Kant: Boa Vontade, Autonomia e Heteronomia da Vontade
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Boa Vontade em Kant
Para Kant, o Homem tem uma natureza mista, composto de Sensibilidade (ou Animalidade) e de Racionalidade (Razão). A Sensibilidade é representada através das nossas «inclinações», interesses e instintos egoístas. A Razão corresponde à representação do ‘Bem comum’ e à universalidade do Dever.
Desta forma, mesmo o Homem que cumpre o Dever (o homem de Boa Vontade) nunca é isento de egoísmo – por isso não é um Santo ou um Anjo, mas um ser humano que se rege pela Razão e que subordina as suas inclinações às suas motivações racionais (Autonomia da Vontade).
O ‘bem’, em termos humanos, corresponde, pois, ao esforço constante, orientado pelo cumprimento do Dever – é o que Kant designa de Boa Vontade. Segundo Kant, a Boa Vontade é a única coisa verdadeiramente boa neste mundo. O valor de uma Boa Vontade não reside nas consequências (resultados) das ações que promove, mas na pureza da sua intenção: só uma intenção puramente racional e desinteressada corresponde à Boa Vontade.
A Boa Vontade é, deste modo, a Vontade autónoma, que se autodetermina a agir exclusivamente por Dever e pelo valor absoluto que atribui ao Dever como um ‘fim em si’. Em suma, a bondade de uma Boa Vontade é determinada, exclusivamente, pela racionalidade da sua intenção.
Autonomia e Heteronomia da Vontade
Para Kant, a verdadeira Liberdade coincide com o cumprimento do Dever. Aquele que cumpre o Dever orienta-se pela Razão – a qual, para Kant, corresponde à consciência universal do Dever. O filósofo exprime a natureza racional e universal do Dever através da ideia de «Lei Moral da Razão».
Daqui resulta que quem cumpre o Dever, segue a Lei da Razão. Ora, sendo o Homem um ser racional (e sendo que a sua dignidade coincide com a sua racionalidade), seguir a sua Lei, a Lei racional, corresponde à Autonomia da Vontade (vontade que segue a sua própria lei). O agente moral que aceita guiar-se pela Lei Moral da Razão não subordina a sua Vontade a nenhuma autoridade exterior – rege-se por si mesmo, é autónomo e, por isso, verdadeiramente Livre.
O ser humano é, porém, uma natureza mista, composta por:
- Sensibilidade/Animalidade: representada nas nossas «inclinações» e egoísmo.
- Racionalidade: representada na Universalidade do Dever e no Bem comum.
Quando o Homem se rege pela Sensibilidade, o que acontece? Ele subordina a sua Razão aos instintos egoístas, deixa, portanto, de se guiar pela ‘sua própria lei’ (Lei Moral da Razão) – perde a ‘autonomia racional’. É o que Kant designa como Heteronomia da Vontade: a Vontade (Razão prática) subordina-se a ordens exteriores, deste modo deixa de ser «livre» para ser «escrava» de instintos, inclinações inferiores e egoísmo.
Desta forma, uma Vontade autónoma é uma vontade puramente racional, que decide independentemente de instintos, inclinações e interesses egoístas. Obedece somente às regras que criou para si própria e para todos os seres racionais (a Lei Moral, que representamos na forma de Imperativo Categórico). Ao agir por Dever, obedeço à voz da minha Razão e nada mais, por isso, ‘sou livre’.