2011), a sociologia sistemática procura explicar a ordem existente nas relações dos fenômenos sociais através de condições, fatores e efeitos que operam em um campo histórico, subdividindo-se em:

  • Sociologia Sistemática Estática - que lida com os requisitos estruturais e funcionais da ordem social.
  • Sociologia Sistemática Dinâmica - que lida com os processos sociais que podem ser descritos através da operação das condições estruturais e funcionais estáveis ou relativamente instáveis da ordem social.

Exemplos: noções de ação e interação social, de processos sociais de grupos sociais, de instituições.

Lakatos (2011) cita algumas sociologias especiais, entre elas:

Sociologia da Família:

Estudo da origem, evolução e a função da instituição família, suas distintas formas e as relações entre seus membros, nas diversas sociedades, no passado e no presente.

Exemplos: relações maritais; tipos de sucessão.

Sociologia Educacional:

Exame do campo, da estrutura e do funcionamento da escola como instituição social e analisa os processos sociológicos envolvidos na instituição educacional.

Exemplos: problemas da educação rural e urbana; necessidade social do supletivo.

Sociologia Demográfica e Ecologia Humana:

Estudo da influência do fator demográfico (densidade da população, diminuição ou aumento) na organização da sociedade e vice-versa; a distribuição espacial dos agrupamentos humanos, suas relações uns com os outros e fatores determinantes de sua distribuição e relacionamento.

Exemplos: consequências sociais da diminuição da taxa de mortalidade; migrações.

Sociologia do Desenvolvimento:

Estudo do processo de desenvolvimento compreendido como uma configuração historicamente concreta de transformações nas sociedades humanas; preocupa-se com a análise das condições estruturais que precedem o desenvolvimento e nele influem de maneira fundamental; verifica as implicações do desenvolvimento, isto é, suas inter-relações, suas consequências e seus produtos.

Exemplos: Revolução Industrial e Desenvolvimento; dependência, subdesenvolvimento e marginalidade; desenvolvimento industrial e conflito de classes.

Conforme Gil (2011), noções de Sociologia começaram a ser estudadas no Brasil, no final do Império, nas escolas de Direito. Também é possível identificar algum tipo de pensamento sociológico no Brasil no início do século XX, na obra de alguns escritores, como Euclides da Cunha, que escreveu Os Sertões, obra publicada em 1902. Em 1927, na Escola Normal de Recife, instituiu-se a cadeira de Sociologia e, no ano seguinte, na Escola Normal do Rio de Janeiro. Mas foi somente a partir da década de 1930 que se pode falar da existência da Sociologia como disciplina autônoma dirigida ao conhecimento metódico e sistemático da sociedade. Nessa década, surgem alguns dos maiores clássicos da Sociologia brasileira: Evolução Política do Brasil, de Caio Prado Jr., em 1933, Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, em 1933, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, em 1936.

Na década de 1950, a principal preocupação dos sociólogos foi a de desenvolver uma consciência crítica da realidade brasileira. Assim, foram realizados importantes estudos sobre o êxodo rural, desigualdade social, relações étnicas, cultura popular, comportamento religioso, estratificação social, industrialização, transição e mudança etc. A figura mais importante deste período foi Florestan Fernandes. Profundamente influenciado pelas ideias de Marx, salientou-se tanto pela reflexão teórica em Sociologia quanto pelo estudo das relações sociais e da estrutura de classes da sociedade brasileira. Foi o principal mentor da Sociologia crítica no Brasil, que teve muitos seguidores, como Octavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso.

No início da década de 1960, a Sociologia brasileira estava fortemente consolidada. O golpe militar de 1964, com a sucessão de governos autoritários, no entanto, representou um duro golpe para seu desenvolvimento. Com a edição do Ato Institucional nº 5, professores de Sociologia, como Florestan Fernandes, Octavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso, foram impedidos de lecionar. Muitos desses professores se exilaram e continuaram a desenvolver seus trabalhos no exterior.

Com a reabertura política, iniciada no final da década de 1970, muitos sociólogos começaram a ingressar na vida política, filiando-se a partidos e candidatando-se a cargos eletivos.

Os acontecimentos relacionados à derrubada do muro de Berlim e à desagregação da União Soviética e das repúblicas socialistas do leste europeu, entre 1989 e 1991, trouxeram perplexidade para muitos sociólogos brasileiros, que se identificavam com o ideário socialista. Mas o papel crítico da Sociologia reafirmou-se ainda no final dessa década, em virtude das consequências da globalização para a população das nações mais pobres.

Neste início do terceiro milênio, no Brasil, a Sociologia mostra-se consolidada como opção profissional, já que muitos são os sociólogos atuantes em órgãos públicos, em institutos de pesquisa, no ensino médio e superior, em organizações não governamentais e em empresas privadas.

Auguste Comte (1798-1857)

O francês Auguste Comte foi o fundador do positivismo.

O positivismo voltado para a análise social teve em Comte um dos principais formuladores.

Comte iniciou suas reflexões partindo da realidade histórica de seu tempo, percebendo a emergência de uma crise que era, a seu ver, resultante do confronto histórico entre a antiga ordem feudal e a nova ordem capitalista, fundada na indústria e na ciência. Esse confronto estaria a provocar o que ele entendeu como desagregação moral e intelectual da sociedade do século XIX, gerando um estado de caos no qual ele acreditava encontrar-se a Europa após as revoluções francesa e industrial.

Essa crise só seria superada por meio da construção de uma nova coesão de pensamento que fosse capaz de reconstruir a ordem a partir da modernização industrial e científica. O que Comte propôs não se limitava ao ato de compreender as relações sociais; seu intuito era entender para interferir diretamente na ordem social, no sentido de acelerar e otimizar seu desenvolvimento.

Para Comte, o período de apogeu do racionalismo representava a oposição da filosofia positiva em relação ao espírito teológico e metafísico. Comte considerava que nos fenômenos naturais (os astronômicos, os físicos, os químicos e os fisiológicos) havia uma lacuna: os fenômenos sociais. Assim sendo, Comte dividiu a filosofia positiva em cinco ciências fundamentais:

  • Astronomia
  • Física
  • Química
  • Fisiologia
  • Física Social

Posteriormente, Comte denominou a física social de sociologia, palavra por ele criada.

Muitos cientistas sociais contribuíram para a construção teórica da sociologia, entendemos que três podem ser considerados os mais importantes, tidos como clássicos:

  • Émile Durkheim
  • Karl Marx
  • Max Weber

Alguns teóricos entendem que a existência de um mercado na sociedade capitalista, no qual os proprietários individuais produziam e comercializavam suas mercadorias, criou condições para que se reduzisse toda a sociedade apenas ao conjunto de interesses individuais daqueles agentes privados.

Para muitos cientistas sociais, o indivíduo como ser sócio-histórico é livre em certo sentido, até o ponto em que o exercício dessa liberdade não afete a ordem estabelecida para a coletividade.

Alguns autores privilegiam o papel ativo do indivíduo na escolha das ações sociais, outros enfatizam o papel da sociedade e de suas instituições, ainda outros ressaltam a importância ao conjunto das práticas que definem as próprias relações entre indivíduo e sociedade.

Claude-Henri de Rouvroy, o Conde de Saint-Simon (1760-1825)

Foi influenciado pelas ideias revolucionárias burguesas. Acreditava que a nova sociedade que nascia, a racionalidade econômica burguesa, suplantaria a dominação política da nobreza e levaria à queda e eliminação da antiga ordenação social oriunda do feudalismo.

Para Saint-Simon, a sociedade industrial transformaria a natureza de forma ordeira e pacífica, de modo que os frutos do progresso obtido pelo avanço da produção pudessem assegurar a todos os seus membros a satisfação de suas necessidades materiais e espirituais. Para ele, os cientistas e os industriais teriam a responsabilidade de prover condições convenientes de vida à classe trabalhadora, por meio da elaboração de normas de comportamento coletivo e pela remuneração adequada, de maneira que os conflitos entre as classes pudessem ser atenuados, propiciando a vivência plena da ordem, da paz e do progresso. Ao final de sua vida, percebeu que tais preceitos não se concretizaram e que a classe trabalhadora convivia com a miséria; ele então aproximou-se da nascente visão socialista e alguns autores o consideram um de seus primeiros formuladores.

Comte estruturou seu pensamento a partir de uma Filosofia da História peculiar. Em sua visão, os estudos sobre a fisiologia cerebral do homem revelaram que este era dotado de uma natureza caracterizada por uma irresistível tendência social. Devido a tal sociabilidade, sua história constituiria no percurso do desenvolvimento e do progresso da natureza humana. O homem seria, portanto, um ser histórico porque na História, e apenas nela, é que ele realizaria sua natureza invariável: ser social. Para que se desenvolvesse completamente, a sociedade deveria passar por três estágios, ou estados, necessários para que o homem aprendesse a utilizar sua inteligência (razão) como fonte inspiradora de suas ações. Estava estabelecida a primeira lei natural da humanidade, definida pela física social: a chamada Lei dos Três Estados.

Segundo essa lei, o primeiro estado da humanidade foi definido como teológico. Nele, Deus seria o centro de todas as referências humanas, a medida de tudo na sociedade. Essa concepção teocêntrica da vida social era fundada na impossibilidade humana de, nesse estado, abalizar suas explicações na razão, uma vez que o espírito teológico era alicerçado na fé irracional.

O estado seguinte, definido pela lei comteana, foi denominado de metafísico. Ele seria o intermediário entre os três, no qual a explicação da sociedade já não passaria apenas pela fundamentação na iniciativa divina. Deus não seria mais o regente absoluto da vida social, e sim uma essência onipresente a ela. Se o estágio anterior definia-se por ordem, este, por ser de transição, revelava um sentido de progresso no percurso da civilização humana.

O último dos estados da Teoria da História comteana seria o positivo, ponto de chegada histórico ao qual o espírito humano havia, naturalmente, sempre aspirado. Esse estágio encontraria sua expressão na sociedade capitalista moderna. O homem, partindo de uma concepção antropocêntrica, se colocaria na condição de regente da vida social. Dessa forma, o espírito positivo forneceria os preceitos fundamentais para a concepção de uma unidade consensual para a nova ordem, assentada definitivamente, daquela hora em diante, na razão. Seu objetivo central seria conduzir o pensamento humano para a coerência racional à qual ele estivera sempre destinado. Nesse sentido é que o estado positivo do desenvolvimento humano só encontraria o ápice de sua maturidade racional com a sociologia.

Segundo Charon (2004), Comte definiu a sociologia como a ciência da sociedade, e de fato foi o desenvolvimento da ciência que constituiu uma importante inspiração para os primeiros sociólogos. A sociologia evoluiu de um desejo nascido em alguns intelectuais de aplicar as técnicas da ciência ao estudo da sociedade.

Émile Durkheim (1858-1917)

Considerado por muitos como fundador da sociologia. Um dos aspectos mais polêmicos foi sua afirmação de que os fatos sociais deviam ser considerados como coisas, pois são individualizados e observáveis.

Para Durkheim, os fatos sociais possuíam três características:

  1. Coerção Social: Influxo exercido pelos fatos sobre os indivíduos, induzindo-os à aceitação de regras vigentes na sociedade, a despeito de seus anseios e opções pessoais. Subordinação a todos os estatutos das leis.
  2. Exterioridade: Fatos existem antes e fora das pessoas. Ex.: sistemas de moedas; instrumentos de crédito; práticas profissionais...
  3. Generalidade: Devido ao fato repetir-se, pela imposição, na maioria ou em todos os membros da sociedade. Ex.: formas comuns de habitação, de comunicação...

Para Durkheim, fato social é toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.

Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber são considerados três dos mais importantes cientistas sociais que contribuíram para a construção da sociologia.

Durkheim tem por mérito conferir à sociologia o status de disciplina científica.

Em seu país, a França, preocupou-se com os conflitos entre o capital e o trabalho, decorrentes da Segunda Revolução Industrial.

Uma das preocupações originais da sociologia foi relativa aos conflitos entre as classes sociais.

Podemos dizer que o conceito de indivíduo, tal como é conhecido nos dias de hoje, é fruto da modernidade burguesa europeia que parte da concepção geral de que o individualismo é independente e não está sujeito essencialmente à sociedade da qual faz parte.

Conforme Durkheim, a solidariedade mecânica imperou na história de todas as sociedades anteriores ao advento da Revolução Industrial e do capitalismo. Nelas, os códigos de identificação social dos indivíduos eram diretos e se davam por meio dos laços familiares, religiosos, de tradição e costumes, sendo completamente autônomos em relação ao problema da divisão social do trabalho, que não interferiria nos mecanismos de constituição da solidariedade. Nesse caso, a consciência coletiva exerceria todo o seu poder de coerção sobre os indivíduos, uma vez que aqueles laços os envolviam em uma teia de relações próximas que acentuavam o controle social direto por parte da comunidade.

A solidariedade orgânica se manifestaria, por sua vez, nas palavras de Durkheim, de modo inteiramente diferente da mecânica. Peculiar da sociedade capitalista moderna, em função direta da divisão acelerada do trabalho, que nessa sociedade exerceria influência decisiva em todos os setores da organização social. Os indivíduos seriam levados a se tornarem interdependentes entre si, garantindo a constituição de novas formas de unidade social no lugar dos antigos costumes, das tradições ou das relações sociais estreitas que caracterizavam a vida pré-moderna. Os antigos laços diretos da consciência coletiva se afrouxariam, conferindo aos indivíduos maior autonomia pessoal e cedendo espaço aos mecanismos de controle social indiretos, definidos por sistemas e códigos de conduta consagrados na forma da lei.

Karl Marx (1818-1883)

O marxismo faz uma crítica radical ao tipo de ordem social da sociedade capitalista.

A sociologia positivista preocupou-se com os problemas da manutenção da ordem existente, concentrando sua atenção, principalmente, na estabilidade social; o pensamento marxista privilegiou, para o desenvolvimento de sua teoria, as situações de conflito existentes na sociedade industrial. Para os marxistas, a luta de classes, e não a harmonia social, constitui a realidade mais evidente da sociedade capitalista.

Marx, com 17 anos, entendia que: o homem feliz é aquele que faz os outros felizes; a melhor profissão, portanto, deve ser a que proporciona ao homem a oportunidade de trabalhar pela felicidade do maior número de pessoas, isto é, pela humanidade. Pensava também que existem sempre obstáculos e dificuldades que fazem com que a vida das pessoas se desenvolva em parte sem que elas tenham condições para determiná-la.

Na visão de Marx, a sociedade divide-se em infraestrutura e superestrutura.

A infraestrutura é a estrutura econômica, formada das relações de produção e forças produtivas.

A superestrutura divide-se em dois níveis: o primeiro, a estrutura jurídico-política, é formado pelas normas e leis que correspondem à sistematização das relações já existentes. O segundo, a estrutura ideológica (filosofia, arte, religião...), justificativa do real, é formado por um conjunto de ideias de determinada classe social que, através de sua ideologia, defende seus interesses. Sendo a infraestrutura determinante, toda mudança social se origina das modificações nas forças produtivas e relações de produção. De acordo com esta teoria, Marx, juntamente com Engels, chegou a uma classificação de sociedades segundo o tipo predominante de relações de produção: a comunidade tribal, a sociedade asiática, a cidade antiga, a sociedade germânica, a sociedade feudal, a sociedade capitalista burguesa (comercial; manufatureira e industrial; financeira e colonialista) e a sociedade comunista sem classes (que se instalaria através da ditadura do proletariado).

A obra de Marx teve grande importância para a sociologia.

Marx reconheceu na dialética o único método científico de pesquisa da verdade.

Para Marx, era o mundo real, o âmbito da economia, das relações de produção que determinavam o que pensava o homem. Foi muito criticado por outros autores, que consideravam sua teoria determinista do ponto de vista econômico. O determinismo econômico marcou as diversas correntes do marxismo que proliferaram ao longo do século XX.

O método dialético proposto por Marx possui quatro características:

  • Tudo se relaciona (lei da ação recíproca e da conexão universal).
  • Tudo se transforma (lei da transformação universal e do desenvolvimento incessante).
  • Mudança qualitativa.
  • Luta dos contrários.

Conforme Gil (2011), Marx, em edição original de 1857, dizia:

“O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor aos meus estudos pode resumir-se assim: na produção social de sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais.

O conjunto destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e social e a que correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral.

Não é a consciência do homem que determina seu ser; pelo contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.”

Max Weber (1864-1920)

Filósofo, historiador e sociólogo alemão, era filho de uma família que lhe transmitiu o conteúdo dos ideais liberais, somados ao rigor da formação protestante.

Para ele, a sociedade e seus sistemas não pairam acima e não são superiores ao indivíduo. As regras e normas sociais não são analisadas como exteriores à vontade dos indivíduos. Muito ao contrário, elas seriam o resultado de um conjunto complexo de ações individuais, nas quais os agentes escolheriam, a todo momento, diferentes formas de conduta.

De fundamento individualista, o pensamento weberiano privilegia a parte sobre o todo, uma vez que sua perspectiva pressupõe que o coletivo se origina do individual. O primado da ação do indivíduo sobre a sociedade é que determinaria a relação indivíduo-sociedade, item fundamental para os estudos sociológicos.

Segundo Weber, a ação social é representada por tipos ideais e é caracterizada de quatro modos distintos: motivos orientados pela tradição; por interesses racionais; pelos afetos; por emoções.

Weber definiu como objeto de estudo da sociologia a ação social. Para ele, ela compreende qualquer ação que o indivíduo faz orientando-se pela ação dos outros, sendo dotada e associada a um sentido (Ferreira, 2003).

Conforme Gil (2011), para Weber, um dos mais importantes componentes das organizações formais é a burocracia. Embora o termo, no linguajar comum, esteja vinculado a fatos desagradáveis, como filas intermináveis, linguagem complexa, papelório desnecessário, reconhecimento de firmas e cancelamento de audiências, a burocracia, a rigor, corresponde a um conjunto de regras e disposições hierárquicas cujo propósito é o de conferir eficiência e eficácia às organizações. Dessa forma, a burocracia pode ser entendida como um modelo organizacional racionalmente elaborado, com vistas a garantir a máxima eficiência possível no alcance dos objetivos organizacionais.

Weber identifica seis elementos que caracterizam a organização burocrática ideal: especialização do trabalho; hierarquia de autoridade; regras e regulamentos; competência técnica; impessoalidade; comunicação escrita.

Embora a burocracia apresente muitas vantagens como: racionalidade; confiabilidade; redução de custos e erros; e rapidez nas decisões, entre outros pontos, também pode apresentar problemas como: competição de objetivos; conflitos de valores; e inércia, entre outros pontos.

Para Lakatos e Marconi (2011), Weber entende a sociologia como o estudo das interações significativas de indivíduos que formam uma teia de relações sociais, sendo seu objetivo a compreensão da conduta social. Esta ênfase dada à compreensão subjetiva levou Weber a definir ação social como a conduta humana, pública ou não, a que o agente atribui significado subjetivo.

Para Weber, a conduta social se apresenta em quatro formas ou categorias:

  1. A conduta tradicional, relativa às antigas tradições.
  2. A conduta emocional, reação habitual ou comportamento dos outros, expressando-se em termos de lealdade ou antagonismos.
  3. A conduta valorizadora, agindo de acordo com o que os outros indivíduos esperam de nós.
  4. A conduta racional-objetiva, que consiste em agir segundo um plano concebido em relação à conduta que se espera dos demais.

A Sociologia como Disciplina Acadêmica

Segundo Charon (2004), a sociologia é uma disciplina acadêmica, é uma das perspectivas encontradas na universidade. Sua história é anterior ao século XIX. Trata-se de uma tentativa de compreender o ser humano. Concentra-se em nossa vida social. Tipicamente, não enfoca a personalidade do indivíduo como causa do comportamento, mas examina a interação social, os padrões sociais (exemplo: papéis, classes, cultura, poder, conflito...) e a socialização em processo.

Os sociólogos examinam as regras que se desenvolvem à medida que as pessoas interagem, as expectativas que surgem entre elas, as verdades que elas acabam por compartilhar. Vemos a importância do papel do estudante; de ser da classe média; de ser homem ou mulher na sociedade moderna. Notamos como os atores mudam à medida que passam de um grupo ou organização para outro, influenciados pela inevitável socialização (tentativa de moldá-los por parte das pessoas da organização) que advém de seu ingresso no grupo. A sociologia começa, portanto, com a ideia de que o homem deve ser entendido no contexto de sua vida social e de que somos seres sociais influenciados pela interação, pelos padrões sociais e pela socialização.

A ideia central da sociologia é a de que os seres humanos são sociais. Vivemos em sociedade.

Os seres humanos são sociais no mínimo de seis maneiras (Charon, 2004):

  1. Desde o nascimento, dependemos de outros para sobreviver. Precisamos de alimentos, proteção, afeto, amor, autoestima, que são essenciais para nosso crescimento.
  2. Aprendemos com outros a sobreviver. O instinto não ajuda muito. Nossas ações são aprendidas, emergem da interação com outros: pais, amigos, professores, ídolos, estranhos, livros... A vida é aprender a resolver problemas, é um processo contínuo. Temos de aprender a viver sempre e até aprender a morrer.
  3. Passamos a vida inteira na organização social. Todos nascemos em uma sociedade e raramente a deixamos. Vivemos em comunidade organizada. Trabalhamos e nos divertimos. Cada organização e grupo formal possui regras que devemos seguir. Somos socializados. Devemos viver em organização social ou perecer, aprendemos isso muito cedo.
  4. Muitas qualidades humanas dependem da vida social. A maioria das religiões nos define como humanos pelo fato de possuirmos uma alma dada por Deus. Governos reconhecem nossa condição humana por meio de leis que declaram o indivíduo um ser humano no momento da concepção, na hora do nascimento ou em qualquer ponto no tempo. Qualidades humanas essenciais: linguagem, o eu (self), consciência e mente, e é claro, a sociedade deve desenvolver nossas qualidades essenciais. Só nos tornamos totalmente humanos por meio da sociedade.
  5. Muitas de nossas qualidades individuais dependem de interação. Cada um de nós desenvolve ideias, valores, objetivos, interesses, princípios morais, talentos, emoções e tendências para atuar de determinadas maneiras. A interação direciona essas qualidades individuais. Nossa sociedade, comunidade, família e amigos incentivam alguns caminhos e desestimulam outros. Podemos não ser cópias exatas daquilo que os outros desejariam que fôssemos, mas expectativas e ensinamentos de algumas pessoas são importantes para nossas escolhas na vida.
  6. Os seres humanos são atores sociais. Estamos constantemente ajustando nossas ações àqueles que nos cercam. Tentamos, às vezes, impressionar os outros, nos comunicar com eles, influenciá-los, evitá-los ou, no mínimo, ajustamos nossas ações de modo a poder fazer o que desejamos sem sermos importunados por essas pessoas. Como vivemos em meio a outros indivíduos, nossas ações são formadas tendo-os em mente. Somos atores sociais, temos de levar em consideração as ações dessas pessoas quando atuamos.

A sociedade precede todos nós. Não podemos conceber o ser humano separado da sociedade. Mesmo os animais dependem de sociedade.

Para que a sociedade funcione sem graves conflitos, o ser humano tem de ser socializado.

Socialização é o processo pelo qual a sociedade, comunidade, organização formal ou grupo ensina seus costumes a seus membros.

Sem socialização, seríamos todos diferentes, não haveria possibilidade de cooperação ou ordem social.

Em 1997, nas florestas de Laune, na França, foi capturado um menino selvagem. Foi estudado por vários especialistas e médicos. Verificou-se que não possuía o dom da fala, usava gritos e sons inarticulados. Rejeitava roupas, não conseguia distinguir objetos reais de desenhos e objetos refletidos no espelho, não chorava. Não tinha laços emocionais, tinha jeito de andar singular e, ocasionalmente, corria de quatro.

Relatos de casos humanos que cresceram sem contato social apresentam quadro uniforme: ausência de linguagem; reação aos outros de medo e hostilidade; apatia generalizada.

Charles Cooley verificou que a natureza humana não surge no momento do nascimento, surge somente por meio de associação, que declina no isolamento. Na verdade, somos socializados para nos tornar humanos.

Bibliografia:

  • Charon, Joel M. Sociologia. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
  • Dias, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
  • Ferreira, Delson. Manual de Sociologia. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.
  • Gil, Antonio Carlos. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 2011.
  • Lakatos, Eva Maria e Marconi, Marina de Andrade. Sociologia Geral. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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