Kant vs Hume: Ética e a Questão da Eutanásia

a) Comparação Ética: Kant e Hume

Ambos são autores do século XVIII, do Iluminismo, mas suas éticas são diferentes. Esta comparação, ou oposição, é muitas vezes apresentada da seguinte forma:

• A ética de Kant é formal, a de Hume é material.
• Kant foca na ética das intenções, Hume nas metas (ou consequências).
• A ética kantiana é uma ética da virtude (ou dever) e a de Hume é uma ética da felicidade.

No que respeita à sua teoria da ação, Kant defende que o motivo deve determinar a vontade. No entanto, Hume afirma que o que determina a ação são os sentimentos, pois são eles que nos permitem saber se algo é bom ou mau. "A razão é escrava das paixões", uma declaração que expressa que a razão por si só não move a conduta.

Além disso, ambos os autores têm diferentes conceções de razão e sentimentos. Para Kant, o fundamento da moralidade não pode basear-se em sentimentos; deve basear-se na razão e na natureza humana, pois da experiência não podemos obter leis universais. Para Hume, a razão não pode determinar a vontade.

A ética de ambos os autores tem um caráter diferente: a ética formal de Kant não se centra no que é feito, mas em como é feito, na maneira pela qual se age. Portanto, a ética de Kant tem a ver com as intenções subjetivas (que devem ser universalizáveis). A ética de Hume é material e diz o que fazer; tem a ver com os propósitos ou consequências, os factos em si. Kant criticou as éticas materiais, incluindo a de Hume, por não estabelecerem leis morais universais.

b) Kant e a Eutanásia

Hoje, um dos temas mais relacionados com o pensamento de Kant é a eutanásia. A palavra "eutanásia" significa "boa morte". Este termo evoluiu e agora refere-se ao ato de acabar com a vida de outra pessoa, a seu pedido, para pôr fim ao seu sofrimento.

Tipos de Eutanásia

• Eutanásia Passiva: Refere-se à morte natural, que ocorre ao suspender o uso de instrumentos de suporte de vida ou o fornecimento de medicamentos.
• Eutanásia Ativa: Refere-se à morte causada de forma direta para acabar com o sofrimento do paciente, compreendendo a administração, com o seu consentimento, de uma substância que leva à morte.

Casos de Eutanásia Ativa

• Quando aplicada a uma pessoa com uma doença terminal que causa dor (ex: cancro).
• Quando aplicada a pessoas que, embora não sofram de uma doença grave, consideram a sua vida insuportável e desejam morrer (ex: tetraplégicos, como no caso de Ramón Sampedro).

Segundo Kant, a prática da eutanásia seria imoral, porque as pessoas têm o dever de preservar a sua própria vida. Cada indivíduo deve suportar o seu sofrimento e não pode ser levado pelas suas inclinações (desejos ou aversões). Alguém que quer cometer suicídio seria considerado imoral por Kant, pois age contra a lei moral universal que ordena a preservação da vida.