José Ortega y Gasset: Pensamento e Contexto Histórico
Classificado em Filosofia e Ética
Escrito em em português com um tamanho de 5,89 KB
Contexto Histórico e Filosófico de Ortega y Gasset
José Ortega y Gasset é um dos mais importantes filósofos e intelectuais do século XX. Se ele tivesse sido francês, inglês ou alemão, teria sido mais bem aceito na história recente do nosso país. É surpreendente que ele nunca tenha terminado de escrever nenhum dos livros que começou. Era um filósofo no estilo tradicional, que se recusava a uma filosofia trancada em salas de aula e de estilo acadêmico, que se dirigia apenas aos professores "expertos". Ele necessitava elevar o nível cultural do país.
Para conhecer seus pensamentos, é preciso aventurar-se em uma infinidade de textos encontrados entre artigos, conferências, aulas e artigos de revista. É impossível compreender o significado de sua obra se não se considerar seu trabalho como jornalista; de fato, é isso que confere a Ortega sua verdadeira originalidade. Seus artigos são uma pequena parte de sua obra. Neles, pode-se traçar seu pensamento político e comprovar seu compromisso com a realidade social e política da nação.
Mas, junto com este compromisso político, ele aceita a necessidade de abordar a questão de seu tempo: a crítica do racionalismo e do idealismo, publicada em 1923, que marca o início de seu período perspectivista. No capítulo X, "A Doutrina do Ponto de Vista" fala da oposição entre cultura e vida. O racionalismo nega qualquer valor à vida e ao relativismo. Ortega defende esta perspectiva: cada vida é um ponto de vista sobre o universo. Assim, a verdade depende da vida intelectual da história.
A obra de Ortega se desenvolveu durante a primeira metade do século XX. Nesta época, na Europa, houve duas guerras mundiais e, na Espanha, a Guerra Civil, que impôs ao filósofo o exílio de Madri. Foi também testemunha da revolução socialista e da ascensão do fascismo. O ambiente em que ele desenvolveu sua atividade como professor e jornalista era desolador. Teve de viver em um país atrasado em pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e industrial. A fome e a pobreza não eram estranhas ao povo de sua terra natal. Também o analfabetismo predominava entre os cidadãos. Com o passar dos anos, Ortega teve de viver a ditadura de Primo de Rivera, a Guerra Civil e, quando retornou à Espanha após o exílio, a ditadura franquista. Ele levantou a questão da Espanha. Entre Unamuno e Ortega, houve acusações. Quando se lembra da Universidade de Salamanca, Ortega defendeu os valores tradicionais na Europa: a investigação, a ciência, o desenvolvimento da indústria e o fortalecimento da economia.
O Pensamento Filosófico de Ortega e Suas Circunstâncias
O pensamento filosófico de Ortega não era alheio às circunstâncias em que viveu.
Além de seu trabalho como professor de metafísica na Universidade de Madri, ele se dedicou a escrever no jornal de forma contínua e sistemática. Não houve partido político que propusesse um fim firme ao partidarismo, à arbitrariedade ou ao despotismo. Houve um tempo em que Ortega teve alguma esperança no golpe de Primo de Rivera, mas logo se convenceu de que a Espanha não ganharia nada com isso, e passou a criticar a ditadura imposta. Ele se surpreendia que, na história da Espanha, não houvesse continuidade na investigação científica e na tradição do pensamento filosófico. Para ele, era impossível que um país tivesse uma posição importante na história sem apostar na ciência, investigação e desenvolvimento da tecnologia. Ortega queixava-se amargamente de que, na Espanha, havia um povo de grande vitalidade, mas faltava uma elite cultural e política. Ao longo da história, não tivemos grandes cientistas, nem filósofos, nem estadistas.
O momento em que Ortega viveu era marcado pelo desenvolvimento da vanguarda. Contínuas mudanças ocorriam na arte, com uma sucessão de estilos: o Fauvismo (Matisse), o Expressionismo (Van Gogh, Munch), a Arte Abstrata, o Surrealismo (Dali) e o Cubismo (Picasso). Na literatura, além do Surrealismo, triunfaram o Simbolismo, o Futurismo e o Modernismo. Quanto à ciência, desenvolveu-se a reação à física newtoniana. Apesar de Ortega ser acusado de ter compreendido mal Einstein, ele o considerava um verdadeiro modelo, e a teoria da relatividade, que ele valorizava, influenciou decisivamente sua concepção do perspectivismo.
Do ponto de vista filosófico, Ortega reagiu contra o racionalismo. Para ele, o racionalismo havia distorcido o sentido da vida. No entanto, ele não propôs uma crítica radical da razão, pois ela corria o perigo de cair em uma atitude primitiva e selvagem, o que também teria consequências desastrosas para o povo. Para ele, a filosofia era uma necessidade, como respirar.
A filosofia do século XX é mista e pode ser dividida em correntes:
- Correntes estritamente filosóficas: Fenomenologia, Existencialismo, Vitalismo, Historicismo, Hermenêutica;
- Interesse na linguagem: Filosofia Analítica, Filosofia da Ciência;
- Filosofia da Cultura: análise dos problemas sociais e crítica das ideologias.
Não podemos enquadrar Ortega em nenhuma destas correntes, porque ele próprio tentou delas se distanciar. No entanto, as correntes que influenciaram muitos trabalhos de Husserl e Heidegger, por exemplo, deixaram uma marca clara na obra de Ortega. Em "Lições de Metafísica", de Ortega, são assumidos muitos conceitos filosóficos de "Ser e Tempo", de Heidegger. Também se nota a influência do vitalismo e do historicismo de Dilthey.