Kant: Diálogo Filosófico e a Revolução do Conhecimento
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1. Kant e o Problema do Conhecimento
Ao refletir sobre o problema do conhecimento, Kant fez um grande esforço de síntese entre racionalismo e empirismo, as posições dominantes na paisagem filosófica dos séculos XVII e XVIII.
Kant, como Descartes e Hume, rompe com a visão ingênua do conhecimento humano, segundo a qual o conhecimento é copiar a realidade como ela é. Salienta, contudo, que a realidade existe independentemente do sujeito que conhece: não conhecemos o mundo como ele é, mas como nós somos.
1.1. Idealismo: Descartes, Hume e Kant
Descartes argumenta que o pensamento é a primeira das provas. A realidade do mundo vem através da ideia de Deus, pensamento. Hume, no entanto, diz-nos que a realidade existe como é percebida pelo sujeito, na medida em que ela imprime. Em ambos os casos, as coisas são assim, o conteúdo da mente. Em resumo, Descartes e Hume são idealistas, porque eles acreditam que é a pessoa que conhece que determina a realidade.
O idealismo de Kant vai mais longe ao afirmar que o sujeito não percebe passivamente o objeto de conhecimento, mas impõe condições que tornam possível o conhecimento, construindo-o: é, portanto, um sujeito ativo. É chamado de Idealismo Transcendental porque na formação da experiência de organizar atividades que envolvem um tema que sintetiza os materiais que provêm dos sentidos.
O conhecimento é, segundo Kant, o conhecimento dos "fenômenos", ou seja, uma mistura do que é dado pelos sentidos e formas cognitivas (espaço, tempo e categorias) fornecidas pelo sujeito. Portanto, não podemos conhecer a realidade em si, o "númeno", pois a nossa maneira de saber funciona como um filtro que nos impede o conhecimento da realidade como ela é.
A existência dessas condições que tornam possível o conhecimento é, segundo Kant, uma "revolução copernicana" no problema do conhecimento, que desloca o foco do que sabemos para como sabemos. Em outras palavras, o que a pessoa conhece são suas próprias ideias sobre as coisas, não as coisas em si, que são incognoscíveis.
1.2. Origem e Base do Conhecimento
Em relação à origem e base do conhecimento, Descartes afirma que nem todos os elementos envolvidos no conhecimento têm sua origem na experiência, pois temos ideias inatas, o conteúdo conceitual, que não vem da experiência. A razão é, portanto, a base de conhecimento que é construído através de um processo intuitivo e dedutivo.
Hume, pelo contrário, acredita que o ponto de partida de todo o conhecimento reside na experiência sensorial, em nossas impressões, que, além de originar nossas ideias, dão validade ao conhecimento.
Kant tenta conciliar as duas posições, dizendo que "conceitos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas", ou seja, que o que é conhecido surge a partir do conteúdo ou dados fornecidos a nós por meio da atividade organizadora da nossa mente, classificado de acordo com nossa maneira de saber, com formas "a priori" da sensibilidade (espaço e tempo) e as categorias ou formas do entendimento.
Em suma, Kant concorda com Hume em que o conhecimento começa com a experiência, mas difere na medida em que considera que os dados que recebemos de nossos sentidos são configurados de acordo com estruturas cognitivas a priori. Assim, descarta a existência de ideias inatas, mas, diferentemente de Hume, não as vincula a conteúdos de pensamento, e sim a formas cognitivas que se aplicam a objetos para conhecê-los.
2. Verdade, Limites e Metafísica
2.1. Verdade e Conhecimento Objetivo
Kant aborda a relação entre verdade e conhecimento de uma posição intermediária às levantadas por Descartes e Hume. O primeiro defende o dogmatismo epistemológico, ao assegurar que podemos acessar um conhecimento objetivo e universal. O segundo, no entanto, adota uma postura cética, dizendo que não é possível chegar a verdades firmes, só podemos obter um conhecimento provável.
Kant, como Descartes, diz que o conhecimento universal é possível e necessário, mas é cauteloso e diz que nunca deve ser dado como definitivo e inquestionável, mas deve ser constantemente revisto e sujeito à crítica.
2.2. Os Limites do Conhecimento e a Metafísica
Quanto aos limites do conhecimento, Kant concordava com Hume em que todo o conhecimento é limitado à experiência: só podemos saber o que podemos perceber ou experimentar. Só o conhecimento pode se referir a eventos ou, se quiserem, a conteúdos relacionados com elementos da experiência. Assim, ambos os filósofos afirmam que a metafísica não é possível como uma ciência. A diferença com Descartes é notável, porque este pensava que o conhecimento é ilimitado, pois a razão, a única fonte válida para acessá-lo, é infinita, se usada corretamente.
Em seu relato da metafísica, Kant também detém uma posição intermediária entre Descartes e Hume: ele afirma que os seres humanos não podem deixar de levantar questões que estão além dos limites da experiência, como a liberdade, a imortalidade da alma e a existência de Deus.
A metafísica, ainda que não seja ciência, é, segundo Kant, o conhecimento racional que não podemos conhecer, mas podemos postular, a partir de nossas ideias morais, como postulados da razão prática, ou seja, como declarações não sujeitas a demonstração racional (objetos de "fé racional").
Descartes, pelo contrário, acredita que a metafísica é uma ciência, porque o seu conteúdo é acessado de forma racional, intuitiva ou dedutiva. Hume, contudo, apenas atribuiu à metafísica um alvo, o fogo destruidor, como uma pseudociência que não contém nada além de mentiras e enganação.
3. Kant e a Filosofia Política
A esperança, na filosofia da história, é o tema principal de Rumo à Paz Perpétua. O pacifismo de Kant tem suas raízes em Saint-Pierre e Rousseau. Ele considera que a paz não depende de uma liga de príncipes (Saint-Pierre), mas sim de uma Europa dos cidadãos (Rousseau).
A ordem política que conduza à paz é, segundo Kant, a Constituição republicana. Esta é herdeira das ideias de Hobbes, Locke e Rousseau. Devem ser respeitados os direitos de liberdade (Rousseau), igualdade (submissão ao soberano, Hobbes) e cidadania (o indivíduo é co-legislador, Rousseau). O republicanismo pressupõe dois princípios:
- a) O princípio da representação: Kant discorda da democracia direta de Rousseau e prefere a modalidade representativa de Locke.
- b) A separação de poderes, defendida por Montesquieu.
Internacionalmente, Kant opta por uma federação de Estados para respeitar a vontade popular, à semelhança de Rousseau, visando orientar a história para a paz.
4. O Papel do Filósofo
Quanto ao papel do filósofo, Kant não acredita, como Platão, que o filósofo deveria governar, mas deve ser uma espécie de conselheiro do monarca, que deve ouvir e assegurar a liberdade de expressão.