Justiça em Platão: Uma Análise da Polis e da Psique
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Justiça em Platão
Justiça: Um Tema Central
Justiça é um tema recorrente nos diálogos de Platão. Em A República, Sócrates argumenta que a justiça em si é boa e que a injustiça, mesmo que não seja percebida, é prejudicial à pessoa injusta. Ele também afirma que, ao compreendermos a natureza da justiça, poderemos determinar se ela é boa em si mesma ou apenas por suas consequências.
Para Platão, justiça é sinônimo de harmonia social e, portanto, o justo é aquele que age de acordo com a lei. Ele defende que a justiça abrange tanto a dimensão individual (Psique) quanto a coletiva (Polis).
Relativismo Moral e a Lei
Platão também aborda o relativismo moral de Protágoras, argumentando que, se o justo é definido pelas leis e as leis estão em constante mudança, então o justo é relativo a cada polis e momento histórico. O Estrangeiro de Atenas, em As Leis, indica que a doutrina do justo reside nas leis, logo, o justo em uma polis é o que está expresso em suas leis. Os legisladores, que detêm o poder coercitivo na polis, determinam o que é justo, o que sugere uma relação entre justiça e poder.
Justiça Política
Função da Polis
Platão não define explicitamente a função da polis em A República, mas em outras obras, ele sugere que o papel do governante é promover o bem-estar, a liberdade, a tranquilidade doméstica, a sabedoria e a felicidade dos cidadãos. Combinando essa ideia com a tese de Sócrates de que as poleis surgem das necessidades humanas, podemos inferir que a função da polis é satisfazer as necessidades de seus cidadãos e protegê-los dos males.
Bom Funcionamento da Polis
Platão argumenta que a cidade ideal (Calípolis) funciona bem porque se baseia na divisão natural do trabalho: cada indivíduo desempenha a função para a qual é naturalmente apto. No entanto, a liberdade democrática se opõe à divisão natural do trabalho, defendendo que a natureza humana é multifacetada e que um fazendeiro, por exemplo, também pode ser um sapateiro.
Platão complementa essa visão afirmando que o bom funcionamento da polis depende de suas subfunções e da divisão natural do trabalho. As necessidades dos cidadãos são satisfeitas naturalmente quando cada um executa a tarefa que lhe é própria.
Justiça Psíquica
Para Platão, a justiça definida na polis também se aplica à psique: uma psique é justa quando cada uma de suas partes desempenha a função que lhe é própria.
Sócrates afirma que a psique possui as mesmas partes e funções que a polis: ambas têm três partes, cada uma com sua função específica. Uma psique é justa quando cada parte cumpre sua função. A justiça política e psíquica, para Platão, não são tipos distintos de justiça, mas duas aplicações do mesmo conceito.
A Ação Justa
Sócrates considera a justiça como um estado interno antes de ser um modo de ação. A ação justa é aquela que preserva ou promove esse estado interno em quem a pratica. O homem justo é aquele que pratica ações justas. No entanto, há uma lacuna na argumentação de Sócrates sobre a relação entre o estado interno de justiça e as ações externas. Ele afirma que uma pessoa com um estado interno de justiça não cometerá atos injustos, mas não explica como a conduta com outras pessoas afeta o estado interno de um indivíduo.