Kant: Conhecimento Científico, Juízos Sintéticos A Priori e o Iluminismo
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A Crítica da Razão Pura e o Conhecimento Científico
Kant julgava conveniente fazer uma crítica da razão teórica para demonstrar que o conhecimento não se limita apenas ao que conseguimos ver, mas também à natureza. Kant estabelece que a natureza do conhecimento científico deve conter um elemento a priori. Se for possível estabelecer qual é a natureza do juízo sintético a priori, será resolvido o problema de por que a ciência é possível, como a matemática e a física.
O conhecimento científico é composto por juízos universais e necessários que aumentam o nosso conhecimento. Assim, para estabelecer uma relação entre o sujeito e o predicado, os juízos podem ser:
- Juízos Analíticos: O predicado se identifica com o sujeito, mas não aumenta o conhecimento. Portanto, não são científicos (Exemplo: Todos os corpos são extensos).
- Juízos Sintéticos: O predicado não está incluído no sujeito, aumenta o conhecimento, mas não é universal nem necessário. Portanto, não são científicos (Exemplo: A mesa é vermelha).
Kant explica que, do ponto de vista científico, os juízos sintéticos a priori são necessários porque atendem a duas condições: fornecem informação e possuem universalidade e necessidade. Se podemos construir juízos sintéticos a priori, é porque, apesar de todo o nosso conhecimento começar na experiência, nem todo ele deriva dela.
As Intuições Puras: Espaço e Tempo
Todo o nosso conhecimento começa com os sentidos, mas nem todo ele se origina a partir deles, devido à forma como os objetos nos são dados. O produto dos sentidos são as ideias, e todas elas são sensíveis, nunca ultrapassando a barreira da sensibilidade. Para Kant, não há intuição intelectual.
As intuições podem ser:
- Empíricas (a posteriori): Derivadas da experiência.
- Puras (a priori): Não derivadas da experiência, mas anteriores a ela e condição de possibilidade da própria experiência.
As intuições puras são as formas da nossa sensibilidade e, graças a elas, é possível a intuição de objetos fora de nós.
O Espaço não é um conceito (que é um produto do nosso entendimento, válido para muitos objetos reais, como carro, casa, etc.). Em vez disso, o espaço é único e existe como a condição que permite colocar tudo dentro dele e experimentar influências externas. Sua propriedade é a simultaneidade, que permite colocar vários objetos ao mesmo tempo. Por conseguinte, a geometria é possível como ciência, pois não derivamos nada da realidade, mas sim a impomos sobre ela.
Outra intuição pura é o Tempo. É uma condição de toda a nossa experiência interior. O tempo também não é um conceito; se fosse, seria aplicável a muitos, e há apenas um. Dessas duas intuições puras a priori, o tempo se torna fundamental, pois fornece a possibilidade de toda a experiência interna e externa. Portanto, a aritmética é possível como ciência, porque o cálculo é uma abstração lógica do tempo.
O Entendimento e as Categorias
As percepções são necessárias, mas não suficientes para o conhecimento. Não são suficientes para o conhecimento. Precisamos de outra faculdade do conhecimento: o entendimento. Da mesma forma que a sensibilidade produz intuições, o entendimento produz conceitos e juízos.
Os conceitos do entendimento podem ser:
- Puros (a priori): Não podem ser induzidos a partir da realidade, mas sim deduzidos (as Categorias).
- Empíricos (a posteriori): São aqueles que, ao tomarmos uma ou mais intuições empíricas e as trazermos sob um conceito puro, produzem um novo conceito empírico.
Quando combinamos as intuições e os conceitos puros, obtemos um conhecimento puro, que se expressa em juízos sintéticos a priori. A Física é uma ciência porque torna possíveis os juízos sintéticos a priori: são sintéticos porque se referem ao mundo fenomênico da experiência, e a priori porque são suportados pelas categorias de causa e efeito.
As categorias podem ser aplicadas apenas aos fenômenos, ou seja, objetos que ocorrem na experiência. As ideias transcendentais (Mundo, Alma e Deus) estão além dos limites da experiência e são, portanto, o númeno, isto é, o que só podemos pensar, mas não conhecer.
Kant e a Filosofia do Iluminismo
Kant tem sido considerado o filósofo mais iluminado. Apesar das críticas e dos excessos que se seguiram ao movimento, o filósofo alemão manteve-se fiel aos valores ilustrados. O Iluminismo foi um movimento intelectual que nasceu no século XVII na Inglaterra e se desenvolveu no século XVIII na França e na Alemanha, espalhando-se pela Europa.
Kant definiu o Iluminismo como a "saída do homem de sua menoridade", em contraste com o período anterior, no qual o homem havia renunciado ao uso da razão. Para o Iluminismo, o homem é um ser racional e bom por natureza. A razão é a característica central do ser humano, em detrimento dos sentimentos.
A ideologia iluminista não reconhece a tradição ou a autoridade, mas luta contra os preconceitos e as particularidades nacionais. O conceito de humanidade iluminada é universal, defendendo que todos os homens são iguais e livres. Além disso, a miséria do homem é acidental e não uma característica radical de sua natureza, o que permite ao filósofo encarar a história humana como uma progressiva melhoria moral e material.
O movimento era crítico da religião, preferindo posições deístas ou, simplesmente, ateias. A ciência também teve um papel importante no Iluminismo, que depositou total confiança na força da técnica científica para melhorar as condições materiais do homem.
Politicamente, o Iluminismo apoiou reformas para humanizar o poder absoluto dos reis com o "despotismo esclarecido", defendeu a revolução contra os poderes estabelecidos e apoiou a república como melhor forma de governo (Revoluções Americana e Francesa). Os excessos revolucionários, contudo, foram um duro golpe para o projeto iluminista de fraternidade e liberdade entre os homens: o sono da razão produz monstros.